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Categoria: Ateísmo

19 de Dezembro, 2012 Carlos Esperança

As transnacionais da fé

Deus é uma perigosa ficção que conquistou, no início, gente primária e supersticiosa. Umas vezes extinguiu-se rapidamente; outras, fez uma carreira gloriosa até atingir as classes mais poderosas que o confiscaram e transformaram em instrumento do seu próprio poder.

Se escasseiam os sócios, Deus dá origem a uma seita. Quando se desenvolve, esmaga a concorrência e combate os indiferentes, passa a religião. Então, cria-se uma hierarquia, impõem-se regras, organizam-se as finanças e reduz-se a escrito a tradição oral sob os auspícios de um iluminado a quem Deus dita um livro, normalmente num sítio ermo.

As religiões do livro já foram a sofrida aspiração de quem tinha o medo e a fome como horizonte. O Paraíso tornou-se o bálsamo para o desespero, a aspiração inconsciente de uma sociedade sem classes, o desejo de pobres e infelizes se tornarem iguais aos ricos e poderosos, renunciando à luta, e tendo o Paraíso como destino.

A correlação de forças impôs em cada lugar a hegemonia de uma religião e definiu qual era, ali, o Deus. O Deus único e verdadeiro é o Deus de quem detém o poder, onde outro qualquer é pertença de quem não preza a vida. Muitas vezes foi expulsa a concorrência, com persecução e brutalidade.

Foi então que se deu o salto dialético. A ficção institucionalizou-se, a vontade de Deus sobrepôs-se à dos Homens, a fé venceu a razão, o medo impediu o pensamento.

As religiões dividiram o mundo, de acordo com a sorte das armas, e o proselitismo é a estratégia que impõe o seu Deus aos crentes de outro Deus e, sobretudo, aos ateus. As religiões têm áreas definidas, zonas de influência demarcadas que a globalização pôs em causa. Destruído o equilíbrio, acossadas pelo medo, as religiões entram em histeria. Há o fantasma da extinção e do domínio de uma única.

O cristianismo, apoiado na cultura judaico-cristã, no poder económico e na força militar, partiu em vantagem para o ajuste contas com o islão fanático. A ICAR pressentiu o perigo de o Vaticano se reduzir a um museu, subalternizado pelos protestantes, e tem tentado a fusão das várias correntes cristãs sob a hegemonia papal.

No seu proselitismo à escala planetária veio à tona o antissemitismo secular, o pasmo pela fé islâmica, a sedução pela intolerância e o fascínio pelo fanatismo, a acordar na ICAR a memória das Cruzadas e o entusiasmo do Santo Ofício.

O próprio Opus Dei, uma espécie de Al-qaeda do Vaticano, por ora imune ao terrorismo armado, não hostiliza o islão, com quem partilha ideias ultrarreacionárias, e recuperou o medo de uma alegada conspiração judaico-maçónica, a quem atribui, em delírio, a responsabilidade pelo agnosticismo, a laicidade e o ateísmo.

O Vaticano faz pressão para impor anacrónicas conceções aos Governos e ONGs e aguarda que se decida a correlação de forças para se empenhar na batalha final.

17 de Dezembro, 2012 Carlos Esperança

Maria de Magdala

Naquele tempo, em Magdala, na antiga Palestina, uma multidão preparava-se para apedrejar Maria sobre quem recaía a acusação de pecadora. Fora um boato posto a correr, talvez por um corcunda da tribo de Manassé, ressentido por se ter visto recusado, que a sujeitara ao veredicto de que não cabia recurso.

O princípio do contraditório ainda não tinha sido criado, nem era hábito ouvir o acusado, jamais sendo mulher, nem a absolvição era previsível nos hábitos locais. A lapidação de Maria tinha transitado em julgado.

A lapidação era, aliás, um divertimento em voga, que deixava excitados os autóctones das margens do rio Jordão que atravessava o Lago Tiberíade a caminho do mar Morto. Diga-se, de passagem, que esse desporto ainda hoje é muito popular nos países islâmicos, para imenso gáudio das multidões, e satisfação de Maomé.

Aconteceu que andando o Senhor Jesus a predicar por aquelas bandas, depois de indagar o que se passava, aproveitou a multidão para se lhe dirigir, e disse:

– Aquele de vós que nunca errou que atire a primeira pedra.

Todos pareceram hesitar. Muitos deixaram cair as pedras com que chegaram municiados. Havia crispação nos que vieram de longe, com sacrifício, e um certo desapontamento de todos os que esperavam divertir-se. Só o Senhor Jesus continuava sereno, a medir o alcance das suas palavras. Mas, eis que da multidão se ergueu um braço e Maria de Magdala caiu derrubada por uma pedra certeira.

Enquanto algumas pessoas a reanimavam, na esperança de repor o espetáculo que tão breve se esgotara, o Senhor Jesus foi junto do atirador e disse-lhe:

– Então tu, meu filho, nunca erraste? *

– Senhor, a esta distância, nunca.

* Segundo um evangelho apócrifo o Mestre terá exclamado: Mãe!!! **
** De acordo com os exegetas esta possibilidade deve-se ao facto de a mãe de Jesus estar convencida de que era virgem mais de 18 séculos antes de Pio IX lhe ter atribuído essa qualidade.
16 de Dezembro, 2012 Carlos Esperança

Naquele tempo…

Naquele tempo…

Naquele tempo, Deus não era ainda o mito. Era apenas um mitómano a gabar-se de ter feito o Mundo em seis dias, há quatro mil anos, nem mais, nem menos, e descansado ao sétimo.

Era um celibatário inveterado que inadvertidamente criara Adão e Eva no Paraíso, onde vivia e tinha a oficina. Fez o homem à sua imagem e semelhança e a mulher a partir de uma costela do primeiro.

Preveniu-os de que não se aproximassem da árvore do conhecimento, advertência que a Eva logo desprezou, tentada por um demónio que por ali andava. O senhor Deus logo os expulsou do Paraíso, recriminando a malvada e condoído do tolo que se deixou tentar.

Entretanto, na Terra, local de exílio, o primeiro e único casal logo descobriu um novo e divertido método de reprodução que amofinou o Senhor e multiplicou a espécie.

Deus era bastante sedentário mas as queixas que lhe chegaram pelos anjos, um exército de vassalos hierarquizados, levaram-no a deslocar-se ao Monte Sinai onde ditou a Moisés as suas vontades. Ensandecido pelo isolamento e pela castidade veio ameaçar os homens e exigir-lhes obediência e submissão.

Após algum tempo, vieram profetas – vagabundos que prediziam o futuro – , lançando o boato de que o velho, tolhido pelo reumático, enviaria o filho para salvar o Mundo. Foi tal a ansiedade entre as tribos que alguns viram no filho da mulher de um carpinteiro de Nazaré o Messias anunciado.

Com a falta de emprego, algum pó e líquidos capitosos à mistura, inventaram a história do nascimento do pregador com jeito para milagres e parábolas.

Puseram a correr que Maria fora avisada pelo anjo Gabriel, um alcoviteiro de Deus, de que, sem ter fornicado, estava prenhe de uma pomba chamada Espírito Santo.

Nascido o puto, que nunca mijou, usou fraldas, fez birras ou fornicou, cedo se dedicou aos milagres e à pregação falando no pai e na obrigação de todos irem e ensinarem as sandices que debitava. Acabou mal e culparam os judeus, desde então os suspeitos do costume. Claro que JC também era judeu mas isso tem sido irrelevante.

Sabe-se que foi circuncidado, que era um monoglota exímio em aramaico, língua em que discutiu com Pôncio Pilatos, que só sabia latim, sem necessidade de intermediário.

Quando se lixou, crucificado, esteve três dias provisoriamente morto e, depois, subiu ao Céu levando o prepúcio que tantas discussões teológicas havia de gerar. Os judeus ainda hoje são odiados porque o mataram mas há quem diga que isso foi uma calúnia dos que se estabeleceram com a nova religião e queriam substituir a antiga.

15 de Dezembro, 2012 Carlos Esperança

O Deus do Novo Testamento

Por

Kavkaz

Há quem pense que “Deus” muda de carácter com o tempo. O Antigo Testamento relata-nos um “Deus” a provocar o Dilúvio, a destruir as cidades de Sodoma e Gomorra. Tudo por alegada perversidade humana. Ele não hesitou em provocar o sofrimento e a morte a tantos seres humanos, à excepção de Noé. Não distinguiu mulheres, velhos e crianças inocentes. Foi tudo arrasado por capricho de “Deus”. É o que nos relata a Bíblia. Mas não acreditem, pois é um livro repleto de histórias falsas.

Há crentes a dizer que o “Deus” do Novo Testamento já é bom, cheio de amor para dar, já não será o mesmo das depressões destrutivas. Dizem-nos que “Deus” até deixou que matassem o próprio filho feito a uma mulher a quem não pagava os alimentos e a educação do rebento e com quem não vivia maritalmente. Permitir matar o alegado filho, Jesus Cristo, para benefício da idolatria, é moral e criminalmente condenável. Se não soubermos que a história está mal contada e interpretada, teremos de exigir o julgamento de “Deus” pelas barbaridades cometidas. Como o faremos a todo e qualquer que tentar igual.

O Novo Testamento relata-nos um “Deus” com o mesmo carácter e estilo do Antigo Testamento. Ele não mudou e não se curou da esquizofrenia destruidora que o afectava. No livro Apocalipse podemos ver o que “Deus” pensa fazer. A manifestação de ódio e intenção de violência é extraordinária. Ninguém consegue imaginar e/ou fazer pior:

«Os tíbios, os infiéis, os depravados, os homicidas, os impuros, os maléficos, os idólatras e todos os mentirosos terão como quinhão o tanque ardente de fogo e enxofre, a segunda morte». Apocalipse: 21, 8.

O Novo Testamento relata-nos como “Deus” tenciona viver num futuro imaginado. Será de forma modesta, sem riquezas? Mas que “Deus” poderá existir sem o brilho e o resplandecer do ouro e das pedras preciosas? Não seria grande… Seria muito simples e acabaria por ser ultrapassado e ignorado pelos mais fortes.

O livro Apocalipse descreve-nos a cidade onde “Deus” viverá, Jerusalém (são judeus, lembrem-se):

«A cidade não necessita de sol nem de lua para iluminar, porque a glória de Deus a ilumina, e a sua luz é o Cordeiro». Apocalipse: 21, 23.

A cidade de “Deus” é muito mais rica e poderosa que todos os El Dourados do mundo juntos. Vê-se assim a cobiça e a luxúria de “Deus”:
«O material da muralha era jaspe, e a cidade ouro puro, semelhante a puro cristal. Os alicerces da muralha da cidade eram ornados de toda espécie de pedras preciosas: o primeiro era de jaspe, o segundo de safira, o terceiro de calcedônia, o quarto de esmeralda, o quinto de sardônica, o sexto de cornalina, o sétimo de crisólito, o oitavo de berilo, o nono de topázio, o décimo de crisóparo, o undécimo de jacinto e o duodécimo de ametista. Cada uma das doze portas era feita de uma só pérola e a avenida da cidade era de ouro, transparente como cristal. Não vi nela, porém, templo algum, porque o Senhor Deus Dominador é o seu templo, assim como o Cordeiro». Apocalipse: 21, 18-22.

Este “Deus” da Bíblia será o mesmo dos crentes que nos lêem? Talvez tenham inventado e imaginado um outro “Deus”, menos fantasioso e menos ambicioso por ouro e pedras preciosas. Se é outro o vosso “Deus” devem arranjar-lhe um nome diferente. Talvez a Bíblia não seja mesmo aquele livro em que os crentes acreditam seriamente…

14 de Dezembro, 2012 Carlos Esperança

Todo o cuidado é pouco

Por

Kavkaz

Idosos vítimas de fraudes
Aviso: Os idosos devem evitar os padres ou pastores religiosos porque «quando envelhecemos, deixamos de prestar atenção aos sinais manifestos da desonestidade alheia e tornamos-nos mais vulneráveis às vigarices de todo o tipo».

Não lhes confiem o vosso ouro ou dinheiro e riquezas!

11 de Dezembro, 2012 Carlos Esperança

Eu ateísta me confesso

Andam por aqui alguns crentes à espera da penitência pelos pecados cometidos. Vêm cheios de proselitismo, ansiosos por agradar ao seu Deus. Não sei se é o desejo de mortificação que os atrai, se a inútil vontade de nos converter. Podiam ser mais originais no que escrevem, mas limitam-se a manifestações de subserviência para com o Papa e a debitar louvores a um defunto antigo – Jesus Cristo. Depois, repetem até à náusea a prosa e a convicção.

Os créus têm as igrejas, os órgãos de comunicação social, a Concordata, os padres, a água benta, o incenso, as orações e a eucaristia para ruminarem a fé numa posição de privilégio. Todavia arribam a este espaço de incréus onde não se apela ao terço, não se recomendam orações, não se reconhecem milagres nem a bondade do Papa.

Aqui é um espaço de liberdade onde a Declaração Universal dos Direitos do Homem é a Bíblia que nos une, onde a igualdade dos sexos e a não discriminação por questões de raça, religião ou cor são o único credo. Aqui, no Diário de uns Ateus, consideramos que não há a mais leve suspeita da existência de Deus nem o menor motivo para pôr pessoas de joelhos e aliená-las com orações. Não reconhecemos à água benta mais valor do que à outra, nem à hóstia, depois de consagrada, mais calorias do que antes.

Os valores da liberdade, da igualdade e da fraternidade, que a Revolução Francesa nos legou, são incompatíveis com o direito divino que as religiões defendem e com as ameaças e castigos com que os seus padres assustam. O Inferno somos nós que o fazemos, aliás, sois vós, os crentes. O Vosso Senhor, que se zanga com os homens que procuram a felicidade, que tem uma multidão de clérigos a administrar uma treta a que chamam sacramentos, que aliena as pessoas com ladainhas e orações, é uma ficção perigosa de raiz totalitária.

O Vosso Senhor, o Deus que as religiões do livro vendem, com atributos pouco recomendáveis e mau feitio, é uma invenção muito antiga, adaptada ao longo dos séculos e imposta com a barbaridade de que só os clérigos são capazes.

Nós sabemos que Deus vos ama. Não deixem que vos troque por nós, ateus, que apenas queremos que nos deixe em paz.

8 de Dezembro, 2012 Carlos Esperança

Os outros animais deviam ter um deus

Se os cavalos fossem crentes, certamente que o seu deus teria relinchado mandamentos e concedido a ferradura de ouro aos mais devotos. Havia de proibir-lhes o pasto viçoso pela quaresma e a ração de aveia às sextas-feiras. E se, porventura, os cavalos de raça fossem lascivos, impor-lhes-ia restrições à cópula, limitando-a à égua própria e vitalícia para fins meramente reprodutivos.

Se os cavalos fossem dados à metafísica, saberiam converter em benta a água dos rios e a das fontes e aprenderiam a ajoelhar-se à passagem dos bispos dos cavalos e a rastejar perante o papa.

Se os cavalos se dessem à beatice, como os humanos, o deus estaria rodeado de éguas que relinchariam hinos e cavalinhos que o louvassem. Algumas éguas ficariam virgens para o glorificar e outras professariam em estrebarias com grades, para sua maior glória.

A fé tem obrigações e os cavalos haviam de arranjar burros que lhes levassem a palha e algum camelo que carregasse o andor com a Égua Lusitana ou com o cavalo de Alter do Chão, quando organizassem procissões equestres.

Não faltariam devoções pias, dias santos com rações suplementares de cevada e festas anuais, sem cabresto nem bridão, para poderem relinchar hossanas, mas não falhariam as esporas para punir o garrano que cobiçasse a égua alheia nem selins apertados para os que não cumprissem as devoções pias.

Se o deus que os homens da Idade do Bronze inventaram e nos legaram fosse amante de touradas, só os aficionados teriam direito ao Paraíso. Os toureiros seriam anjos, santos os forcados e o Campo Pequeno uma catedral.

Os cabos seriam apóstolos e os rabejadores bem-aventurados destinados aos altares. Os bispos trocariam a mitra pelo barrete e o báculo pela muleta. Os cavaleiros, forcados, bandarilheiros, novilheiros, campinos e outros intervenientes seriam os eleitos em vez de padres, freiras, diáconos, beatas e outros avençados do divino. E para agradarem a deus, os beatos fariam lides com o capote e cravariam ferros curtos por devoção.

O matador seria um cruzado com indulgências plenas e o forcado colhido numa tourada teria assegurada a ascensão ao céu onde o esperariam virgens, mel e outras iguarias.

Talvez os membros das associações protetoras dos animais tivessem de se remeter à clandestinidade e, denunciados pelo inteligente, pagassem o atrevimento servindo de churrasco na fogueira erguida para preservar das heresias as touradas e as boas pegas.

7 de Dezembro, 2012 Carlos Esperança

Homens, deuses e violência

«Deus podia ter sido uma ideia interessante mas tornou-se numa tragédia insuportável.» Esta frase que um dia me ocorreu, e é várias vezes citada com referência à origem, tem vindo a tornar-se cada vez mais evidente. Os homens que criaram os deuses arranjaram forma de ter uma explicação por defeito para todas as dúvidas, incertezas e angústias.

Os deuses foram criados à imagem e semelhança dos homens e atingiram nas religiões monoteístas, reunidos num único ser imaginário, a síntese dos defeitos dos homens, dos piores homens, dos mais intolerantes e cruéis.

O Inferno é simultaneamente um desejo recalcado de vingança, para quem é diferente, e o detonador do medo que, incutido desde criança, leva os homens a interiorizar o terror e a sujeitar-se aos interditos que o deus criou para os eleitos a quem reserva o Paraíso.

Deus é o malfeitor que espreita pela fechadura das portas, percorre as partes desnudas das mulheres, range os dentes perante a sexualidade e se zanga com tudo o que agrada aos humanos. Tem polícia privativa e porta-vozes, através do clero. E, como é surdo ou distraído, confia aos padres a confissão, a arma tenebrosa ao serviço da multinacional da fé sediada no Vaticano.

Deus é um perigo que urge exorcizar, uma ameaça que provoca guerras, ódios e medos. Deus é uma fonte de receita para os parasitas que vivem à sua custa e um castigo para os milhões de seres humanos fanatizados desde crianças e embrutecidos pela vida fora.

Basta ver os milhões de homens e mulheres que andam de rastos ou de joelhos para que o déspota, criado por tribos patriarcais de nómadas violentos, apazigue a ira que produz a peste, a lepra, os terramotos, os tornados e todas as tragédias com que o omnipotente se compraz.

Valha-nos a ciência. À medida que explica os fenómenos a que era atribuído carácter divino, vai corroendo a fé e libertando a humanidade.

3 de Dezembro, 2012 Carlos Esperança

Algumas confusões do Cristianismo

Por

Kavkaz

“Engana não um, não dois, nem três… Engana todos de uma vez!” Esta expressão conhecida sobre as capacidades dos vendedores da banha-da-cobra é uma trágico-comédia que se pode aplicar também ao Cristianismo. Vejamos alguns exemplos de confusões do Cristianismo não esclarecidas ainda pela pomba do “Espírito Santo”:

Os Evangelhos não indicam o ano ou o dia em que Jesus nasceu. Coisa de pouca importância, talvez… Mas os investigadores dão como certo que o Natal é celebrado na data errada e que o calendário já deveria estar mais à frente uns quatro a oito anos.

Jesus de Nazaré nasceu, não em Nazaré, mas em Belém. É o que indicam os relatos de Mateus e Lucas. Dizem de Nazaré, possivelmente por ter lá vivido uma boa parte da vida.

A mãe de Jesus, de nome Maria era Virgem, segundo a propaganda, mas há historiadores que acreditam que Jesus surgiu de uma violação ou de um adultério e acrescentam uma motivação diferente à viagem para Belém: fugia da vergonha e da má-língua da população da Nazaré. Jane Shaberg, professora de Estudos Religiosos na Universidade de Detroit, defendeu que Jesus nasceu de um namoro ou de um adultério. Como outros autores, indicou a possibilidade de se ter apaixonado por um soldado, antes de conhecer o velho José, ou mesmo quando já o conhecia. Sem surpresa, quando publicou a tese Shaberg recebeu uma carta armadilhada.

Em algumas fontes judaicas dos séculos II e III, um nome surge repetidamente como amante de Maria: Tibério Júlio Abdes Pantera. Arqueiro no exército comandado por Públio Quintílio Varo, fez parte do grupo que contra-atacou Judas, filho de Ezequias, na cidade de Séforis, no ano 4 a.C. Os Evangelhos defendem a Virgem Maria e a concepção de Jesus como obra do Espírito Santo.

A tradição aponta para o facto do alojamento onde Jesus nasceu seria um estábulo ou uma gruta. Segundo Peter Walker, estudioso da Bíblia, no livro “Pegadas de Jesus, conclui: “O estábulo é ficção.”

Os “Reis Magos” eram traduzidos nos Evangelhos como “homens sábios” e não falam de “Reis” ou em camelos ou se eram três ou trinta. A tradição acabou por fixar Baltasar, Melchior e Gaspar.

Os presépios são preenchidos com o boi e a vaca a aquecerem a criança recém-nascida. “Nos Evangelhos nunca se mencionam os animais”, escreveu o Papa Bento XVI no seu novo livro. A presença dos animais pode ter origem no livro de Habacuc, do Antigo Testamento, datado do século VII a.C., bem como no livro de Isaías. O Papa continua a não mudar de hábitos e o presépio do Vaticano, na Praça de S. Pedro, continuará a ter os mesmos animais de sempre.

(Texto adaptado e resumindo o artigo original “Os Mistérios do Nascimento de Jesus Cristo”, de Ricardo Dias Felner, revista “Sábado”, Nº 448 de 29 de Novembro a 5 de Dezembro de 2012)