Quando o demente Abraão quis sacrificar o filho para fazer a vontade ao seu deus criou um axioma que perdura: os tiranos têm sempre quem lhes obedeça.
Que outra forma há para explicar as casmurrices papais que encontram sempre câmaras de eco que ressoam urbi et orbi?
Que justifica a existência de carrascos para darem cumprimento à sharia ? Quem criou os frades que rezavam alegremente enquanto as bruxas e os hereges eram grelhados nas fogueiras da Santa Inquisição ?
Faltam, acaso, médicos que atestem a veracidade dos milagres obrados por um sistema de cunhas que envolve uma virgem, um defunto e a associação de embusteiros?
As religiões são as multinacionais que mais tempo se mantêm no mercado sem renovar o stock dos produtos e os métodos da cautela premiada. Prometem o paraíso sem terem escritura válida ou o averbamento na conservatória do registo predial celeste e ameaçam com o Inferno, sem o localizarem no mapa imaginário da fé.
O clero é a classe de vendedores de ilusões que obedece cegamente à hierarquia pouco recomendável. Do budismo ao cristianismo, do judaísmo ao islamismo, da bruxaria à quiromancia, a superstição e o medo são os motivos que levam os clientes a alimentar mentiras pias e o fausto dos patrões da fé.
Um leitor chamou-me islamobóbico, «não o sabia islamofóbico». Outros, por consideração, mais corteses, limitam-se a insinuá-lo. Não me preocupo com o apodo, mas temo pela agnosia de quem o usa.
Alguns, indiferentes ao perigo que corre a civilização, babam-se de gozo por tudo o que seja contra os EUA, numa inconsciência que só uma postura simétrica com os islamitas pode consentir. O Afeganistão devia servir a uns e outros como exemplo pedagógico. Os talibãs serravam vivos os soldados da URSS e a comunicação social aceitava porque eram comunistas. Depois entraram os americanos e os soldados dos EUA também eram serrados vivos. O silêncio manteve-se porque eram imperialistas. Medraram os talibãs.
Há quem pense que só há dois lados da barricada, o mundo que ruiu com a implosão da URSS e o império do mal que designa os EUA. É um maniqueísmo digno de Santo Agostinho e dos radicais que alimentam ódios do lado que já não existe ou do lado que deixará de existir. Não há impérios eternos.
As fobias são medos patológicos que a psiquiatria trata. O islamismo inspira medo real, um medo que só os inconscientes e os cúmplices enjeitam. O medo consciente não é uma fobia, como qualquer interno do primeiro ano de psiquiatria pode explicar. É o que permite a conservação da espécie, mas não ensina ninguém a pensar.
Quem herdou do Iluminismo e da Revolução Francesa os ideais que o norteiam, detesta quem prefere o Paraíso à liberdade, o terror à paz e a demência pia à civilização.
Combater o Islão não é apenas uma questão de medo justificado, é medo a quem prefere 72 virgens à própria vida, a quem se faz explodir para não perder rios de mel doce que o profeta analfabeto lhes prometeu, segundo refere um manual terrorista que é uma cópia grosseira do cristianismo e rudimentos do judaísmo de cuja cisão nasceu o cristianismo.
Fobia é uma doença do foro da psiquiatria. Medo, de um perigo real, é uma questão de sobrevivência. Decididamente, há pessoas que, quando apontam o dedo, não veem para além da sua falangeta.
Crónica Ateísta de Onofre Varela
Matar em nome de Deus
Penso poder dizer, sem lugar a erro, que Deus é uma das piores invenções da Humanidade. A História conta-nos guerras religiosas e outras atitudes maléficas perpetradas em nome de Deus, que desilustram a espécie Homo… que se apresenta pouco Sapiens! O conceito de Deus não é transcendental nem pertence a outra esfera que não seja à das coisas humanas. Deus é uma ideia que não pertence a ninguém em particular, mas que é de todos em geral, e os povos são tanto mais explorados quanto mais religiosos forem. E há quem, pela mesma razão, seja sanguinário.
A História da Igreja Católica teve a sua grande Era das Trevas que durou 350 anos (de 523 a 872), durante a qual a prepotência dos papas alimentou casos de intriga, tortura, luxúria, pederastia, violações e abusos sexuais, inclusivé com animais. Os papas sodomizavam criados que depois mandavam torturar e matar. Houve papas que cometeram todo o tipo de crimes, e na lista dos 56 daquele período, 23 foram considerados santos! 1000 anos depois, no tempo de Martinho Lutero, a Igreja continuava a explorar a sua autoridade espiritual de forma corrupta, e os papas tinham filhos, faziam colecção de amantes, e havia bordéis especificamente para padres (*).
Houve várias Inquisições Católicas que torturavam e matavam em nome de Deus. A última delas foi a Portuguesa, iniciada em Évora e que durou 285 anos (1536-1821).
Que fique bem claro que o Cristianismo e o Islamismo actuais não têm nada a ver com as maldades produzidas por cristãos em tempos recuados, nem com os sanguinários muçulmanos que hoje se dizem seguidores de Alá. Mas, nos seus extremismos, ambas as religiões protagonizaram, e protagonizam, maldades em nome de Deus. Hoje há muçulmanos que matam com intenção religiosa e requintes de malvadez (para exemplo e amedrontamento do mundo, dizem eles!?…), filmando degolações de honrados, valentes e exemplares cidadãos que entregaram as suas vidas a causas humanitárias. Carnificina perpetrada por malfeitores religiosos ignorantes, mentecaptos e assassinos, a merecerem perseguição imediata e condenação a prisão perpétua. JÁ!
(*) – Eric Frattini. Os Papas e o Sexo. Ficheiros Secretos do Vaticano. Bertrand Editora, 2010.
(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)
Crónica Ateísta de Onofre Varela
O meu Ateísmo
Na intenção de me apresentar aos leitores, vou falar das razões que me levaram a ser ateu.
Todos nós nascemos analfabetos e aprendemos a ler e a escrever com o evoluir do entendimento. Do mesmo modo sentimos a religiosidade presente na família e transmitida pela sociedade que nos produz, formata e educa. Tal como a maioria dos portugueses, também eu frequentei a catequese. Mas por pouco tempo. O meu pai, republicano, deixou por minha conta seguir, ou não, uma religião. Não segui, porque me interrogava sobre a divindade, e a catequista não me dava respostas satisfatórias. A interrogação é a causa primeira que nos leva a sermos, ou não, militantes religiosos.
No cumprimento do serviço militar em Angola, senti a morte rondar por perto e percebi o sentimento de religiosidade dos meus camaradas que rezavam na esperança de que Deus desviasse as balas que viessem nas suas direcções. Percebi que Deus estava nas suas cabeças, mas não fora delas… por isso nunca receberiam nada daquela procedência. Só se chega a esta conclusão quando não se tem o cérebro tomado pela crença… e eu não tinha.
A partir daí interessei-me pela Antropologia Religiosa e interroguei os meus camaradas sobre as suas crenças. No regresso à vida civil, li filósofos, pensadores, cientistas, a Bíblia e o Corão, assisti a missas, falei com crentes de base e sacerdotes, e comecei a construir o meu entendimento do fenómeno religioso. São muitos os porquês que me inquietam. O que levou o Ser Humano a criar deuses? Sem Mitologia não temos identidade? Porque há tanta gente a arrastar-se em lugares que dizem sagrados? Sendo Deus um conceito criado pelo Homem, o que é que faz com que uma pessoa culta e licenciada (médico, por exemplo), tenha, pelo conceito do divino, a mesma devoção de um analfabeto?!… Será que o licenciado não aprendeu nada, ou o analfabeto sabe muito?! Todas estas questões me inquietam, e aos 40 anos reconheci que, realmente, sou ateu.
Aos 70 continuo interrogativo e gostaria de saber o porquê de eu me interrogar sobre o tema, e de a maioria dos meus semelhantes devotar-lhe um tal “respeito sagrado” impedindo o questionamento da religião e da própria fé!…
(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)
Crónica Ateísta de Onofre Varela
A má fama dos ateus
Um dos meus amigos, sacerdote católico, afirma que eu não sou ateu. No seu entender os ateus são más pessoas porque serão destituídos de sentimentos fraternos e incapazes de atitudes altruístas. E como me conhece bem, sabe dos meus afectos, interesses culturais, atitudes cívicas e respeito pelo próximo, e por isso considera que eu não posso
ser ateu! É um preconceito que não é só seu. Há imensa gente a pensar assim. A desacreditação dos ateus pertence ao filósofo Platão (427 AC) que, retomando a velha questão de Protágoras “O homem é a medida de todas as coisas”, transformou-a e declarou “ser Deus a medida de todas as coisas”. E foi mais longe. Puniu os ateus decretando-lhes três penas: para os ateus “inofensivos”, cinco anos de internamento numa casa de correcção, onde os membros do Conselho Nocturno os visitavam,
reflectindo com eles acerca da incorrecção das suas condutas. Os ateus que praticassem heresias mais graves recebiam pena maior, e os reincidentes eram condenados à morte.
A palavra “ateu” é muitas vezes usada como sinónimo de “mal comportado”, na convicção de que todos os praticantes de credos religiosos são bondosas pessoas incapazes de uma ofensa ao próximo e que passam os dias da suas vidas distribuindo amor a torto e a direito! Relativamente a comportamento cívico, o ateu é tão bem (ou
tão mal) comportado quanto o crente. A diferença está em que o ateu se considera um mamífero primata, um ser gregário que vive em comunidade assumindo as suas acções perante a lei dos homens. Depois da morte o ateu fina-se como qualquer outro ser vivente. Para o ateu a palavra morte tem o significado de morte autêntica, que é o fim radical daquela vida, negando uma qualquer outra vida substituta. A “eternidade” apenas pertence à memória histórica, e mesmo essa não é perene.
O crente diz ter sido feito por Deus “à Sua imagem e semelhança” (e afirma-se humilde?!), que deve “respeitar e temer” Deus, antes do respeito devido ao próximo, e que depois de morrer viverá num doce céu (se tiver tido bom comportamento) ou num azedo Inferno (se merecer castigo)!…
(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)
Crónica Ateísta de Onofre Varela (1/5)
Eu, ateu me confesso
É vulgar os jornais inserirem uma coluna onde a Igreja Católica verte a sua opinião pela pena de um sacerdote. Menos vulgar, ou inexistente, será o mesmo jornal dedicar espaço idêntico a outras confissões religiosas ou a um ateu. Já propus à imprensa de difusão nacional uma coluna ateísta, sem ter merecido resposta! A Gazeta está de parabéns por aceitar publicar a minha opinião.
Constato, por observação avisada, que os ateus ainda são vistos, por uma larga franja da população, como pessoas de mau comportamento cívico e péssima moral… o que é falso!… É um preconceito cimentado por atitudes religiosas fundamentalistas, na convicção, sem sentido e mentirosa, de o bem, estar com os crentes, e de o mal ser
característica dos incréus! Esta ideia tem sido alimentada por tradições religiosas que não estão livres de reparos, e todos nós conhecemos religiosos que se comportam conforme o ditado popular que diz: “Com Deus na boca e o Diabo no coração”… o que contraria a apregoada bondade religiosa.
Neste tempo de quase adoração pelo futebol, permitam-me que faça esta comparação (se calhar, rafeira!…): o ateu e o religioso são como adeptos de clubes de cores diferentes, em que cada um enaltece a equipa da sua devoção, diminuindo a do outro… mas, no fundo, ambos são pessoas iguais. Têm os mesmos sentimentos de alegria e de dor, compartilham os mesmos problemas sociais e familiares, e ambicionam o mesmo: serem felizes e respeitados na sua dignidade. A cor que defendem no relvado é apenas uma cor… nada mais que isso!… É no respeito pelo colega da outra equipa da disputa que está a atitude racional que distingue o Homem de qualquer outro animal.
Confraternizar com a equipa contrária, que nos venceu ou foi vencida, é a atitude inteligente e fraterna que deve nortear todos os adeptos de clubes desportivos, de partidos políticos e de credos religiosos… sem, contudo, deixarem de expressar a sua opinião contrária à do outro, pelo respeito devido a si próprios, e na convicção de estarem mais próximos da verdade.
É o que me proponho fazer aqui, defendendo os meus pontos de vista de ateu.
(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)
JESUS CRISTO NUNCA EXISTIU
Enviado por
João Pedro Moura
Religião Investigador conclui que Jesus nunca existiu
O título é já por si polémico, dado o número de crentes, espalhados pelo mundo que professam a fé cristã. Porém, a declaração não é nossa. É de Michael Paulkovich, um historiador que analisou 126 textos históricos sem encontrar qualquer menção a Jesus Cristo e que, por isso, concluiu que o ‘filho de Deus’ é apenas uma figura mítica, escreve o Daily Mail.
Michael Paulkovich é historiador e investigador. O seu mais recente trabalho consistiu na análise de 126 textos históricos, concluindo que, por não ter encontrado qualquer menção à figura de Jesus Cristo, este deverá tratar-se de uma figura mítica. Ou seja, Jesus poderá nunca ter existido.
As obras que mereceram a análise do investigador não tinha qualquer menção ao nome de Jesus e além deste facto não havia qualquer referência à figura de um messias, nos textos analisados.
Este facto causou espanto a Michael, sobretudo porque os milagres e a fama de Cristo deviam fazê-lo figurar nas obras do seu tempo.
O historiador defende, deste modo, que Jesus de Nazaré é uma criação dos seguidores do cristianismo para terem por base uma figura para ser adorada. Os testemunhos recolhidos por Paulkovich estão compilados num livro com o título “No Meek Messiah”.
O problema das religiões não reside nas mentiras que espalham ou na liturgia que praticam, o problema insolúvel, a tragédia da sua existência, está na fanatização que conduz os crentes à ação.
Não vem nenhum mal ao mundo que um católico acredite na virgindade de Maria ou no voo que o seu filho fez para o Paraíso, a desgraça está nos meios que usa para convencer os outros e anatematizar os que desprezam a fé.
Que os muçulmanos detestem a carne de porco, como eu abomino cebola crua, não traz qualquer problema à humanidade, mas quando o opúsculo terrorista os convence de que devem matar os infiéis, isso já é um problema grave e um crime imperdoável.
Os judeus das trancinhas podem descansar ao Sábado e pensarem o que entenderem do Messias que aguardam, mas a gravidade do que pensam reside no sionismo.
A fé não passaria de uma treta inofensiva se os crentes não se achassem na obrigação de convencer os incréus, de perseguir a concorrência e intoxicar as crianças com as suas crenças.
Deus podia ter sido uma criação interessante, como as deusas gregas ou as sereias, mas tornou-se num detonador do ódio e está na origem de guerras e interditos.
Terça-feira, 23 de Setembro
Testemunhas do vácuo
«De vez em quando, regressa a ofensiva. Agora foi o físico britânico Stephen Hawking a proclamar, com vasta repercussão, que Deus não existe. Mesmo para um ateu como eu, ou sobretudo para um ateu, estas batalhas de certo ateísmo para aborrecer os crentes são um nadinha tontas. Pelos vistos, há por aí imensa gente a quem não basta não acreditar numa entidade divina: dá-se a uma trabalheira para converter os outros à sua falta de fé. Um ateu a sério não perde um minuto a pensar na existência ou na inexistência de Deus. Aparentemente, os ateus militantes perdem boa parte da vida a pensar nisso. O fervor deles é religioso.
Deixando a discussão teológica a cargo de especialistas de ambos os lados da trincheira, o facto é que a formulação do senhor Hawking tende para o pueril. De que maneira é que o homem chegou à conclusão acima? Há um teorema demonstrativo, passe a redundância? Viu a Luz? Ou apenas se levantou de manhã (sem brincadeiras com a doença do senhor) e decidiu assim? E depois temos a arrogância implícita da coisa: o senhor Hawking leva-se em tão alta conta a ponto de supor que a sua afirmação influenciaria um único devoto que fosse?
Qualquer dia, no frenesim de espalhar a palavra contra o Senhor, os evangélicos da descrença batem–me à porta de casa. E eu não abro».
Estas frases foram escritas no último domingo por um reacionário de serviço à direita mais jurássica e ao ultraliberalismo, um tal Alberto Gonçalves, que tem direito à penúltima página do DN no dia em que descansa de sociólogo. Desculpo a uma pessoa sem sentimentos a infame ironia para com um deficiente físico profundo e inteligência notável. Imaginem o texto escrito por um crente com mais inteligência. Aqui vai:
«Terça-feira, 23 de Setembro
Testemunhas do vácuo
«De vez em quando, regressa a ofensiva. Agora foi ‘o bispo Gonçalves’ a proclamar, com vasta repercussão, que Deus (…) existe. Mesmo para um ‘crente’ como eu, ou sobretudo para um ‘crente’, estas batalhas de certa ‘crença’ para aborrecer os ‘ateus’ são um nadinha tontas. Pelos vistos, há por aí imensa gente a quem não basta (…) acreditar numa entidade divina: dá-se a uma trabalheira para converter os outros à sua (…) fé. Um ‘crente’ a sério não perde um minuto a pensar na existência ou na inexistência de Deus. Aparentemente, os ‘crentes’ militantes perdem boa parte da vida a pensar nisso. O fervor deles é religioso.
Deixando a discussão teológica a cargo de especialistas de ambos os lados da trincheira, o facto é que a formulação do ‘bispo Gonçalves’ tende para o pueril. De que maneira é que o homem chegou à conclusão acima? Há um teorema demonstrativo, passe a redundância? Viu a Luz? Ou apenas se levantou de manhã (sem brincadeiras com a doença do senhor) e decidiu assim? E depois temos a arrogância implícita da coisa: o senhor ‘bispo Gonçalves’ leva-se em tão alta conta a ponto de supor que a sua afirmação influenciaria um único ‘ateu’ que fosse?
Qualquer dia, no frenesim de espalhar a palavra (.. do) Senhor, os evangélicos da (…)crença batem-me à porta de casa. E eu não abro».
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.