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Categoria: Ateísmo

18 de Agosto, 2013 David Ferreira

Hóstia dominical – IX

Só um Estado laico pode proporcionar uma condição de verdadeira e
diversificada liberdade religiosa. Por isso, a não ser que pretendam secretamente
que a sua religião se superiorize a todas as outras, não se percebe por que
alguns teimam em cuspir no prato que sustém sem vazamento as conjeturas de que
se alimentam.

18 de Agosto, 2013 Carlos Esperança

Na Ignorância dos crentes….

Por

«Christopher Hitchens»

(Tradução de Armindo Silva a partir de um vídeo que está na NET)

Não há nenhum “Big Brother” no Céu. É uma ideia horrível de que há alguém, que é dono de nós; que nos criou; que nos supervisiona cada 24 horas, (acordados ou a dormir); que sabe os nossos pensamentos; que pode condenar-nos por crimes de pensamento, por aquilo que nós apenas pensamos, acordados ou a dormir (sonhos); que se interessa pelo que acontece na privacidade do nosso quarto; que nos julga quando estamos a dormir; que nos pode criar doentes, (aparentemente é o que nós somos) e ordena, aplicando o horror da dor e da tortura eterna para ficarmos bem novamente.
Para acreditar em tudo isto e desejar que seja verdade é submetermo-nos a uma escravidão miserável…

É uma coisa maravilhosa, mesmo maravilhosa, na minha submissão, é que agora eu tenho imensa informação, inteligência suficiente – espero, intelecto suficiente –, e tenho esperança e coragem moral para dizer que estas propostas fantasmagóricas são fundadas na mentira.

E para celebrar este facto convido-vos para pensar como alternativa, eu diria na “Sarça-ardente” e nos depravados milagres testemunhados por pastores camponeses da Palestina da Idade do Bronze. Pensa na morte, eles sentem que nós deveríamos bisar pelos seus pecados e os pecados e as transgressões desta gente, sim os pecados desta gente, as transgressões, a dívida que eles sentem para com o criador, restringe a todos nós como pecadores…. Mas que humilhação sermos seres imperfeitos ! Mas que humilhação não podermos fazer nada sobre isso! Mas que humilhação termos sido criados aprisionados e, agora, termos que ganhar a nossa emancipação!

Eu digo novamente que tal servidão ao poder supremo – e há pessoas mais bem preparadas do que eu para dizer – que até agora não há nada no nosso mundo natural, (afastando-nos do cosmológico) do mundo natural em que nós vivemos, que não possa ser explicado através de mutações randómicas combinadas com a evolução por selecção natural. Nada funciona sem esta suposição e tudo funciona com ela, é um facto comprovado. Há ainda muitas coisas que não foram ainda determinadas, mas não é uma teoria ou apenas mais uma.

Pondo isto de outra maneira, eu pergunto: – há quantos anos dirias tu que o homo sapiens apareceu no planeta? O responsável do projecto do genoma humano Francis Collins pensa que não foi mais de meio milhão de anos, Richard Dawkins diz que deveria ser 250 mil. Não interessa nesta altura, mas nós sabemos de que a nossa espécie saiu de África há aproximadamente 75 mil anos. Tendo diminuído o seu número para cerca de 2 a 3 mil indivíduos devido a problemas climatéricos terríveis provavelmente devido à Indonésia ou outro desastre natural, quer isto dizer que nós estivemos muito perto da extinção e de nos juntarmos a esses 99.8 % de todas as espécies que viveram neste planeta e que foram extintas. Que grande “Design” não parece? Profunda criação …. milhões e milhões de formas de vida que foram varridas deste planeta e não haver ninguém para testemunhar a sua existência prévia!.. Nós safamo-nos disto por mera sorte.

E agora eu faço uma comparação. Suponhamos que nós aparecemos há 75 mil anos. Os três monoteísmos – Cristianismo, Judaísmo e mais tarde Islamismo – começaram há cerca de 4 a 5 mil anos, máximo. Agora, se me deres uma microscópica ou a mais pequena presunção da existência humana… Agora observa isto: – pelo menos durante 70 mil anos, o “CÉU” observa tudo e vê como a espécie humana nasce, morre provavelmente de infecções dentárias ou outras doenças provocadas por micro-organismos, (bactérias) com probabilidades de vida de cerca 20 a 25 anos, com as crianças a terem probabilidades de vida à nascença de cerca de 10% e olha isto com indiferença, durante milhares e milhares de gerações miseráveis e com fome, ignorantes, não falando das guerras entre eles e dos problemas que eles têm para lutar pela sua existência e, somente há 4 ou cinco mil anos atrás o “CÉU” decide – «já temos o suficiente disto» – pensam … «agora estamos na altura de uma intervenção». E, a melhor maneira de a fazer é numa região mais primitiva do Médio Oriente, – não na China onde as pessoas já podem ler – mas na região mais primitiva do Médio Oriente, basicamente oferecendo-lhes sacrifícios humanos. Isto é uma doutrina que não pode ser credível para ninguém que estude qualquer coisa científica, histórica, arqueológica, paleológica, paleontológica ou biológica. Pode ser somente credível para pessoas que querem ser escravas de um impiedoso e totalitário inferno. Nós devemos sentir -nos felizes por verificar que a evidência desta identidade não é nenhuma, ZERO.

«Christopher Hitchens»

17 de Agosto, 2013 David Ferreira

Canal História – uma vergonha para a ciência

O canal História é uma vergonha para a ciência. Não satisfeito por nos brindar com uma série puramente especulativa onde se defende a criação da Humanidade por extraterrestres, sem que para tal existam provas credíveis, brinda-nos agora com “As portas do Inferno”, uma série absolutamente indescritível e facciosa sobre uma das criações mais perversas e absurdas da humanidade: o Inferno. Como não poderia deixar de ser, os comentadores selecionados são, na sua maioria, sacerdotes, atingindo-se o êxtase com a demência abstrusa dos pastores evangélicos norte-americanos. O clímax atinge-se com a audição do próprio Inferno em gravação digital, sons distorcidos de alegadas almas torturadas e em perpétuo sofrimento gravadas algures num buraco na Sibéria. Não explicam os sacerdotes como poderá um corpo imaterial sofrer dores que apenas um corpo físico pode proporcionar e sentir…

De há muito que se apercebe a influência de grupos religiosos organizados, poderosos e endinheirados, no referido canal. E deste modo se vai escrevendo e reescrevendo vergonhosamente a mentira e a estupidez de alguns alucinados, certificada por uma suposta credenciação científica.

Este mundo necessita desesperadamente de razão e lucidez tanto como de ar para respirar.

17 de Agosto, 2013 David Ferreira

Richard Dawkins e as generalizações

Ao que parece, um recente tweet de Richard Dawkins tem provocado acesa celeuma, não apenas entre os visados mas também entre muitos ateus, agnósticos, humanistas e livres-pensadores. O tweet em questão reza o seguinte: “Todos os muçulmanos do mundo têm menos Prémios Nobel que o Trinity College, em Cambridge. No entanto, eles fizeram grandes coisas na Idade Média.”

Não é de agora que Richard Dawkins divide opiniões, tanto entre os que o odeiam, como pelos que partilham e compreendem a sua filosofia e o seu empenho pela globalização do conhecimento científico, embora não corroborando com a sua militância obstinada e incisiva contra as religiões que o leva, por vezes, a fazer afirmações consideradas como meras generalizações desprovidas da ponderação necessária a um intelectual do seu gabarito com credenciais mais que firmadas.

Deixemo-nos de tretas. Todos somos hipócritas de uma forma ou de outra. A hipocrisia é a máscara que usamos para suscitar a aceitação por parte do outro, tanto individual como colectivo, preservando o Eu que não queremos expor às intempéries sempre imprevisíveis do julgamento e da apreciação alheios. Esta máscara serve-nos de igual modo para enfrentar os nossos adversários com uma aparente cortesia defensiva, mas que tem a utilidade de conseguir precaver e antecipar um possível ataque, defendendo e inocentando numa mesma acção um dissimulado grito de guerra. Vivemos na era do politicamente correto e as regras do convívio social, alicerçadas na tolerância cultural e intelectual, bloqueiam demasiadas vezes a verdadeira essência do que realmente somos e sentimos e do que intentamos transmitir à sociedade, mesmo que não pretendamos um efeito borboleta ideológico ou filosófico.

Vem isto a propósito dos debates a que tenho assistido passivamente nos grupos e páginas das redes sociais dedicadas ao ateísmo e onde a postura alegadamente insultuosa de Richard Dawkins tem sido criticada por muitos ateus, alguns dos quais classificam a sua postura como racista. Devo dizer que não concordo com esta interpretação que alguns fazem do que considero apenas uma mera provocação. Se é descabida ou não, fica ao critério de cada um. Se é criticável ao ponto de alguns afirmarem a irrelevância de Dawkins para um recomendável e aconselhável “bom nome” do ateísmo, não deixa de ser também o colocar do dedo numa ferida ostensiva que debilita impunemente e que a cobardia moral da tolerância generalizada a todo o custo e em todas as frentes socioculturais tende a alimentar.

Não pretendo com isto defender ou desculpabilizar Dawkins por todas as afirmações que faz. Não sou apologista do endeusamento de homens tanto quanto não creio em deuses inventados por eles. Admiro o seu trabalho, o seu empenho e compreendo, porventura em demasia, as suas motivações. Resumindo, reconheço o valor inestimável e muitas vezes incompreendido da causa que defende para o futuro da humanidade. Dawkins sabe o que diz. Sabe quem pretende atingir. Infere apenas de uma observação empiricamente indesmentível: que o fanatismo islâmico tem implodido deploravelmente uma civilização que foi outrora colossal e grandiosa, a quem a humanidade tanto deve. Diz aquilo que todos pensamos mas que a hipocrisia que cultivamos nos impede de manifestar publicamente com receio de sermos apontados a dedo tanto pelo juízo académico, racional e filosófico do emprego despropositado de lógicas falaciosas, como pela recatada prudência dos que tudo acham que devem tolerar, até a intolerância, com um enorme sorriso amarelo. As generalizações poderão ser falaciosas se aplicadas ao todo. Mas e se forem aplicadas não ao todo, mas a uma grande parte dele? E que dizer de todos os que afirmam que uma grande parte do todo é representativa do todo, como por exemplo os que afirmam que Portugal é um país católico por ter uma grande maioria de crentes católicos? E nesta observação, não se generaliza de igual modo? Ou serão as generalizações apenas falaciosas quando carregadas de uma hipotética carga negativa? Fica à interpretação de cada um.

Meus caros, quando os glóbulos brancos se organizam para combater corpos estranhos ao organismo, há sempre vermelhidão e intumescência na pele. A dor é apenas um sinal de aviso, um toque subtil de alerta. E é nestes momentos em que o corpo está enfraquecido que todos os curativos, todos os apoios, todos os contributos são bem-vindos. Ter conhecimento da doença e não a combater por todos os meios razoáveis apenas por se julgar que o corpo causador da enfermidade também é um corpo que deve ser protegido, é aceitar a doença passivamente. E quem assume aceitar e conviver com a doença não tem moral para se queixar dos efeitos nefastos que a pandemia causa ou possa vir a causar.

11 de Agosto, 2013 David Ferreira

Hóstia dominical – VIII

Se Deus fez o Homem à sua imagem, ele não passa de uma entidade ambígua
à procura do sentido de si próprio na imensidão de um Universo indiferente que criou
mas não compreende.

6 de Agosto, 2013 Carlos Esperança

O laicismo e o ateísmo ao serviço da democracia

O Laicismo é uma exigência democrática e o ateísmo uma regra higiénica

[A discriminação religiosa é inaceitável, incluindo a positiva]

O Estado não é o notário que possa certificar o carácter sagrado de um livro. Distinguir um é excluir os outros, eleger é também proscrever. Sagrado é o livre pensamento e o direito de perscrutar a própria consciência.

Se o Estado considerasse sagrada a Bíblia, por exemplo, teria de reconhecer aos outros livros, onde as religiões se fundamentam, o mesmo carácter, igual respeito, idêntico grau de veracidade. E esses livros não apenas se excluem entre si, como as religiões, que deles se reclamam, se digladiam mutuamente.

O Estado é obrigado a aceitar os crentes sem ter de aprovar as crenças. Não pode privilegiar um credo, não deve conceder um tratamento diferenciado. O ateísmo é, no mínimo, tão respeitável como qualquer religião.

A Bíblia é um livro respeitável, tal como o Corão ou a Tora. Mas, havendo quem os leve a sério e se sinta obrigado a impor as suas prescrições, é preciso travar o proselitismo porque colide com os princípios humanistas da democracia. Doutro modo os homens ficam reféns da vontade de Deus, interpretada pelos profissionais da fé.

A paz entre os povos não se alcança pelo armistício entre as várias religiões mas pela perda da sua importância, pela libertação da sua influência, pelo afastamento dos seus clérigos da esfera do poder civil. Quanto mais laico é um Estado mais livres são os seus cidadãos.

44 hectares de sotainas procuram amordaçar a humanidade a partir de Roma. Procuraram sempre. Em Israel a fúria insensata dos judeus ortodoxos, que insistem em considerar-se eleitos, desrespeitam os palestinianos e negam-lhes o direito a uma pátria. Os adeptos de Maomé não desistem de destruir os infiéis, em geral, e o grande Satã, em particular. Que sucederia se os homens livres deixassem acorrentar-se à onda demencial que grassa pelas sinagogas, mesquitas e igrejas, onde se prega o ódio e se promete o paraíso a quem combate os inimigos? O ateísmo não persegue os crentes mas as religiões esmeram-se a castigar por igual ateus e crentes de religiões concorrentes.

As religiões enjeitam o pluralismo, acoimam de heresia o livre pensamento, odeiam a diferença. Mantêm uma vocação totalitária que só a secularização das sociedades pode refrear. Se hoje a exótica obstinação suicida do islamismo se nos afigura mais exuberante é porque esquecemos o proselitismo com que outras confissões ensanguentaram a humanidade. O espírito libertador da Revolução francesa não nasceu nas sacristias.

Não podemos enjeitar os princípios humanistas para reabilitar as religiões que os combateram ou contra as quais se afirmaram. Deus não vale a vida de um só homem e todos os dias há quem morra e quem mate em nome dele. Impor a religião é um anacronismo, um ato de intolerância, uma violência. Os valores morais não são apanágio das religiões nem fruto da tradição eclesiástica.

O paradigma das sociedades livres terá de ser a tolerância e não a fé. Os ateus tolerantes têm um papel pedagógico a desempenhar.

A tolerância exclui, todavia, o relativismo e afirma-se no distanciamento das religiões. Os ateus não se diluem nem renunciam aos princípios. Proclamam-nos para abrir os caminhos que libertam a humanidade da escravidão religiosa ou ajudam a mitigar o potencial de violência das religiões.

Não podemos ser arautos dos milagres que o mais abjeto dos patifes é capaz de produzir quando a sua canonização convém à santa mafia que em Roma se opõe ao progresso da humanidade. Em nome do pragmatismo não podemos renunciar aos princípios. O poder não dispensa princípios e só estes justificam o empenho no seu exercício.

A fé é inimiga da razão. A água benta não se torna potável. O incenso agride a pituitária dos homens livres. Os sacramentos não são o instrumento dialético que transforme os homens mas a mezinha que domestica o intelecto.

A liberdade, a igualdade e a fraternidade são princípios que as igrejas combateram e combatem e que se conquistaram na luta contra o clero. Pio IX achou que a Igreja era inconciliável com a liberdade e a democracia. Acabou a fazer um milagre e a ser beatificado. Falta-lhe outro milagre para concluir a carreira de santo a que a santidade de turno (JP2) o quer destinar.

Aceitar a promiscuidade religiosa no Estado é desonrar a ética republicana. Consentir outra hierarquia que não seja a que os povos livremente sufragam é transigir com poderes antidemocráticos que as teocracias promovem.

A luta do laicismo, a que os ateus se associam, é pela paz, ao serviço do pluralismo e do livre pensamento. Não pode haver na humanidade reservas territoriais exclusivas de um credo, de uma filosofia, de uma forma única de pensar. Teremos de ser o fermento da mais ampla tolerância com a mais firme das convicções.

Não há hoje em Portugal perseguições anticlericais. Há, isso sim, uma carência de pudor republicano, uma capitulação dos homens livres perante as sotainas, uma demissão face às investidas clericais em curso. Quem se habituou a viver de pé não quer morrer de joelhos. A genuflexão é um ato indigno de homens livres.

Na podridão da fé há de florir a razão.

Temos de ser dignos do exemplo dos que nos guiaram nos caminhos do laicismo e nos preveniram contra a lepra que dos confessionários e dos púlpitos corrói o tecido moral das sociedades. As “causas da decadência dos povos peninsulares” não foram ainda erradicadas e nós não podemos desistir de o fazer.

Alto à fé para ouvir a razão. Rezar é a forma mais fácil de não pensar. Fim a Deus, em nome da paz. E da liberdade. E da igualdade. E da fraternidade.

P.S. – Não me revejo numa qualquer derrapagem mística a caminho da sacristia. Se a idade ou a moleza das convicções leva alguns à regressão cultural, de que a inteligência e a honra os haviam emancipado, espero, no que me diz respeito, que a coerência me acompanhe ou, caso contrário, a demência seja diagnosticada a tempo, para poupar um exemplo deplorável aos outros e um fim vergonhoso a mim próprio.

 

3 de Agosto, 2013 David Ferreira

APARIÇÃO

nesse mundo alucinado

descrito pela crendice

há um ser afeminado

que surge desesperado

a incentivar a doidice

 

se das cidades se aparta

é no ermo que fulgura

se ao douto não escreve carta

porque o delírio o enfarta

ao ignaro aduz a cura

 

e ei-lo que parte luzindo

esse ser hermafrodita

os olhos de luz ferindo

a quem anda desavindo

com sua própria desdita

 

com sussurros se escrevinha

do engano a inocência

traço a traço linha a linha

se  alicia e se adivinha

uma anuente audiência

 

cega-se o espírito ao pobre

com votos de salvação

nega-se o sossego ao nobre

e todo o logro se encobre

comerciando a absolvição

 

os olhos cegos de Sol

não vêem mais que clarões

são espelhos de um farol

com que se engoda o anzol

que naufraga em emoções