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Categoria: Ateísmo

2 de Setembro, 2013 David Ferreira

Hóstia dominical – XI

Um teólogo é basicamente um sofisticado prestidigitador de palavras que reinventa
desesperadamente diferentes métodos de apresentação do mesmo velho truque
filosófico a uma audiência que se vai tornando progressivamente mais cética, e intelectualmente
mais exigente, a cada pormenor técnico da ilusão exibida desvendado.

29 de Agosto, 2013 David Ferreira

Apneia transcendental

A Dona Maria escreve artigos de opinião no Diário de Coimbra. Escreve artigos de opinião mas nunca lhe li algum que merecesse tal qualificação. Porque a Dona Maria não formula opiniões, escrevinha certezas inabaláveis acerca das suas pias convicções religiosas num espaço supostamente reservado à opinião dos comentadores residentes, sobre variados assuntos. A Dona Maria é, também ela, uma residente do jornal mais representativo da cidade dos estudantes. Um jornal que deveria ser uma referência intelectual e de conhecimento e não apenas um pasquim de fait divers locais onde os dedos pegajosos das sotainas e da seita Opus Dei largam hodiernamente mais impressões que um carteirista amador.

Faz tempo que critico a linha editorial do referido jornal, sobretudo no que se refere ao favoritismo manifestado com a publicação de textos de cariz religioso na página “Fala o Leitor”, bem reveladora do sacro ambiente que por ali vagueia. Mas, sendo um espaço reservado aos seus leitores, e tendo estes todo o direito de se prostrarem em adulação submissa aos salvadores que bem entenderem, sejam imaginários ou reais, tenho amaciado o meu cinismo com um aborrecido encolher de ombros. Talvez por isso tenha hesitado em comentar um artigo da senhora, publicado em 3 de julho, que não soube amortecer e muito menos digerir. Por isso ou pelo facto de a entediante senhora me parecer demasiado inofensiva e inocente para merecer atenção, talvez pelo ar de Testemunha de Jeová com que se apresenta, um espectro de ultra beata fabricado em longas homilias, o cabelo curto e recatado como sói e um sorriso maquilhado que só quem nunca soube sorrir sincera e livremente consegue exibir.

Dizia a senhora nesse artigo, após uma introdução que nunca faria prever o que se seguiria, incorporando sorrateiramente o que efetivamente pretendia derramar sobre o leitor ocasional, que “Há momentos em que o sol, inesperadamente, surpreendentemente, dissipa as nuvens e a luminosidade é tanta que os seres criados brilham como diamantes.” Referiu-se então a um “meeting da fé” que decorreu durante três dias numa grande superfície comercial da cidade, afirmando que este foi “estrela de primeira grandeza.” “A fé – continuou – brilhou com tal esplendor que os carrinhos de compras que vinham das lojas travavam às quatro rodas para a escutar.” Aqui eu percebi que estava a ler um artigo de alguém com graves problemas de perceção sensorial. Recordo-me de ter por lá passado e a única coisa que travava os carrinhos de compras era o movimento de mudança de direção que faziam ao manobrar para se desviarem das bancas dos paladinos da fé e do seu enfadonho e alucinado linguajar…

Sente-se o êxtase da cruz a palpitar no discurso que sai do peito da veneranda senhora. Continua: “Mas a voz que mais se fez ouvir por esses andares acima do Dolce Vita foi a de uma mãe de sete filhos que contou com uma naturalidade, com uma força, com uma alegria transbordante a sua vida de família…Disse que aquela mãe era uma mãe de sete filhos…Só que um já foi para o céu e lá espera…para poder brincar com os seus irmãos; sim porque a família tem lá reservado o seu lugar…É a esperança de quem tem fé. É a certeza de quem sabe que este lugar aqui é provisório. Investigações, descobertas, pois que a ciência as faça; artefactos, patranhas de quem presume fazer do Homem um ser imortal, dar-lhe uma juventude eterna, não colhem. Não têm sustentabilidade para serem credíveis.” Aqui parei. Foi neste ponto que o respeito inato que sinto ou procuro sentir pelos outros entrou em conflito com o respeito que possa ou não ter e manifestar para com as suas crenças absurdas e estupidificantes.

Para pessoas como a Dona Maria, nada importa a não ser a fé. Ciência? Que é lá isso? Que pode um médico fazer mais que uma oração? Quem nos transportará mais longe, um avião ou o teletransporte da fé? Que pode um contracetivo ou o planeamento familiar fazer por uma pobre mãe de sete filhos que a esperança num condomínio privado no céu não possa resolver de forma mais credível?

“A voz daquela mulher ficou a ecoar nas paredes do Dolce Vita. Aquela mãe fez chorar as pedras.” (Não foram só as pedras que choraram…) “Jorraram lágrimas, não de dó nem de pena. Foram lágrimas de emoção. Os corações que bateram forte ao ouvi-la ficaram a transbordar de alegria.” E eu a engolir a perplexidade que nem o café conseguiu diluir…

Choca-me profundamente que a uma pessoa tão notoriamente desfasada da realidade seja dado espaço para debitar as maiores absurdidades. Absurdidades que apenas se tornam respeitáveis, note-se, porque introduzido o fator fé, uma mão aberta cheia de um nada que tira o próprio sentido ao gesto. Choca-me que um jornal sério, onde certamente trabalham jornalistas lúcidos e com os pés assentes na terra, publique desarrazoadamente a visão fanatizada desta senhora como se de algo sério se tratasse. Como se o mundo real, ainda demasiado sobrecarregado de ignorância e obscurantismo religioso, necessitasse de mais primitivismo emocional desregulado. Como se a incapacitante ignorância comportamental e existencial das pessoas menos dotadas de conhecimento fosse algo que merecesse aplauso, negando-lhes, num só golpe, a capacidade de resolução dos seus próprios problemas, problemas esses que nunca existiriam à partida se fossem racionalmente antecipados.

Escreveu esta segunda-feira João César das Neves, na sua já famigerada crónica semanal: “…num tempo em que a cultura dominante se orgulha da perda do transcendente, tudo se reduz ao material.”

Eu digo antes que, em quase todos os domínios, é o transcendente que nos reduz. E que todos os que o perpetuam são responsáveis por esta apneia sociocultural que nos impossibilita não só de ir mais além, como de ser mais além.

26 de Agosto, 2013 David Ferreira

Hóstia dominical X

Se chegarmos à conclusão que a única forma que um ateu tem de ser
respeitado pelos que contraria e de ser aceite pelos que partilham a mesma visão é respeitar
uma crença cuja doutrina não respeita os que a não seguem, preferindo e
elegendo os que nela crêem, apenas porque a cortesia politicamente correta nos
condiciona para tal como sistema de credibilização socioculturalmente aceite,
então não estaremos nós antes à procura de aceitação ao invés de confronto? É
que só com a aceitação mútua, abrangente, generalizada e coniventemente
imunizada se constroem e alicerçam os dogmas que a razão tem mais dificuldade em
vacinar.

24 de Agosto, 2013 David Ferreira

Graças a Deus

A noite aborrecia. Aborrecia como aborrecem todas as noites que não sabemos como preencher com o que verdadeiramente somos o que os outros tanto preencheram de nós com o que verdadeiramente não são. Um grupo de amigos. Ou um grupo de colegas que se tornaram amigos devido a circunstâncias sazonais. Porque a amizade também se faz de, da ou para a oportunidade. Um grupo apenas, igual a tantos outros, reunido, a descomprimir a tensão acumulada de mais um intenso dia de trabalho. E ao redor de todos, bamboleante, alheado de tudo e ansiado por todos, um catártico e desenfreado baile de copos em intenso rodopio, a competirem com a lua, ora meios, ora cheios, mas nunca completamente vazios, a substituírem a noite estática. Como se não houvesse amanhã. Como se nós, os bailarinos, não quiséssemos de novo o Sol, fartos de luz, cansados do dia passado ou de nos sentirmos cansados do dia seguinte que sabíamos inevitável.

As línguas entaramelam-se com o bailarico de sílica espirituosa e a conversa começa a destoar da hipocrisia socialmente aceite como modo de sobrevivência para a libertação do individualismo reprimido do que seriamos sempre se fossemos sem bloqueios socioculturais.

– Estou farto destes cabrões! – atira um.

– Caga nisso. – diz um outro – Vamos é beber uns copos e curtir um pouco, que bem merecemos.

A terra é estranha. Tudo é estranho e diferente. Igual, mas diferente. O clima, a paisagem, o ritmo. As pessoas…ah, as pessoas… As pessoas, essas, são sempre iguais, independentemente do vestuário ou da linguagem. São apenas pessoas, envolvidas em panos que as protegem do clima ou de si próprias, adornando-as de um determinado status, a comunicarem por necessidade.

Antecipo um pé de dança, mas tropeço. Tenho pés de gesso e a gravidade dificulta-me a dança que a tenta contrariar.

– Graças a Deus que tudo correu bem! – a voz rouca atinge-me sem que a previsse, familiar mas incompreensível.

– Graças a nós! – brindo, a contrariar sem o pretender, a ser eu.

Silêncio breve.

– A nós! – alguém berra. E todos brindamos, como se fosse necessário.

E tudo esquecemos relembrando, celebrando. O amanhã será sempre mais reconfortante que o ontem, se o esperançarmos, e o hoje é o que fazemos dele sem pensar muito nisso.

O baile, entretanto, decorria como outro baile qualquer, tímido a princípio, logo decidido, finalizando introspetivo, como que a morrer aos poucos para dentro de nós, envenenado pelos aditivos sensoriais que sentimos necessários quando deixamos de conseguir sentir sempre que somos, quase inevitavelmente, o que os outros pretendem que sejamos, como se nós não fossemos também outros para os que não somos. O cansaço, contudo, haveria de nos deixar ser. Apenas ser.

– Tenho saudades de África… – desabafa o Pedro.

Olho para ele, sorrindo, à procura de um olhar. Um olhar que só reconheci espelhado no reflexo do copo meio vazio de lua-cheia que embalava entre os dedos, como se de uma máscara de oxigénio se tratasse.

– Eu também, sabes. – anui – Já lá vivi, em Angola, em Nova Lisboa, agora Huambo. Lembro-me de tudo como se tivesse sido ontem. Há algo de África que fica em nós e que não se consegue bem explicar…

Pedro sorri, em meia-lua. Compreende-me. Ambos viramos o mundo e o pior que a humanidade tinha para oferecer nos últimos anos. Em vários continentes. Em terras estranhas com pessoas iguais. E sabíamos.

– Deves ter comido poucas pretas enquanto lá estiveste, deves… – interjeiciona o que dera graças a Deus.

Pedro sorri, em quarto minguante. Roda o copo com os dedos como que a desfazer nele o luar que o seu olhar já não conseguia iluminar.

– Comi. Por acaso comi.

Os olhares direcionam-se para Pedro, mais rápidos que o raciocínio. Os lábios dilatam-se e os sorrisos antecipam o alarde coletivo.

– Conta lá! Conta lá!

– Sabes… – continua Pedro – Uma vez fui com uma. Tinha ido à discoteca e aconteceu. Saí com ela e fomos passear para a praia.

– E o que é que lhe fizeste?

– Pá, nada demais… – responde Pedro, ensimesmado – Eu já estava com os copos e ela também. Chupou-me apenas.

Os sorrisos replicam-se entre os olhares que a testosterona atraíra.

– Ganda maluco! E como é que foi? A tipa chupava bem?

Pedro sorri também, aparentemente contagiado, a camuflar o remorso na parvoíce alheia.

– Dizem que elas são quentes como o caraças! – ouve-se alguém.

Pedro pousa o copo, mais cheio de noite que de espirito.

– Sabes… – diz – as gajas de lá, as que andam ao ataque, chupam sempre até ao fim.

– Engolem tudo? Ah gandas malucas! Eu sempre disse, pá, as pretas são as mais quentes!

Os olhares cruzam-se a assentir a masculinidade e atiçam ainda mais a balburdia.

Pedro olha para mim enquanto as vozes do baile faziam e aconteciam e a noite bocejava enfastiada.

– Sabem porque é que elas chupam até ao fim? – dispara Pedro, sem fazer pontaria.

Os olhares silenciam subitamente, não suspeitando o motivo da interrogação.

– Porquê? – interrogam os mais curiosos.

– A miséria lá é muito grande, sabem. E como o esperma é nutritivo, é uma das formas que elas arranjam para matar a fome…

Silêncio súbito. Há fronteiras morais que nem a mais estupidificante carraspana se atreve a transpor.

– Este mundo é lixado. – ouve-se ao fundo, sumido.

O baile, entretanto, morrera, deixando a todos uma incómoda sensação de vazio.

– Graças a Deus, ao menos não vieste de lá com nenhuma dessas doenças esquisitas… – escuta-se, por entre o orvalho que começava a cair com abundancia.

Pedro olha para mim, de soslaio, e encara o agradecido.

– Sim, – diz – dêmos graças a Deus para que a fé que temos possa servir de salvação para uns e de muito alimento para outros…

E retirou-se da festa como se nunca tivesse sido convidado.

Para trás ficou-nos apenas a noite a envelhecer aos poucos os restos do que julgávamos ter sido até ali.

22 de Agosto, 2013 Carlos Esperança

Deus também se engana…

Bento XVI, farto de ser acusado de ter renunciado à tiara por amor, amor à vida, claro, veio agora justificar-se: «Foi porque Deus me disse», numa « experiência mística».

A linguagem exotérica, com que o ex-Papa revela o encontro com a entidade patronal, não deixa aos incréus averiguar a data, o local e o conteúdo, mas percebe-se que Deus não estava satisfeito com o seu PDG, facto que causa a maior perplexidade, a ponto de lhe ter demonstrado «um desejo absoluto» – segundo  afirmou o próprio pensionista à publicação católica “Zenit”.

Não se vê como um deus, presciente e omnipotente, além de mandar o Espírito Santo a iluminar os cardeais durante os conclaves, possa permitir que saia dali um cardeal com alvará de infalibilidade, apto para criar cardeais e santos, e despedi-lo depois com justa causa, sem lhe apresentar uma nota de culpa. No mínimo, a eleição de Ratzinger foi um ato desastrado, mais natural no Opus Dei do que em Deus.

Sabendo todos, do mais ingénuo devoto ao mais inveterado ateu, que a infalibilidade do Papa é um dogma cuja dúvida é alheia ao escrutínio da razão e passível de excomunhão, anátema que inviabiliza o Paraíso como lar de primeira classe para a perpétua defunção, fica a dúvida sobre quem se enganou, o papa que perdeu o alvará ou Deus que lhe pediu a resignação.

De qualquer modo, a Igreja, em maré de perda de credibilidade, deixa mais dúvidas do que certezas a quem queira cultivar os mistérios da fé e dá argumentos a quem duvida.

18 de Agosto, 2013 David Ferreira

Hóstia dominical – IX

Só um Estado laico pode proporcionar uma condição de verdadeira e
diversificada liberdade religiosa. Por isso, a não ser que pretendam secretamente
que a sua religião se superiorize a todas as outras, não se percebe por que
alguns teimam em cuspir no prato que sustém sem vazamento as conjeturas de que
se alimentam.

18 de Agosto, 2013 Carlos Esperança

Na Ignorância dos crentes….

Por

«Christopher Hitchens»

(Tradução de Armindo Silva a partir de um vídeo que está na NET)

Não há nenhum “Big Brother” no Céu. É uma ideia horrível de que há alguém, que é dono de nós; que nos criou; que nos supervisiona cada 24 horas, (acordados ou a dormir); que sabe os nossos pensamentos; que pode condenar-nos por crimes de pensamento, por aquilo que nós apenas pensamos, acordados ou a dormir (sonhos); que se interessa pelo que acontece na privacidade do nosso quarto; que nos julga quando estamos a dormir; que nos pode criar doentes, (aparentemente é o que nós somos) e ordena, aplicando o horror da dor e da tortura eterna para ficarmos bem novamente.
Para acreditar em tudo isto e desejar que seja verdade é submetermo-nos a uma escravidão miserável…

É uma coisa maravilhosa, mesmo maravilhosa, na minha submissão, é que agora eu tenho imensa informação, inteligência suficiente – espero, intelecto suficiente –, e tenho esperança e coragem moral para dizer que estas propostas fantasmagóricas são fundadas na mentira.

E para celebrar este facto convido-vos para pensar como alternativa, eu diria na “Sarça-ardente” e nos depravados milagres testemunhados por pastores camponeses da Palestina da Idade do Bronze. Pensa na morte, eles sentem que nós deveríamos bisar pelos seus pecados e os pecados e as transgressões desta gente, sim os pecados desta gente, as transgressões, a dívida que eles sentem para com o criador, restringe a todos nós como pecadores…. Mas que humilhação sermos seres imperfeitos ! Mas que humilhação não podermos fazer nada sobre isso! Mas que humilhação termos sido criados aprisionados e, agora, termos que ganhar a nossa emancipação!

Eu digo novamente que tal servidão ao poder supremo – e há pessoas mais bem preparadas do que eu para dizer – que até agora não há nada no nosso mundo natural, (afastando-nos do cosmológico) do mundo natural em que nós vivemos, que não possa ser explicado através de mutações randómicas combinadas com a evolução por selecção natural. Nada funciona sem esta suposição e tudo funciona com ela, é um facto comprovado. Há ainda muitas coisas que não foram ainda determinadas, mas não é uma teoria ou apenas mais uma.

Pondo isto de outra maneira, eu pergunto: – há quantos anos dirias tu que o homo sapiens apareceu no planeta? O responsável do projecto do genoma humano Francis Collins pensa que não foi mais de meio milhão de anos, Richard Dawkins diz que deveria ser 250 mil. Não interessa nesta altura, mas nós sabemos de que a nossa espécie saiu de África há aproximadamente 75 mil anos. Tendo diminuído o seu número para cerca de 2 a 3 mil indivíduos devido a problemas climatéricos terríveis provavelmente devido à Indonésia ou outro desastre natural, quer isto dizer que nós estivemos muito perto da extinção e de nos juntarmos a esses 99.8 % de todas as espécies que viveram neste planeta e que foram extintas. Que grande “Design” não parece? Profunda criação …. milhões e milhões de formas de vida que foram varridas deste planeta e não haver ninguém para testemunhar a sua existência prévia!.. Nós safamo-nos disto por mera sorte.

E agora eu faço uma comparação. Suponhamos que nós aparecemos há 75 mil anos. Os três monoteísmos – Cristianismo, Judaísmo e mais tarde Islamismo – começaram há cerca de 4 a 5 mil anos, máximo. Agora, se me deres uma microscópica ou a mais pequena presunção da existência humana… Agora observa isto: – pelo menos durante 70 mil anos, o “CÉU” observa tudo e vê como a espécie humana nasce, morre provavelmente de infecções dentárias ou outras doenças provocadas por micro-organismos, (bactérias) com probabilidades de vida de cerca 20 a 25 anos, com as crianças a terem probabilidades de vida à nascença de cerca de 10% e olha isto com indiferença, durante milhares e milhares de gerações miseráveis e com fome, ignorantes, não falando das guerras entre eles e dos problemas que eles têm para lutar pela sua existência e, somente há 4 ou cinco mil anos atrás o “CÉU” decide – «já temos o suficiente disto» – pensam … «agora estamos na altura de uma intervenção». E, a melhor maneira de a fazer é numa região mais primitiva do Médio Oriente, – não na China onde as pessoas já podem ler – mas na região mais primitiva do Médio Oriente, basicamente oferecendo-lhes sacrifícios humanos. Isto é uma doutrina que não pode ser credível para ninguém que estude qualquer coisa científica, histórica, arqueológica, paleológica, paleontológica ou biológica. Pode ser somente credível para pessoas que querem ser escravas de um impiedoso e totalitário inferno. Nós devemos sentir -nos felizes por verificar que a evidência desta identidade não é nenhuma, ZERO.

«Christopher Hitchens»

17 de Agosto, 2013 David Ferreira

Canal História – uma vergonha para a ciência

O canal História é uma vergonha para a ciência. Não satisfeito por nos brindar com uma série puramente especulativa onde se defende a criação da Humanidade por extraterrestres, sem que para tal existam provas credíveis, brinda-nos agora com “As portas do Inferno”, uma série absolutamente indescritível e facciosa sobre uma das criações mais perversas e absurdas da humanidade: o Inferno. Como não poderia deixar de ser, os comentadores selecionados são, na sua maioria, sacerdotes, atingindo-se o êxtase com a demência abstrusa dos pastores evangélicos norte-americanos. O clímax atinge-se com a audição do próprio Inferno em gravação digital, sons distorcidos de alegadas almas torturadas e em perpétuo sofrimento gravadas algures num buraco na Sibéria. Não explicam os sacerdotes como poderá um corpo imaterial sofrer dores que apenas um corpo físico pode proporcionar e sentir…

De há muito que se apercebe a influência de grupos religiosos organizados, poderosos e endinheirados, no referido canal. E deste modo se vai escrevendo e reescrevendo vergonhosamente a mentira e a estupidez de alguns alucinados, certificada por uma suposta credenciação científica.

Este mundo necessita desesperadamente de razão e lucidez tanto como de ar para respirar.

17 de Agosto, 2013 David Ferreira

Richard Dawkins e as generalizações

Ao que parece, um recente tweet de Richard Dawkins tem provocado acesa celeuma, não apenas entre os visados mas também entre muitos ateus, agnósticos, humanistas e livres-pensadores. O tweet em questão reza o seguinte: “Todos os muçulmanos do mundo têm menos Prémios Nobel que o Trinity College, em Cambridge. No entanto, eles fizeram grandes coisas na Idade Média.”

Não é de agora que Richard Dawkins divide opiniões, tanto entre os que o odeiam, como pelos que partilham e compreendem a sua filosofia e o seu empenho pela globalização do conhecimento científico, embora não corroborando com a sua militância obstinada e incisiva contra as religiões que o leva, por vezes, a fazer afirmações consideradas como meras generalizações desprovidas da ponderação necessária a um intelectual do seu gabarito com credenciais mais que firmadas.

Deixemo-nos de tretas. Todos somos hipócritas de uma forma ou de outra. A hipocrisia é a máscara que usamos para suscitar a aceitação por parte do outro, tanto individual como colectivo, preservando o Eu que não queremos expor às intempéries sempre imprevisíveis do julgamento e da apreciação alheios. Esta máscara serve-nos de igual modo para enfrentar os nossos adversários com uma aparente cortesia defensiva, mas que tem a utilidade de conseguir precaver e antecipar um possível ataque, defendendo e inocentando numa mesma acção um dissimulado grito de guerra. Vivemos na era do politicamente correto e as regras do convívio social, alicerçadas na tolerância cultural e intelectual, bloqueiam demasiadas vezes a verdadeira essência do que realmente somos e sentimos e do que intentamos transmitir à sociedade, mesmo que não pretendamos um efeito borboleta ideológico ou filosófico.

Vem isto a propósito dos debates a que tenho assistido passivamente nos grupos e páginas das redes sociais dedicadas ao ateísmo e onde a postura alegadamente insultuosa de Richard Dawkins tem sido criticada por muitos ateus, alguns dos quais classificam a sua postura como racista. Devo dizer que não concordo com esta interpretação que alguns fazem do que considero apenas uma mera provocação. Se é descabida ou não, fica ao critério de cada um. Se é criticável ao ponto de alguns afirmarem a irrelevância de Dawkins para um recomendável e aconselhável “bom nome” do ateísmo, não deixa de ser também o colocar do dedo numa ferida ostensiva que debilita impunemente e que a cobardia moral da tolerância generalizada a todo o custo e em todas as frentes socioculturais tende a alimentar.

Não pretendo com isto defender ou desculpabilizar Dawkins por todas as afirmações que faz. Não sou apologista do endeusamento de homens tanto quanto não creio em deuses inventados por eles. Admiro o seu trabalho, o seu empenho e compreendo, porventura em demasia, as suas motivações. Resumindo, reconheço o valor inestimável e muitas vezes incompreendido da causa que defende para o futuro da humanidade. Dawkins sabe o que diz. Sabe quem pretende atingir. Infere apenas de uma observação empiricamente indesmentível: que o fanatismo islâmico tem implodido deploravelmente uma civilização que foi outrora colossal e grandiosa, a quem a humanidade tanto deve. Diz aquilo que todos pensamos mas que a hipocrisia que cultivamos nos impede de manifestar publicamente com receio de sermos apontados a dedo tanto pelo juízo académico, racional e filosófico do emprego despropositado de lógicas falaciosas, como pela recatada prudência dos que tudo acham que devem tolerar, até a intolerância, com um enorme sorriso amarelo. As generalizações poderão ser falaciosas se aplicadas ao todo. Mas e se forem aplicadas não ao todo, mas a uma grande parte dele? E que dizer de todos os que afirmam que uma grande parte do todo é representativa do todo, como por exemplo os que afirmam que Portugal é um país católico por ter uma grande maioria de crentes católicos? E nesta observação, não se generaliza de igual modo? Ou serão as generalizações apenas falaciosas quando carregadas de uma hipotética carga negativa? Fica à interpretação de cada um.

Meus caros, quando os glóbulos brancos se organizam para combater corpos estranhos ao organismo, há sempre vermelhidão e intumescência na pele. A dor é apenas um sinal de aviso, um toque subtil de alerta. E é nestes momentos em que o corpo está enfraquecido que todos os curativos, todos os apoios, todos os contributos são bem-vindos. Ter conhecimento da doença e não a combater por todos os meios razoáveis apenas por se julgar que o corpo causador da enfermidade também é um corpo que deve ser protegido, é aceitar a doença passivamente. E quem assume aceitar e conviver com a doença não tem moral para se queixar dos efeitos nefastos que a pandemia causa ou possa vir a causar.