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Categoria: Ateísmo

27 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

“EM VERDADE VOS DIGO” (6) – Crónica Ateísta

Por

Onofre Varela

Praticar o bem em nome de Deus

No artigo anterior posso ter escandalizado quem não esperava ler o piorio do que pode ser feito à sombra do conceito de Deus. Mas sosseguem!… Os homens são assim mesmo, praticam o mal, mas também praticam o bem… são intermeadinhos como o bom presunto! Sob a mesma capa do conceito de Deus há boas acções sociais que trazem paz espiritual aos crentes que as praticam, por se imaginarem protegidos por uma divindade.

O conforto espiritual de quem crê em Deus acaba por ser uma mola e uma almofada: uma mola porque lhes pode dar o impulso necessário à acção, e uma almofada porque os ampara na queda quando a acção é mal sucedida. Quem tem um espírito fortemente religioso e se alicerça nele para levar a bom porto as suas acções sociais de convicção religiosa, pois que o mantenha e fortifique, já que, com, ou sem, convicção religiosa, o importante é fazer esse caminho socialmente empenhado.

O que acontece é que, paralelamente a esse conforto psicológico que sente quem pratica o bem em nome de Deus, mitigando necessidades alheias com profunda convicção humanitária suportada pelo sentimento religioso, também existe uma outra figura identificada pelo termo “caridadezinha” e que mistura sentimentos humanitários e religiosos, com interesses. São acções que constituem actos de oportunismo político, económico e religioso (e também de promoção pessoal) que deveriam envergonhar o país. O Governo existe para governar. E o Estado, ou é social… ou não é Estado! (Convicção minha). E quando o Estado permite e patrocina a existência de “Indústrias de Caridade” para obstar à carência de franjas da população, está a demitir-se da obrigação de dar trabalho, educação, saúde e condições de acesso a habitação digna, a todos os cidadãos.

Quando num país se recorre à caridade, o Governo não governa, e há sempre alguém a colher benefícios… e nunca são os pobres! Os pobres de um ano são pobres no ano seguinte, e a caridade não resolve os problemas sociais definitivamente. Pelo contrário, ajuda a mantê-los.

As acções caritativas, religiosas ou laicas, têm de ser substituídas por acções políticas e económicas que ao Governo pertencem. A entreajuda é outra coisa, e humanamente é muito saudável.

OV
(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

Diário de uns Ateus – Este texto de Onofre Varela, e os seguintes, são publicados num jornal que merece aplausos de todos os ateus, por ter aberto as suas páginas à opinião de um ateu. O jornal é: GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA

20 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

Ahahahahah!!!!!

RELIGIÃO28/MAY/2013 ÀS 11:16

Vaticano corrige Papa Francisco: ateus vão para o inferno

Após o papa Francisco dizer ao mundo que mesmo os ateus podem ir para o céu, o Vaticano divulgou um comunicado: ateus ainda vão para o inferno.

papa francisco ateus

O Vaticano emitiu esta semana “nota explicativa sobre significado de ‘salvação”, após a mídia noticiar que o papa Francisco “prometeu o céu a todos engajados em boas ações”, incluindo os ateus.

Em resposta às matérias publicadas em sites e jornais, o Rev. Thomas Rosica, porta-voz do Vaticano, disse que pessoas que conhecem a Igreja Católica “não podem ser salvas” se “recusarem-se a entrar nela ou fazer parte dela”.

(Ou seja: ateus ainda estão indo para inferno se não aceitarem Jesus Cristo como Senhor e Salvador.)

O porta-voz também disse que o papa Francisco não tinha “intenção de provocar um debate teológico sobre a natureza da salvação” na sua homilia na última quarta-feira.

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A confusão teológica começou após o líder de 1,2 bilhão de católicos romanos no mundo declarar em sua mensagem que ateus iriam desfrutar da salvação se fossem boas pessoas. O papa Francisco disse:

“O Senhor redimiu a nós todos, a todos, pelo sangue de Cristo: todos nós, não apenas católicos. Todos! “Padre… os ateus também? Mesmo os ateus?” Todos!”

17 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

Francisco deixou cair a tiara

Por mais que se encoste à férula, não retomará o equilíbrio que parecia distingui-lo dos dois últimos antecessores. A nódoa das declarações sobre a liberdade são o corolário da tradição romana, a síntese entre a Inquisição e a liberdade religiosa, o Index Librorum Prohibitorum e a liberdade de expressão, o concílio de Trento e o Vaticano II.

O Papa saiu da Argentina do ditador Videla mas essa Argentina não saiu de dentro de si. Francisco tem o direito de pensar o que pensa, mas os livres-pensadores têm o direito de pensar de forma diferente. Ai de nós, se tivéssemos de nos comportar de acordo com o regedor de um bairro de 44 hectares, sem maternidade, constituição ou democracia. O líder da única teocracia europeia, nascida dos acordos de Latrão, entre Mussolini e o Papa de turno, não faz a lei dos países democráticos.

O Papa tem o direito de pensar que «Não podemos provocar, não podemos insultar a fé dos outros, não podemos ridicularizá-la» (…) e que «É legítimo usar esta liberdade, mas sem ofender». Eu é que reclamo, dentro das leis do meu país, o direito de rir das roupas femininas com que se veste, de gozar com o fenómeno alquímico dos sinais cabalísticos que transformam a água da rede em benta e a rodela de pão ázimo em carne e sangue de um profeta com dois milénios de defunção.

O passado das Igrejas só não é motivo de riso porque o horror e as lágrimas o impedem. Pensar que o Sol parou em Fátima e que durante séculos fez o movimento de translação à volta da Terra é tão cómico como a cura do olho esquerdo de D. Guilhermina de Jesus por D. Nuno Álvares Pereira, quando a cozinheira de Ourém o queimou com salpicos de óleo fervente de fritar peixe porque tinha uma pagela do herói medieval que logo beijou.

Haverá ato de humor mais apropriado do que desenhar um preservativo no nariz de um Papa cuja teologia do látex se tornou responsável pela infeção de centenas de milhares de pessoas a quem dissuadiu do seu uso?

O Aiatolá Khomeini, na sua piedosa loucura, emitiu uma fatwa contra Salman Rushdie e o Papa, o arcebispo de Cantuária e o grande rabino de Jerusalém foram unânimes no silêncio cúmplice. Deviam ser respeitados? O falecido bispo de Coimbra, João Alves, escreveu no Diário de Coimbra que compreendia a fatwa contra o escritor porque este tinha ofendido o profeta que, para os muçulmanos, era sagrado.

Sagrada é a liberdade de rir e criticar. O que os papas disseram dos ateus era um direito, não o que lhes fizeram.

16 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

Os três monoteísmos

Paris 11.01.2015Os três irmãos desavindos, filhos do Antigo Testamento e de pai incógnito.

14 de Janeiro, 2015 David Ferreira

Da cosmética

Tenho por hábito dizer que os seres humanos são um paradoxo ambulante. Um poço sem fundo de contradições. Essa imagem está bem espelhada nos livros mitológicos e religiosos que refletem de certa forma a primitiva essência da espécie humana e o parto doloroso que foi o dealbar da civilização.

O Deus mau, vingativo e cruel é, ao mesmo tempo, o Deus da paz, do amor e da tolerância. Tem dias, como todos nós (eu que o diga ao acordar, antes de tomar o primeiro café). Porque ele É nós. Nasceu de nós e não para nós. De nós, um animal selvagem que julga ter ludibriado as leis da natureza e que agora se tenta domesticar a todo o custo com os custos que isso acarreta.

Viver é gerir conflitos. Com os outros e com o Eu. Mas é também competir. Com os outros e com o Eu sempre presente. É tão simples como isto.

Necessitamos de energia para viver, por isso comemos. Para comer necessitamos de um espaço que nos forneça alimento, por isso somos territoriais. Necessitamos de nos reproduzir, competimos uns com os outros por machos e fêmeas. Necessitamos do apoio mútuo e colaboração, organizamo-nos em sociedades. E competimos para sobreviver. Assim, de uma forma tão simples e tão essencial. Tudo o resto é como o açúcar fino que deitamos por cima de um bolo. Não lhe acrescenta muito em doçura, apenas o torna mais apresentável. É a essa fina camada de pó branco que chamamos humanidade. E nós seremos sempre o bolo. Um bolo bipolar maquilhado a tentar recalcar a sua verdadeira natureza. Mas há quem constantemente o prefira ignorar. A uns chamamos crentes, a outros idealistas.

12 de Janeiro, 2015 David Ferreira

A marcha dos alinhados

Não sei se a manifestação que teve lugar em França foi contra o terrorismo, a favor da tolerância ou uma catarse em grupo. Sei que não me recordo de ver tanta gente gritar “Não temos medo!” com o coração nas mãos.

Sei que de tanto se gritar por liberdade acabámos por ensurdecê-la e amordaçá-la. Uma manifestação pacífica em nome da tolerância que necessita da escolta de um exército armado por questões de segurança não é uma manifestação, é uma procissão alinhada de condenados com síndrome de Estocolmo a recitar auto censura.

Decorrida a homilia, retiraram-se em silêncio. Em silêncio, a recalcar as fobias de que lhes dizem padecer. À noite colocarão o silício e rangerão os dentes de dor enquanto sussurram: “Por minha culpa, por minha grande culpa.”

Amanhã, quando acordarem, voltarão a ser tentados. As tentações são mais que muitas. E vão continuar a recalcar os pecados que alguém disse que têm. Até à próxima homilia. Porque vai haver uma próxima homilia. Que ninguém duvide. Então voltarão a tomar a hóstia e a engolir em seco. Em silêncio. Sempre em silêncio.

10 de Janeiro, 2015 David Ferreira

Prefiro morrer de pé

“Prefiro morrer de pé do que viver ajoelhado”, disse o director do Charlie Hebdo, como que a antecipar o fatídico destino.

De pé! Não como um cobarde e muito menos como um traidor. De pé!

Após a sua profetizada morte, logo saíram à rua todos os hipócritas, cobardes, inocentes e idiotas úteis da sociedade a gritar – Eu sou Charlie Hebdo! A pensarem que são Charlie Hebdo.

Não, não são. Gostariam de o ser, porventura, mas não o são. Nunca o serão. Muitos estarão nos antípodas de Charlie Hebdo. Muitos serão responsáveis pela necessidade de um Charlie Hebdo.

Stéphane Charbonnier foi o paradigma da coragem. Deu a vida pela liberdade. Não por uma liberdade patética e anárquica. Deu a vida pela sua liberdade de expressão e pela liberdade dos outros de não concordarem com ela. Teve nas veias o calor do sangue que a transfusão do iluminismo nos legou. Mesmo sabendo que a sua vida corria perigo. E muito poucos dos que se auto-intitularam Charlie Hebdo seriam capazes de o fazer. Palavras leva-as o vento, assim dizia Florbela Espanca. E assim o vento levará todas as pias mensagens de tolerância para com os intolerantes que muitos ímpios lhe atiram de joelhos.

Morreu Stéphane Charbonnier. Um ateu como tantos outros. Um cidadão como tantos outros. Mas diferente de tantos outros. Feriu com o som das palavras, morreu ao eco das espingardas. Morreu às mãos de intolerantes. E há quem tenha o cinismo de o apelidar de intolerante. Ateus inclusive. Porque há ateus que apenas o são para justificar a sua incapacidade de integração na sociedade. Para manifestar o seu desprezo pela sociedade. Tal como os intolerantes que mataram Stéphane Charbonnier.

Morreu Charlie Hebdo. Morreu um jornal. O símbolo máximo da liberdade de expressão. E há cobardes que se dizem Charlie Hebdo. E há fanáticos que apoiam outros fanáticos, que negam outros fanáticos, porque não conseguem admitir que os seus dogmas ideológicos possam estar errados e desadequados da civilização.

Morreu Charlie Hebdo.

Viva Charlie Hebdo!

E quanto aos cobardes… Os cobardes já morreram. De joelhos. Porque os cobardes morrem muitas vezes antes de morrer. E sempre de joelhos.

9 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

Carlos Brito, um grande cartunista francês, emigrante português

Droits de l'homme

 

Por acasos da vida conheci Dino Monteiro, um quadro do Partido Socialista Francês e um dos fundadores do PS português. Fugiu à fome e à ditadura, ilustrou-se e tornou-se um quadro de uma grande empresa a cujo serviço o conheci e de quem me tornei amigo.

Foi ele que me pôs em contacto com Carlos Brito, um amigo seu, e que me autorizou a usar os seus desenhos no Diário de uns Ateus.

Ouvi-o há pouco, numa entrevista da SIC-N, emocionado com a morte dos 3 colegas e amigos íntimos de 4 cartunistas do Charlie Hebdo que o fascismo islâmico assassinou.

Deixo aos meus leitores um desenho de Brito, «politicamente ateu e filosoficamente agnóstico», dos vários que me enviou e conservo numa pasta com o seu nome.