14 de Setembro, 2014 Carlos Esperança
Uma santa com proteção papal
A intolerância cristã, islâmica ou ateia é igualmente reprovável.
A solidão é o cimento que cola o abandonado à fé, torna o proscrito crente, faz beata a pessoa e transforma um cidadão num devoto.
A religião é o colchão que serve de cama ao solitário, o mito que se entranha nos poros do desespero, o embuste a que se agarra o náufrago. É o vácuo a preencher o vazio, o nada que se acrescenta ao zero.
O padre está para a família como o álcool para o corpo. Primeiro estranha-se, depois entranha-se e finalmente domina.
A religião é um cancro que se desenrola dentro das pessoas e morre com elas. Também metastiza e atinge órgãos vitais. Mas é dos joelhos que se serve, esfolando-os, da coluna vertebral, dobrando-a, e do cérebro, atrofiando-o.
A religião busca o sofrimento e condena o prazer. Preza o mito e esquece a realidade.
Um crente faz o bem por interesse e o mal por obrigação. É generoso para agradar a Deus e perverso para o acalmar. Dá esmola para contentar o divino e abate um inimigo para ganhar o Paraíso.
A religião vive da tradição, do medo e da morte. Começa por ser uma doença infecto-contagiosa que se apanha na infância, transmitida pelos pais, através do batismo. O lactente é levado ao primeiro rito mais depressa do que às vacinas.
Depois, o medo, o medo da discriminação na escola, no emprego e na sociedade, leva a criança à catequese, à confirmação, eucaristia e penitência. De sacramento em sacramento, missa após missa, hóstia a hóstia, com orações à mistura e medo do Inferno, transforma-se um cidadão em marionete nas mãos do clero.
Na cúpula temos o Vaticano, um antro de perversão a viver à custa dos boatos sobre o filho de um carpinteiro de Nazaré e os milagres obrados por cadáveres de católicos, de virtude duvidosa, à custa de pesados emolumentos.
O seu negócio é a morte que explora em ossos ressequidos pelo tempo, caveiras, tíbias e maxilares, pedaços de pele e extremidades de membros, numa orgia de horror e delírio.
É assim que a tradição, o medo e a morte continuam a encher os cofres do último Estado totalitário da Europa, que governa pelo medo e se mantém pela chantagem.
Esperemos que o atual PDG seja menos tenebroso do que os dois antecessores.
Por
Paulo Franco
Na cultura cristã, a palavra “persignar” significa basicamente fazer o sinal da cruz. Este gesto, antigamente, era habitualmente articulado apenas nos templos sagrados ou em momentos íntimos de reflexão teológica.
Mas o mundo também é feito de influências. Com a exportação de milhares de jogadores brasileiros de futebol pelo mundo inteiro, e particularmente para a Europa, começamos a ver o gesto de persignar com uma frequência que parece, a quem não é crente, banalizar um gesto que deveria querer-se, no mínimo, tornar especial ou até sagrado.
Cada vez que um jogador marca um golo, ou cada vez que um guarda-redes defende uma bola difícil lá veem os festejos seguidos do ato de persignação, agradecendo a Deus aquela bênção de o ter beneficiado em detrimento do adversário.
Para isto ter algum sentido, teria Deus de tomar o partido de uns para prejudicar os outros. Ora se fôssemos todos filhos de Deus, o mínimo que deveríamos querer era que Deus fosse imparcial.
Além do mais, se o objetivo da religião é que sejamos mais solidários com os outros e menos egoístas/narcisistas/egocêntricos, nunca deveria fazer sentido achar que Deus nos pudesse favorecer tendo obrigatoriamente de prejudicar quem está a competir contra nós.
Há dias, vi uma notícia de uma senhora que se vangloriava de ter sido favorecida com um milagre de Deus pois tinha sobrevivido a um acidente onde tinham falecido 7 pessoas. Sendo legitima a sua alegria de não ter morrido, como os outros, poderia ao menos ter o bom senso de reconhecer que não foi milagre mas sim uma grande sorte.
Porque se Deus tivesse sido bom para ela, teria de ter sido muito mau para os que faleceram.
Ninguém consegue fugir às suas especificas circunstâncias de existência sem se deixar influenciar por elas. E em paralelo a esta realidade inexorável está a psicologia subjacente à natureza da crença no sobrenatural. É simples de compreender que a palavra “religião” está direta e intimamente ligada à nossa natureza egocêntrica. O nosso cérebro beneficia de milhões de anos de evolução sempre à procura de refinar a sua capacidade de nos iludir de que somos especiais, de que somos os eleitos de uma qualquer entidade divina, que nos beneficia em detrimento dos outros.
As teorias de há séculos, como a geocêntrica, a heliocêntrica ou a antropocêntrica, que colocava a Terra, o sol e o Homem no centro do universo, são excelentes demonstrações da nossa natureza egocêntrica ancestral.
A necessidade de religião é o paradigma mais fiel da nossa necessidade de afagar o ego, sem esquecer que o medo da morte nos aterroriza de tal modo que criamos todo tipo de defesas psicológicas para minorar o nosso sofrimento.
Só que esta nossa capacidade de nos iludir, que evidentemente nos ajudou a chegar até aqui, afasta-nos da mais nobre, edificante e complexa atividade humana: conhecermo-nos a nós próprios.
Paulo Franco.
1789 – A Assembleia Constituinte francesa aprovou em 26 de agosto a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
Fizeram mais os deputados franceses num só dia do que todas as religiões desde que o deus de cada uma delas criou o Mundo.
Alguém já leu a revista?
Por
João Pedro Moura
1- Os crédulos, na sua necedade larvar, para justificarem o injustificável, isto é, para tentarem paliar os males do mundo e a responsabilidade atribuída ao seu deus, porque podia evitar tais males e não os evita, alegam que ele não só tem mente (???!!!…) como é incognoscível!
Se temos um deus com mente, então também temos o mesmo com outras partes corporais, cujo conhecimento deixo à imaginação dos leitores…
Deve ser o famoso “Corpo de Deus”, que até originou um feriado…
Se tem “mente”, então, os crédulos terão de demonstrar os atos e ditos divinais, a partir dos quais se deduz uma mente de comando…
Quais são esses atos e ditos???!!!
Se se diz que a “mente” divina é incognoscível, então não podem afirmar deus, pois que não lhe conhecem a ”mente”, isto é, os atos e ditos que definem a mesma…
2- Os crédulos, no seu toledo intrínseco e fanatismo vesgo, de quererem, a todo o custo, justificar o injustificável, isto é, tentarem explicar, ante o mundo, os males que o eivam, afirmam que o seu deus de fancaria teria dado “livre-arbítrio” às suas criaturas, denotando que um colosso com poderes absolutos poderia criar pessoas e deixá-las fazer o que elas quisessem…
Ora, tal pretensão é ilógica, pela simples razão de que um deus, na medida do seu triplo omnipoder, sabe sempre o que é que cada pessoa fará até ao fim das suas vidas, pois assim as programou…
Pretender que deus criou pessoas e que, depois, elas são responsáveis pelos seus atos e ditos, é pretender que tal deus não só não tem poderes para saber o que vão essas pessoas fazerem, mas também lhe minguam os mesmos poderes para evitar males que tais pessoas façam…
Se deus é o criador absoluto, logicamente que é o responsável absoluto pelo produto da sua criação!
Portanto, fica demonstrado, à sociedade e à saciedade, a improcedência lógica do argumento do livre-arbítrio.
Pelo que, sobra aquilo que eu chamo de “Human Games”, denominação precoce, já na mira de eventual registo internacional de patente, que é a do deus ter criado pessoas para… brincar, jogar aos humanos, à laia dum “software” computacional e colossal qualquer, pelo qual o “senhor” dos néscios e crédulos se entreteria a manipular “robocops” e outros “robôs angelicais”, de forma humana …
Mas isto faz algum sentido???!!! Também nenhum…
… Porque, por definição, deus é imutável e não precisa de nada…
3- Alegam ainda, os divinais sandeus, que o seu mentor estratosférico, ao provocar maleitas e outros infaustos acontecimentos, serviria para a “finalidade dum bem superior”, bem esse que tais ineptos declaram “incognoscível”, para tentarem sonegar o esclarecimento devido e indeclinável do divino fautor, inerente a um natural e religioso conceito de bondade, sem a qual redundaria em conceção fictícia, fútil e inútil…
Ora, dizer que deus é bom e faria maldades e desastres, castigadores, para alcançar um “bem superior”, afirmação perfeitamente estouvada e gratuita, é simétrica de dizer que “deus é mau e faz bondades e venturas, felicitadoras, para alcançar a finalidade dum mal superior”, afirmação também sem nexo, mas da mesma lógica da anterior…
Se deus é bom, então fará coisas em conformidade e não por etapas fantasmagóricas e ilógicas, denotativas de poderes dúbios…
4-…E um ser imutável não pode criar, porque criar implica um estado anterior, negativo dessa necessidade, e um estado posterior, afirmativo dessa necessidade e sua concretização. Ora, um ser absoluto não tem necessidades, nem estados anteriores ou posteriores de nada…
Isto é, os crédulos, ao conceberem tamanha farsa divina, nem se dão conta do mistifório argumentativo em que imergem, inextricavelmente…
5- Que piadético, que grotesco, afirmar que a matéria deriva da obra criativa duma entidade essencialmente imaterial, sem forma, sem densidade, sem cor, sem cheiro, sem peso, sem comprimento, altura ou largura, quando a matéria se traduz por inúmeros parâmetros físicos!!!…
Como justificar que aquilo, essencialmente imaterial, criou isto, essencialmente material???!!!
O “corpo de deus”, em todo o seu esplendor!…
6- Se nós não sabemos como apareceu a matéria primordial, e nunca poderemos saber, mais vale estarmos calados e não especularmos sobre deuses ridículos, fúteis e inúteis…
Se nós não sabemos como se formaram as primeiras cadeias de aminoácidos e, sobretudo, as formas primevas de vida, ficamos curiosos e estudiosos sobre a matéria primordial e evolução natural e não divagamos sobre pretensos e excelsos colossos, que nada explicam…
7- Mas o que pensam e divulgam, em geral, os crédulos religionários sobre a origem do universo e da vida?!
Já não põem em causa a plausibilidade da teoria do Big Bang, mas, em vez de se ficarem pela incognoscibilidade científica do suposto tempo anterior ao BB, não, têm o desplante de afirmarem que foi o seu deus tolinho que criou a matéria original, sem o provarem…
Mais e pior: em vez de aceitarem a origem da vida como decorrente da complexidade do “caldo de cultura” primordial, há uns 3,5 biliões de anos, em que uma evolução de centenas de milhões de anos e biliões de biliões de conjugações materiais, nesse “caldo de cultura” original, provocou a ocorrência, em hipótese, obviamente, remotíssima e dificílima de surgir, duma cadeia de aminoácidos autorreplicativa, cuja complexidade evolucionista culminou no primeiro conjunto de bactérias, em vez de aceitarem, dizia eu, a plausibilidade lógica e material de tal evolução, não, reiteram que foi o seu deus maluquinho a criar a vida, toda…
Isto é: os crédulos, que pregam a incognoscibilidade do seu deus, para se safarem das situações mais prementes, passam, numa penada, à cognoscibilidade desconcertante da coisa divina, atribuindo-lhe, sem rebuço, a origem de tudo…
Um deus imutável, que, quiçá, sacudindo a pasmaceira torporosa que o entanguia, disse um dia: “fiat lux”…
Um deus, isto é, algo essencialmente imaterial a criar tudo essencialmente material…
…Mas que os crédulos, na sua estupidez infinita, acham mais plausível que seja uma entidade imaterial a criar o material e não a decorrência sucessiva de materiais…
…Algo que nenhum programa científico, nenhum grupo de investigação, nenhuma universidade admitem…
Assim, para que prestar culto a semelhante divindade???!!!
“Se o teu irmão, filho da tua mãe, o teu filho ou a tua filha, a tua companheira ou o amigo a quem estimas vier secretamente seduzir-te, dizendo: «Vamos servir os Deuses estrangeiros» – Deuses que nem tu nem os teus pais conheceram, os Deuses dos povos que estão à tua volta, na tua vizinhança ou ao longe, de um extremo ao outro da terra – não o aceitarás nem ouvirás; não levantarás para ele olhos de compaixão, nem o ajudarás a esconder-se. Pelo contrário, tens o dever de o matar. A tua mão será a primeira a levantar-se contra ele para lhe dar a morte e, a seguir, a mão de todo o povo. Apedrejá-lo-ás até morrer, porque ele tentou desviar-te do Senhor, teu Deus”.
(Deuteronómio 13:7-11)
Apesar de o apedrejamento de crianças por heresia ter caído em desuso, > não é frequente ouvirmos um cristão ou um judeu moderado clamar por uma leitura «simbólica» deste tipo de passagens. (Na verdade, tal parece ser explicitamente proibido pelo próprio Deus, em Deuteronómio
13:1: «Cumprireis todas as ordens que eu prescrevo, sem nada lhes acrescentar ou suprimir.») Esta passagem é tão canónica como qualquer outra na Bíblia, e só ignorando tais barbaridades é que o Livro de Deus pode ser reconciliado com a vida do mundo moderno. É este o problema da «moderação» religiosa: nada a justifica a não ser a negligência despudorada da palavra divina.
Hoje em dia, a única razão para que sejamos «moderados» em questões de fé prende-se simplesmente com o facto de termos assimilado alguns frutos do pensamento humano dos últimos 2 000 anos (democracia política, avanços científicos em todas as frentes, preocupação com os direitos humanos e também com os direitos dos animais, o fim do isolamento cultural e geográfico, etc.)
As portas que permitem abandonar a leitura textual das escrituras não se abrem pelo lado de dentro. A moderação que observamos nos não fundamentalistas, longe de ser um sinal de evolução da fé, é o produto das diferentes mazelas que a modernidade lhe infligiu, questionando alguns dos seus princípios doutrinários.
Não menos importante entre tais desenvolvimentos foi o facto de termos começado a privilegiar a verificação empírica e a só nos deixarmos convencer por uma proposição na medida em que existam factos que a comprovem.
Até os fundamentalistas mais radicais vivem à luz da razão neste aspeto em particular; simplesmente os seus espíritos parecem ter sido formatados para acomodar as “verdades” extravagantes defendidas pela sua fé. Se dissermos a um cristão devoto que a sua mulher o anda a enganar, ou que um iogurte congelado pode tornar uma pessoa invisível, ele não deixará de nos exigir tantas provas como outra pessoa qualquer, só se deixando convencer na medida em que lhas apresentarmos. No entanto, se lhe dissermos que o livro que conserva à cabeceira – seja a Bíblia, o Alcorão ou a Tora – foi escrito por uma divindade invisível que o castigará com o fogo eterno caso ele não aceite todas as suas incríveis afirmações acerca do universo, o individuo de fé parece não exigir qualquer tipo de comprovação.
A moderação religiosa resulta do facto de mesmo os mais incultos de entre nós saberem hoje mais sobre determinados assuntos do que qualquer outra pessoa há dois mil anos – e de muito deste conhecimento ser incompatível com as escrituras. Depois de termos ouvido falar das descobertas da medicina nas últimas centenas de anos, quase ninguém equaciona hoje a possibilidade de contrair uma doença por ter pecado ou por estar possuído pelo demónio. Depois de ter aprendido as distancias conhecidas entre os corpos do universo, a maioria de nós considera que a ideia de o universo ter sido criado há seis mil anos não é para levar a sério.
Tais concessões à modernidade não sugerem minimamente que a fé seja compatível com a razão, ou que as nossas tradições religiosas estejam, em princípio, abertas a novos conhecimentos: apenas que a utilidade de ignorar (ou «reinterpretar») certos artigos da fé é hoje iniludível.
Este texto foi retirado do livro “O fim da fé” de Sam Harris.
“Lê a Bíblia e torna-te descrente” – José Saramago.
a) Paulo Franco.
Não dedico a Lutero e, ainda menos a Calvino, especial sedução, mas admiro, sobretudo ao primeiro, a coragem com que denunciou o negócio das indulgências e o das relíquias, que eram para Leão X o que as especiarias, cravinho, canela e noz-moscada, foram para os portugueses da mesma época.
Quando as indulgências se vendiam ao domicílio e já prosperava o lucrativo negócio de relíquias contrafeitas, sem certificado de origem nem garantia de milagres, insurgiu-se Lutero contra o negócio e causou rombos irreparáveis no comércio papal e no paralelo.
A excomunhão da Igreja Romana e a pena de proscrito, esta imposta pelo imperador do Sacro Império Romano Germânico, causaram-lhe menos danos do que ele aos negócios pios. No fundo, as cotações das excomunhões baixaram em linha com as das relíquias e indulgências na bolsa de valores da fé.
Agora que chegaram a Portugal, ao Santuário de Cerejais, em Alfândega da Fé, relíquias de João Paulo II [cabelo e vestes brancas usadas por ele] certamente com certificação de ADN, o DN de ontem, dia 11 de agosto do Ano da Graça de 2014, deu-nos conta de como um teólogo [especialista numa ciência sem método nem objeto] viu a preciosa chegada.
O teólogo e padre franciscano, Carreira das Neves, especialista da fé, disse que ignorava a importação de tais relíquias, mas que as achava importantes. Os leitores, dos mais pios aos mais céticos, adivinham o que, prudente, poderia dizer um profissional da casa.
O que surpreendeu foi a confissão do padre Correia das Neves de que ‘João Paulo II não acreditava em Fátima mas depois do atentado que sofreu mandou vir [sic] coisas para o Vaticano sobre Fátima e passou a ser devoto’.
Perplexos ficam os incréus com João Paulo II que, não crendo, se prestou a vir a Fátima a enganar devotos e ter sido preciso que, em dias 13 de maio, quiçá por desígnio divino, o padre Juan Fernández Krohn e Ali Agca tivessem de o convencer à força.
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