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Categoria: Ateísmo

5 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

Carta de autor desconhecido

Carta a Laura Schlessinger

Isto já se passou há alguns anos, de qualquer forma:

“Laura Schlessinger era conhecida locutora de rádio nos Estados Unidos. E tinha um programa interativo que dava respostas e conselhos aos ouvintes que a chamavam pelo telefone.

Uma vez, interpelada sobre a homossexualidade, a locutora disse que se tratava de uma abominação, pois assim o afirma a Bíblia no livro do Levítico 18:22.

Um ouvinte escreveu-lhe uma carta, cuja tradução vai a seguir:

Querida Dra. Laura:

Muito obrigado por se esforçar tanto para educar as pessoas segundo a lei de Deus.

Eu mesmo tenho aprendido muito no seu programa de rádio e desejo compartilhar os meus conhecimentos com o maior numero de pessoas possível.

Por exemplo, quando alguém se põe a defender o estilo homossexual de vida eu limito-me a lembrar-lhe que o Levítico, no capítulo 18, versículo 22, estabelece claramente que a homossexualidade é uma abominação. E ponto final.

Mas, de qualquer forma, necessito de alguns conselhos adicionais de sua parte a respeito de outras leis bíblicas concretamente e sobre a forma de as cumprir:

1)      Gostaria de vender a minha filha como serva, tal como indica o livro do êxodo 21:7. Nos tempos em que vivemos, na sua opinião, qual seria o preço adequado?

2)      O livro do Levítico 25:44, estabelece que posso possuir escravos, tanto homens como mulheres, desde que sejam adquiridos de países vizinhos. Um amigo meu afirma que isso só se aplica aos mexicanos, mas não aos canadianos. Será que a Sra. poderia esclarecer esse ponto? Porque não possuir escravos canadianos?

3)      Sei que não estou autorizado a ter qualquer contacto com mulher alguma no seu período de impureza menstrual (Lev. 19:19, 20:18, etc.). O problema que se coloca é o seguinte: como posso saber se as mulheres estão menstruadas ou não? Tenho tentado perguntar-lhes, mas muitas mulheres são tímidas e outras sentem-se ofendidas.

4)      Tenho um vizinho que insiste em trabalhar ao sábado. O livro do êxodo 35:2., claramente estabelece que quem trabalha aos sábados deve receber a pena de morte. Isto quer dizer que eu, pessoalmente, sou obrigado a matá-lo? Será que a Senhora poderia, de alguma maneira, aliviar-me dessa obrigação aborrecida?

5)      No livro do Levítico 21:18-21 está estabelecido que uma pessoa não se pode aproximar do altar de Deus se tiver algum defeito na vista. Tenho de confessar que preciso de óculos para ver. A minha acuidade visual tem de ser de 100% para que eu me aproxime do altar de Deus? Será que se pode abrandar um pouco essa exigência?

6)      A maioria dos meus amigos homens têm o cabelo cortado, muito embora isto seja claramente proibido em Levítico 19:27. Como é que eles devem morrer?

7)      Eu sei, graças a Levítico 11:6-8 que quem tocar na pele de um porco morto fica impuro. Acontece que jogo futebol americano, cujas bolas são feitas de pele de porco. Será que me será permitido continuar a jogar futebol americano se usar luvas?

8)      O meu tio tem uma granja. Ele deixa de cumprir o Levítico 19:19, pois planta dois tipos diferentes de sementes no mesmo campo, e também a sua mulher deixa de cumprir pois usa dois tipos de tecidos diferentes, a saber, algodão e poliéster. Além disso, ele passa o dia proferindo blasfémias e maldizendo-se. Será que é necessário levar a cabo o complicado procedimento de reunir todas as pessoas da vila para apedrejá-lo? Não poderíamos adotar um procedimento mais simples, que seria o de queimá-lo numa reunião privada, Como se faz com um homem que dorme com a sua sogra, ou uma mulher que dorme com o seu sogro (Levítico20:14)?

Sei que a Sra. Estudou estes assuntos com grande profundidade de forma que confio plenamente na sua ajuda.

Obrigado novamente por nos recordar que a palavra de Deus é eterna e imutável.”

5 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

ATEUS, RELIGIOSOS E TASCAS (2.ª parte)

Por lapso meu, de que peço desculpa aos leitores, faltou a parte final deste post que agora completo.

Por

ONOFRE VARELA

Provavelmente mal comparado, direi que ser-se hetero ou homossexual, é com cada um, e ninguém deve ser louvado ou punido pela sua escolha. O importante é que se encontre felicidade e razão de viver naquilo que cada um é, e que, em consciência, escolheu ser. A condição filosófica de se ser religioso ou ateu, é igualmente livre, e os dois pontos de vista são, do mesmo modo, defensáveis, desde que tomados em consciência e em idade adulta, sem imposições em idades tenras.

Não é contra estes “religiosos-militantes-de-base”, consumidores fervorosos de missas, que os ateus se manifestam (embora tentem alertá-los para a inexistência real de Deus, para além da ideia que é); mas sim contra as atitudes prepotentes dos bispos, quando querem impor conceitos religiosos a uma sociedade laica. É aí que os ateus têm de se defender, e muitas vezes o ataque é a melhor defesa. O que é estratégia.

Eu, enquanto ateu, não critico (no sentido agressivo) quem adora Deus, mas estou frontalmente contra quem explora os crentes, servindo-se do
conceito de Deus como arma apontada à consciência dos religiosos continuamente explorados desde há milénios. Entretanto os exploradores
rodeiam-se de mordomias e conquistam importância e estatuto social.

Do mesmo modo também não tenho nada contra quem tem necessidade de vender o seu ouro neste tempo de crise, mas já tenho tudo contra
aqueles que compram ouro ao mais baixo preço, governando-se, como abutres, com a miséria e a necessidade do próximo.

Mas, aqui chegado, também posso fazer um exercício de raciocínio, colocar-me do outro lado, e interrogar-me de um outro modo:
Todos os agentes religiosos devem ser tomados como desonestos só porque acreditam em Deus, o que para mim é uma mentira?
Serão, todos eles, uns refinadíssimos vigaristas vendedores do conceito de Deus (que é burlista) e de espaços paradisíacos no céu?
Ou estarão, muitos deles (se calhar a totalidade), plenamente convencidos do desempenho honestíssimo de missões de elevado valor moral e social nas comunidades onde se estabelecem?

Se estiverem convencidos disso, continuam a ser vigaristas e exploradores? Nos países africanos miseravelmente (des)governados por ditadores, as missões religiosas são a única esperança para os povos despossuídos famintos e doentes. Neste contexto, as acções dos religiosos (católicos e protestantes), sempre executadas em nome de Deus, são desonestas?

Transpondo estas interrogações para a política:
Quem, no Parlamento, tem mais razão? O Governo ou a Oposição? E quando invertidos os papeis? Quem é o detentor da razão? Deixa de a ter quem a tinha e passa a tê-la quem a não tinha?!

Bom… se calhar isto já é assunto para uma tese de doutoramento…

3 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

ATEUS, RELIGIOSOS E TASCAS

Por

ONOFRE VARELA

Não sou um habitual colaborador deste espaço, e talvez devesse sê-lo. Confesso que tenho um défice de espírito associativo que pode ser comparado com o défice de democracia na Madeira.

Será essa a razão de a minha colaboração neste espaço ateísta ser tão esporádica, e sempre com a ajuda do meu amigo Carlos Esperança para inserir o texto no espaço virtual, pois eu sou completamente analfabeto em computadores.

Porém, nos últimos dez dias, já publiquei dois textos… o que para mim é um record nestes tempos de competição olímpica!

Confesso que o segundo dos textos esteve a um nível sete furos abaixo de cão!… Aquele registo não é a minha maneira de escrever, mas foi o modo que me pareceu poder ser melhor compreendido pelo raciocínio elementar do destinatário específico e nomeado.

Se o meu muito querido amigo Ricardo Pinho algum dia disse que este espaço se parecia com uma tasca, referia-se, muito provavelmente, às discussões de rodapé que os assuntos publicados suscitam às várias sensibilidades de quem os lê. Reconheço que o meu último texto esteve ao mesmo nível!…

Mas devo dizer que não tenho absolutamente nada contra as tascas! Frequento algumas e gosto das companhias (que escolho), dos petiscos e dos copos de bom vinho que por lá são aviados. E algumas têm fado, o que para mim é sempre um prémio! Tal como sinto ser premiado com a banda de música no fim das procissões, que me remetem a memória para os meus 14 anos (nos finais da década de 50) quando estudei solfejo na “Banda Marcial de S. Cristovão”, em Rio Tinto, na expectativa de vir a tocar clarinete… o que nunca aconteceu, com muita pena minha.

Quando, neste espaço de ateus, e nos recados de rodapé, se “insultam” e “atacam” ateus e religiosos, eu tomo isso como um folclore próprio das discussões de porta aberta a quem queira botar faladura. É um espaço democrático do mais puro, embora possa ferir algumas sensibilidades. Mas é o preço da democracia, e é bom que o paguemos para continuarmos a possui-la.

Nessa conversa de “ataques e insultos”, também é bom que atentemos nisto: os ateus contestam, legitimamente, o conceito da divindade, mas aceitam e respeitam quem tem necessidade dele.

Quem tenha estabelecido a sua razão de viver no conceito de Deus, merece todo o respeito daquele que não precisa de Deus para coisíssima nenhuma. Os “religioso-dependentes” devem continuar a louvar Deus se não forem capazes de se libertarem da ideia, se precisarem dela para serem felizes. Pois que sejam felizes.

Seria bom que, entretanto, questionassem a ideia de Deus… mas isso é coisa que não deve ser imposta. É uma tarefa mental de cada cidadão, e uns serão mais capazes de a encararem do que outros. Tudo depende da idade em que o conceito lhe foi embutido no cérebro, e do hábito que terá, ou não terá, de raciocinar e de questionar.

2 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

Jesus abandonou a cruz e o altar (crónica pia)

Um dia o enorme crucifixo da velha igrejaganhou vida. Genufletida a seus pés uma beata atacava a quarta salve-rainha  enquanto, do lado direito, um pouco atrás, antes do transepto, outra beata debitava padre-nossos junto ao altar da Virgem Maria. É assim a força do hábito. Trocam-se as orações e os pedidos sem reclamação dos ícones nem reparo dos mendicantes. Ao mesmo tempo o padre vociferava latim e dizia a missa.

O senhor Jesus já por ali andava dependurado, há uns séculos, a suportar a crueza dos espinhos e o mau aspeto das chagas que nunca mais saravam. Enegreceu com o fumo das velas, suportou os odores de quem cuida melhor a higiene da alma do que a do corpo, ouviu gente em desespero e pedidos de vingança de almas danadas que lhe solicitavam o infortúnio dos inimigos.

Conheceu centenas de padres e numerosos bispos a quem nunca fez reparo pelo latim periclitante, a pobreza das homilias e a riqueza dos paramentos. Ouviu confissões eróticas sem mover a tanga, safadezas incríveis sem se ruborizar, misérias de vidas e vidas de miséria, sem um suspiro, um grito ou um vómito. A tudo o senhor Jesus se habituou, até às versões diferentes a respeito da sua própria vida.

Ouviu um bispo irado a condenar os jacobinos, outro a  amaldiçoar os judeus, e, todos, conforme as épocas, a execrar a Revolução Francesa, a república, o laicismo, a apostasia, a blasfémia e o preservativo.

A tudo o senhor Jesus assistiu, em silêncio, no bronze em que o esculpiram. Até um dia. Até ao dia em que o padre apostrofou os incréus que se afastavam do culto, faltavam à santa missa e se furtavam à eucaristia; admoestou as donzelas impacientes que não esperaram pelo casamento; ameaçou os casais que substituíam a castidade pelo preservativo e contrariavam os desígnios de Deus quanto aos filhos. Jesus despertou no preciso momento em que o oficiante explicava que naquelas rodelas de pão ázimo ia ele próprio, em corpo e sangue, pousar nas línguas ávidas de quem guardara jejum desde ameia-noite,bem confessado, melhor arrependido e excelentemente penitenciado.

Foi então que arrancou os cravos, deu um piparote na coroa de espinhos, abandonou a cruz e esgueirou-se por entre os devotos sem ninguém notar, nem a beata das salve-rainhas, nem o padre que administrava a partícula, nem os comungantes habituados a fechar os olhos. Ninguém reparou que no seu lugar ficou apenas um sinal mais em raiz de nogueira, com quatrocentos anos, aliviado do peso do freguês.

Jesus esgueirou-se pela porta principal e não mais foi visto.

1 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

RESPOSTA DEFINITIVA AO CÍNICO

Por

ONOFRE VARELA

Não costumo responder a provocações, e é a primeira (e espero ser a única) vez que o faço publicamente.
Numa atitude de correcção e honestidade, decidi responder à observação do Cínico, relativamente à falta da fonte das estatísticas onde colhi a informação de cuja veracidade ele desconfiou (e reivindicou), e fi-lo convicto de estar a lidar com uma pessoa de bem.

Porém, pela sua reacção, apercebi-me do real nível intelectual do animal, o que me merece este comentário definitivo:
Diz o Cínico: “Não tenho por hábito ler a edição on line do El País (…)”.
Eu direi que ele não tem por hábito… ler!
Se me pediu as fontes, mesmo que não tenha o hábito de as ler, neste caso obrigava-se a fazê-lo… ou então não as reivindicava! É uma questão de honestidade intelectual. Sabe o que isso é?

Apercebi-me de que o seu raciocínio se fica pelo que “julga ter aprendido” na catequese, na tenra idade dos oito aninhos, e jamais evoluiu (quiçá, jamais pensou), caso contrário não comparava Ciência com Mitologia das Religiões.
É o problema dos fundamentalistas religiosos: não pensam para além do insidiosamente escrito nos catecismos concebidos para fomentarem a ignorância que alimenta as igrejas, e lêem o catecismo convencidos de estarem a ler a mais completa das enciclopédias!

Este Cínico é um caso perdido, e devia mudar de pseudónimo por respeito aos verdadeiros Cínicos.
Como demonstra não ter capacidades intelectuais para isso, atrevo-me a sugerir-lhe o pseudónimo “merdoso” porque reflecte verdadeiramente o teor do seu discurso, do seu pensamento e das suas convicções.

Ao ter-lhe respondido fico com a desagradável sensação de ter dado pérolas a porcos, o que é um desperdício nos tempos de contenção que atravessamos!…
Acusa-me, o merdoso, de eu não ler os livros que ele lê.
Informo-o que tenho 70 anos de vida, que leio desde os sete anos, e que a minha biblioteca é composta por cerca de dez mil livros, que um quarto deles são sobre religião, e que estão todos lidos, estudados e sublinhados.
Já li mais livros sobre Religião do que alguma vez o merdoso lerá (dando por barato que o merdoso lê!).

Um ateu não é um insultador de religiosos, como alguns religiosos (só alguns, e entre os quais está o merdoso) são insultadores dos ateus.
Um ateu, só é ateu, porque lê livros de religião, porque assiste a missas e porque raciocina… o que é coisa (raciocinar) que os merdosos não fazem.
Só por ter esta prática de leitor, de assistente de missas, de observador do mundo e por raciocinar, é que sou ateu.
E respeito todos os religiosos porque percebo as suas motivações. Aprendi-as nos mesmos livros.
Livros que li com espirito isento e mente aberta, o que é coisa naturalmente interdita aos merdosos que teimam em ser um substracto foleiro da espécie Homo, antes do salto evolutivo para Sapiens Sapiens.
Aliás, os religiosos não pertencem à espécie Homo Sapiens.
Estão dispensados da condição de primatas e do processo evolutivo, porque eles não evoluem.
Eles foram feitos em barro como em Barcelos se fazem os galos e nas Caldas os caralhos!
Secaram, empederniram, e assim ficaram.

Respeito e percebo os religiosos, ao contrário de alguns religiosos que não respeitam os ateus nem se respeitam a si próprios, com as atitudes que tomam com o único fito de insultarem os ateus.
Perceber as cavalgaduras, que ainda por cima são merdosos, é que me é mais difícil. Mas a esses não tenho que perceber nem respeitar. Daí me permitir arremessar-lhes com as mesmas palavras que me arremessam.

Tenho amigos sacerdotes católicos que me respeitam exactamente como eu os respeito, e compreendem os meus pontos de vista porque não são merdosos. Temos conversas civilizadas no respeito mútuo das ideias de cada um, o que é coisa que o merdoso desconhece, não sabe, nem nunca saberá, porque não tem intelecto para isso, como merdoso que é.

Fico com pena de lhe ter respondido, mas fi-lo na convicção de estar a lidar com gente decente, o que, constatei pela sua resposta, não é. E tenho pena! Não por mim, mas por si, pois não é capaz de raciocinar para além do conteúdo do chip que lhe foi implantado naquele sítio onde os comuns mortais (a maioria dos ateus, e muitos religiosos) têm o cérebro, mas onde uns tantos merdosos têm os intestinos.

Diário de uns Ateus – Onofre Varela é escritor, jornalista, cartoonista, actor e homem de cultura. Personalidade bem conhecida no Porto é um respeitável e respeitado livre-pensador a quem o ateísmo deve muito, em Portugal.

1 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

Deus é a mais desafortunada invenção humana

Os homens, à força de ouvirem que Deus existe, tornam-se crentes e, à medida que o repetem a si próprios, fazem-se beatos.

Deus é uma infeliz criação, difícil de aperfeiçoar. Enquanto as máquinas se melhoram, a partir da dúvida de que nunca são suficientemente perfeitas, Deus só pode piorar porque os clérigos garantem que é infinitamente bom e não admitem a discussão.

Com tal mercadoria minam-se as bases da civilização, perturba-se a paz, impede-se a solidariedade humana.

Deus não é apenas uma criatura pior do que o seu criador – o Homem –, e um troglodita incapaz de se regenerar, é o princípio do mal, o acicate de todos os ódios e crueldades.

Na base do racismo e da xenofobia está Deus na sua despótica inexistência, no seu primitivismo demente, um ser misógino e delinquente, manejado pelos fios invisíveis, tecidos pelas religiões, através dos prestidigitadores profissionais – os clérigos.

Deus e o Diabo são irmãos gémeos, filhos do medo dos homens e explorados em benefício do clero.

As peregrinações são atos de insensatez coletiva em direção a locais onde os homens inventaram marcas de Deus, centros de exploração da fé e da superstição, locais de recetação onde se esbulham os crentes para maior glória dos parasitas de Deus.

Se Deus existisse, os crentes ficariam satisfeitos por serem os únicos com direito a uma assoalhada no Céu e para gozarem o ócio eterno na companhia da fauna celeste. Assim, vivem cheios de azedume, envergonhados da sua estultícia, ávidos de converter outros aos seus próprios erros e fazer deles infelizes, à sua semelhança.

Um mundo sem Deus, ou mesmo com muitos, seria certamente mais pacífico, mas a loucura das religiões monoteístas querem fazer do Planeta um antro de fanáticos e do Deus único, uma perigosa quimera que ensandece os homens, os assusta e imbeciliza.

Deus é um déspota imprevisível com lacaios que não o discutem nem o deixam discutir.

 

30 de Julho, 2012 Carlos Esperança

ESTATÍSTICAS E CRENÇA

Por

ONOFRE VARELA

O meu último texto “O Bosão de Higgs” mereceu, de um tal Cínico — atento leitor do Diário de Uns Ateus  —, relativamente à parte final onde digo “é curioso notar que os países de raiz católica são os que, estatisticamente, têm uma pior opinião da Ciência”, a crítica de que não apresentei as fontes da estatística mencionada.

Tem toda a razão. Faço-o agora para sua satisfação.

Colhi a informação no jornal espanhol El País (págs. 30 e 31, da edição do dia 24 de Julho de 2012) numa notícia com o título “Ciencia: la fe del que no sabe”, onde se tornam públicos os resultados de um inquérito promovido pela Fundacion BBVA, divulgado no dia anterior, onde se reflectia a relação dos espanhóis com a investigação
científica. O inquérito entrevistou 1500 pessoas por país, em 11países (Estados Unidos da América, República Checa, Polónia, Alemanha, Áustria, Dinamarca, Itália, Holanda, França, Reino Unido e Espanha) totalizando 16500 pessoas. A notícia é complementada com um exaustivo quadro que responderá em pormenor à curiosidade científica do Cínico, pelo que lhe sugiro a consulta do jornal referido, emwww.elpais.com
(embora eu tivesse lido a edição em papel, que compro diariamente).

Feito este aditamento ao meu último texto, penso ter respondido ao amável leitor Cínico, tão interessado nas coisas da Religião e da Ciência, e aproveito o resto do espaço que me é concedido para dizer mais o seguinte, a respeito das coisas importantes como, por exemplo, a “importância das estatísticas”.

A importância das coisas tem a exacta medida que nós lhe queiramos (ou soubermos) atribuir. Dou o exemplo da arte. Um objecto de arte só é arte se os olhos que o observam assim o entenderem e descodificarem. Se o observador não estiver sensibilizado para a arte, a arte não existe (para aquele observador), embora exista o objecto.

A dimensão das coisas importantes é sempre essa. Ela tem de partir de uma base cultural, ou antropológica, que atribua importância àquela coisa, caso contrário existe a coisa, mas não existe a escala de importâncias onde a coisa pode ser medida, apreciada, catalogada e referenciada. Esta escala de valores é-nos transmitida pela cultura da
sociedade onde nos inserimos, quer seja a cultura local (antropológica) ou a cultura universal, mais abrangente, academicamente adquirida, e que faz do seu detentor um verdadeiro conhecedor… isto se, entretanto, não for atropelado por interesses
desfavoráveis ao verdadeiro conhecimento…

O que acontece com o “conhecimento” transmitido pelas religiões é coisa diferente, e pertence ao chamado “conhecimento iniciático” reservado a membros de seitas secretas ou grupos de religiosos. A escala dessa medida religiosa é-nos formatada na mente desde tenra idade por ensinamentos aferidos pela sociedade que nos concebe e produz, e é independente dos conhecimentos universais, como Matemática, Filosofia, História, Geografia ou Línguas.

Dou este exemplo: um crucifixo tem, para um cristão, rigorosamente o mesmo valor religioso que um tótem toscamente esculpido num tronco de árvore, tem para o índio norte-americano, e uma vaca para um fanático do Sri Lanka. Um católico pode considerar uma estupidez adorar uma vaca e beber-lhe a urina com fé religiosa, mas ajoelha com o mesmo fervor religioso diante de uma imagem de Fátima e de uma cruz com a representação de uma figura humana sofredora escorrendo sangue! E engole uma fina rodela de farinha, convicto de estar a deglutir o corpo do seu deus, exactamente com o mesmo fervor religioso dos fanáticos do Sri Lanka quando bebem urina das vacas consideradas animais sagrados!

É nesta adoração de elementos criados por ritos e intenções religiosas, que se encontra o verdadeiro valor das acções de religiosidade e fé. Elas são matéria de estudo de sociólogos e antropólogos que as olham com o mesmo interesse intelectual com que o
entomólogo francês Jean-Henri Fabre (1823-1915) olhava para as moscas.
Para além do valor etnológico e antropológico que faz a essência e a identificação genuína de um povo, os rituais de fé só valem pela função psicológica do efeito placebo que produzem (quando produzem, e se produzirem). A importância das religiões termina aí. A sua parte mais visível fica-se nas práticas terreais, folclóricas e sazonais.

O etéreo, o encontro real com Deus ou santos num lugar excepcional, num paraíso ou num poço infernal, para além da morte, é fábula sem quaisquer resquícios da mínima realidade. Insistir na veracidade de Deus, dos santos interventores (os eternos intermediários parasitas), e na vida além túmulo, é fábula, é paranoia, é estupidez e ignorância nata, debilidade mental… ou fé!…

Mas também pode ser poesia!…
Deus é uma criação humana. De Deus apenas existe o conceito voando dentro da cabeça do crente. Fora da cabeça das pessoas religiosas não há Deus em lado algum. Não existindo Deus, os homens criaram a paranoia de falarem por ele, com a mesma convicção de uma criança que brinca aos supermercados, cobrando pelos artigos que vende, sem possuir artigos, nem caixa registadora, nem clientes.
E depois, aqueles que brincam às religiões e às ladainhas, fazem do acto de brincar aos deuses a coisa mais importante do mundo! Mas pior do que isso é quererem impor a sua brincadeira a toda a comunidade, convictos de que é verdadeira a ideia de Deus fora das
suas cabeças, e que não há no mundo nada que se lhe compare em termos de seriedade e importância!…

É obra!?…
Querem fazer-nos crer que a divindade não só existe, como nos criou, nos protege, nos guia, nos controla, nos espia, nos premeia, nos castiga… e que todos nós estamos obrigados a crer fervorosamente nestas tretas!

E zangam-se connosco se recusarmos acreditar nessas patranhas! Inclusive, apelidam-nos de “odiosos” (mesmo sem nos conhecerem pessoalmente para poderem aquilatar do nosso amor ou do nosso ódio, o que me leva a supor que nos medem pelos suas próprias escalas e estaturas mentais) só porque não dizemos ámen com eles!

Continua a ser obra!…
Pior ainda: os fundamentalistas islâmicos, quando zangados, degolam excelentes cidadãos por isso mesmo… e assassinam, através de actos terroristas, gente anónima, animados pela convicção de as vítimas serem “infiéis”, e que Deus quer vê-las mortas!…
Terrorismo e demência em nome do bom Deus!
Disto que acabei de dizer, não tenho estatísticas.
Apenas tenho raciocínio. Serve?!…

27 de Julho, 2012 Carlos Esperança

O BOSÃO DE HIGGS

Por 

Onofre Varela 

Não saber do que se fala, não impede que se opine, e a opinião de cada um tem o valor que tem, mais o que os outros lhe queiram dar, e por aí se fica. Mas os responsáveis de instituições, e os jornais de grandes tiragens e de distribuição nacional, estão obrigados a saberem do que falam. Nesta linha está o folclore que se fez à volta do Bosão de Higgs, com os jornais a darem voz a padres católicos para opinarem sobre o que não diz respeito à Igreja.

Em linhas gerais e poucas palavras, podemos dizer que o cientista britânico Peter Higgs, trabalhando sobre umas ideias de Philip Anderson, interrogou-se, num documento publicado em 1964, sobre a possível existência de um bosão (partícula com determinadas características) que explicaria a razão de a matéria possuir massa.

Mas só agora — meio século depois — foi possível conseguir as condições técnicas para o desenvolvimento de experiências a propósito, com a construção, em 2008, do Grande Colisor de Hádrons (LHC), um laboratório localizado num túnel com 27 Km de circunferência, construído a 175 metros abaixo do nível do solo, na fronteira franco-suíça, próximo de Génebra. Um dos objectivos do LHC é explicar a origem da massa das partículas elementares, e encontrar outras dimensões do espaço.

A 4 de Julho de 2012, cientistas do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN), anunciaram que na sequência dos seus trabalhos no LHC, descobriram uma partícula nova que pode ser o tal bosão de que Higgs previu a existência.

Entretanto, no início dos anos de 1990, o físico Leon Lederman, que ganhou o Prémio Nobel em 1988, escreveu um livro com a intenção de explicar ao público não especializado em Ciência, a teoria sobre o bosão de Higgs. O autor escolheu o título “The Goddam Particle” (A Partícula Maldita) para falar sobre o tal elemento difícil de descobrir e que ocupava todo o tempo a Higgs. Mas como o editor estava mais interessado em vender do que, simplesmente, publicar, num golpe de marketing, trocou o termo “Goddam” por “God”, e o livro “The God Particle” (A Partícula de Deus) foi um êxito de vendas! O nome pegou, e não tardou que a imprensa apelidasse o bosão que Higgs procurava, como sendo a “partícula de Deus”!

O termo Deus é conhecido de todos, e bosão… ninguém sabe o que seja…

O meu espanto foi ver e ouvir, em Julho de 2012, as televisões e os jornais a entrevistarem religiosos sobre a partícula de Deus (como se a Igreja tivesse algo a ver com as descobertas científicas!), talvez convictos de que a Ciência acabara de encontrar a prova da existência real e concreta de Deus!…

A RTP procurou o padre e jornalista José Tolentino de Mendonça, na qualidade de director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura da Igreja Católica, para que falasse sobre o bosão, e ele disse que “tudo o que é a procura da verdade interessa muito aos crentes e à Igreja” (!?), que mais poderia ele dizer?!…

O jornal do Vaticano, “L’Osservatore Romano”, atingiu o paradigma de (…não sei que palavra usar!…) com a manchete “Comoção e Entusiasmo” para se referir ao anúncio da descoberta do bosão de Higgs (!?).

Deve estar tudo doido!…

O cientista Carlos Fiolhais teve a frase mais correcta e honesta: “Se existe Deus, todas as partículas são de Deus, ou, se não existe Deus, nenhuma partícula será de Deus”. Tão simples!

“Partícula de Deus” é apenas um nome. Um título para um livro, que foi encontrado com o interesse de vender, e o nome do livro não vale mais do que isso. Imagine que você, em 1990, encontrava um livro com o título “Bosão de Higgs”. Comprava-o?… E se fosse “Partícula de Deus”?…

 

Há termos que atingem a sensibilidade das pessoas e que, por isso, podem, mais facilmente, ser aceites ou repudiados. É o caso das “Células-Mãe”. Em inglês recebem outro nome. Não são referidas por “Motther-cells”, mas por “Stem [tronco, raíz] Cells”.

A palavra “mãe” desperta paixões! Mãe há só uma. E tu não tocas na minha mãe, porque para mim ela é sagrada! Daí ser mal vista a manipulação das células-mães! Já manipular as células-raiz… é outra coisa, mais permissível, o milho transgénico é isso mesmo, e aqueles que se preocupam com o termo “mãe” estão-se nas tintas para as manipulações do milho!

Já que falo em raíz, é curioso notar que os países de raíz católica são os que, estatisticamente, têm uma pior opinião da Ciência. Porque será?!…

24 de Julho, 2012 Raul Pereira

A vitória da persistência e a força das convicções

Uma sócia da AAP – Associação Ateísta Portuguesa conseguiu que o seu Actus Formalis Defectionis ab Ecclesia Catholica (acto de apostasia) fosse registado no livro de baptismos da paróquia onde foi baptizada, na área do Patriarcado de Lisboa. Um modelo para outros ateus/ateias que pretendem o mesmo, mas que têm adiado o seu pedido devido ao processo burocrático necessário.

A nossa associada teve a gentileza de nos enviar a sua carta para divulgação, o que muito agradecemos. Adaptando o texto a cada caso particular, este é, sem dúvida, um óptimo ponto de partida.

O documento está disponível neste link.