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Categoria: Ateísmo

8 de Janeiro, 2013 Carlos Esperança

DE NATURA DEORUM (2 de 3)

Por

JOÃO PEDRO MOURA

BÍBLIA

            A Bíblia é o livro do cristianismo. Parcialmente, também é o livro do judaísmo. Mas aqui interessa, fundamentalmente, o cristianismo que é o que nos “afeta” a todos, em termos de civilização e matriz cultural…

Continuando com a “Natureza de Deus”, vou, seguidamente, explanar sobre “a criação do mundo”, em 6 dias, na versão bíblica, a origem da humanidade e a genealogia do profeta-mor do reino, Jesus…

… Nada como começar com a origem das coisas…

 

OS 6 DIAS DA CRIAÇÃO

1- Génesis 1:1-19:

“1- No princípio criou Deus os céus e a terra.
2- E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
3- E disse Deus: Haja luz; e houve luz.
4- E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.
5- E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.
6- E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e águas.
7- E fez Deus a expansão, e fez separação entre as águas que estavam debaixo da expansão e as águas que estavam sobre a expansão; e assim foi.
8- E chamou Deus à expansão Céus, e foi a tarde e a manhã, o dia segundo.
9- E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção seca; e assim foi.
10- E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento das águas chamou Mares; e viu Deus que era bom.
11- E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim foi.
12- E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom.
13- E foi a tarde e a manhã, o dia terceiro.
14- E disse Deus: Haja luminares na expansão dos céus, para haver separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais e para tempos determinados e para dias e anos.
15- E sejam para luminares na expansão dos céus, para iluminar a terra; e assim foi.
16- E fez Deus os dois grandes luminares: o luminar maior para governar o dia, e o luminar menor para governar a noite; e fez as estrelas.
17- E Deus os pôs na expansão dos céus para iluminar a terra,
18- E para governar o dia e a noite, e para fazer separação entre a luz e as trevas; e viu Deus que era bom.
19- E foi a tarde e a manhã, o dia quarto.”

Como se pode ler, deus criou a “luz”… no primeiro dia, mas só criou o sol, a lua e as estrelas, no quarto…

Ainda gostava de saber qual foi a extraordinária fonte de luz, que deus criou no primeiro dia, distinguindo o “dia” da “noite”, sem ser o sol, nem a lua nem as estrelas…

… Mas acho que nunca o saberei…

Mais: como é que deus, no seu infinito poder, consegue estabelecer o primeiro dia, um período de 24 horas, em que o sol alterna entre o acima e abaixo da linha do horizonte, sem ter criado o… sol???!!!…

O próprio deus a desafiar as leis da Física, contraditando-as, mas estabelecendo-as, 3 dias depois…

Os poderes de deus, em todo o seu esplendor, “chumbados” logo no primeiro exame sobre astronomia elementar…

Eu explico: é que os néscios que fizeram o Génesis, não sabiam que a luz da aurora era a primeira radiação visível do sol emergente. Pensavam que era uma luz abstrata, independente do sol. Por isso, é que tais néscios puseram o seu deus de fancaria a brincar às luzes…

Das duas, uma: ou deus inspirou os néscios, imperfeitamente, ou foram estes que fizeram a “luz” do Génesis, desinspiradamente…

 

ADÃO, EVA, CAIM, ABEL E…

2- Nos capítulos 2 e 4 do Génesis, o “nosso Senhor” põe-se a criar mais coisas estranhas, tais como o primeiro homem e a primeira mulher, mais 2 filhos de ambos, Caim e Abel, tendo aquele matado este, posteriormente.

Todavia, no versículo 17, do cap. 4, lê-se esta enormidade:

“E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu, e deu à luz a Enoque; e ele edificou uma cidade, e chamou o nome da cidade conforme o nome de seu filho Enoque;”

Pelo que, o quesito emerge com uma potência esmagadora:

– Donde é que raio surgiu a mulher de Caim???!!!

Tínhamos o casal primevo, os seus filhos, Caim e Abel, e… mais nada!

Agora, aparece uma mulher obscura vinda de nenhuma parte…

Como é que a partir de 2 homens, Caim e Abel, este, entretanto defunto, se poderia originar a humanidade???!!! Pelos vistos, inventou-se uma mulher para dar seguimento…

Só que, como é que a partir dum casal se poderá originar uma humanidade???!!! A partir de relações incestuosas???!!!…

Os mistérios de deus são insondáveis! Tão insondáveis que nem se consegue vislumbrar nem a lógica nem os factos nem o que quer que seja do desatino divino…

3- Mais e pior: a partir do capítulo 5, do Génesis, a descendência de Adão é totalmente diferente do cap. 2 e 4:

Génesis 5:1-5

“Este é o livro das gerações de Adão. No dia em que Deus criou o homem, à semelhança de Deus o fez.
Homem e mulher os criou; e os abençoou e chamou o seu nome Adão, no dia em que foram criados.
E Adão viveu cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, e pôs-lhe o nome de Sete.
E foram os dias de Adão, depois que gerou a Sete, oitocentos anos, e gerou filhos e filhas.
E foram todos os dias que Adão viveu, novecentos e trinta anos, e morreu.”

Já nem se fala de Eva, mas duma vaga mulher…

Temos, então, um Adão a gerar um filho aos 130 anos (!!!) e a morrer aos 930 anos (!!!)….

Naquele tempo é que as pessoas viviam rijamente!…

 

GENEALOGIA  DE  JESUS

4- Mateus 1:1-16:

“1- Livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.
2- Abraão gerou a Isaque; e Isaque gerou a Jacó; e Jacó gerou a Judá e a seus irmãos;
(…)
15- E Eliúde gerou a Eleázar; e Eleázar gerou a Matã; e Matã gerou a Jacó;
16- E Jacó gerou a José, marido de Maria, da qual nasceu JESUS, que se chama o Cristo.

17- De sorte que todas as gerações, desde Abraão até Davi, são catorze gerações; e desde Davi até a deportação para a babilônia, catorze gerações; e desde a deportação para a babilônia até Cristo, catorze gerações.”

5- Lucas 3:23-38:

“23- E o mesmo Jesus começava a ser de quase trinta anos, sendo (como se cuidava) filho de José, e José de Heli,
24- E Heli de Matã, e Matã de Levi, e Levi de Melqui, e Melqui de Janai, e Janai de José,
(…)
34- E Judá de Jacó, e Jacó de Isaque, e Isaque de Abraão, e Abraão de Terá, e Terá de Nacor,
35- E Nacor de Seruque, e Seruque de Ragaú, e Ragaú de Fáleque, e Fáleque de Éber, e Éber de Salá,
36- E Salá de Cainã, e Cainã de Arfaxade, e Arfaxade de Sem, e Sem de Noé, e Noé de Lameque,
37- E Lameque de Metusalém, e Metusalém de Enoque, e Enoque de Jarete, e Jarete de Maleleel, e Maleleel de Cainã,
38- E Cainã de Enos, e Enos de Sete, e Sete de Adão, e Adão de Deus.”

6- Matã e Heli eis os nomes dos avós paternos de Jesus, segundo os evangelistas, Mateus e Lucas…

… E o resto dos antepassados raramente coincide na genealogia dos 2 evangelistas…

Como é que 2 evangelistas, que, supostamente, inspirados pelo deus infalível, deveriam apresentar a genealogia infalível do profeta/deus, contradizem-se???!!!

Começa logo no avô!

Como sabem, da lógica, duas proposições contraditórias anulam-se mutuamente…

Jesus, essa espécie de ectoplasma filial de deus, “chumba” logo no exame inicial da sua presumida existência…

7- Temos, então, a Bíblia a falhar logo na origem do mundo, da humanidade e do profeta-mor do cristianismo, o fantasmagórico Jesus…

7 de Janeiro, 2013 Carlos Esperança

Citação de José Saramago

«Já não adianta nada dizer que matar em nome de Deus é fazer de Deus um assassino. Para os que matam em nome de Deus, Deus é o Pai poderoso que juntou antes a lenha para o auto de fé e agora prepara e coloca a bomba.»

José Saramago, Visão, 18-08-2005

4 de Janeiro, 2013 Carlos Esperança

DAS CHAGAS E DAS MENTIRAS

Por

David Ferreira

Ao longo da minha vida, sempre que a ocasião o propicia, tenho colocado o dedo na chaga permanentemente aberta e purulenta que debrua a bandeira de quase todas as religiões. É um acto consciente e muitas vezes solitário, que se manifesta inconscientemente, como quem anseia desaguar o excesso de águas inquinadas que a enxurrada sociocultural vai acumulando ao longo dos recantos pantanosos do subconsciente.

Por diversas vezes me questionei acerca do porquê de tal necessidade de alívio mental imediato perante o vislumbre de qualquer centelha mais perniciosa de religiosidade, mas sem necessidade, uma vez que, no fundo, sempre soube a resposta. Mas se o porquê já não me assiste, então para quê?

As religiões não são somente uma proposta ou uma visão filosófica daquilo que apreendemos como realidade, muito menos um simples e cosmológico retransmissor de entidades sobrenaturais indefinidas e indefiníveis que se apresentam, num perverso jogo multidimensional das escondidas, como últimos criadores incriados a necessitarem de constante atenção, como crianças que nunca tiveram pais, em apoplética e eterna carência afetiva.

As religiões são, sobretudo, a materialização e a implementação de uma outra forma de poder, alternativa e concorrente ao poder secular. Se o poder dos homens sobre os homens, assente tanto em pilares de bom senso como, por vezes, na falta dele, serve para regular a manutenção e a subsistência do nosso Eu físico, numa desejada e inevitável harmonia social, já o poder religioso, o de um ou vários deuses sobre os homens, conforme o delírio ou o grau de intoxicação alucinogénia, assenta nos maleáveis pilares evolucionários da moderação comportamental e da sobrevivência, como o medo do desconhecido, o sofrimento, a angústia, a necessidade de explicar fenómenos naturais poderosos para uma adaptação mais sincrética à realidade e, talvez o mais importante de todos, a percepção inequívoca da morte.

É neste limbo de percepções inefáveis e de sentimentos impetuosos, que o espectro da religiosidade estende os seus tentáculos, cheio de espiritualidade mas com muito pouca espirituosidade, com o objectivo de subjugar, regular e comandar o sempre volúvel Eu incorpóreo.

Seja com o Cristo que incessantemente se ressuscita, condenado a salvar os homens por intermédio da exibição morbígena e pornográfica da sua execução, seja com o profeta quezilento e rancoroso que não aceita um gracejo sem suar aziúme por todos os interstícios lendeosos das veneráveis barbas, os arautos do paraíso acotovelam-se diligentemente no resguardo dourado das suas bancas de feira e apregoam aos sete céus a originalidade misericordiosa que aduba os seus terrenos contrafeitos, numa competição desenfreada pela máxima acumulação de almas no mínimo de espaço-tempo possível. Vendem sonhos, compram almas. Contrabandeiam acções virtuosas, lucram indultos ansiados fervorosamente, analgésicos místicos que atenuam a dor auto-infligida que o transtorno dissociativo de personalidade provoca. Publicitam virtudes, mascaram imperfeições. Apelam à doçura, esquecem, ocultam e, por vezes, praticam a tortura. Criticam a idolatria, gerem multinacionais de arte sacra. Perfilham a ciência, praticam exorcismos. Exaltam a criação do Homem e conspurcam-na com pecados originais, vergonhosos e capitais. E tantos malabarismos que tais.

São vendedores de sonhos que reclamam o reino eterno, negociando a eternidade a troco de mentiras que se eternizam. Vendem o desejo de que a certeza, adquirida e multiplicada pelos outros voluntariamente e de uma forma viral, de reza em reza, lhes remova ilusoriamente a agonia da sua própria incerteza e lhes conceda o antídoto perfeito que domestique e tranquilize complacentemente o Mr. Hyde de sono leve que hiberna no seu convulso Dr. Jekyll.

Para quê, então, a necessidade de apalpar periodicamente essa ferida hemofílica que teima a sarar? Para estimular a produção de glóbulos brancos. E para que ela não se esqueça que não é mais que uma ferida que teima em evoluir até à imponência tranquila, natural e adulta de uma cicatriz. E, sobretudo, porque não gosto de mentiras, mesmo que o mitómano que as conceba seja um obsessivo e compulsivo portador de boa vontade.

2 de Janeiro, 2013 Carlos Esperança

DE NATURA DEORUM* (1 de 3)

Por

JOÃO PEDRO MOURA

– A BASE

* “Da Natureza dos Deuses”, é o título duma trilogia que o escritor romano Marcus Tullius Cícero, escreveu em 45, antes da nossa era, explanando sobre a teologia grega e romana, mormente a estoica e epicurista.

Aproveitando o título, explano eu, agora e aqui, 2058 anos depois, sobre a natureza de deus: o conceito, a “obra” escrita e a “obra”… final…

A CAUSA PRIMEIRA

            1-Os crédulos da coisa divina, para convencerem os incréus, ou quem quer que seja, da necessidade de deus, costumam enunciar o seguinte silogismo:

– Tudo tem uma causa

– O Universo teve uma causa

– Logo, a causa é deus

2- Examinemos a validade deste silogismo. “Tudo tem uma causa”? Geralmente é verdade, para aquilo que nós conhecemos, objetos, pessoas, qualquer coisa teve uma causa, mais ou menos conhecida, independentemente da sequência de causas que originam uma sucessão de coisas.

3- “O universo teve uma causa”? Aqui nós não sabemos nada. Apenas saberemos remontar a vida atual e a matéria inanimada a uma sucessão retrógrada, que culmina na teoria do Big-Bang, superexplosão primordial, donde teria decorrido toda a matéria, em processo dinâmico de evolução. Não podemos adiantar mais nada, a não ser registar as fases e os momentos cruciais, plausíveis, da História Natural.

Mas insistem os crédulos que tinha de haver uma causa para o universo, neste caso, para o próprio “Big-Bang”, uma vez que tudo teria uma causa e o universo não poderia aparecer sozinho…

…Mas nós não sabemos se houve uma primeira causa! Para que serve especular?! É aqui que entram as religiões…

Aliás, nós só conhecemos a matéria, e como esta nunca poderia ter aparecido do nada (“ex nihilo, nihil”), deveremos concluir que a matéria é eterna, portanto, nunca foi criada.

4- “Logo, a causa é deus”? Em primeiro lugar, para alguém introduzir “deus” num silogismo, teria que justificar a sua existência, para poder operá-lo num raciocínio silogístico; em segundo lugar, como não conseguem demonstrar a existência de deus, impedindo, assim, a configuração duma hipótese divina, introduzem-no meramente como conceito especulativo… e acham ter resolvido o magno problema da origem primordial das coisas…

5- … Mas realmente não está resolvido…

Até porque, pegando no argumento da “causa divina”, como “causa primeira”, opugnaríamos logo este argumento da “causa primeira”, agora aplicado a deus:

– E quem criou deus???!!!

6 – De novo, os recalcitrantes crédulos tratam logo de arranjar uma réplica argumentativa, arengando com a suposta impossibilidade de haver uma causa para deus…

… E por que é que, então, teria que haver uma “causa primeira” para a matéria???!!!

Então, para o seu deus, não haveria uma causa primeira, mas para a matéria tinha que haver?!…

Isto é uma contradição antitética da credulidade religiosa!

OMNISCIÊNCIA, OMNIPOTÊNCIA E OMNIPRESENÇA

7- Omnisciência, omnipotência, omnipresença: estes são os poderes lógicos e indeclináveis de deus, enquanto conceito.

Mas a sua aplicação prática vai levar a situações tais, que invalidam tais poderes…

Deus sabe tudo, pode tudo e está em toda a parte, desde há biliões de séculos, portanto, no passado, no presente e… no futuro.

Ora, tudo aconteceu, acontece e acontecerá no mundo: desastres naturais, acidentes de todo o tipo, assassinatos de “culpados” e inocentes, atos cruéis e virtuosos, vidas boas e más, sofrimento e ventura, etc.

Pelo que, o quesito emerge com todo o vigor:

– Que fez deus para evitar o mal e promover o bem???!!!

Nada!!! As coisas vão, simplesmente, acontecendo…

8- Dizem os crédulos que deus criou, mas deu liberdade às pessoas, para fazerem o que entendessem, mal ou bem…

Mas este argumento é intrinsecamente falso:

O que distingue um ato criativo divino, e consequente e suposta atribuição de “liberdade” ao objeto criado, duma criação humana, é que esta não domina absolutamente a matéria, e, por isso, as criações humanas têm falibilidade.

Um produtor de computadores e outro de automóveis até os podem criar a funcionar bem, mas não podem garantir uma perpétua funcionalidade, sem problemas.

Os objetos criados pelo ser humano têm, de vez em quando, avarias, falhas, degradações, e a manutenção permanente pode obviar a uma parte desses problemas, mas não sempre, nem todos…

9- Agora, o que é que um colosso absoluto tem a ver com seres humanos???!!!

Como é que tal entidade absoluta poderia criar seres humanos, sem saber o que eles iriam fazer a seguir???!!! Então, deus não é omnisciente???!!! E não é omnipotente???!!!

Quando uma pessoa dá liberdade a outra pessoa, aquela não saberá necessariamente o que esta vai fazer. É o que acontece com os pais relativamente aos filhos: aqueles não sabem o que estes irão exatamente fazer, com a obtenção de liberdade.

Uns filhos poderão “triunfar” na vida; outros enveredarem pela marginalidade; uns seguirão caminhos imprevistos; outros previstos, etc.

Estou certo que, se dependesse dos pais, conseguir o melhor para os filhos, com a liberdade que estes alcançaram, viveríamos num mundo virtuoso e venturoso…

Mas o ser humano não é assim…

Agora, deus, que tudo sabe e tudo pode e em todos os lugares está presente, como é que pode “dar liberdade” a criaturas programadas e determinadas apenas e só para aquilo que deus quis???!!!

Por isso é que os crédulos até têm um bordão, “Se deus quiser”, que contraria, exatamente, a suposta “liberdade” que os humanos teriam recebido de deus…

Dizer que deus criou os humanos e lhes deu liberdade, além de ridículo e absurdo, é o mesmo que dizer que deus não sabe o que cada um vai fazer com essa “liberdade”, tal-qualmente, um pai ou uma mãe ou um produtor de transformadores elétricos ou de galinhas também não sabem exatamente se as suas produções vão funcionar corretamente e sempre sem problemas…

Se um indivíduo se tornou criminoso, outro cirurgião, outro ateu e outro crédulo, então, o “nosso” plenipotenciário deus não só sabe isso tudo, previamente, como programou as pessoas para isso, pois que facilimamente as poderia programar para outras coisas…

… Pois que toda a constituição físico-química dos indivíduos e suas interações e suas qualidades genéticas e sociais, que o propendem para o “mal” ou para o “bem”, foram determinadas por deus.

10- Dar liberdade a alguém é torná-lo capaz de fazer o que entender… sem previsibilidade.

Como é que um deus, que sabe sempre o que cada um vai fazer, poderia “dar liberdade”???!!!

11- Se os crédulos, na sua estupidez infinita e fatal, insistem que o “mal” decorre da dádiva divinal de liberdade aos humanos, e que estes fariam o que entendessem, de bem ou de mal, e que o mal estaria, então, nesse desvio de alguns das virtudes preconizadas por deus, então, por que é que acontecem males naturais, como sismos, furacões, tsunamis, tempestades, secas, inundações, causadores de milhares de mortos?!…

… Será que são consequências de deus ter dado “liberdade” à geomorfologia e aos outros elementos inanimados terrestres???!!!…

… E as crianças que morrem, alguns pouco depois de nascerem, de doenças graves???!!! Também serão consequência de se “desviarem” dos “retos caminhos divinos”???!!!

As perguntas multiplicar-se-iam, mas a resposta é só uma: o deus das religiões, tal como no-las apresentam, não criou nada…

…Os crédulos é que acham que há deus!…

CRIADOR, GOVERNADOR E JUSTICEIRO

12- Deus criador???!!! Mas para que é que um colosso absoluto daqueles criaria???!!!

Alguém consegue imaginar, mesmo que vagamente, um motivo para tal deus criar???!!!

Imaginemos o conceito de deus: é imutável, porque não precisa de tomar decisões, nem de ir para aqui nem para acolá, também não tem qualquer vislumbre de tristeza ou alegria, nem vontade de se satisfazer ou o quer que seja, que nos caracteriza a nós, humanos.

Deus criaria, para quê???!!! Para brincar aos computadores realistas, num jogo chamável de Human Games???!!! Para ver o que acontece???!!! Para se entreter???!!! Para brincar, simplesmente???!!!

A ideia dum deus criador ainda é mais absurda do que a sua mera imaginação!

Além de que um deus criador, de coisas, pessoas, animais, massa, energia, invalida, concomitantemente, a ideia dum ser imutável, pois que decidiu criar, transmutando-se duas vezes: ter a ideia (???!!!…) e praticá-la…

… Pelo que não seria eternamente ativo e necessário, manifestando-se, apenas, a partir dum momento.

Então, que teria feito antes das criações???!!!

13- Deus governador???!!! Isto é, um deus que intervém, respondendo favoravelmente a preces (é para isso que servem as orações, não é, crédulos?!…), praticando milagres, portanto, corrigindo falhas…

… Mas tudo isto contraria a perfeição do criador, pois que um criador, como deus, nunca poderia intervir posteriormente para alterar o curso das coisas, sob pena de invalidar a perfeição da obra que fez…

… Já para não questionar por que é que deus só intervém umas vezes, nesta ou naquela pessoa, neste ou naquele evento, e pretere as(os) demais…

14- Deus justiceiro???!!! Sim, sim! O deus judio-cristão, mais o colega islâmico, tem duas sentenças, no Dia do Juízo Final: a sentença paradisíaca e a pena infernal, ambas perpétuas…

Na primeira, os religionários da igreja vencedora (qual será?) seguem, em excursão recreativo-cultural, a caminho do jardim da celeste corte, para não fazerem mais nada durante a eternidade: nem trabalhar, nem andar, nem comer, nem fornicar, nem beber, nada, porque nada precisam de fazer…

Os malvados, como ateus, indiferentes, religionários doutras casas e demais cambada seguirão, em sofrimento atroz, para o inferno, onde serão assados “ad eternum”, mas sem morrerem, que é para o suplício ser permanente e satisfazer, assim, deus… que os criou com esse defeito…

Engraçado, não é?!

Eu não terei razão, quando digo que a religião é a coisa mais estúpida do mundo e… arredores?!

31 de Dezembro, 2012 Carlos Esperança

Feliz 2013

Feliz Ano Novo

Feliz Ano Novo

Diário de uns Ateus deseja aos colaboradores e visitantes um 2013 tão feliz quanto possível.

28 de Dezembro, 2012 Carlos Esperança

O ateísmo e a cólera pia

Já disse numerosas vezes que a religião e o ateísmo não atestam a bondade de ninguém. Há crentes bem formados e ateus malévolos.

Estaline não era melhor do que Urbano II e Mao, embora mais pudico, não era menos sinistro do que os Bórgias ou pio IX. Acontece que os crentes o são por hábito, desde crianças, por herança familiar ou ainda por constrangimento social, enquanto os ateus o são por não acreditarem em afirmações que carecem de provas.

Não conheço um único ateu que se regozije por ter libertado da hóstia e da genuflexão um crente, mas noto que os créus exultam quando colocam de joelhos um agnóstico ou fazem rastejar um crente de uma religião concorrente.

Os homens não se dividem em crentes e não crentes, separam-se por preconceitos e por intoxicações que os funcionários de Deus fomentam nas madraças, mesquitas, pagodes, sinagogas e catedrais. Há quem prefira rastejar como os répteis a andar de pé como os primatas evoluídos.

A piedade, em vez de apelar à inteligência e à solidariedade, conduz à rivalidade e ao ódio. Um ser imaginário é capaz de transformar em feras o mais pacífico dos homens. Deus é uma tragédia que as multinacionais da fé exploram.

A água benta tem efeitos mais demolidores do que os cogumelos mais venenosos e os sinais cabalísticos, com que o clero hipnotiza os crentes, transformam uma pessoa de bem num cruzado ou num terrorista suicida. O ateísmo não é uma religião mais que disputa o mercado da fé, é a opção filosófica que contraria a superstição e mitiga o ódio que as crenças destilam.

27 de Dezembro, 2012 Carlos Esperança

O POLICARPO E A VIRGINDADE

Por

ONOFRE VARELA

O Jornal de Notícias de 25 de Dezembro dá conta do discurso de Natal do cardeal José Policarpo. Trata-se do mais dogmático discurso de púlpito que um sacerdote pode dar aos seus fiéis reunidos em missa, sintonizados para aceitarem tudo quanto o padre deixe sair da boca, para uma clientela do falso, do dogma e da fé sem reservas. O cardeal-patriarca José Policarpo já me habituou a ver no seu discurso recados para mentecaptos.

Desta vez reafirmou a virgindade de Maria, sintonizado com o que o seu patrão B16 escreveu no livro “A infância de Jesus”, acabado de editar. Disse que “foi a entrega de todo o seu ser ao amor Deus”, o que permitiu a Maria gerar Cristo, e que a virgindade de Maria é uma verdade inequívoca da fé. E disse mais isto: que “o amor de Deus é
criador, pode fecundar e fazer germinar a vida”, sublinhando dois momentos cruciais da criação divina. O primeiro diz que “só a terra era virgem”, e o segundo afirma que a criação se dá quando “o amor criador fecunda uma mulher virgem”.

O homenzinho deve estar transtornado!… Tantos anos casto, sem experimentar o acto sexual com uma mulher de verdade, com amor carnal vero, com paixão e entrega, provocou-lhe estes “desarrincanços fornicais” que ninguém entende!…

Disse ainda que a virgindade de Maria serve de modelo à Igreja que aproveita a germinação no seu próprio seio, “o Filho de Deus feito Homem”. A Igreja toma a boleia e “gera todos os homens que se tornaram filhos de Deus”! E disse mais: que “a Igreja é continuamente fecundada pelo amor de Cristo, que a ama como um Esposo”(!!!).

Eu não sei que leituras anda a fazer o senhor José Policarpo, nem que medicamentos toma. Mas parece-me que a literatura mais aproximada do seu discurso será a revista “Heros” ou a “Playboy”!…

A notícia termina com uma referência aos ateus (ou não crentes), que, parece, são gente a preocupar cada vez mais as mentes dos cardeais. Evocou novamente o papa B16 para sublinhar que até os descrentes trazem inscrita a exigência daquilo que vale a pena e que permanece sempre. “Há muitas pessoas que, embora não reconhecendo em si mesmas o
dom da fé, todavia vivem uma busca sincera do sentido último e da verdade definitiva acerca da sua existência e do mundo”.

Quer ele dizer, na sua, que só a fé é o motor de busca das verdades. E que o descrente, não o sabendo em consciência, tem a centelha da fé com que Deus ilumina as mentes preocupadas com o sentido da verdade!

Ó senhor cardeal, olhe que não…

Bem sei que lhe dá jeito transferir para o seu credo as atitudes positivas dos não crentes, mas olhe que isso é desonestidade!… É apropriação ilícita da obra dos não crentes sem respeitar os direitos de autor, e insinuando que o autor, afinal, não é o não crente, mas
Deus! Seja crente, mas seja, também, intelectualmente honesto.

Os não crentes não recebem nada de Deus. E os crentes também não! Nem o senhor, por mais que afirme que sim! Nós só podemos colher os frutos das árvores que os dão… e não há árvore de onde germine o fruto-Deus. Esse fruto não existe e por isso ninguém o pode cultivar nem colher… mas pode-se colher (e bem) da fé dos crentes… mas isso já é outra conversa.

Na sua cabeça o senhor pode dar largas às suas fantasias e criar os frutos-deuses que quiser, e falar por eles. Na sua mente pode plantar um pomar de árvores que dão anjos, e também pode dizer que a Igreja é fecundada pelo amor de Cristo que a ama como um esposo… mas se teima nesse discurso não conte comigo para testemunhar a sua sanidade mental!

Já garanto a sua razão quando diz que o amor é criador. É sim senhor. Comprovo-o. Foi assim que eu e a minha mulher concebemos uma filha, e foi assim que ela nos deu dois netos. Mas olhe que essa tarefa nos obrigou a deitarmo-nos na cama, nus, e trocarmos fluidos corporais numa luta corpo-a-corpo com todo o prazer que esse acto, denominado
amor, nos arrancou com orgasmos! É assim que se faz filhos. Foi assim que os seus pais o fizeram, senhor cardeal, aceitando que o senhor foi concebido por uma relação normal, e não por uma violação criminosa.

E se acaso Jesus Cristo existiu realmente, e se foi parido por Maria, ela teve que se deitar com um homem e ser penetrada pelo pénis do companheiro.

O José ou outro qualquer… já que os católicos teimam em chamar pai adoptivo a José!…

26 de Dezembro, 2012 Carlos Esperança

Os fantasmas do único Estado totalitário da Europa – o Vaticano

Há temas, ditos fraturantes, que a ICAR gostaria de silenciar. O aborto, a eutanásia e o casamento de homossexuais são os que mais a crispam e apaixonam. E, no entanto, não podem ser ignorados nem perpetuamente adiadas as soluções legais.

A moral não é universal nem legitima a imposição de todas as normas e, muito menos, a punição pela sua transgressão. O divórcio, por exemplo, será um mal, mas não deve ser proibido e só a intolerância religiosa e a cumplicidade da ditadura o limitou e, na prática, impediu, até ao regresso à democracia. O adultério é decerto ruim e, no entanto, ninguém de são juízo se atreveria a propor uma punição legal, mas é bom lembrar que foi esse o crime que levou Camilo Castelo Branco ao cárcere.

Os que hoje ainda se opõem à descriminalização do aborto são os que, já depois do 25 de Abril, não aceitavam que o risco de vida da mãe, as malformações fetais e a violação fossem motivos legítimos para a interrupção voluntária da gravidez, como se a lei impusesse a obrigação e não, apenas, consagrasse a permissão.

O mesmo acabará por acontecer com a eutanásia, como já acontece com os casamentos dos homossexuais, cujo precedente existe em vários países europeus, apesar do terrorismo ideológico com que os adversários se opuseram. Convém repetir que são direito que se consagram e não obrigações que se impõem.

O que surpreende nos adversários das alterações legais liberalizadoras, ou da simples discussão, não são as opiniões que perfilham, é o ódio que nutrem pelas ideias que colidem com as suas.

Há pessoas para quem a liberdade religiosa se confunde com o direito ao proselitismo e a exigência de conversão dos réprobos. Não lhes passa pela cabeça que a conversão e a apostasia, a ortodoxia e a heterodoxia, a devoção e o agnosticismo, a beatice e o ateísmo são direitos que se inserem na liberdade religiosa que, até hoje, só a laicidade do Estado conseguiu tornar efetiva.