Loading

Categoria: Ateísmo

20 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

O Papa também é guiado pelo Espírito Santo

Ex-mordomo do Papa afirma ter sido “guiado pelo Espírito Santo” para vazar documentos do Vaticano.

«Os documentos vazados apontavam caos de corrupção em negócios do Vaticano com empresas italianas, incluindo serviços superfaturados, e detalhavam rivalidades entre cardeais e conflitos a respeito da administração do banco do Vaticano.

De acordo com a denúncia judicial, o mordomo do papa afirma que sua motivação para o desvio desses documentos seria fazer uma “limpeza” na Igreja Católica, por ter visto “o mal e a corrupção em todo lugar da Igreja”. Ele disse ainda que quis, com a divulgação das informações, cortar o mal pela raiz, “porque o papa não estava suficientemente informado”».

Diário de uns Ateus – O mordomo usou como defesa a proposta defendida aqui. Infelizmente para ele o Vaticano não acredita no Espírito Santo e acusou-o de insanidade mental.

19 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

E se a Associação Ateísta Portuguesa (AAP) convidasse os católicos para pensarem na fábula de Cristo e nas mentiras fundamentais da ICAR?

A Igreja Católica convida ateus e membros de outras religiões para uma missa de ação de graças pelos Jogos reservados a pessoas com deficiência, que se realizam em Londres de 29 de agosto a 9 de setembro.

“Esperamos que os atletas paraolímpicos do passado e do presente, católicos, cristãos, de outras religiões ou também ateus, estejam presentes na missa” marcada para 8 de setembro, afirmou James Parker, delegado da Conferência Episcopal de Inglaterra e Gales para a coordenação das Olimpíadas de 2012.

16 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

O MEU ATEÍSMO

Por

ONOFRE VARELA

Já confessei aqui que não sou (ou não era) um atento leitor, nem frequente visitador, deste site sobre Ateísmo. Isso acontece porque os computadores não me atraem e sou informaticamente analfabeto por vontade e conta própria. E embora faça parte dos órgãos sociais de quatro associações (duas de arte, uma de jornalismo, e mais a
Associação Ateísta Portuguesa, cujo movimento para a sua formação iniciei no Porto em 1997), também confesso que as actividades associativas, bem como as empresariais ou políticas, ao nível directivo, não me cativam. Não tenho jeito para líder, nem para balir como cordeiro em redil.

Prezo muito a minha liberdade de acção, de pensamento e de expressão, e talvez este modo de estar na vida seja a consequência de sempre me dedicar às artes (sou pintor, ilustrador, caricaturista e cartunista, para além de escrever em jornais [escrevi e desenhei em todos os jornais do Porto desde 1969 até 2000] e já ter publicado meia dúzia de livros) cuja “praxis” é individual e solitária.

Mas, há dias, dei uma volta pelo arquivo deste portal e li o texto “Porque Sou Ateu?”, de Jaime Gralheiro, publicado em 16 de Julho último. Deste autor já li excepcionais textos, noutras fontes, e recomendo a releitura atenta das suas razões a quem, de religiosidade, de ateísmo e de Humanidades, tiver uma visão séria, e não se fique pelas picardias — que também li nos recados de rodapé do excelente texto que refiro — que denotam um total desrespeito boçal e ignorante, pelo homem de cultura que é Jaime Gralheiro.

Do seu sincero e humilde texto ressalta esta verdade incontornável:
O ateu faz-se, não só porque pensa (os religiosos também pensam, por suposto…), mas principalmente pela especial excelência do seu pensamento.

(O ateu que se faz por si próprio, é de melhor qualidade do que o ateu induzido. Este, será igual [em sentido inverso] ao religioso que sai do aviário da catequese). O acto de pensar, para além de ser subversivo, pode ser comparado com o gosto pela música: há quem se fique pela adoração do Marco Paulo e da Ágata, e há quem prefira Zé Mário Branco e Manuel Freire!
Quer dizer: há o pensamento “pimba”, e o outro!…

Num plano mais elevado de pensamento, subimos degraus até Bach, Haydn, Chostakovich, Richard Wagner, Boccherini… e passamos pelos mestres da casa, Emmanuel Nunes, Victorino de Almeida, Fernando Lopes Graça, Carlos Paredes…

No mundo da Religião temos aqueles que pensam ao nível de Bach, mas a esmagadora maioria dos peões-militantes-de-base, que são os alimentadores da mesa farta dos melómanos Bachianos, não passam do nível… Quim Barreiros!

Alguns dos meus amigos ateus começaram por ser religiosos, tal como Jaime Gralheiro confessa, embora outros nunca tenham entrado numa igreja com espírito de crente por não terem sido contaminados em meninos.
E é nessa contaminação que reside o problema, e a diferença!…

A minha história de ateu começa pelo importante facto de os meus pais nunca me educarem na filosofia religiosa, mas no comportamento ético do respeito pelos outros e pela Natureza, impedindo a Igreja de me agrilhoar a mente, como faz aos cérebros tenrinhos. Estou eternamente grato aos meus pais, também, por isso.

Devo dizer que não fiz a comunhão, por um triz e por acaso! O meu pai, que nasceu em 1912, foi influenciado pelo anti-clericalismo da primeira República, mas não era fundamentalista e deixou à minha vontade fazer, ou não, a aprendizagem do Catecismo Católico, quando eu teria doze ou treze anos. Essa história conto-a no livro “O Peter Pan
Não Existe”, (Caminho, 2007) pág. 178 e seguintes.

Na adolescência não alinhava em missas, nem me considerava ateu ou agnóstico. O fenómeno religioso era-me indiferente. Passava-me ao lado vertiginosamente. Já estava incorporado no Exército quando comecei a pensar com mais qualidade na história de Deus e no hábito religioso dos meus camaradas, e tudo isso foi motivado pelo discurso de um padre militar, alferes-capelão.

Ser militar não era coisa que estivesse nos meus intentos, mas foi uma inevitabilidade a que não soube fugir. Naquele tempo a juventude tinha a vida parada, no mínimo, por três anos (no máximo, ficava estropiado ou morria) por causa do conflito armado com as Colónias, e muitos recusaram servir o Exército de Salazar e, clandestinamente, partiram para França e por lá ficaram, evitando, desse modo, participar na Guerra Colonial com a qual não concordavam.

A minha passividade reteve-me por cá, obrigando-me ao cumprimento do serviço militar obrigatório. Não declarei as habilitações académicas (3º ano de pintura) por recusa de dar o melhor de mim à ditadura de Salazar, e fui soldado raso, condutor. (De nada valeu esta minha repulsa pelo Exército, porque quem é portador de algo para dar, dá-o mesmo sem querer. No meu primeiro embate com a disciplina militar, fui condenado a quatro dias de prisão, que cumpri. E de África acabei por trazer três louvores!… Mas isso são contas de outro rosário).

Um dia, no quartel CICA 1, Porto, recebemos a visita do alferes-capelão e ouvimos o seu discurso. Estava ali para nos dar bons conselhos, disse ele. Já não recordo o teor da sua palestra, mas suponho ter sido semeada pela religiosidade alimentadora do espírito
de qualquer sacerdote, católico ou não, com a habitual e inabalável atitude de fé num deus supremo. Mas recordo o modo como ele rematou aquela sua apresentação, porque o registei numa espécie de diário que então fazia.

Disse-nos que devíamos seguir “um caminho certo” e “praticar o bem”, completando os seus anunciados conselhos com esta enigmática frase:
“Façam sempre o que a vossa consciência manda”.

Para mim era impossível ouvir aquilo e não reflectir… e ali andava surrealidade!
Imediatamente antes de aqueles recrutas entrarem naquela sala, tinham acabado de receber instrução de armamento, e uma arma é um objecto fabricado com o propósito de matar. O discurso do sacerdote teve como ilustração de fundo o som dos disparos que nos chegavam da carreira de tiro, os quais tinham o objectivo de apurar a pontaria para, na guerra, não se desperdiçar munições e ser-se certeiro na liquidação do inimigo. Cada tiro deveria corresponder a um cadáver.

Para além disso, não pertencíamos ao Exército de um governo democrático que, em princípio, usaria as armas na defesa de causas nobres. Não! Nós prestávamos serviço num quartel das Forças Armadas de um país que tinha um governo ditatorial, anti-democrático, e que alimentava uma guerra colonialista em África, contra os povos que
reivindicavam independência.

Era esta a surrealidade que emoldurava a presença daquele padre com discurso moralista no quartel (!?), como se houvesse moral que se aproveitasse, na acção bélica daquele exército!… Em tal contexto, o que é que se devia entender por “caminho certo?” E “praticar o bem”?! Será certo, e bem, pertencer ao exército de um ditador?
Será certo, e bem, partir para uma guerra colonial, lutando contra os povos que pedem a independência? Como pode um soldado fazer sempre o que “a sua consciência manda?”

Os exércitos obrigam a uma “consciência colectiva”, onde o indivíduo não é respeitado como tal, e recrutam jovens imaturos destituídos de consciência crítica. Aquele padre estaria a tentar dizer-nos que quem não concordasse com a política do governo colonialista não deveria, em consciência, estar ali? Estaria a incentivar a deserção e a rebelia?! E ele? Porque estava ali? Porque não desertava?!

A sua consciência estava tranquila e harmonizada com a situação política do país, que as Forças Armadas defendiam e ajudavam a manter? Na sua consciência não lhe pesava o facto, nem o fardo, de servir nas fileiras do exército de um ditador? Ou navegava contra-a-corrente e tentava, camufladamente, alertar-nos para a política de que estávamos distanciados?!…

O seu discurso não passaria de um conjunto de palavras de circunstância, no fingimento de, ao serem ditas por um sacerdote católico, serem exemplo de uma autoridade moral? Será que eu entendi mal o seu recado, transformando-o na lógica do meu pensamento cívico e arreligioso?…

Numa palestra posterior o padre acabou por destruir a boa imagem que eu estava a construir de si imaginando as suas intenções subversivas secretas a partir do seu discurso que, de algum modo, me parecia revolucionário. Dessa vez disse-nos:

— Deus vê-nos e escuta os nossos mais secretos pensamentos, portanto devemos pensar e executar só o bem… e, até, devemos dar a última gota de sangue, dar a nossa vida, pela Pátria… (!?)

Desilusão!… Senti-me traído por aquele sacerdote, e deixei de prestar atenção ao seu discurso que se revelou tão infantil… tão ao estilo de história da carochinha e do Pai Natal, em contraste com o outro que me pareceu ter “miolo”! Lembrei-me imediatamente daquela anedota do Zéquinha, a quem o padre disse que devia portar-se bem porque Deus estava sempre ao seu lado testemunhando as suas acções. Intrigado, o Zéquinha perguntou:

— Deus também está ao meu lado quando brinco no quintal da minha avó?
— Claro que sim, meu filho…
— Ora, vá-se lixar… a minha avó não tem quintal!…

Esta infantilidade anedótica do alferes-capelão, passei a detectar em todos os discursos de padres, a partir daquele dia! Nas igrejas onde assisto a casamentos, a baptizados e a funerais, mas também nas palavras de bispos e de papas, difundidas pela imprensa, pela rádio e pela televisão, e ainda nas palestras ridículas e vigaristas das seitas ditas cristãs (tão ridículas e vigaristas como as católicas, mas com nuances), em espaços televisivos e radiofónicos. (Se Jesus Cristo tivesse sabido do lindo serviço que fazia, tinha ficado quieto e caladinho e não havia milagres para ninguém!… Isto, se acaso a figura histórica JC existiu realmente, para além do mito sobre o qual foi, estrategicamente, construído o Cristianismo!… O que não é totalmente claro).

Parece-me que todos os padres falam para uma assistência de criancinhas de infantário, ou para adultos com um considerável atraso mental, colocando-os ao nível dos putos de cueiros! Se eu ouvisse esses recados religiosos desde o berço, o meu cérebro tinha sulcos, abertos como caminhos, por onde escorriam os recados religiosos transformados em “inegáveis verdades”. Mas quando se ouve desses recados, já com cérebro adulto, o crivo do sentido crítico funciona e não deixa abrir caminho por aí, porque já se percebe que esse não é o caminho.

Por essa razão é que a ICAR e o Islão teimam em “educar” as criancinhas na sua estética religiosa, sulcando os seus cérebros com um arado diabólico, semeando-o de mitológicos santos e demónios, impedindo que os seus intelectos amadureçam com qualidade. É assim que se fabricam soldados para alimentar o exército de religiosos, e assim queria fazer o actor Tom Cruise, recentemente, ao cérebro da sua filha, na seita Cientologia, mas a mãe da criança teve a sensatez de o impedir (mais uma vez agradeço aos meus pais o terem-me poupado a essa maldade).

O deus que espia no quintal de quem não tem quintal… e que condena à morte o seu amado filho-proveta… para nos salvar (!!??…), não pode ser coisa séria, nem convencer ninguém que pense e que não ouça Quim Barreiros!…

A experiência militar que me esperava nas matas dos Dembos, no norte de Angola (Dez. 1965 – Fev. 1968), foi trágica e mostrou-me a presença constante da morte. O medo pavoroso que sentimos pela irremediável morte, é o grande responsável pela sedimentação das crenças religiosas. Todas elas pretendem fintar a morte, propagandeando uma outra vida para além dela. É este o segredo do marketing religioso: aceitar a morte como passagem para o “reino de Deus” onde se desfrutará de felicidade inaudita! E a alma, que é etérea — logo, destituída de sistema nervoso — quando é enviada para o inferno, sofre abundantemente!… Mitologia pura, deglutida até à última garfada pelos religiosos seguidistas, incapazes de criticarem a ementa que lhes é servida em chip cerebral.

Nas matas dos Dembos vi de perto camaradas caídos em combate, e ajudei o médico numa autópsia. A morte rondava a cada hora de cada dia, e passei noites debaixo de fogo. Perante aquela situação de desespero prolongado, percebi a necessidade que os meus camaradas tinham de consumir o produto-droga-Deus, na procura de um conforto para as suas angústias. Assistiam fervorosamente às missas campais, movidos pela tal promessa de vida eterna, e na presunção de que se adorassem Deus e lhe rezassem com frequência desmedida, estariam protegidos em combate!

Conversei com camaradas protestantes que me diziam assistirem às missas católicas por ser “o sítio do encontro com Deus”. Compreendi todas as suas motivações, mas nunca senti necessidade delas. O que senti, isso sim, foi desconforto por ser o único, de entre os jovens militares que ali esperávamos o correr do tempo para regressarmos às nossas famílias a salvo, que não alinhava em conceitos religiosos. Não tinha ninguém com quem pudesse conferir os meus pontos de vista contra-a-corrente !…

A constante presença da morte não era agradável, mas era uma condição natural da vida, embora ali o drama do fim prematuro fosse ampliado pela situação de guerra, o que, certamente, valorizava o sentido religioso dos meus camaradas de infortúnio. O conceito de Deus estava nas suas cabeças, mas não na minha. Não havia deus algum que desviasse uma bala que viesse na minha direcção, e essa era a realidade científica que a fantasia de Deus não alterava. A diferença estava na qualidade do meu pensamento, e na qualidade do pensamento de todos os meus camaradas.

Era a tal questão da música !… Chostakovich ou Quim Barreiros ?… (Na altura, era mais Ray Charles ou Roberto Carlos ?). Percebi a infantilidade das suas crenças, e passei a interrogá-los sobre a sua fé, começando aí a fazer a minha colecção de conceitos
religiosos, com espírito de aprendiz de Antropologia. Não negava as suas convicções, nem os incentivava a prossegui-las ou a deixá-las. Só queria saber como era. Motivava a conversa como ignorante que era nas coisas que à “razão” da fé pertenciam, ouvia, aprendia e armazenava.

Assim fiz quando, em 1968, regressei à vida civil. Movido pela curiosidade religiosa que a experiência militar me proporcionou, obriguei-me a ler a Bíblia, a Tora, o Corão e textos budistas (Udãna, la Palabra de Buda. Barral Editores, 1972). Passei a frequentar missas católicas, com atenção e intenção crítica, conversei com padres e percebi o funcionamento do culto. Li filósofos e ensaístas. Os clássicos Feuerbach, Shopenhauer, Hobbes, Kant, Espinosa, Nietzsche… mas também o Catecismo Católico, Santo
Agostinho, David Hume, Pascal, Pierre Teilhard de Chardin… e mais Sartre, Roland Barthes, Bertrand Russel…

Tudo isto fiz durante um período de cerca de 25 anos, com sentido antropológico, numa atitude de aprender o comportamento humano perante o fenómeno religioso, e não animado de espírito guerreiro ao serviço do “anti-Cristo”, nem, tão pouco, na “procura de Deus”, do que não necessito absolutamente e em definitivo. Nem, ainda — como se vê pelo tempo dilatado —, com interesse de tirar um curso apressado de Religião, ao estilo dos cursos de Miguel Relvas!…

O fenómeno religioso, embora me interesse culturalmente, nunca constituiu matéria de extrema importância para a minha vida. Não é daí que eu tiro o meu sustento, apesar de me sentir bem lendo, pensando e escrevendo sobre o tema, e sempre fui muito passivo perante as religiões e as opiniões dos religiosos. Só me afirmei ateu, convicta e conscientemente, quanto já contava mais de 40 anos de idade. Mantenho-me tolerante, mas, às vezes (muito raramente), “salta-me a tampa” e assumo um discurso não habitual em mim, que não é antropológico do ponto de vista científico, mas que descamba mais para o estilo Gil Vicentino! Não sou santo e já não tenho idade nem paciência para aturar insolentes.

Hoje, perante o facto de um licenciado (médico, por exemplo) encarar o conceito de Deus com a mesma religiosidade demonstrada por um servente de pedreiro analfabeto, continuo a interrogar-me: Será que o licenciado não aprendeu nada, ou o analfabeto sabe muito?!…

Na verdade, crença e conhecimento (crer e saber) são matérias que não cabem no mesmo saco. São como água e azeite. Não se misturam nem têm índole semelhante. São, até, antagónicas, como o são os polos magnéticos. Repelem-se. Mas a primeira pode encontrar-se em cabeças recheadas com a segunda… quando se bebe da taça religiosa até ao fim, em catequeses e missas, na meninice!

Espanto-me com a recusa, ou incapacidade, que esse indivíduo intelectualmente superior tem, de apartar o mito do real! Acaba por fazer uma salada com ingredientes que não ligam! O resultado dessa experiência culinária, só pode ser… uma estupidificante diarreia mental !…

De facto o cérebro do Homem é complexo… e a música também. E a culinária… já agora !…

A religiosidade também pode ser manifestada em idade adulta, por quem não teve iniciação em criança, o que é mais raro mas acontece, e eu conheço um caso. Cada indivíduo, quando é dono da sua consciência, trilha caminhos próprios, motivados no seu querer e pelo seu crer. São interesses sempre iniciados por algo que vai funcionar como espoleta.

Na política aconteceu o mesmo depois do “Verão quente” de 1975. Filhos de comunistas, em regiões marcadamente de esquerda, filiaram-se no CDS. E alguns pais da ala mais direitista do espectro político da jovem democracia portuguesa, viram os seus filhos a militarem no PCP! A rebeldia contra o poder e a autoridade dos pais, pode criar destes fenómenos sociais, na política e na religião.

Obviamente (porque, realmente, não sou antropólogo, e não obstante a minha tolerância) não me coíbo de criticar costumes da Igreja, e de seitas religiosas que nascem como cogumelos em estrumeira para explorarem o sentido religioso dos mais despossuídos de tudo: de dinheiro, de sentido crítico, de qualidade de pensamento e de vida… e do resto.

Exploração que confirma o facto de Deus ser a pior invenção do Homem, porque tem, na subtil clonação das mentes, um dos aproveitamentos mais maldosos das religiões, criando “batalhões” que se servem de Deus para explorarem, chularem, sugarem e vigarizarem os crentes, que são, sempre, as vítimas culturalmente mais indefesas…

E isso devia constituir crime.

Onofre Varela

11 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

Uniões proibidas, citadas por Deus a Moisés

Por

Leopoldo Pereira

Estava eu a fim de resumir os conteúdos, quando me apercebi de que o melhor seria mesmo copiar na íntegra o texto bíblico, por certo bem mais apetecível na sua forma original.

Antes disso e concretamente para os que teimam em não ler o Livro Sagrado, quero relembrar que nos tempos antigos Deus falava muito, especialmente com os Profetas. Moisés terá sido, em meu entender, o mais solicitado, isto a avaliar pelas conversas que chegaram até nós! É de admitir que a maior parte delas se tenha diluído no tempo, lamentavelmente.

Aqui fica um apontamento desses inúmeros contactos, que Deus começava quase sempre de forma idêntica e com a modéstia que Lhe era característica:

“Diz aos filhos de Israel: Eu sou o Senhor, o vosso Deus. Não vos comporteis como na terra do Egipto, onde habitastes, nem como costumam comportar-se na terra de Canaã, para onde vos levo; não sigais os seus estatutos, mas praticai as minhas normas e guardai as minhas leis, deixando-vos guiar por elas. Eu sou o Senhor, vosso Deus. Guardai os meus estatutos e as minhas normas, que dão vida a quem os cumpre. Eu sou o Senhor.

Ninguém de vós se aproximará de uma parenta próxima, para ter relações sexuais com ela. Eu sou o Senhor. Não tenhas relações sexuais com a tua mãe. Ela é de teu pai, e é tua mãe; não tenhas relações sexuais com ela. Não tenhas relações sexuais com a concubina de teu pai, pois ela pertence ao teu pai. Não tenhas relações sexuais com a tua irmã, seja por parte de pai ou de mãe, nascida em casa ou fora dela. Não tenhas relações sexuais com as tuas netas, pois elas são a tua própria carne. Não tenhas relações sexuais com a filha da concubina de teu pai, pois ela é tua irmã. Não tenhas relações sexuais com a tua tia paterna, pois ela é do sangue de teu pai. Não tenhas relações sexuais com a tua tia materna, pois ela é do sangue de tua mãe. Não ofendas o teu tio, irmão de teu pai, tendo relações sexuais com a mulher dele, pois ela é tua tia. Não tenhas relações sexuais com a tua nora, pois ela é a mulher do teu filho. Não tenhas relações com a tua cunhada, pois ela pertence ao teu irmão. Não tenhas relações sexuais com uma mulher e com a filha dela, nem com a neta dela. São parentes e isso seria uma infâmia. Não cases com uma mulher e com a irmã dela, criando rivalidades. Não tenhas relações sexuais com uma mulher durante a menstruação.
Não sacrifiques um filho teu a Moloc, profanando o nome do teu Deus. Eu sou o Senhor.
Não te deites com um homem, como se fosse com uma mulher: é uma abominação. Não te deites com um animal, pois ficarias impuro. A mulher não se entregará a um animal, para ter relações sexuais com ele, pois seria uma depravação. (…)

Todas estas abominações foram cometidas pelos habitantes que habitaram nesta terra antes de vós, e a terra ficou impura. Todo aquele que cometer uma destas abominações será excluído do seu povo.

Portanto, respeitai as minhas proibições, não seguindo nenhuma dessas práticas abomináveis, que eram feitas antes de vós chegardes. Não vos torneis impuros com elas. Eu sou o Senhor vosso Deus”.
NOTA: Fica-se admirado como a malta da “velha guarda” era tão maldosa! Creio que os egípcios não apreciarão esta parte da sua História (a ser verdadeira…).
Sacrificar um filho ao ídolo Moloc não, mas ao Senhor… (o filho de Abraão conseguiu fugir ao pai, lembram-se?).

L. Pereira, 11-8-12

11 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

A CASTRAÇÃO SACERDOTAL

Por

ONOFRE VARELA

Os sacerdotes católicos começam por ser (e são-no por toda a vida) homens. Uma boa parte deles, provavelmente, constituirá uma colecção de homens frustrados. E isto porque a condição sacerdotal que assumiram na juventude, operou desvios nos seus modos de pensar e comportar.

Um dos desvios foi-lhes imposto pela proibição de darem uso ao sexo que, quer o papa queira, quer não, os padres possuem. O sexo tem uma função específica que vem escrita no caderno de encargos de cada um, que é o código genético, e negá-lo… é um berbicacho!…

O instinto sexual é uma condição natural. Funciona como mola impossível de conter para perpetuar a espécie. E todos os seres vivos (vegetais incluídos) o fazem das mais variadas maneiras e nas mais incríveis situações. Alguns deles até morrem depois da missão cumprida, como o louva-a-deus e o salmão. Os homens também estão,
incontornavelmente, abrangidos por essa lei natural.

Os padres católicos, porém, estão impedidos de serem homens biológica e psicologicamente inteiros, o que, se em alguns indivíduos acaba por ser uma condição pacífica, em muitos outros não o será, já que a condição de macho, de uma espécie inteligente e erótica (e o erotismo é importante), é-lhes negada, proibida e censurada.
A lei clerical que os impede de se realizarem sexualmente pode modificar (e modifica) o comportamento social de alguns indivíduos de sotaina e cabeção.

Dir-me-ão que há quem consiga viver casto, sem actividade sexual. É verdade que sim. (Ó p´ra mim!… À porta dos 70, já não me afadigo como aos 20 e aos 40!…). O cérebro dos humanos opera milagres! As possibilidades comportamentais do Homem são imensas, como ser inteligente e racional que é. O Homem é o único ser que se adapta a
quaisquer condições, inclusive àquelas onde as possibilidades de vida são impossíveis (como, por exemplo, navegar o espaço para lá da camada protectora da atmosfera), graças ao seu poder inventivo, à técnica e às capacidades específicas do cérebro que possui.

Há quem viva sexualmente casto e em harmonia, quando a condição da castidade parte de si mesmo. Sendo assim, a sua situação psicológica, muito provavelmente, será perfeita, porque se trata de uma opção pessoal. É como viver só, rejeitando a compartilha do apartamento.

Quem assim se comporta está a cumprir a sua vontade e a viver de acordo com ela. A sua condição de macho — o instinto sexual desse indivíduo —, não está a ser violentada, já que ser casto é uma opção própria, ditada pelo seu cérebro, por isso, intrínseca ao seu modo de pensar e de sentir. É o seu desejo. O mesmo não se poderá dizer quando a condição de castidade lhe é imposta; lhe chega de fora de si, em forma de lei escrita e com superiores hierárquicos fiscalizadores, como polícias de trânsito a
avaliarem o seu modo de conduzir. As reacções psicológicas desse indivíduo — interno de um seminário e rodeado de machos com os mesmos instintos sexuais a serem, coercivamente, refreados —, não será, certamente, as mesmas do outro que não é casto por imposição, mas por opção.

A Igreja é cheia de homens a quem foi imposta a castidade contra a sua vontade natural, e que transportam esse dilema nos seus cérebros, convivendo mal com ele todos os dias das suas vidas. Má convivência que, necessariamente, se reflectirá nas suas atitudes comportamentais. Mas a Igreja também tem sacerdotes que se relacionam sexualmente, numa situação obrigatoriamente clandestina, compensando o seu lado afectivo (e erótico) na relação sexual como prémio do desejo.

Estas relações, para os seus intervenientes, só têm a negatividade de serem clandestinas, imprimindo-lhes algo de relação incompleta e “pecaminosa”. Como relação secreta, não se pode mostrar aos outros a felicidade que se sente por amar fisicamente aquela pessoa!
Quanto à relação em si, desde que partilhada com parceiros (mulher ou homem, tanto dá) de maioridade e por vontade própria, ela é perfeita!

E como todos nós sabemos, por notícias que às vezes vêm a público, a Igreja enferma do crime de pedofilia, a juntar a tantos outros crimes e atitudes prepotentes que brotam do seu útero parideiro de desgraças, juntamente com mais uma colecção enorme de abusos de vária ordem contra a sociedade onde a Igreja se estabeleceu, e principalmente
contra as mulheres que são as eternas e preferidas vítimas do conceito do deus patriarcal, arcaico, homófobo e castigador.

Dirão os religiosos, na condição de advogados do diabo, que os crimes de pedofilia na classe clerical não são da Igreja, enquanto instituição, mas, apenas e só, de alguns sacerdotes.
Claro que sim! Mas um só que fosse, já era demais para a santidade de que a ICAR se apregoa. Um só energúmeno padre que abuse sexualmente de uma criança, é uma aberração da instituição, mercê da moral que a Igreja diz representar!

Na realidade, o número de padres pedófilos e abusadores sexuais de menores e de portadores de deficiência, é imenso!
E estes crimes são, habitualmente, silenciados pela hierarquia da Igreja. Os casos que chegam às páginas dos jornais serão, apenas, uma gota de um oceano de maldades.
A condição de “animal-predador-sexual”, no homem comum, é limada pela ética comportamental aprendida no meio que o formatou desde o berço como animal gregário que é, e pela lei instituída na sociedade, o que o impede de, quando estimulado pelo instinto sexual, violar todas as mulheres com que se cruza na rua.

Mas este homem comum, foi educado para se insinuar, escolher mulher, conquistá-la, namorar, e, por vontade dos dois, viver em comum e envolver-se numa troca de sexo, de saliva e de outros fluídos corporais numa dádiva mútua. Disto (que é bom!…), os padres estão proibidos de usufruir!

A Santa Madre Igreja e o papa, que é seu parceiro (B16, não esqueçamos, provém da ala mais extremista, direitista, estúpida, retrógrada, prepotente, arcaica, medieval e tenebrosa da ICAR), batem o pé para que assim continue a ser, permitindo-se os desvios que a Natureza opera nas cabeças sacerdotais (há religiosos que também são autores de actos positivos? Um dia falarei sobre isso).

A Igreja esquece que os padres, lá por serem padres, não deixam de ter erecções… e reprimi-las é anti-natural, embora esteja de acordo com o sacro-sadismo de infligir auto-sofrimento para atingir a santidade (!) e, se calhar, por essa via, conseguir um orgasmo…

Coibir a sexualidade é um acto psicologicamente violento, não sendo, por isso, um bom princípio para se ser uma pessoa de bem e conviver em harmonia consigo e com os outros.
Tenho para mim que quem não tem uma relação sexual que o satisfaça, não pode ser boa pessoa. E mais: provavelmente será azedo no modo de se expressar e conviver. Azedume que se nota em alguns recados de rodapé que estes textos às vezes suscitam… não é?!…

A esses espíritos azedos de fel, permito-me sugerir-lhes que conquistem uma mulher e se deitem com ela (*).
Vão ver que é bom!… e vão-me agradecer a sugestão!…
Vá… experimentem!…

(*) – Não sei se terão estaleca para isso. Se calhar só têm força na língua para vomitar insultos…

Onofre Varela.

9 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

ACERCA DA “INFALIBILIDADE” PAPAL

Por

ONOFRE VARELA

Os papas são homens como você, eu e o meu avô.
O meu avô, que era padeiro, por muito bom pão que fabricasse, não tinha só opiniões sapientíssimas. O mesmo acontece aos papas, por muito boas missas que celebrem.

Opinar é sempre um risco pela variedade de sensibilidades daqueles que ouvem ou lêem a nossa opinião e a analisam de outro ângulo, que é o seu ponto de vista. Não acredito que haja quem opine sobre o que não sabe. Todos os opinadores o fazem sobre aquilo que sabem ou “julgam saber”, o que pode não coincidir com o saber autêntico, mas estão protegidos pela presunção de saberem. Eu incluído.

Nesse sentido, o maior disparate proferido por alguém, coincidindo com o ponto de vista do outro, é, por este, entendido como coisa sapientíssima… embora não passe de disparate!
O inverso também é verdadeiro. A maior verdade que alguém profira, se não for aferida pelo entendimento do outro, acaba por se perder como verdade que é, e pode ser transformada numa mentira irrelevante ou incómoda, a não merecer qualquer crédito.

Exemplos destes, carregados desta negatividade do descrédito de relevantes verdades científicas, fazem a história negra da Igreja Católica (e de todas as religiões), o que se comprova com a trágica história de Galileu.

Na hilariante efabulação dos religiosos, em matéria de fé ou moral (os costumes), o papa goza da “Assistência Sobrenatural do Espírito Santo” (coisa perfeitamente ridícula), o que o preserva do erro, assim a modos como a vitamina C nos preserva da gripe. Esta “infalibilidade” (ia dizer infantilidade!…) criou os dogmas, que são “verdades imutáveis e infalíveis” para serem aceites pelos fiéis, com os olhos fechados e o cérebro lacrado.

O papa, como homem que é, é tão, ou mais, falível, do que o Orçamento Geral do Estado. Mesmo assim, desde o ano 90 dC que a infalibilidade papal é afirmada, e o papa Clemente I garantia falar “em nome do Espírito Santo”. No século XI afirmou-se, e registou-se para todo o sempre, que o papa “Nunca errou e não errará nunca”, frase copiada nove séculos depois, por Cavaco Silva, na versão “Nunca tenho dúvidas e raramente me engano”!

Num mundo onde tudo é temporário, mutável e falível, afirmar uma enormidade destas, só é possível na cabeça de um cavaco, ou de um crente, num tempo em que o “saber” era religioso. Quer dizer, num tempo em que o saber não era saber algum…

Hoje há uma instituição que produz saber: a Ciência. Mas os papas continuam “infalíveis”!… Não por serem ignorantes, já que ignorância é coisa que não existe nas cúpulas da hierarquia da Igreja… mas por necessidade de alimentarem a ignorância na cabeça dos crentes-militantes-de-base, para resguardo das suas lautas refeições, poderes temporais e mordomias sociais (sempre o poder terreal!).

Às vezes os papas (e outros religiosos) até opinam acertadamente! Mas a Maya faz a mesma coisa com o Horóscopo! Aliás, acertar de vez em quando, não é difícil: reparem que até um relógio parado acerta nas horas duas vezes por dia!
Os homens são todos tão iguais, têm atitudes tão previsíveis, que o difícil seria não se acertar em alguns prognósticos. Mas os papas têm um azar dos diabos… acertam menos do que a Maya!

Em matéria de “disparates infalíveis” proferidos pelos papas de todos os tempos, atente-se nestas autênticas pérolas de disparates papais, lembrados pelo filósofo espanhol Fernando Savater (Jornal El País, 5/11/2005):

Em 1791, como resposta à proclamação dos Direitos do Homem pelos revolucionários franceses, o papa Pio VI afirmou que “não se pode imaginar maior disparate do que entender que todos os homens são livres e iguais”.

Em 1832, o papa Gregório XVI sentenciou que “a liberdade de consciência é um erro venenosíssimo”. Tal sentença foi reafirmada por Pio IX, em 1864, condenando os principais erros da modernidade democrática, entre os quais incluía “a liberdade de consciência”.

Em 1888, Leão XIII, sentado no trono da Igreja Católica, proferiu mais um dos infalíveis disparates papais: “não é lícito defender ou conceder uma liberdade de pensamento, de imprensa, de palavra, de ensino e de culto, como se fossem direitos naturais do homem”. (Como se vê, os extremistas islâmicos que vociferam contra caricaturas, a liberdade de expressão e a igualdade da mulher, não inventaram nada.
Os papas já sabiam tudo há muito mais tempo!).

E Pio X, em 1906, tentou fulminar a lei francesa que determinou a separação entre Igreja e Estado, declarando que “a necessidade de separar Estado e Igreja é uma opinião falsa e mais perigosa que nunca, porque limita a acção do Estado, apenas, à felicidade terrena, descuidando o que deve ser a meta principal dos cidadãos, que é a beatificação eterna para além desta breve vida”. Esta beatitude parece ter sido a semente que produziu a erva daninha social chamada Escrivá de Balaguer, que já tem estátua a enfeitar a fachada da sede da multinacional Igreja Católica, no Vaticano.

Perante tais disparates, que dizer das minhas opiniões? Não direi que serão conclusões enciclopédicas… mas, no mínimo, perante as baboseiras solenemente proferidas do trono do Vaticano, sinto-me com o direito de, igualmente, dizer o que entendo da matéria, mesmo correndo o risco de proferir algum disparate que, a sê-lo, não molestará ninguém porque será um disparate sem a oficialidade dos disparates papais.

Isto mostra que o disparate é livre e está universalizado. A Humanidade tem caminhado de disparate em disparate e já, por variadíssimas vezes, atingiu o disparate total. A maioria delas conseguiu-o pela via das religiões.

A Igreja precisou de esperar que o cadeirão de onde foram proferidos tais infalíveis disparates fosse ocupado por Paulo VI para, no Concílio Vaticano II (1962-1965), finalmente reconhecer “a liberdade de consciência a que todas as pessoas têm direito, a qual não deve ser coarctada nem pelo Estado nem pela Igreja”!
Onofre Varela.

7 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

A MÁ FAMA DOS ATEUS (CONT.)

Por

ONOFRE VARELA

Na antiga Grécia os ateus eram considerados más pessoas, e em Portugal, ao longo de toda a Monarquia, no Estado Novo do fundamentalista católico António Oliveira Salazar em conluio com o cardeal Cerejeira, e até hoje, a coisa não é muito diferente…

Com o advento do 25 de Abril, Portugal abriu-se à Europa e a liberdade de expressão e de escolha foi instituída, permitindo à juventude que cresceu depois de 1974 uma educação escolar e científica mais abrangente.

Porém, nesta data (cerca de 40 anos depois) ainda não sei (de saber direitinho) do aproveitamento desses jovens perante os factos que fazem a História. Mas os rumores que me chegam, e os actos que testemunho, são cada vez mais preocupantes, com exemplos negativos de governos que lêem mais o catecismo católico do que a Constituição da República.

Ouço governantes e presidentes darem, demasiadas vezes, “graças a Deus”, ao estilo fundamentalista do Islão, o que não vaticina nada de bom para os seus actos de governantes de uma República que se afirma laica.

De facto, Deus foi a pior e a mais cruel invenção dos homens, e quando os políticos evocam o seu nome… temos fornicação social!

A bem dizer, a “Previdência Social” está a ser substituída pela “Santa Providência”!…

Os apelantes das graças de Deus são os nossos carrascos e coveiros… mas os ateus é que são os responsáveis do mal, naquelas cabeças meio ocas, onde se arrecadam velharias, mais o arquivo morto de conceitos desusados.

7 de Agosto, 2012 Carlos Esperança

A MÁ FAMA DOS ATEUS

Por

ONOFRE VARELA

Um dos meus amigos, sacerdote católico, afirma que eu não sou ateu.
No seu entender os ateus são más pessoas porque serão destituídos de sentimentos fraternos e incapazes de atitudes altruístas. E como me conhece bem, sabe dos meus afectos, interesses culturais, atitudes cívicas e respeito pelo próximo (incluindo as suas motivações religiosas) e por isso considera que eu não posso ser ateu!

É um preconceito que não lhe pertence em exclusivo. Há imensa gente a pensar assim, e se calhar sem fazerem ideia de onde brotou esse quisto cerebral que alimentam como sendo uma verdade absoluta. Mas tudo terá a ver com a formatação das suas cabeças de religiosos, em tenra idade, que lhes transformou o crânio num sótão de velharias
guardadas como relíquias de valor incalculável, incontornável e insubstituível.

A desacreditação dos ateus pertence ao filósofo Platão que declarou ser Deus a medida de todas as coisas, e puniu os adeptos do Ateísmo decretando-lhes três penas: para os “ateus inofensivos”, cinco anos de internamento numa casa de correcção, onde os membros do “Conselho Nocturno” os visitavam, reflectindo com eles acerca da incorrecção das suas condutas. Os ateus que praticassem heresias mais graves tinham
pena maior, e aos reincidentes era aplicada a pena capital.

A palavra “ateu” é muitas vezes usada como sinónimo de “mal comportado”, na convicção de que todos os crentes praticantes de credos religiosos são bondosas pessoas incapazes de uma ofensa ao próximo e que distribuem amor a torto e a direito…
Até há sacerdotes que entendem o termo “amor” como “fornicação” e abusam sexualmente de crianças e de deficientes mentais, transformando as sacristias, ou os seus quartos sacerdotais, em autênticos prostíbulos.

Relativamente a comportamento cívico, o ateu é tão bem (ou tão mal) comportado, quanto o crente e temente a Deus. Simplesmente, o ateu considera-se um mamífero primata, um ser gregário que precisa de viver em comunidade, e assume as suas acções perante os homens da sociedade em que vive, pois só a eles deve respeito, e só a eles prestará contas das suas acções. Depois da morte o ateu fina-se como se fina qualquer
ser vivente, animal ou vegetal. A palavra morte tem o significado de morte autêntica, que é o fim total, radical e perene daquela vida.

O crente na divindade considera-se filho de Deus, acredita ter sido feito por Deus à Sua imagem e semelhança (e afirma-se humilde?!…), que deve respeitar “e temer” Deus antes do respeito devido ao próximo, e crê que depois de morrer será confrontado com Deus, a quem vai prestar contas pelos actos praticados em vida, sendo, então, premiado com uma vida eterna e doce, ou condenado a um sofrimento atroz e perpétuo até ao fim dos tempos. Mitologia no estado mais puro!

Para os ateus, este derradeiro prémio ou castigo denuncia um pensamento débil. A realidade e a fantasia faz a diferença entre os pensamentos ateu e teísta.

O menino que nós fomos habita-nos para toda a vida, para o bem ou para o mal. E aquilo que nos é ensinado em idade tenra condiciona o raciocínio e os actos do adulto que somos.