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Categoria: Ateísmo

5 de Maio, 2014 Carlos Esperança

Maria, mãe de Deus

Por

Leopoldo Pereira

«Maria, mãe de Deus»

Esta “máxima” é sobejamente conhecida, não carecendo de explicação, sobretudo se nos reportarmos aos cristãos, ainda que católicos, ortodoxos, anglicanos e luteranos venerem Maria de modo diverso. Ou seja: O assunto não deixa de ser confuso e está envolto em muitas lendas. Para ajudar à confusão, acredita-se que Madalena era, ao tempo, mais popular que Maria. De qualquer modo tentar-se-á resumir o que de mais importante se nos oferece, dando aos “testemunhos” a nossa interpretação, sempre que o acharmos interessante.

Começamos por salientar que o Filho de Maria foi endeusado apenas pelos cristãos, já que para judeus e muçulmanos ele é considerado profeta. Portanto, das três religiões monoteístas só a cristã decidiu que Jesus Cristo é Deus. Para os cristãos, Maria é mãe de Deus. Certo?

Segundo o Livro (sagrado), Deus criou o Céu, a Terra, o Sol, a Lua, plantas, animais e o Homem, há cerca de seis ou oito mil anos. Ora nessa altura Deus era Órfão, ainda não tinha Mãe, o que viria a acontecer em finais do Séc. 1 A.C., início do Séc. 1 D.C. A Ciência (tipo desmancha-prazeres), provou que tudo já existia, mais os outros planetas do Sistema Solar, os dinossauros, etc., pormenores desconhecidos dos Aristóteles da época, que viriam a conservar a Terra parada durante vários séculos, e o Sol em movimento! Até Copérnico lhes trocar as voltas…

Não acreditem em tudo o que vão ler, que eu próprio não acredito. A verdade é que, ou vem nos Livros, ou a nossa narrativa nos parece mais plausível.

Maria, filha de Ana (Santa Ana) e de Joaquim (São Joaquim), nasceu na Galileia, onde viveu até perto dos 12 anos, altura em que engravidou, já órfã de Pai. Mudou-se para Jerusalém, onde viria casar com o viúvo José, talvez tio por parte do Pai. E como chegámos aqui?

Sem um Curso de Teologia, ou algo de semelhante, tarefa hercúlea! Fica a nossa versão:

As legiões romanas ocupavam imensos territórios na Bacia Mediterrânica, incluindo a zona a que nos vimos reportando. Ora o invasor raramente é bem visto e ali não foi diferente. Os habitantes locais odiavam os romanos e ansiavam pela chegada do Messias, para os libertar. Enquanto tal se não verificasse, lá iam aguentando o barco. As raparigas, ao invés, derretiam-se pelas “fardas” e não ficavam indiferentes aos piropos, o que obviamente deixava namorados, irmãos e pais em polvorosa!

Por relatos da História e até por constatação em território pátrio, sabemos que os romanos não se quedavam pelos “engates”; construíram estradas, pontes, teatros, aquedutos, represas, trouxeram novas tecnologias para o regadio e gostavam de tomar banho, um hábito esquisito, que os levava a criar balneários, termas e sei lá que mais (taras). Deixaram filhos e obra. O que a História não refere é que havia “concertos” em recintos próprios, por vezes bailes, onde atuavam “bandas”. A juventude aderia e não raro, mesmo em tempos de crise, os bilhetes esgotavam com meses de antecedência. Os músicos apresentavam-se meio esfarrapados, com os cabelos em pé, tatuados, com brincos, colares e pregos nos lábios, sobrancelhas, partes púdicas, muitas vezes drogados, e punham o som da aparelhagem no máximo. Depois limitavam-se a pular no palco, a dar cambalhotas, a abrir as bocarras e a fingir que tocavam; a aparelhagem fazia tudo. Entretanto o público também berrava, erguia e abanava os braços, aplaudia, assobiava, dava urros e gania; as moças chegavam a desmaiar. Ora os papás dos jovens, alguns mais evoluídos, iam pactuando, mas de pé atrás.

Os chefões dos legionários, bem como alguns elementos da Administração Pública, deslocavam-se vulgarmente em carros sport, de um, dois, três e quatro cavalos. Era a coqueluche e as raparigas olhavam com inveja, mas de forma recatada, não fossem os companheiros dar por isso! As viaturas ficavam estacionadas à saída do recinto e os felizes proprietários convidavam a garota que estivesse mais disponível, oferecendo-lhe boleia até casa. Se a estratégia resultava, logo havia de surgir uma qualquer pane pelo caminho: Ou um cavalo avariava, ou uma roda furava, acabando a rapariga por regressar muito tarde, contratempo que geralmente despoletava um sermão dos valentes, quando não uma carga de pancada jeitosa. Mas o pior nem era isto, que as mazelas iam sarando, complicado era quando um determinado inchaço aumentava, em vez de diminuir.

Então inventavam-se as desculpas mais esfarrapadas e os matulões segredavam entre si: “Foi por obra e graça do Divino Espírito Santo”. Dificilmente as desculpas pegavam e o mais frequente era a moça abandonar a casa dos pais. Surgiu até uma canção marota, mais ou menos assim: “Quem é o pai da criança? Sei lá, sei lá”. O caso de Maria assumiu um carater sobrenatural, portanto muito diferente dos demais e a prová-lo está a inequívoca presença de Gabriel. As más-línguas dizem que a prima Isabel, mais desinibida, também ajudou. Passado algum tempo, Gabriel resolveu voltar (de novo em forma humana), para ver como corriam as coisas; este curto bate-papo havia de ficar célebre em todo o mundo: “ Quem sois vós, Senhor?” “Ninguém, se já nem tu me conheces!”

Nota: Maria teve mais seis filhos e não morreu. Antes que tal sucedesse, decidiu viajar (não sabemos em que meio de transporte) para o Céu (onde quer que Isso fique), em carne e osso. De vez em quando aparece por cá, mas em carne e osso… não!

 

14 de Abril, 2014 David Ferreira

Argumentos racionais e fé

Por:

“Bezerros de Ouro”,  em (http://bezerrosdeouroeoutrastentacoes.wordpress.com/)

 

Sobre os argumentos racionais serem bastante frágeis diante da fé de um crente convicto

 

A fé não pode ser derrotada por um argumento racional, porque a fé é a crença irracional em qualquer coisa, em alguém ou numa situação; ora se não é racional a razão não poderá ser encontrada na base do seu argumento, visto este ser de natureza diferente da avaliação que fazemos com os nossos sentidos. O argumento pela fé e o argumento pela razão estão em linhas de pensamento que nunca se irão encontrar.

Qualquer argumento racional é baseado na perceção que temos da realidade, naquilo que pode ser analisado com a visão, o olfacto, o tato, a audição e o paladar, auxiliado pela ciência e tecnologia. Um argumento pela fé é baseado numa crença ou num dogma, ou seja, naquilo que se acredita sem nenhum fundamento racional.

Duas pessoas, que nutrem um grande carinho por gatos, estão sentadas num banco de jardim falando calmamente da vida. Subitamente surge no seu ângulo de visão um gato preto de pelo particularmente bonito e brilhante. Uma das pessoas aprecia a pelagem do animal e tece elogios à sua elegância. A outra fecha os olhos, faz figas e reza uma oração propícia ao espantamento do azar, afinal era sexta feira, treze. Ambas tiveram a mesma perceção da realidade: viram um gato preto, só que uma delas descodificou um belo exemplar felino e a outra associou ao negro animal uma fonte de má sorte.

Na verdade, e relativo ao quadro anterior, qualquer argumento racional é bastante frágil perante a crença nos malefícios do gato preto. É que numa análise racional um gato preto é apenas um felino de pelagem preta em qualquer dia do mês. Numa análise pela crença um gato preto continua a ser um felino preto, mas tem mais uma coisa que é completamente irracional: é um veículo do azar particularmente às sextas feiras, treze.

Não há como analisar a má sorte contida no gato preto, pois ela, a má sorte, depende apenas do funcionamento psicológico das pessoas que acreditam que gatos pretos trazem azar.

A fé funciona da mesma forma.

12 de Abril, 2014 David Ferreira

É preciso matar esta tristeza

 

Por coincidência, e após vários dias a discernir sobre uma matéria que sempre me suscitou reflexão, eis que deparo com o texto de um grande escritor, de seu nome Baptista Bastos, que vem precisamente ao encontro da linha de pensamento que procurei reproduzir em breves palavras, e que pode ser lido aqui: http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3802752&seccao=Baptista

Abordando a questão com a tenacidade, a cultura e a experiência de vida que caracterizam o escritor, julguei não ser necessário alongar-me demasiado na leiga elucubração que me propus desenvolver, uma vez que o texto de Baptista Bastos reflete na perfeição muito do que pretendia dizer. Fica, contudo, o apontamento de um assunto que julgo ter relevância para um debate sério.

 

 

Vivemos tempos difíceis. A crise económica abateu-se sobre o país com a força de um tsunami deixando a descoberto as nossas centenárias fragilidades, habilmente varridas para debaixo do tapete da ilusão e da esperança ao longo de vários mandatos políticos excessivamente populistas ou escandalosamente interesseiros.

Não obstante as esparsas manifestações de desagrado e o sentimento de revolta que alimenta frívolas conversas de ocasião ou acesas discussões em fóruns ou blogs da internet, a sensação com que se fica deambulando pelas ruas é a de uma incapacidade quase congénita para reagir de forma eficaz à adversidade que nos anestesia o espírito e nos açaima a vontade, tão bem retratada no dizer de uma célebre figura pública – “O país aguenta mais austeridade? Ai aguenta, aguenta!”. Como se o soubesse. Como se este fado que assumimos e cantamos fosse um dado adquirido, um protótipo de destino traçado a priori para um indulgente desgraçadinho.

Somente agindo se reage. Só que nós reagimos como um peixe-balão – inchamos o peito e mostramos ao predador que não estamos para brincadeira mas ficamo-nos por aí, o peito inflado de ar, a suster a respiração, ansiando que não nos devorem, confiando na nossa capacidade de apneia. E nunca questionamos de onde nos vem essa capacidade ou inclusive que necessidade temos de constantemente a exercitar.

Interiorizámos o espírito de mártir, de exímio sofredor, um fardo obscuro e demasiado pesado que não raras vezes nos é apontado como característica digna de elogio apesar de nos condicionar a objectividade e a evolução.

A esta particularidade não estarão isentos de responsabilidade demasiados séculos sob o jugo do cristianismo, no nosso caso sob a vertente cristã em comunhão com a Igreja de Roma, cultivando uma experiência existencial demasiado assente no sofrimento, no julgamento, no arrependimento, no castigo, na aceitação acrítica do status de poder de quem inexorável e tiranicamente o define e, em particular, na adoração desprovida de racionalidade ao mito apocalítico da redenção e da salvação, fatores que moldaram uma identidade colectiva quase castradora que teima em emergir em períodos de maior dificuldade, embora se imponha ao imaginário social como reconfortante, otimista e esperançosa.

Apesar do sangue fresco injetado pelas recentes revoluções políticas e sociais, com destaque para o 05 de outubro de 1910 e para o 25 de abril de 1974, a transfusão que alvitrava rejuvenescimento nunca se chegou a concluir e os sintomas tendem a surgir a espaços como a recrudescência da malária. Há uma tristeza inatural que inexplicavelmente nos permeia a identidade sociocultural, tal como o olhar de comiseração das estátuas dos santos perpassa, condiciona e emociona o espírito dos crentes, reprimindo a liberdade do livre pensamento e comprometendo o espírito crítico necessário para a contraposição.

No mês em que se comemora a laxativa revolução dos cravos, sublevação adiada pela inanição colectiva e que nos libertou tardiamente de um longo inverno de opressão clerical fascista, urge refletir e repensar os objetivos capitais que estiveram na génese da mesma, sabendo nós de antemão que nenhuma revolução sobrevive eternamente em autofagia.

Todo o futuro se constrói sobre as ruínas do passado. E nada nos espera senão o futuro. É preciso matar esta tristeza!.

4 de Abril, 2014 Carlos Esperança

Um Governo que faz o que é preciso

Manuel Linda, novo bispo das Forças Armadas e de Segurança, comandante supremo de todos os católicos fardados, de Terra, Mar e Ar, incluindo as forças policiais, toma posse do cargo no próximo dia 8, terça-feira.

Reformado como professor, levantou-se o problema legal de lhe pagar o vencimento de major-general, dificuldade resolvida com a nomeação suplementar de capelão-chefe da Igreja católica. Os efetivos militares podem ser reduzidos, mas os efetivos eclesiásticos têm o quadro preenchido.

O novo general vai comandar um corpo de oficiais cuja hierarquia termina em coronel no Exército, Aviação e GNR, capitão-de-mar-e guerra na Marinha e superintendente na PSP, corpo altamente treinado a disparar bênçãos e a converter mancebos nas recrutas.

A partir da próxima terça-feira podem carecer de combustível as viaturas militares mas não faltarão óleos para o crisma; pode faltar verba para reparações, mas sobrará a água benta para abendiçoar viaturas e armas de guerra; podem ser canceladas manobras, por falta de verbas, sem que as missas sofram restrições.

Há em Portugal uma concordância presumida sobre o Serviço Nacional da Fé, sem taxas moderadoras, o que se compreende para consultas do corpo e seria inaceitável para os cuidados da alma. É a lógica que preside à nomeação dos capelães hospitalares onde o médico pode faltar mas está o capelão, onde podem faltar fármacos mas existe a unção.

Nas prisões, na ausência dos mais devotos, como Duarte Lima ou Oliveira e Costa, não faltam capelães para absolver quem esfaqueou a tia, aviou um ourives ou assaltou um banco.

Nas escolas cortam-se aulas de inglês e reduzem-se professores por falta de verbas, mas resistem os docentes de Educação Moral e Religião Católica, nomeados pelos bispos e pagos pelo erário público, sem necessidade de concurso e com o tempo de serviço a ser acumulado para passarem à frente de colegas de outras disciplinas.

É tão lindo ser português aqui, sem instrução, saúde ou pensão, mas com assistência na preservação da alma, rumo ao Paraíso. Pode ser intolerável o presente, mas será radiosa a eternidade.

23 de Março, 2014 Carlos Esperança

A CARNE DE JP2…

Por

João Pedro Moura

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.” João 6:56

Catur_quartel - Cópia

14 de Março, 2014 Carlos Esperança

Saramago, crenças e crispação

Incredulidade de Saramago

O tempo passou e a tensão diluiu-se entre os crentes que usavam uma linguagem cada vez mais crispada e intolerante para com o escritor que deu a Portugal um Nobel e à literatura portuguesa enorme prestígio. Ainda há trogloditas que não digerem o fascínio do escritor, lhe dirigem insultos e acalentam rancores.

Os bispos, padres e outros avençados do divino usam uma linguagem mais dissimulada e sonsa mas é igual o ódio que os devora e o ressentimento que manifestam.

Seria interessante, se não fosse perigosa, esta inquietação dos católicos em torno de Saramago. Este cumpriu o dever de dizer tudo o que disse, e o que mais lhe aprouve, e aqueles gozam de igual direito em relação a Saramago e ao ateísmo. Não assustando já as penas do Inferno, uma lucrativa invenção pia que rendeu grossos cabedais, deliram alguns com a situação de Salman Rushdie, vítima da demência de um aiatola que o condenou à morte por ter criticado o Islão. O que está em causa é a intolerância que em certas latitudes foi contida pelas democracias e em outras anda ainda à solta.

A ICAR abomina o riso e a felicidade mas é uma fonte de um e de outra. Torna felizes os que acreditam e diverte quem não a leva a sério.

Entre as fogueiras índias e as novenas católicas não há dados que indiciem a supremacia de umas sobre as outras quanto à eficácia na pluviosidade. As penas do chefe índio e o camauro do papa só diferem sob o ponto de vista estético. Os vestidinhos de seda do pontífice não se distinguem das vestes dos feiticeiros pelo ridículo, apenas pelo luxo e o conforto.

A cigana que lê a sina não é menos eficaz a espantar os maus olhados do que um padre a esconjurar os espíritos malignos e a garantir o Paraíso. Às vezes a clientela é a mesma e procura na água benta o sinergismo das mezinhas e rezas ciganas.

Um feiticeiro que em África receita uma poção de corno de rinoceronte moído só é mais antipático do que o padre que celebra a missa de ação de graças e ministra a comunhão porque põe em perigo a extinção de uma espécie animal, mas não é diferente a eficácia sobre a convalescença de um doente ilustre.

O batismo com água benta é mais inócuo do que uma circuncisão, que deixa marcas, ou uma excisão, que põe em risco a vida e destrói de forma irreversível a felicidade sexual.

Mas não há motivo para não nos rirmos dos rituais religiosos. Poucas encenações são tão hilariantes.