O pára-raios na Igreja
Serve para lembrar aos ateus
Que um cristão, por mais que o seja,
Não tem confiança em Deus!
António Aleixo
Deus é um produto da nossa mente. A nossa mente é um produto do nosso cérebro. O nosso cérebro é um produto da evolução. Como tal, Deus não pode ter existido antes de nós sermos. E sendo que só o que existe pode gerar, Deus é um produto do Homem e não este um produto de Deus.
Debater religião com um crente devoto e caprichoso é como bater com a cabeça
contra um rochedo. Não se consegue mover subitamente com o mecanismo da lucidez o que a
ausência dela moldou e arraigou durante um longo período de tempo.
Faz hoje 90 anos que faleceu Guerra Junqueiro, um dos mais populares poetas do seu tempo.
Zurziu a Igreja católica com a mesma sanha com que Maomé se atirou ao toucinho. A Velhice do Padre Eterno é uma referência da poesia anticlerical.
Contou Tomás da Fonseca, a grande referência da luta contra o clericalismo, que Guerra Junqueiro lhe disse um dia: «aos padres, com a barriga cheia, tanto lhes dá que as pessoas da Trindade sejam 3 como 300.
Exmo. Senhor
Director do Diário de Coimbra
Senhor Director,
Com os melhores cumprimentos, em nome da Associação Ateísta Portuguesa, de acordo com os princípios do pluralismo que são apanágio do Diário de Coimbra, peço a V. Ex.ª que se digne mandar publicar a resposta ao artigo do Sr. bispo João Alves.
a)
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Resposta da Associação Ateísta Portuguesa (AAP) ao Bispo Emérito de Coimbra, João Alves
Na sequência do artigo publicado no Diário de Coimbra, no último Domingo, pelo Bispo Emérito, João Alves, sob o título «Elementos para o diálogo entre cristãos e ateus» vem a Associação Ateísta Portuguesa (AAP), pelas referências de que foi alvo, esclarecer o seguinte:
1 – A AAP foi criada ao abrigo do direito de associação, direito que o Sr. Bispo reconhece, «desde que os seus objectivos e as suas actuações respeitem o bem comum e os direitos legitimamente estabelecidos de cada cidadão e, também, os direitos da verdade»;
2 – Partilhamos com o Sr. Bispo o apreço pelo «bem comum e a verdade» mas discordamos da sua hipótese acerca do que é a verdade. Não vemos o ateísmo como um problema, não consideramos o Homem como artifício dos deuses e não é pela «exposição defeituosa da doutrina» que somos ateus;
3 – A AAP concorda com o Sr. Bispo quando afirma «ultrapassada a agressividade sectária e as actuações meramente ideológicas e preconceituosas carecidas de lucidez». Nesse sentido sugerimos que o diálogo não parta do princípio que o ateísmo é um problema nem que a religião do Sr. Bispo é a correcta. Propomos dialogar em campo neutro, admitindo que todos podemos errar em matérias de facto, aceitando o direito de cada um aos seus juízos de valor e avaliando cada posição à luz dos seus méritos, pelo que sabemos aqui e agora e não pelo que especulamos acerca do Além;
4 – O Sr. Bispo, cita a Gaudium et Spes que «…o ateísmo deve ser contado entre os fenómenos mais graves do nosso tempo…», afirma que o homem foi criado por Deus e informa que, na «Sexta-Feira Santa, [a Igreja católica] reza …em todo o mundo, pelos não crentes». Os ateus julgam mais provável que os homens tenham criado os deuses, pela diversidade evidente em ambos, e que nem o ateísmo é um problema nem a oração o método adequado para os resolver. Como um diálogo deve assentar no que une as duas partes em vez de partir daquilo que as separa, sugerimos como alicerces o direito à crença e o dever de justificar afirmações de facto com evidências objectivas. Se não considerando a crença ou a sua falta como um mal a priori e se não basearmos argumentos em premissas especulativas acerca de quem criou o quê podemos ter um diálogo genuíno que esclareça tanto quem intervenha como quem assista.
Carta ao DN sobre as afirmações de um bispo…
… que atira a pedra e esconde a mão.
Exmo. Senhor
– DN Gente –
Avenida Liberdade, 266
1250-149 LISBOA
Exmo. Senhor:
Na sequência da entrevista concedida pelo bispo Carlos Azevedo à jornalista Patrícia Jesus, [DN – Gente, de 31 de Julho de 2010], a Associação Ateísta Portuguesa (AAP) ficou perplexa com as referências feitas a esta associação.
Transcreve-se o último parágrafo: Outro dos seu traços marcantes é a frontalidade. Que às vezes lhe vale a colagem a uma ala mais fundamentalista da Igreja. Recusa o rótulo. “Da primeira vez que a Associação Ateísta se meteu comigo, escrevi-lhes uma carta. Acho que ficaram surpreendidos. Sou frontal mas com uma abertura enorme. Gosto do diálogo, fruto de ter crescido com nove irmãos. E admiro todas as pessoas que são verdadeiras na sua busca.”
Além da referência à Associação Ateísta Portuguesa aparecer como Pilatos no Credo, sem qualquer nexo, a AAP nega que se tenha «metido» alguma vez com o Sr. Bispo e lamenta nunca ter recebido qualquer carta sua. A AAP não pode assim confirmar essa frontalidade e abertura que o Sr. Bispo alega. Também nos foi até agora impossível aproveitar a admiração do Sr. Bispo pelas pessoas que são verdadeiras na busca do diálogo pois, após várias críticas à AAP e ao seu presidente num matutino onde é colunista, jamais aceitou o direito ao contraditório.
Na esperança de termos sido privados da tal carta, apenas por um percalço postal, e de não terem sido publicadas as nossas respostas somente por falta de espaço no matutino onde o Sr. Bispo escreve, pedimos-lhe que revele a data e o conteúdo da carta mencionada e que encete finalmente connosco o diálogo que diz admirar.
Por exemplo, sobre a peregrinação a Fátima organizada a 13 de Maio de 2008 «contra o ateísmo na Europa», comandada pelo cardeal Saraiva Martins, então chefe da Repartição do Vaticano onde se rubricam milagres e criam beatos e santos. Uma peregrinação a favor da fé pareceria mais de acordo com a abertura que o Sr. Bispo apregoa, se bem que, admitimos, uma cruzada contra o ateísmo possa ter toda a frontalidade de uma carga de cavalaria.
Ou sobre as palavras do Sr. Patriarca Policarpo que, no mesmo ano, considerou o ateísmo como o «maior drama da humanidade», maior ainda que a fome, as doenças, as guerras, as catástrofes naturais, a pedofilia e o terrorismo religioso. Seria outro tema digno de diálogo entre pessoas como aquelas que o Sr. Bispo diz admirar, as que são verdadeiras na sua busca.
A AAP reconhece, e defende, o direito do Sr. Bispo de não gostar de ateus e de manifestar o azedume que a associação lhe tem causado, em pouco mais de dois anos de existência, com esta direcção que iniciou o seu segundo mandato em 27 de Março último. Sabemos como reagiu mal, no matutino onde escreve, ao comunicado da AAP sobre a canonização de Nuno Álvares Pereira, que não merecia tal desrespeito, e à denúncia de a ICAR ter transformado em colírio um herói nacional a quem a sua Igreja atribuiu a cura do olho esquerdo da D. Guilhermina de Jesus, queimado com salpicos ferventes de óleo de fritar peixe.
Aceitamos também a frontalidade com que o Sr. Bispo Carlos Azevedo e os seus colegas João Alves e António Marcelino se exprimiram em artigos de opinião, respectivamente no Correio da Manhã, no Diário de Coimbra e no Soberania do Povo, de Águeda, criticando a AAP e o seu presidente. Sabemos que não são imunes à pressão mediática a que a Igreja católica tem sido submetida, pelas piores razões, desde o encobrimento de crimes de pedofilia ao branqueamento de capitais no I.O.R., como documenta o livro «Vaticano, S. A.».
O que a AAP não aceita, por amor à verdade, é a referência a um diálogo que não existiu e a cartas que a AAP não recebeu. Por isso, a AAP gostaria que o Sr. Bispo Carlos Azevedo esclarecesse este mal-entendido, indicando a data e o teor da carta que alega, na entrevista ao DN, ter escrito à AAP, e que demonstre de uma forma mais visível que o diálogo frontal que defende não é apenas um monólogo sem direito de resposta.
Cumprimentos.
Associação Ateísta Portuguesa – Odivelas, 1 de Agosto de 2010
Quando a razão dorme, acordam os monstros. É esta mensagem de Goya num dos seus «Caprichos», um Iluminista com o pincel e as tintas a fazer mais contra a superstição do que grandes escritores em milhares de páginas. Goya zurziu, em finais do século XVIII, a nobreza e o clero, com o génio do talento e a coragem dos heróis, através de uma das armas mais mortíferas – a sátira –, com que abalou o prestígio de Ordens religiosas e os preconceitos do seu tempo.
O fanatismo religioso, a Inquisição e as superstições foram denunciadas nas 80 gravuras do genial pintor que só por sorte escapou às garras da Inquisição. Ele não foi apenas um precursor da pintura moderna, foi um arauto da sociedade liberta das trevas e conduzida à razão pelo Iluminismo.
Quando o cardeal Rouco Varela, nomeou recentemente oito exorcistas para a diocese de Madrid e se soube que as dioceses católicas têm peritos no tratamento das possessões demoníacas, não é o atraso de uma Igreja que desprezo que me preocupa, é o regresso da sociedade aos medos medievais e forças ocultas que apavoraram gerações de crentes.
Depois de um Papa ter negado a existência do diabo logo outro veio reiterá-la, não fosse a superstição desaparecer. Quando os crentes perdem o medo dos demónios, acabam por duvidar do interesse do seu Deus mas o que é terrível é a crença do clero nas possessões demoníacas, nesse regresso ao obscurantismo que encobre o autoritarismo eclesiástico e o imobilismo ideológico característico das seitas.
No caso espanhol, o velho cardeal franquista convidou ainda psiquiatras para fazerem o diagnóstico diferencial entre doenças do foro psíquico e da alçada do demo. Claro que à declaração clínica não é alheia a crença do médico e não é por acaso que a única doença exclusiva dos crentes seja a possessão demoníaca, moléstia que não atinge agnósticos, ateus, céticos e outros livres-pensadores.
É o regresso ao autoritarismo romano que está em marcha. Denunciar os desvarios pios é uma obrigação de quem recusa o regresso à época das trevas. Há mais de dois séculos, já Francisco Goya nos alertava para o mundo obscuro que os conventos e as sacristias preservavam tal como hoje o fazem, às escâncaras, as madraças e mesquitas.
A formatação intelectual de crianças na mais que questionável veracidade de determinadas crenças primitivas desconformes ao conhecimento hodierno, para além de desconexas da realidade cognoscível, e que acarretam uma carga emocional desproporcionada à sua capacidade cognitiva extremamente moldável, crenças essas fundamentadas numa fé utópica, vazia de racionalidade e razoabilidade, mesmo que façam parte do imaginário sociocultural vigente, deveria ser considerada como uma forma de abuso infantil.
As crianças não são dotadas de um sentido crítico desenvolvido e tendem a crer em tudo o que os seus formadores lhes ensinam, mimetizando e absorvendo conceitos e práticas independentemente da sua real significação.
As crenças religiosas ministradas na infância são, na maioria dos casos, uma forma encapotada de coação repressiva ao normal funcionamento do Eu; são como teclados de um computador aos quais se subtraíram as teclas “Escape” e “Delete”, condicionando e manipulando o normal funcionamento do todo.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.