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Categoria: Ateísmo

21 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

Diocese da Guarda – Cartas sem resposta

Exmo. Senhor Bispo

Dr. Manuel da Rocha Felício

Cúria Diocesana
Rua do Encontro, nº 35
6300-586 GUARDA
Tel. 271212959; Fax. 271223769

E-mail: [email protected]

[email protected]

CARTA DE PEDIDO DE APOSTASIA / DESBAPTIZAÇÃO

Exmo. Senhor Bispo da Diocese da Guarda,

O signatário, vem, por este meio, informar e solicitar o seguinte:

Tendo sido batizado na Igreja de Escalhão, freguesia de Escalhão, concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, no primeiro trimestre de 1943, sob o nome de F…, venho requerer que o meu nome seja removido do vosso registo de batismo (ou seja, segundo as normas canónicas que regulam o pedido de apostasia, cf. cânones 1086, §1, 1117 e 1124, que seja realizado um actus formalis defectionis ab Ecclesia catholicá).

Em particular, venho requerer que seja feito um aditamento ao referido registo com a seguinte menção:

“Renegou ao seu batismo e foi declarado apóstata por carta escrita, datada de 04/02/2013”, e que me seja enviada uma cópia desse aditamento.

Este pedido deve-se ao facto de as minhas convicções filosóficas e religiosas não condizerem com as das pessoas que, de boa fé, decidiram batizar-me.

Assim, por imperativo da minha consciência e por respeito à verdade, venho através deste ato contribuir para a reforma dos vossos registos, a fim de os isentar de qualquer ambiguidade.

Aguardando uma confirmação escrita da vossa parte,

Apresento antecipadamente os meus sinceros agradecimentos,

Associação Ateísta Portuguesa, 25 de Junho de 2013

P.S. – Agradeço que antecipadamente me mande informar sobre o custo total de emolumentos, se a tal houver lugar, e das despesas de correio.

Apostila – Esta carta, repetida posteriormente, continua sem resposta.

 

20 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

As mutações de Deus

Enquanto os animais, ao longo da história, sofreram modificações genéticas que melhoraram as espécies e transformaram o género humano em seres cada vez mais evoluídos, Deus não sofreu mutações que o fizessem progredir e o tornassem melhor.

As mutações divinas que empobreceram o produto original foram introduzidas pelos charlatães que fabricam Deus, sem terem em conta os benefícios dos clientes, olhando aos seus interesses exclusivos.

O Islão clonou o Deus judaico-cristão, sem conhecer a cultura helénica nem o direito romano. Produziu um aborto que o profeta Maomé, analfabeto e rude, converteu num perigoso inimigo da humanidade e em violento fator de retrocesso civilizacional.

Para piorar as coisas, Deus, per se um produto defeituoso, ficou nas mãos dos clérigos cujo poder depende da subserviência dos fiéis, da autoridade que conseguem impor e do terror que infundem.

É este o dilema da civilização: ou afasta o clero do poder ou perde os homens para a modernidade, a democracia e o progresso. Deus está a mais num processo de transformação social. É um elemento perturbador da felicidade humana.

As mortes diárias do Iraque depois da cruzada dos cristãos contra Saddam Hussein são a medida da ação das crenças ao serviço do extermínio dos crentes da concorrência.

16 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

Sobre os ateus e o ateísmo

Há por aí quem nos julgue supérfluos, indignos e mal formados, quem considere a nossa existência inútil, perniciosa ou perigosa, quem secretamente gostaria de nos ver calados, amordaçados ou erradicados. E nós, ateus, obstinadamente vivos, perante a indiferença divina e o espanto dos crentes, insistimos em ser uma voz ao serviço da liberdade, do livre pensamento e da descrença.

Das numerosas religiões que disputam o bazar da fé todas se julgam inspiradas no único Deus autêntico, donde se conclui forçosamente que, na melhor das hipóteses, todas são falsas e só uma é autêntica, e, no caso mais provável, que nenhuma delas passa de um embuste de que se alimentam os parasitas da fé à custa dos crédulos.

Os ateus respeitam os crentes e desprezam as crenças. São como médicos que cuidam os doentes e atacam as doenças; são solidários com os que sofrem e abominam os que incentivam o sofrimento; defendem a felicidade, o conhecimento e a razão e combatem a resignação, a subserviência e a superstição.

Nunca o Diário de uns Ateus sustentou posições racistas, discriminações com base na raça, sexo, religião ou em qualquer outro pretexto. Não faz a apologia do nacionalismo ou estimula atitudes bélicas. Reiteramos a cada momento a nossa determinação na defesa dos princípios que regem a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Qual a religião que se conforma com tais princípios?

Defendemos a liberdade, os direitos humanos e a democracia. Combatemos a pena de morte, a prisão perpétua e a tortura. somos contra o racismo, a xenofobia e a discriminação sexual. Há alguma religião que nos acompanhe? Quem é intolerante?

É ignóbil que alguém procure impedir a prática de uma religião mas é ainda mais abjeto haver quem imponha a sua prática, hábito a que não renunciam facilmente os prosélitos dos diversos credos, decididos a fazer cumprir a vontade do deus a que se encontram avençados, escravos da vontade divina analisada pela mente embotada dos seus padres.

As sociedades que aprofundam o laicismo não põem em causa o exercício da liberdade religiosa mas as que se submetem a um credo facilmente confiscam todas as liberdades em nome de um deus que não existe com sanha persecutória e a vocação totalitária de quem se julga detentor de verdades absolutas.

 

15 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

Não se podem dar bênçãos sem alvará

No final do dia de terça-feira, a página com o perfil falso tinha sido cancelada

O perfil falso do cardeal José Policarpo criado na rede social Facebook foi cancelado, informou o Patriarcado de Lisboa através da sua página oficial.

“Acabámos de verificar que a referida página que era atribuída, de modo ilícito, ao cardeal José Policarpo, foi cancelada”, adiantou o patriarcado através da sua página oficial no Facebook.

Diário de uns Ateus – Do mesmo modo que condena a falsidade das religiões, condena o abuso e o crime de uma falsa identidade.

8 de Janeiro, 2014 Carlos Esperança

Deus está em parte incerta

Deus, cansado dos disparates que fez, das maldades que praticou ou envergonhado dos preconceitos, emigrou para lugar incerto e, depois da invenção da escrita, nunca mais deu sinais de vida. A Revolução Francesa criou-lhe um habitat adverso, o sufrágio universal reduziu-o a bagatela, e, por não se ter inscrito nos cadernos eleitorais, passou a valer menos do que qualquer eleitor.

Os truques que fazia, as diversões com que embasbacava os primitivos, contrariando as leis da Física, os milagres que exibia para estupefazer os terráqueos, tudo isso foi sendo revelado pela ciência enquanto o progresso concebeu espaços de liberdade que um deus arrogante não suporta. Tal como o patrão que arruinou a fábrica, fugiu, alheio à sorte dos servidores, e nunca mais foi visto nem julgado.

Os empregados mais devotos, os clientes mais timoratos e os oportunistas mais afoitos continuaram a garantir a sua existência e a ameaçar com os castigos de que ele é capaz. Desejam fazer indigentes mentais, como os portugueses que esperam D. Sebastião, ou aliciar oportunistas com ilusões garantidas e ameaças assustadoras.

A excomunhão e a fatwa são duas armas carregadas de ódio; o Inferno é ainda o destino com que os clérigos aturdem os incréus; a penitência e a oração são as penas suaves, quando os meios mais expeditos são interditos; a lapidação, a fogueira, a decapitação, a amputação de membros, a deflagração bombista e outras formas de justiça, despachadas a mando do clero impetuoso, mantêm-se em vigor para deleite divino.

Deus sempre se imiscuiu nos processos eleitorais. Em países democráticos faz pender o prato para o lado pior, nos outros vai entravando as eleições com o argumento de que a lei divina não é passível de juízo humano. Há suspeitas de que Deus visitou os EUA, antes da eleição de Bush, passa largas épocas no Médio Oriente, percorre os países pobres de África e anda em campanha por algumas repúblicas da antiga URSS. Onde lhe cheirar a guerra, Deus não falta, para dilatar a fé.

O método destinado à multiplicação da espécie humana saiu-lhe mal – a reprodução por estaca. Usou um ramo ‘costela’ de um indivíduo para o duplicar. Os humanos acharam outro método mais fácil e deleitoso. Dizem os beatos que é obsceno, só aceitável para fazer filhos e não para folgar. Pensa-se que Deus tinha este método reservado para o fabrico de tratores mas os humanos apropriaram-se dele muito antes de os tratores terem sido inventados, sem ajuda divina.

3 de Janeiro, 2014 David Ferreira

Carta aberta de um ateu ao Papa Francisco

Vossa Santidade,

Permita-me a cortesia de um cordial tratamento pelo sublime, mas exigente, axiónimo pelo qual passou a ser intitulado após a recente promoção, designação essa que pressagia a seguinte distinção, a póstuma, que, não duvido, se concretizará por intermédio de uma inexplicável violação das peculiares leis naturais que regem tão somente os processos biológicos dos anhos que se apascentam exclusivamente de fé católica.

Saiba V.S. que, como ateu, tenho assistido com curiosidade ao seu ainda breve papado. Não porque tenha particular interesse no modelo de marketing governativo por que optou pastorear, nem porque esperasse algo de admiravelmente novo, fresco que fosse, dos seus discursos. Estes apenas suscitam inconscientes murmúrios de espanto às persuadidas bocas abertas que o adulam de baixo para cima na praça de S. Pedro. Mas esses passeriformes e insaciáveis filhotes que recusam abandonar o ninho abririam sempre a boca a qualquer ave que os sobrevoasse com sustento, fosse incenso, mirra ou larva do pinheiro.

Dirijo-me a si porque teve a amabilidade de publicamente mandar reservar uma parcela de céu a todos os que, dotados de razão ou inato bom senso, por norma não negoceiam desígnios de férias em locais paradisíacos com agências de viagem duvidosas. Reserva essa, note-se, que um subalterno de V.S. prontamente se encarregou de rescindir, desautorizando-o à revelia, alegando para tal cometimento a falta de idoneidade moral dos interessados. Saiba que não apreciei o gesto, embora outros o tenham enaltecido. E não o prezei pela discriminação e preconceito implícitos para com todos os hereges que, como eu, não se deixam levar pelo consumismo desenfreado que a publicidade enganosa engendrada pela instituição que comanda por norma despoleta. Tive a desconfortável sensação de que o local que me fora outorgado teria demasiadas semelhanças com os lugares de estacionamento reservados a deficientes… Com sinalização a condizer! Entenda por isso o motivo do meu desagrado quando a meliantes, loucos, cegos e surdos lhes vejo atribuídas as bem-aventuranças de um terreno virgem de sinalização mediante o pagamento vitalício de periódica benzedura ou genuflexão, obrigação que a condição de evoluído e entufado bípede me dificulta amiúde.

Sei que manifestou intenção de visitar esta pobre República com o intuito de venerar a sorumbática estatueta dessa senhora que uma irrefletida visita noturna a angelical legionário romano converteu, muito a posteriori, em miraculosa artista do Cirque du Soleil, por obra e graça do espirito espanto. Coroada Rainha de Portugal na cova em que iria obrar vasta multinacional de culto, tal é a magnificência com que atua na copa das árvores que secundariza todas as aspirantes a atrizes a quem o infalível espírito crítico de V.S. continua a impedir o protagonismo na representação das homilias. Por mim atribuiria o Óscar de 2013 a Malala Yousafzai, essa sim uma real, enérgica, credível e corajosa representante de todas as mulheres que sabem não estar mortas. Mas gostos são gostos. Saiba ainda V.S. que da monarquia apenas nos resta sonâmbula hereditariedade, Dom Duplo Pio, tão Pio de linhagem como de devoção, mas cuja dicção se desarticula irremediavelmente perante a sobriedade das pouco castas glândulas mamárias da República, implantadas a 05 de outubro de 1910, que lhe surripiaram a mama e o reinado.

Saiba V.S. que será muito bem recebido, como é apanágio deste catolaico povo. É que somente as reses mais estonteadas carecem de pastor do berço ao féretro e nós, infelizmente, ainda o aguardamos, desnorteados, por entre um nevoeiro que nem vai nem sai de cima.

 

Atenciosamente, disponha sempre deste simples ateu que não o venera.

26 de Dezembro, 2013 Carlos Esperança

Ateu, graças a Deus

Há quem por graciosidade ou provocação goste de dizer aos que elegem a consciência como única fonte de valores, que são «ateus, graças a Deus».

E não é que têm razão? Deus é uma explicação por defeito para todas as dúvidas, uma boia para todos os naufrágios, um arrimo para todos os medos – especialmente, para a mãe de todos os medos –, o medo da morte.

Não fora a invenção desse ser imaginário, à semelhança dos homens que o criaram, não haveria necessidade do contraditório. Não há antítese sem tese, nem síntese sem ambas.

Os ateus não têm o direito de perseguir os crentes, tal como a estes não assiste o direito de molestar aqueles. Diferente é o combate de ideias, batalha que cabe aos crentes travar entre crenças ou contra o ateísmo e aos ateus contra as crenças.

É preciso ser destituído do mais leve resquício de humanismo para deixar sem combate a crença nas virgens que aguardam terroristas, os pregadores do ódio e os divulgadores da vontade divina que impõe normas de vestuário, tipos de alimentação e decapitações, por heresia, blasfémia ou apostasia.

A apostasia é um direito inalienável, seja em relação a um partido político, a uma crença religiosa ou a uma doutrina filosófica. Com que direito poderia um ateu perseguir quem, depois de o ter sido, optasse por ir a pé a Fátima, andar de rastos à volta de um ícone, ou intoxicar-se com incenso?

A blasfémia, que permanece no Código Penal português, é um anacronismo que não faz sentido. Um islamita não tolera uma caricatura de Maomé, ouvir um trecho de música ou ver Alá desprezado? Conforme-se, tal como os ateus quando escutam um cardeal a considerar o ateísmo como a maior tragédia da Humanidade.

Idiota, tolice grossa, é animar uma maratona pia, uma peregrinação a Fátima “contra o ateísmo”, a peregrinação de 13 de maio de 2008, chefiada pelo cardeal Saraiva Martins. Tinha esse direito, porque a peregrinação não foi contra os ateus, que são pessoas, foi contra uma ideia – o ateísmo –, mas revela um carácter belicista a lembrar as Cruzadas.

O livre-pensamento e a liberdade de expressão são mais importantes do que as crenças particulares. Ao Estado, cuja neutralidade é uma exigência democrática, cabe apenas defender a livre expressão de todas as crenças, por mais idiotas que sejam, desde vacas sagradas à transubstanciação das hóstias em corpo e sangue de um judeu defunto, sob o efeito de sinais cabalísticos executados por um clérigo ungido e com alvará.

Mais importante do que qualquer crença é a confiança na Humanidade e na capacidade desta para se transformar e melhorar. Nessa tarefa podem ateus e crentes dar-se as mãos.