O medo é o mais fiel aliado das religiões e o sofrimento o húmus onde floresce a fé. A aflição e a angústia debilitam o intelecto, mortificam o corpo e tornam consciências lúcidas em farrapos que as religiões enrolam na manta de charlatanismo que tecem.
Todas as religiões se reclamam do Deus verdadeiro, único que tem a chave do Paraíso. Assim se vê que todas as religiões são falsas, menos uma, na melhor das hipóteses, e certamente todas.
Uma doutrina, impostura ou código de valores que obriga a humanidade a prostrar-se, em vez de a ensinar a viver de pé, não dimana de um ser superior, brota da vontade de um sádico, nasce no cérebro de um néscio ou da tentação de um biltre.
É explorando fraquezas, medos e inquietações que a religião aparece como panaceia para o abatimento, remédio para a agonia e bálsamo para todas as moléstias.
O padre é o autor da trapaça, o artífice da fraude, o intermediário do embuste. Deus é apenas uma imagem que o tempo corroeu, uma droga que excedeu o prazo de validade mas que ainda ocupa as prateleiras de uma drogaria à espera de falência.
No vértice da pirâmide está o chefe dos embusteiros, o homem do chicote, o frio juiz que aprecia as vendas, pede esclarecimentos e dita as regras. Umas vezes chama-se ayatollah, outras patriarca, mullah, arcebispo ou papa. São espécimes zoológicos da mesma estirpe, implacáveis prosélitos de livros obsoletos que esmagam a liberdade e zelam pelos rancores divinos.
A fé vive do medo do Inferno, da morte e do insondado. Outrora eram deuses o Mar, o Sol e os Ventos, hoje são outros os monstros e mais sofisticados os atributos. O deus de serviço vagueia à rédea solta pelo Universo a espiar a humanidade e a ruminar castigos para quem abomina os padres e despreza os sacramentos.
Disseste que Jesus morreu na cruz pelos nossos pecados. Mas quando eu te perguntei o que eram pecados, nunca pensei que fosses dedicar tanto do teu tempo a elucidar-me…
Por
Leopoldo Pereira
«Maria, mãe de Deus»
Esta “máxima” é sobejamente conhecida, não carecendo de explicação, sobretudo se nos reportarmos aos cristãos, ainda que católicos, ortodoxos, anglicanos e luteranos venerem Maria de modo diverso. Ou seja: O assunto não deixa de ser confuso e está envolto em muitas lendas. Para ajudar à confusão, acredita-se que Madalena era, ao tempo, mais popular que Maria. De qualquer modo tentar-se-á resumir o que de mais importante se nos oferece, dando aos “testemunhos” a nossa interpretação, sempre que o acharmos interessante.
Começamos por salientar que o Filho de Maria foi endeusado apenas pelos cristãos, já que para judeus e muçulmanos ele é considerado profeta. Portanto, das três religiões monoteístas só a cristã decidiu que Jesus Cristo é Deus. Para os cristãos, Maria é mãe de Deus. Certo?
Segundo o Livro (sagrado), Deus criou o Céu, a Terra, o Sol, a Lua, plantas, animais e o Homem, há cerca de seis ou oito mil anos. Ora nessa altura Deus era Órfão, ainda não tinha Mãe, o que viria a acontecer em finais do Séc. 1 A.C., início do Séc. 1 D.C. A Ciência (tipo desmancha-prazeres), provou que tudo já existia, mais os outros planetas do Sistema Solar, os dinossauros, etc., pormenores desconhecidos dos Aristóteles da época, que viriam a conservar a Terra parada durante vários séculos, e o Sol em movimento! Até Copérnico lhes trocar as voltas…
Não acreditem em tudo o que vão ler, que eu próprio não acredito. A verdade é que, ou vem nos Livros, ou a nossa narrativa nos parece mais plausível.
Maria, filha de Ana (Santa Ana) e de Joaquim (São Joaquim), nasceu na Galileia, onde viveu até perto dos 12 anos, altura em que engravidou, já órfã de Pai. Mudou-se para Jerusalém, onde viria casar com o viúvo José, talvez tio por parte do Pai. E como chegámos aqui?
Sem um Curso de Teologia, ou algo de semelhante, tarefa hercúlea! Fica a nossa versão:
As legiões romanas ocupavam imensos territórios na Bacia Mediterrânica, incluindo a zona a que nos vimos reportando. Ora o invasor raramente é bem visto e ali não foi diferente. Os habitantes locais odiavam os romanos e ansiavam pela chegada do Messias, para os libertar. Enquanto tal se não verificasse, lá iam aguentando o barco. As raparigas, ao invés, derretiam-se pelas “fardas” e não ficavam indiferentes aos piropos, o que obviamente deixava namorados, irmãos e pais em polvorosa!
Por relatos da História e até por constatação em território pátrio, sabemos que os romanos não se quedavam pelos “engates”; construíram estradas, pontes, teatros, aquedutos, represas, trouxeram novas tecnologias para o regadio e gostavam de tomar banho, um hábito esquisito, que os levava a criar balneários, termas e sei lá que mais (taras). Deixaram filhos e obra. O que a História não refere é que havia “concertos” em recintos próprios, por vezes bailes, onde atuavam “bandas”. A juventude aderia e não raro, mesmo em tempos de crise, os bilhetes esgotavam com meses de antecedência. Os músicos apresentavam-se meio esfarrapados, com os cabelos em pé, tatuados, com brincos, colares e pregos nos lábios, sobrancelhas, partes púdicas, muitas vezes drogados, e punham o som da aparelhagem no máximo. Depois limitavam-se a pular no palco, a dar cambalhotas, a abrir as bocarras e a fingir que tocavam; a aparelhagem fazia tudo. Entretanto o público também berrava, erguia e abanava os braços, aplaudia, assobiava, dava urros e gania; as moças chegavam a desmaiar. Ora os papás dos jovens, alguns mais evoluídos, iam pactuando, mas de pé atrás.
Os chefões dos legionários, bem como alguns elementos da Administração Pública, deslocavam-se vulgarmente em carros sport, de um, dois, três e quatro cavalos. Era a coqueluche e as raparigas olhavam com inveja, mas de forma recatada, não fossem os companheiros dar por isso! As viaturas ficavam estacionadas à saída do recinto e os felizes proprietários convidavam a garota que estivesse mais disponível, oferecendo-lhe boleia até casa. Se a estratégia resultava, logo havia de surgir uma qualquer pane pelo caminho: Ou um cavalo avariava, ou uma roda furava, acabando a rapariga por regressar muito tarde, contratempo que geralmente despoletava um sermão dos valentes, quando não uma carga de pancada jeitosa. Mas o pior nem era isto, que as mazelas iam sarando, complicado era quando um determinado inchaço aumentava, em vez de diminuir.
Então inventavam-se as desculpas mais esfarrapadas e os matulões segredavam entre si: “Foi por obra e graça do Divino Espírito Santo”. Dificilmente as desculpas pegavam e o mais frequente era a moça abandonar a casa dos pais. Surgiu até uma canção marota, mais ou menos assim: “Quem é o pai da criança? Sei lá, sei lá”. O caso de Maria assumiu um carater sobrenatural, portanto muito diferente dos demais e a prová-lo está a inequívoca presença de Gabriel. As más-línguas dizem que a prima Isabel, mais desinibida, também ajudou. Passado algum tempo, Gabriel resolveu voltar (de novo em forma humana), para ver como corriam as coisas; este curto bate-papo havia de ficar célebre em todo o mundo: “ Quem sois vós, Senhor?” “Ninguém, se já nem tu me conheces!”
Nota: Maria teve mais seis filhos e não morreu. Antes que tal sucedesse, decidiu viajar (não sabemos em que meio de transporte) para o Céu (onde quer que Isso fique), em carne e osso. De vez em quando aparece por cá, mas em carne e osso… não!
Por:
“Bezerros de Ouro”, em (http://bezerrosdeouroeoutrastentacoes.wordpress.com/)
Sobre os argumentos racionais serem bastante frágeis diante da fé de um crente convicto
A fé não pode ser derrotada por um argumento racional, porque a fé é a crença irracional em qualquer coisa, em alguém ou numa situação; ora se não é racional a razão não poderá ser encontrada na base do seu argumento, visto este ser de natureza diferente da avaliação que fazemos com os nossos sentidos. O argumento pela fé e o argumento pela razão estão em linhas de pensamento que nunca se irão encontrar.
Qualquer argumento racional é baseado na perceção que temos da realidade, naquilo que pode ser analisado com a visão, o olfacto, o tato, a audição e o paladar, auxiliado pela ciência e tecnologia. Um argumento pela fé é baseado numa crença ou num dogma, ou seja, naquilo que se acredita sem nenhum fundamento racional.
Duas pessoas, que nutrem um grande carinho por gatos, estão sentadas num banco de jardim falando calmamente da vida. Subitamente surge no seu ângulo de visão um gato preto de pelo particularmente bonito e brilhante. Uma das pessoas aprecia a pelagem do animal e tece elogios à sua elegância. A outra fecha os olhos, faz figas e reza uma oração propícia ao espantamento do azar, afinal era sexta feira, treze. Ambas tiveram a mesma perceção da realidade: viram um gato preto, só que uma delas descodificou um belo exemplar felino e a outra associou ao negro animal uma fonte de má sorte.
Na verdade, e relativo ao quadro anterior, qualquer argumento racional é bastante frágil perante a crença nos malefícios do gato preto. É que numa análise racional um gato preto é apenas um felino de pelagem preta em qualquer dia do mês. Numa análise pela crença um gato preto continua a ser um felino preto, mas tem mais uma coisa que é completamente irracional: é um veículo do azar particularmente às sextas feiras, treze.
Não há como analisar a má sorte contida no gato preto, pois ela, a má sorte, depende apenas do funcionamento psicológico das pessoas que acreditam que gatos pretos trazem azar.
A fé funciona da mesma forma.
Por coincidência, e após vários dias a discernir sobre uma matéria que sempre me suscitou reflexão, eis que deparo com o texto de um grande escritor, de seu nome Baptista Bastos, que vem precisamente ao encontro da linha de pensamento que procurei reproduzir em breves palavras, e que pode ser lido aqui: http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3802752&seccao=Baptista
Abordando a questão com a tenacidade, a cultura e a experiência de vida que caracterizam o escritor, julguei não ser necessário alongar-me demasiado na leiga elucubração que me propus desenvolver, uma vez que o texto de Baptista Bastos reflete na perfeição muito do que pretendia dizer. Fica, contudo, o apontamento de um assunto que julgo ter relevância para um debate sério.
Vivemos tempos difíceis. A crise económica abateu-se sobre o país com a força de um tsunami deixando a descoberto as nossas centenárias fragilidades, habilmente varridas para debaixo do tapete da ilusão e da esperança ao longo de vários mandatos políticos excessivamente populistas ou escandalosamente interesseiros.
Não obstante as esparsas manifestações de desagrado e o sentimento de revolta que alimenta frívolas conversas de ocasião ou acesas discussões em fóruns ou blogs da internet, a sensação com que se fica deambulando pelas ruas é a de uma incapacidade quase congénita para reagir de forma eficaz à adversidade que nos anestesia o espírito e nos açaima a vontade, tão bem retratada no dizer de uma célebre figura pública – “O país aguenta mais austeridade? Ai aguenta, aguenta!”. Como se o soubesse. Como se este fado que assumimos e cantamos fosse um dado adquirido, um protótipo de destino traçado a priori para um indulgente desgraçadinho.
Somente agindo se reage. Só que nós reagimos como um peixe-balão – inchamos o peito e mostramos ao predador que não estamos para brincadeira mas ficamo-nos por aí, o peito inflado de ar, a suster a respiração, ansiando que não nos devorem, confiando na nossa capacidade de apneia. E nunca questionamos de onde nos vem essa capacidade ou inclusive que necessidade temos de constantemente a exercitar.
Interiorizámos o espírito de mártir, de exímio sofredor, um fardo obscuro e demasiado pesado que não raras vezes nos é apontado como característica digna de elogio apesar de nos condicionar a objectividade e a evolução.
A esta particularidade não estarão isentos de responsabilidade demasiados séculos sob o jugo do cristianismo, no nosso caso sob a vertente cristã em comunhão com a Igreja de Roma, cultivando uma experiência existencial demasiado assente no sofrimento, no julgamento, no arrependimento, no castigo, na aceitação acrítica do status de poder de quem inexorável e tiranicamente o define e, em particular, na adoração desprovida de racionalidade ao mito apocalítico da redenção e da salvação, fatores que moldaram uma identidade colectiva quase castradora que teima em emergir em períodos de maior dificuldade, embora se imponha ao imaginário social como reconfortante, otimista e esperançosa.
Apesar do sangue fresco injetado pelas recentes revoluções políticas e sociais, com destaque para o 05 de outubro de 1910 e para o 25 de abril de 1974, a transfusão que alvitrava rejuvenescimento nunca se chegou a concluir e os sintomas tendem a surgir a espaços como a recrudescência da malária. Há uma tristeza inatural que inexplicavelmente nos permeia a identidade sociocultural, tal como o olhar de comiseração das estátuas dos santos perpassa, condiciona e emociona o espírito dos crentes, reprimindo a liberdade do livre pensamento e comprometendo o espírito crítico necessário para a contraposição.
No mês em que se comemora a laxativa revolução dos cravos, sublevação adiada pela inanição colectiva e que nos libertou tardiamente de um longo inverno de opressão clerical fascista, urge refletir e repensar os objetivos capitais que estiveram na génese da mesma, sabendo nós de antemão que nenhuma revolução sobrevive eternamente em autofagia.
Todo o futuro se constrói sobre as ruínas do passado. E nada nos espera senão o futuro. É preciso matar esta tristeza!.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.