Por
João Pedro Moura
15- Quando Jesus foi crucificado, o que é que os soldados deram de beber a Jesus?
Vinho e fel: Mateus, 27,34, diz que Jesus, depois de provar, rejeitou.
Vinho e mirra: Marcos 15,23
16- Que fez Jesus imediatamente após o seu baptismo?
Foi para o deserto onde esteve 40 dias e foi tentado pelo diabo: Marcos 1,12-13.
Chamou pelos seus discípulos e foi para o casamento de Caná: João 1,35-43 afirma que no dia seguinte ao seu baptismo, Jesus passou pelo local do baptismo e falou com os presentes e levou-os à sua casa.
Em João 2,1-4, no terceiro dia após o seu baptismo, Jesus esteve na boda de Caná…
17- Jesus acreditava que testemunhar para si mesmo, tornava o seu testemunho inválido ou válido?
Inválido: João 5,31.
Válido: João 8,14.
18- As mulheres que visitaram o túmulo de Jesus foram logo avisar os discípulos para lhes dizerem que Jesus tinha ressuscitado?
Elas foram logo a correr, avisar os discípulos: Mateus 28,8.
Elas fugiram assustadas do túmulo e não avisaram ninguém: Marcos 16,8
19- Quem comprou o Campo do Oleiro com o dinheiro que Judas recebeu em pagamento da sua traição de Jesus?
Os chefes dos sacerdotes: Mateus 27,6-7.
Judas: Actos dos Apóstolos 1,18.
Não coincidem com a bebida dada ao Jesus crucificado…
Um disse que o JC, depois do batismo foi para o deserto, durante 40 dias, com o diabo a “tentá-lo”; outro disse que, depois do batismo, juntou discípulos e levou-os a casa dele e, uns dias depois, foi tudo para as bodas de Caná, comer e beber…
Um disse que o Jesus rejeitava a validade do próprio testemunho, num momento, mas aceitava a validade do mesmo, noutro momento da narrativa…
Atentai bem nisto:
João 5, 31: “Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro.”
João 8, 14: “Respondeu Jesus, e disse-lhes: Ainda que eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro, porque sei de onde vim, e para onde vou; mas vós não sabeis de onde venho, nem para onde vou.
Um disse que as mulheres, testemunhas do túmulo vazio, foram logo avisar os apóstolos; outro, sobre o mesmo caso, disse que elas fugiram assustadas e não avisaram ninguém…
Um disse que foram os chefes dos sacerdotes que compraram o campo de Oleiro, com o dinheiro que Judas recebeu pela traição; outro disse que foi o próprio Judas que comprou tal campo e nele se enforcou…
Mas que palhaçada vem a ser esta???!!!
Alguém percebe alguma coisa disto???!!!
Como é que um livro “inspirado por Deus”, tratando, ipso facto, de coisas sérias, narra e afirma coisas díspares???!!!
Pois… coisas sérias!…
Às vezes, por ironia, provocação ou humor, dizem-me: você é ateu, graças a Deus. E é um facto, contrariamente ao que julgam.
Tal como o anticlericalismo só existe porque há clericalismo, também o ateísmo é fruto do ser imaginário que os homens criaram para ser a explicação por defeito para tudo o que desconhecem, a boia de salvação para todas as aflições e a esperança que resta para o que não tem remédio –, a própria vida e o seu fim.
Sem teísmo não existiria ateísmo. O primeiro é a tese, o segundo a antítese. A dialética entre um e outro levam ao livre-pensamento. Há quem cristalize numa religião, a que se habituou desde a nascença, e quem se interrogue sobre a verosimilhança das verdades que as religiões consideram imutáveis.
A crença é tão legítima como a descrença ou a anticrença. Grave é quando alguma delas produz um efeito nefasto e atenta contra os direitos humanos. Não há mal em acreditar que existe o Abominável Homem das Neves, o monstro de Loch Ness ou as adoráveis sereias, havendo no último caso testemunhos de pessoas tão credíveis como Cristóvão Colombo, que afirmou tê-las avistado nas costas da América.
Estes exemplos, que hoje merecem apenas sorrisos, não são menos incoerentes do que o nascimento de um deus, de uma virgem e de uma pomba, e, no último caso, a descrença provoca o ódio, a violência e, quiçá, a morte. O que pode levar pessoas normais a odiar a dúvida religiosa e a tolerar a descrença sobre as vacinas ou sobre uma lei da Física?
Só um processo de fanatização, apoiado por um forte dispositivo ideológico e um forte aparelho repressivo, onde não faltam os constrangimentos sociais, pode perpetuar uma ideologia patriarcal, nascida na Idade do Bronze, numa cultura tribal e xenófoba.
Depois…bem, depois os interesses criados tendem a perpetuar-se.
Por
João Pedro Moura
11- Quando Jesus foi crucificado, as mulheres presentes estavam perto da cruz ou observavam-no ao longe?
Estavam perto: João 19,25.
Estavam longe: Marcos 15,40; Mateus 27,55; Lucas 23,49.
12- Os 2 criminosos, crucificados com Jesus, insultavam-no em conjunto ou só um criminoso é que o fazia?
Os dois: Marcos 15,32 e Mateus 27,44.
Só um: Lucas 23,39-42 diz que só um é que o insultava e que o outro defendia Jesus.
13- Quem era o avô paterno de Jesus?
Jacob: Mateus 1,16
Eli: Lucas 3,23
14- Quantos cegos Jesus curou à saída de Jericó?
1: Marcos 10,46 e Lucas 18,35.
2: Mateus 20,30.
Caros leitores:
Segundo Mateus, os antepassados de Jesus até á 5ª geração foram: José, Jacob, Matã, Eleazar, Eliud.
Segundo Lucas, foram: José, Eli, Matat, Levi, Melqui.
Portanto, não só não coincidem até à 5ª geração, que é a mais próxima e mais suscetível de recordação, como não coincidem no resto da genealogia, que Mateus remonta e termina em Abraão, e Lucas até … Adão… mesmo sabendo que este teve 2 filhos, Caim e Abel, que não poderiam procriar, a não ser com a mãe, e que, portanto, não puderam dar origem à continuação da espécie humana…
…Mas nós estamos cá!… porque a Bíblia arranjou mulher para Caim, não se sabe donde…
Adiante…
Como se este mistifório religioso não bastasse para descredibilizar a narrativa bíblica, ainda temos mais um pormenor:
A que propósito os bíblicos evangelistas pegam no José, pacato carpinteiro, que tinha casamento aprazado com a Maria, e lhe atribuem a paternidade do Jesus, depois de os narradores terem dito que Maria “achou-se grávida pelo Espírito Santo” e não pelo Zezinho da carpintaria???!!!
Assim, pegam neste putativo pai Zezinho e fazem remontar, a partir do mesmo, a ascendência do Jesus!!!
Quando se vê logo, na cena bíblica, que o dito JC se originou a partir duma inseminação artificial, digo, divinal, que injetou na virginal Maria uma boa carga de espermatozóides “Premium” da seleta ganadaria do jardim da celeste corte…
Os artigos semanais de João César das Neves são tão prazenteiros e coerentes como a leitura de qualquer página do Malleus Maleficarum. Fantasiosos na interpretação da realidade, ambíguos na significância, devotos até à medula doutrinária e repugnantes até ao vómito existencial. Não há como tentar sequer ser condescendente com a sua ulcerosa linha de pensamento. Ignorar JCN seria, porventura, um ato terapêutico, mas nunca analgésico.
O artigo desta semana dedica-se ao achincalho dos que reclamam em nome dos pobres e da própria pobreza para seu benefício, sobretudo os que representam essa impúdica classe média que se auto agraciou com lascivas e imorais regalias ao longo dos últimos e férteis anos de fartar vilanagem; esses gananciosos que tiveram o desplante de ousar o direito à conquista de uma dívida vitalícia para compra de habitação própria, meio de transporte particular, educação para os filhos e saúde para todos, essa classe que atrai “naturalmente a graça dos eleitos”!…
Andamos todos equivocados. Porque, a fazer fé em JCN, a finalidade imediata da retórica desses hipócritas não é aliviar os pobres mas atacar o neoliberalismo, rejeitar a troika, essa filantrópica senhora, derrubar o governo, combater a reforma do Estado, o orçamento com letra maiúscula ou outro qualquer decreto particular que particularize a complexidade burocrática da questão. Porque não são os pobres que inundam as ruas com manifestações. São os que usurpam a sua condição! Os pobres, esses miseráveis, não têm voz ou influência e como captar auditório é um ativo que falta aos indigentes… (aos indigentes, note-se!), a miséria só pode servir como pano de fundo para manifestos doutrinais. Não, os irritantes oportunistas panfletários que se manifestam pelos seus direitos não conhecem a indigência, não lhe sabem o sabor, não lhe conhecem a cor. Apenas se servem dela como desavergonhado veículo de transporte para os seus egoístas objetivos, dos quais só eles parecem beneficiar… Resta-nos então a caridade, a sucursal canonizada da solidariedade, para amenizar o estrago e alimentar a plebe a restolho. Palavras leva-as o vento e barrigas cheias de ar não falam, roncam.
Mas chega de masoquismos que nem a ironia aqui serve como antidepressivo. Lá para o fim da homilia, JCN consegue sossegar-nos o espírito e mortificar-nos a vontade, a mim pelo menos que vislumbrei a carapuça a pairar-me o cocuruto… Diz que há muito que é a Igreja, não o governo, a tratar dos necessitados. E eu compreendo. Dos pobres de espírito há muito se encarrega a Santa Madre Igreja e indigência é substância que abunda nos seus comedidos templos de bajulação metafísica. Mas é precisamente neste ponto que o discurso de JCN nos deveria fazer soar todos os sinais de alarme. Sobretudo se o anexarmos às palavras proferidas ultimamente pelos cardeais na nossa praça. Tal como o conceito do pecado original, estes ideólogos, elaborados nas entranhas das sacristias e na disciplina conservadora dos colégios católicos, querem à viva força que toda uma determinada classe que sustenta uma vacilante balança social se culpabilize (por minha culpa! por minha grande culpa!…), por todos os males que nos afligem, a uns mais que a outros. Esquecem estes estultos filósofos opinantes que o Estado, ao alienar-se das suas funções sociais basilares, das quais a mais primária é sem dúvida o apoio aos mais carenciados, perde todo o seu sentido ao abrir mão da essência que lhe deu origem. Por isso organizam de forma subliminar uma nova caça às bruxas. As bruxas têm sempre muitos nomes, por norma os nomes dos que não se conformam e não aceitam a servidão.
Não, JCN, mantendo o desnível a que já nos habituou, não é de facto deste mundo. Nem do outro. Habita num limbo elitista que se constitui um insulto a todos os que diariamente labutam por um país mais justo e desenvolvido, sejam crentes ou descrentes, de direita ou de esquerda, destros ou canhotos e que sofrem diariamente na pele o resultado das patifarias que aqueles que agora os querem ver silenciosos, encarneirados, provocaram, esses sim para seu único e cego proveito. Ao que parece, o mundo ideal de todos os JCN reflectir-se-ia numa disforme e desequilibrada tríade social (indigentes, pobres e ricos) comandada por uma liderança bicéfala repartida entre uma banca especuladora que privatizaria até a respiração e a liberdade e uma Igreja manipuladora que alimentaria a espiritualidade o que da culpa das sobras sobrasse. Até lá vai JCN continuando a dizer que “entretanto, os verdadeiros desgraçados, mudos como sempre, ainda têm de ouvir os muitos aproveitamentos do seu nome”.
E tudo por nossa culpa. Por nossa grande culpa!
Por
João Pedro Moura
Toda a gente sabe que duas proposições, enunciados ou simples narrativas contraditórias, anulam-se mutuamente.
É da lógica!
Todos os religionários judeus e cristãos sabem que a Bíblia foi inspirada pelo deus deles, segundo eles. Cada frase, cada palavra, cada ideia…
Ora, segundo tais sequazes, “deus” é perfeito, portanto, não comete erros. E faz sentido: a perfeição divina exclui qualquer imperfeição, sob pena de “deus” ser uma entidade falível, logo inexistente.
Todavia, a Bíblia apresenta inúmeras contradições. Flagrantes. Tão evidentes que remetem o caso para o seguinte dilema:
Ou foi o “deus” bíblico que inspirou a Bíblia, mas, então, enganou-se, cometendo falhas graves e invalidando, por concomitância, a existência dum “deus” perfeito; ou a Bíblia foi inspirada por… pessoas… portanto, falíveis, o que nos remete o caso para uma obra simplesmente humana, sem inspiração divinal…
E os crédulos da Bíblia têm necessariamente que responder a isto…
1- Quando as mulheres chegaram ao túmulo de Jesus, quantos homens elas viram aí?
Um: Marcos 16,5 afirma que estava um homem vestido de branco junto ao túmulo.
Dois: Lucas 24, 4 diz que estavam 2 homens com roupas brilhantes junto ao túmulo.
2– No caminho em direcção ao Gólgota, onde Jesus iria ser crucificado, quem levava a cruz de Jesus?
Jesus: João 19,17.
Simão de Cirene: Mateus 27,32
3- Quando Jesus enviou os seus discípulos para difundir a mensagem do evangelho nas cidades de Israel, ordenou-lhes que levassem um cajado ou nenhum?
Levar um cajado apenas: Marcos 6,8.
Não levar nenhum cajado: Mateus 10,10.
4- Quando Jesus e seus discípulos iam para Jerusalém, vindos de Betânia onde tinham passado a noite, Jesus viu uma figueira e amaldiçoou-a porque ela não tinha figos. A figueira secou imediatamente perante eles ou secou durante o dia?
Secou imediatamente: Mateus 21,19-20.
Secou durante o dia: Marcos 11, 13-22, afirma que secou no dia seguinte, de manhã.
5- Quantas mulheres visitaram o túmulo de Jesus no domingo de manhã?
Uma: João 20,1.
Mais do que uma: Mateus 28,1 diz que Maria Madalena e “outra Maria” visitaram o túmulo.
Marcos 16,1, afirma que foi Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé. Lucas 24,1-10 refere mais do que 3 mulheres.
Aquela cena da figueira, no ponto 4, é particularmente elucidativa não só do caráter, mas também dos poderes de Jesus: este andava com fome, o que é estranho num deus, e então dirigiu-se a uma figueira para apanhar figos; mas a figueira não os tinha. Então, JC amaldiçoou a figueira, porque não tinha figos, atribuindo-lhe assim a “culpa” da falta e aplicando-lhe a pena de… secagem perpétua…
Mais e pior: não só atribuiu o conceito de culpa a uma figueira, como, se JC fosse verdadeiramente um deus e não apenas uma personagem de pacotilha, deveria, num dos seus famosos passes de mágica, fazer frutificar a dita figueira e abastecer o séquito.
O que dá para imaginar o estado mental e o estranho exercício de poderes de tal Cristo…
“As religiões nunca serviram para aproximar os seres humanos. As religiões serviram sempre para os dividir. A história de uma religião é sempre uma história de sofrimento que se inflige, que se auto-inflige ou que se inflige aos seguidores de outra e qualquer religião. E isto parece-me de tal forma absurdo que creio mesmo que o lugar do absurdo por excelência é a religião” (José Saramago, 1998).
(Enviada por Stefano Barbosa, leitor do Diário de uns Ateus)
A religião é uma mitologia conservadora, um refugio dos pobres de espírito, que não tiveram coragem para ver, a frio, o que é o Universo.
O padre Anselmo Borges diz hoje, no DN, que «Neste momento há uma enorme busca de Deus».
Acontece sempre, quando há escassez no mercado.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.