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Categoria: Ateísmo

11 de Março, 2015 Carlos Esperança

Teísmo e ateísmo

Teísmo e ateísmo separam os que acreditam em deus (seja isso o que for) dos que não acreditam, enquanto o agnosticismo designa os que excluem a capacidade da razão para conhecer o sobrenatural não excluindo, conforme a postura perante a crença, uma orientação teísta (conhecimento pela fé!?), deísta ou ateísta.

O ateísmo é o inimigo que as Igrejas mais odeiam. Os infiéis sempre foram alvo da fúria beata, nas Cruzadas ou na jihad, mas os ateus suscitam o ódio mais violento dos dois monoteísmos mais extremistas – o cristianismo, e, sobretudo, o islamismo.

Só por curiosidade, vale a pena lembrar, a propósito, que a peregrinação a Fátima, em 13 de Maio de 2008, presidida pelo cardeal Saraiva Martins, foi realizada «contra o ateísmo». As peregrinações são ineficazes mas essa podia ter sido disfarçada em nome da fé e mascarar o carácter belicista contra o ateísmo. No mesmo ano, o patriarca Policarpo afirmou que «Todas as expressões de ateísmo, todas as formas existenciais de negação ou esquecimento de Deus, continuam a ser o maior drama da humanidade». Nem as pandemias, os cataclismos e as guerras constituem um drama maior ou, sequer, equivalente!

Os crédulos procuram sempre algo, cuja explicação se desconhece, para atribuir a deus. Este é o suspeito do costume para preencher todos os vazios, a justificação por defeito para todas as dúvidas, o pretexto para que os homens abdiquem da busca da verdade.

23 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

TRANSUBSTANCIAÇÃO

Por

João Pedro Moura

A transubstanciação é a conversão do pão, a hóstia, no “corpo de Cristo”, e o vinho, no “sangue de Cristo”. É o momento fundamental da Eucaristia, um dos 7 sacramentos da Igreja católica, e a cerimónia mais tresloucada que eu conheço da mesma igreja…

É um momento de “magia” católica e, decididamente, uma das cerimónias mais desconcertantes e desconchavadas que a dita igreja ostenta e tenta fazer crer, fundamentada em João 6, 51-56:

https://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/6…

Então, o quesito surge, imperativamente:

– Como é que a Igreja sustenta tão desvairada e falsa conversão, em que uma rodela de pão ázimo, vulgo “hóstia”, é promovida a “corpo do Senhor”, e uns decilitros de vinho vulgar, promovidos a “sangue do Senhor”???!!!

Como é possível uma entidade, e nem que fosse um só diletante qualquer, proferir, oficialmente, tão tresloucada afirmação.

Mas que corpo e que sangue???!!!

Não há ninguém dentro da Igreja, que aborde, seriamente, tão sublime despautério???!!!

O ato de comer o “corpo” duma pessoa tem nome e é feio…ilegal e criminoso. Uma coisa monstruosa!…

O ato de beber o sangue doutra pessoa também tem nome… e é ilegal e criminoso. Monstruoso!

Mas a Igreja católica continua a sustentar o desvairamento de que, duranta a cerimónia da Eucaristia, o pão e o vinho, consagrados pelo padre, se convertem em “corpo” e “sangue” da personagem bíblica Cristo… e o padre come e bebe tais coisas, logo a seguir…

É fácil: o padre levanta a taça e a hóstia e… já está… milagre feito…

A seguir, dá-se de comer e beber aos néscios, canibalescos e vampirescos, que fazem fila glutona para o efeito…

Gente perigosa e sumamente cretina…

O que vale é que é a brincar…mas disfarçados de seriedade…

 

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22 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

Mais um texto para obrigar os crentes ao esforço de pensarem

Para nós enquanto espécie, a religião foi a nossa primeira versão da verdade. Foi a nossa primeira tentativa porque, verdadeiramente, não sabíamos nada. Não sabíamos que vivíamos num planeta esférico. Não sabíamos que o nosso planeta dá voltas em torno do sol. Não sabíamos dos micro-organismos causadores de doenças. Daí as religiões primitivas terem inventado que as doenças eram provocadas por maldições, ou bruxas, ou maus agoiros ou demónios. Não sabíamos nada desde a infantil, aterrorizante e ignorante origem da nossa espécie animal primata que é de onde vem a religião.

Assim como foi a nossa primeira tentativa com a filosofia, com a moralidade, com os cuidados de saúde. Mas porque é a nossa primeira tentativa, é a pior. Em todas estas áreas nós evoluímos incomensuravelmente. Nós temos agora melhores explicações para estes temores, resolvemos todos estes mistérios.

Mas ainda assim vivemos, em pleno século XXI, com sociedades sob regimes totalitários que nos proíbem de pensar sobre o progresso que tem sido feito, ou nos nega o conhecimento que estes avanços tivessem de facto ocorrido. Mas em algum momento no futuro, estas sociedades abandonarão a sua dependência medonha do sobrenatural e compreenderão o quanto mais miraculoso, muito mais bonitas, muito mais elegantes, muito mais iluminadas, muito mais harmoniosas são as explicações cientificas. Pensem sobre o quanto fascinantes Einstein e Darwin são. Pensem sobre o quanto mais elegante e convincente eles são em comparação com a ideia de um arbusto ardente ou a exigência de que sem uma circuncisão não haverá nenhuma redenção.

Eis um exercício mental: se vocês são fiéis de alguma religião monoteísta têm de acreditar no seguinte: Sabemos que a nossa espécie existe há cerca de 200 mil anos e aí se separou dos cro-magnom e de espécies rivais primitivas. Eis o que os monoteístas têm de acreditar: durante 200 mil anos os humanos nasceram como uma espécie primata; com uma mortalidade infantil abundante; esperança de vida talvez de 25 anos; as doenças provocadas por micro-organismos provocavam morte e sofrimento atroz; terramotos, vulcões, tempestades, eras glaciares provocavam mais morte e sofrimento aterrorizante; a luta pela posse da terra, por comida, por mulheres é mais tribalismo igualmente assustador.

Durante 195/196 mil anos os céus olharam para tudo isto de braços cruzados, com total indiferença e frieza. E é então que há cerca de 3/4 mil anos numa parte realmente bárbara e analfabeta do oriente médio (não na China onde as pessoas já conseguiam ler, ou pensar de uma forma evoluída ao ponto de já fazerem ciência, não, não, não).

Foi na parte mais primitiva e analfabeta do oriente médio que Deus pensou e decidiu: “Não posso deixar isto continuar, é melhor intervir. E qual a melhor forma senão através de sacrifícios humanos, pragas e assassínios em massa?
Se isto não os fizer comportarem-se moralmente, Eu simplesmente não sei o que fará?” Se houver alguma pessoa que se ponha a acreditar em qualquer coisa remotamente parecida com esta, ela se condena a ser realmente muito estúpida e muito imoral.

Este texto é da autoria de Cristopher Hitchens.

a) Paulo Franco.

21 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

A fé e a ciência

– Email enviado por

Casa do Oleiro

Se houvesse um julgamento após a nossa morte, na sequência do qual – na medida em que nos contentássemos com a personagem que nos foi dada  nesta vida e nos mostrássemos humildemente obedientes e crentes – fôssemos recompensados, vivendo alegremente  até ao fim dos tempos num refúgio/paraíso permanente que nos protegesse do sofrimento e da agitação do mundo. Era assim que seria  se o mundo tivesse sido pensado e planeado para ser justo. Era assim que seria se os que sofrem recebessem o consolo que merecem.

Assim, as sociedades que pregam a satisfação com a nossa actual passagem pela vida na expectativa de uma recompensa depois da morte  tendem a vacinar-se contra a teoria da evolução.

Além disso, o medo da morte, que, nalguns aspectos, é adaptativo na luta evolucionária pela existência, é inadaptativo na guerra. As culturas que ensinam a existência de uma outra vida de bem-aventurança para os heróis – ou mesmo para aqueles que apenas fizeram  o que lhes disseram os detentores da autoridade – podem conseguir uma vantagem  competitiva.

Deste modo, a ideia de uma parte espiritual da nossa natureza que sobrevive à morte, o conceito de uma outra vida, deve ser fácil de vender pelas religiões e pelas nações. Neste campo, não podemos esperar um cepticismo muito generalizado. As pessoas querem acreditar  nisso, ainda que os indícios sejam escassos, para não dizer nulos.

Se eu sonho que me encontrei com um progenitor ou com um filho morto, quem é capaz de me dizer que isso não aconteceu realmente?

Se tiver uma visão de mim próprio, a flutuar no espaço olhando lá para baixo, para a Terra, talvez esteja de facto a flutuar no espaço; por quem se tomam os cientistas, que nem sequer partilharam a experiência, para me dizer que tudo se passa na minha cabeça? Se a minha  religião ensina que é a palavra de Deus, inalterável e infalível, que afirma que a idade do universo é de apenas alguns milhares de anos, os cientistas só podem estar a ser ofensivos e ímpios quando afirmam que o universo existe já à alguns milhares de milhões de anos.

É irritante a ciência pretender estabelecer limites àquilo que podemos ou não alcançar. Quem disse que não podemos deslocar-nos mais  depressa que a luz? Já diziam isso acerca da velocidade do som, não é verdade? Quem nos impedirá, se tivermos instrumentos realmente  poderosos, de medir simultaneamente a posição e o movimento linear de um electrão? Se somos muito inteligentes, porque não haveremos  de construir uma máquina de movimento perpétuo, que gera mais energia do que consome e que nunca pára?

Quem se atreve a impor limites ao engenho humano?

De facto, é a natureza que o faz. De facto, nesta lista de actos “proibidos” está contido um resumo razoavelmente sistemático das leis da  natureza, das leis que regem o funcionamento do universo. É revelador que a pseudociência e a religião não reconheçam limitações na natureza. Pelo contrário, “todas as coisas são possíveis”. Prometem um orçamento de produção sem limites, por mais que os seus aderentes tenham ficado desiludidos e se tenham sentido traídos.

(Este texto foi retirado do livro de Carl Sagan “Um mundo infestado de demónios”.)

18 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

Email do leitor L. M. B.

Tomo a liberdade de falar sobre este pequeno excerto dedicado à explicitação filosófica sobre “o que é um milagre”, por Olavo de Carvalho, aqui:
Diz o sujeito que através da comparação entre duas causas, uma (natural) que provoca uma cura de cancro, outra (sobrenatural) que provoca exactamente a mesma cura, em duas pessoas diferentes (suponho), entre estas duas causas não há comparação possível e a segunda não é do nosso conhecimento. O problema, parece-me, é que não se pode fazer filosofia sobre os fundamentos lógicos (ou sobre a falta deles) inerentes a duas causas que produzindo o mesmo resultado ocorreram, não obstante, em duas pessoas diferentes. Certamente que a primeira conclusão que não nos deixaria ir mais longe neste raciocínio, se formos intelectualmente honestos, é que se as duas pessoas são diferentes isso implicaria desde logo a abertura de outras causas possíveis que pudessem estar por detrás da cura do cancro no segundo caso, o caso dito sobrenatural. Então teríamos que investigar até que ponto a cura do segundo caso poderia ter sido causada por causas naturais e não sobrenaturais – é aqui que está a falácia do suposto “lógico” que analisa a “estrutura da possibilidade” (como ele diz) do suposto milagre. A experiência não seria replicável, ou seja, não seria repetível em condições diferentes porque as duas pessoas são diferentes!
Logo a seguir ele salta para a colocação de duas opções que, em princípio, esgotariam o universo de possibilidades de colocar a questão: ou uma causa natural ou uma causa sobrenatural teriam que explicar determinado resultado (a cura de uma doença, dada como exemplo) e logo a seguir salta para o caso das aparições de Fátima. Apenas há um problema: é que pula por cima da prova histórica, do testemunho humano (ocular, auditivo, etc). É que podemos sempre desconfiar que aquilo que é dado como milagre não o seja porque os testemunhos foram mal analisados, deturpados, ou simplesmente errados. E assim, através da exposição oral, supostamente lógica, engana-se o ouvinte que corre atrás do orador como cão atrás de uma carroça tentando adivinhar o caminho para onde se dirige e não reparando que pode durante o percurso ser desviado.
Durante a oratória eliminou-se subrepticiamente a possibilidade da confrontação testemunhal dos factos supostamente milagrosos para serem introduzidos na questão como factos incontestados. Aqui, repare que ele passa a Fátima (veja o minuto 00:09:25). E o argumento agora é o seguinte: o milagre tem uma inteligibilidade própria que os factos não miraculosos não têm. E que inteligibilidade é essa no exemplo de Fátima? As relações entre a dança do Sol, a primeira guerra mundial, as visões dos pastorinhos, as luzes no céu, a revolução bolchevique de 1917, entre outros, são descritas como “conexões internas que normalmente nós não vemos” plenas de segnificados simbólicos. O “símbolo” passa a ser depois considerado como conceito central para prosseguimento do discurso.
Portanto, este discurso só pode ser desmontado aplicando a mesma lógica de ferro que usam no diário de uns ateus sobre as incongruências e falta de sentido entre os referidos componentes tipicamente pertencentes ao milagre de Fátima. Mas para isto só as considerações históricas e o contexto no qual ocorreu o acontecimento poderão deitar luz e minar este tipo de discurso falsamente profundo e com pretensões pseudo-filosofantes para enganar jovenzinhos.
Proponho que alguém no «diario de uns ateus» ou na associação ateista se dedique à desmontagem metódica deste discurso e de discursos como este como forma pedagógica de exercitar o pensamento científico e crítico.
https://www.youtube.com/watch?v=kOOPb1RJu80&list=PLMy-mz_8wNfHoCRL93cXJYWQadgsUPIlY

What is a miracle? Lecture by Olavo de Carvalho. Part 4.
11 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

Catolicismo – uma religião politeísta

Por

Paulo Franco

As crenças do cristianismo raiam o politeísmo: Jesus, a virgem Maria, os Santos são entidades aos quais os cristãos prestam muitas vezes maior reverência do que ao próprio Deus. Veja-se o exemplo de Fátima: Maria é adorada como se de uma Deusa se tratasse e indiscutivelmente é muitíssimo mais homenageada e reverenciada do que o próprio Deus, o que, por si só constitui uma total violação ao 1º Mandamento “Amar a Deus sobre todas as coisas”.

Os ensinamentos da Igreja Católica baseiam-se no “facto” de Jesus ser Deus e a Virgem ser a mãe de Deus feito homem na pessoa de Jesus. Esta afirmação só não nos soa a algo estapafúrdio porque é algo que nos é repetido milhões de vezes. Como acreditar que um homem é Deus, e que uma mulher concebeu de forma virginal um homem que é Deus? Todos estes dogmas foram estabelecidos por homens iguais a nós, com fraquezas, limitações e erros. O cristianismo actual tem muito pouco a ver com o cristianismo primitivo. Todos estes dogmas baseiam-se nos acordos estabelecidos pelo concilio de Niceia no ano 325, convocado, não pela Igreja ou pelos seus representantes, mas pelo imperador Constantino, “o Grande”.

Constantino, um adorador do “Solis Invictus”, homem cruel e sanguinário, cuja consciência carregava crimes horrendos, conseguiu unificar o Império Romano no âmbito politico e territorial, mas precisava de um elemento de unidade social, e o cristianismo, naquela época no seu auge, converteu-se num instrumento necessário para levar a cabo o seu objectivo.

A Niceia acorreram bispos e representantes de toda a cristandade de todos os recantos do Império e, o que é mais importante, de todas as correntes religiosas, porque não existia apenas uma forma de cristianismo, mas várias, umas muito semelhantes e outras totalmente contraditórias. Os bispos esforçaram-se por definir a sua posição face ao poder civil do Império. Quando Constantino apoiou em Niceia a criação de um credo que fosse aceite pela maior parte dos presentes, todos os que não assinaram foram imediatamente exilados e afastados. Um exemplo importante desses debates foi
o dos seguidores de Ário, que negavam a divindade de Jesus, considerando-o não como Deus, mas como uma criação de Deus para transmitir a sua palavra entre os homens.

No credo aprovado, que ainda hoje vigora na religião católica ficou estabelecida a divindade de Jesus graças à utilização do termo “consubstancialidade”, que significa “da mesma essência de Deus”. FOI DE UMA LUTA DE IDEIAS MERAMENTE HUMANAS QUE FEZ SURGIU A SUPOSTA DIVINDADE DE JESUS.

Foi uma luta de ideias na qual uns saíram vencedores e outros vencidos. Durante os anos que se seguiram, os arianos foram afastados, exilados para lugares distantes onde não podiam causar problemas. A vigência do édito de tolerância ditado por Constantino afastou-os. Apesar disso, tiveram épocas de ressurgimento com o imperador Constâncio II no ano 337, que impôs o arianismo na Igreja. Em 361, o imperador Juliano, o Apóstata, voltou a opor-se às crenças do cristianismo e tentou, sem o chegar a conseguir, restabelecer o paganismo e a adoração dos Deuses Romanos. Mas com Teodósio, o Grande, e o seu édito de 380, no qual a religião cristã se tornava oficial no império, regressou tudo ao seu curso normal.

A Igreja passou de perseguida a perseguidora, de coagida a coactora, de reprimida a repressora. Mandou-se arrancar e exterminar qualquer crença contrária, ou simplesmente diferente dos seus dogmas, considerando-as como heréticas. Ou se estava com ela ou contra ela. A tolerância foi esquecida.

A Igreja teve o apoio do Império. Foi o que se chamou o processo de cristianização do Império e a romanização do cristianismo.

Constantino doou bens e dinheiro para a construção de igrejas sumptuosas e “comprou” a vontade dos mais altos representantes da Cristandade, que viam como a fortuna, poder e pompa aumentavam sem limites. A partir desse momento, formou-se uma amálgama hierarquizada e perfeitamente organizada de homens que dizem agir em nome de Deus e que permitem a pobreza e a injustiça, enquanto eles vivem cercados de luxo e segurança.

O seu poder foi e é imenso, e não se pode negar que esse poder e essa influência se mantêm ainda hoje no Vaticano. A Cúria, o papado e toda a parafernália de movimentos e braços seculares que saem do tronco do Vaticano influenciam muitos aspectos da sociedade que apenas deveriam depender do poder estritamente politico, não do religioso.

Este texto é inspirado em partes do livro de Paloma Sánchez-Garnica “O Grande Arcano”.

Paulo Franco.

9 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

“EM VERDADE VOS DIGO” – Crónica Ateísta (14)

 Por

Onofre Varela

Os que não são Charlie

Qualquer movimento, por muito consensual que seja, rapidamente atrai os seus contrários.
Se isto é uma atitude que sublinha a diversidade de opiniões que todos queremos plurais, também retrata reacções, ideologias e pensamentos, que merecem a nossa especial atenção.
Após as manifestações de solidariedade com os jornalistas/cartunistas satíricos, denominadas “Eu Sou Charlie”, não tardaram os artigos de opinião anunciando em título “Eu Não Sou Charlie”.
É uma negação que pretende contrariar a solidariedade da maioria de nós pelas vítimas do terrorismo de cariz religioso, tendo por base a filosofia do “não alinhamento”.
Atitude que pertence ao fenómeno social da rejeição de ideias consensuais, e que pode conduzir muitos leitores a, inconscientemente, alinharem ao lado do inimigo das liberdades essenciais nas sociedades modernas, dando razão a quem a não tem. O que é perigoso e desaconselhável.

Atente-se neste exemplo histórico que nos é transmitido através de um poema:
Martin Niemoller (1892-1984) foi um pastor luterano alemão que, em 1966, recebeu o Prémio Lénine da Paz. A partir da década de 1980 tornou-se conhecido por ter adaptado o poema “E Não Sobrou Ninguém”, de Vladimir Maiakovski (1893-1930), que transcrevo em tradução livre:
“Quando os nazis levaram os comunistas, calei-me: eu não era comunista!… Quando prenderam os sociais-democratas, calei-me: eu não era social-democrata!… Quando levaram os sindicalistas, calei-me: eu não era sindicalista!… Quando levaram os judeus, calei-me: eu não era judeu!… E quando os nazis vieram para me levar… não houve quem protestasse em minha defesa!…”.

Tenhamos a consciência de que, enquanto Seres Humanos, quando somos solidários com os outros, estamos, na verdade, a ser solidários connosco! É esta a linha que separa o racional do irracional e o solidário do indiferente, do insensível… e do acusador extremista.

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(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

Diário de uns Ateus – Texto publicado na GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA, um jornal acolhe a opinião de um ateu.

8 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

“EM VERDADE VOS DIGO” (13)

Por
Onofre Varela

Limites da Liberdade de Expressão

“Não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até à morte o vosso direito de dizê-lo”. Este pensamento é de Voltaire (1694-1778), filósofo da Ilustração e do Iluminismo. Profundamente religioso, foi também um polemista satírico que usou as suas obras para criticar a Igreja Católica, as instituições francesas, os reis absolutistas e os privilégios do Clero e da Nobreza. Defendeu a liberdade de pensamento e expressão, e criticou a censura.

Os vis assassinatos no jornal Charlie Hebdo fizeram ressurgir o espírito crítico de Voltaire, e a reimpressão dos seus livros são êxito de vendas em França.
“A sátira é a gargalhada da Razão, frente à solenidade da loucura”, disse Alberto Manguel, em artigo defendendo a crítica satírica, no suplemento cultural Babélia (jornal El País, 17/1/2015). Os fundamentalistas do Islamismo não sabem que o próprio Maomé valorizou o riso e condenou a falta de humor, ao dizer “mantém sempre o coração ligeiro, porque quando o coração se ensombra a alma fica cega”. São as
almas-cegas islâmicas que matam em nome de Maomé e de Deus (Alá).

A sátira é intemporal e usa a ironia para criticar uma situação, uma personagem ou uma sociedade inteira. É utilizada por artistas e escritores de todos os tempos, desde os discursos filosóficos de Sócrates (399 aC), até às pinturas de Goya e aos escritos de Eça, passando pelos filmes de Chaplin. A sátira escrita ou desenhada é atacada por ser justa, por apontar imoralidades e por denunciar. Por isso provoca a fúria dos que acusa. A censura, a prisão e a morte são, habitualmente, as reacções dos impotentes fundamentalistas e arrogantes ditadores (políticos ou religiosos) que se sentem visados nas críticas dos bem-pensantes. A liberdade de expressão tem os seus limites, sim: o caricaturista não critica doentes ou portadores de deficiência, não ri com a fome em África, nem defende a violência doméstica. O humor é a capacidade humana de realçar o ridículo e o absurdo da realidade. Quem não entende o humor e a sátira, e pretende estabelecer outros limites à liberdade de expressão… será, ele próprio, o ridículo e o mais alentado dos absurdos.

OV
(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

Diário de uns Ateus – Texto publicado na GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA, um jornal acolhe a opinião de um ateu.

6 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

Deus e o seu alegado plano

Por

Paulo Franco

“Se uma décima parte do trabalho tido à procura de sinais de um Deus benevolente e todo-poderoso tivesse sido empregue na recolha de provas para denegrir o carácter do criador, que extensão de conhecimentos teria sido encontrada no mundo animal?
O mundo animal está dividido entre devoradores e devorados, e a maioria das criaturas predadoras estão prodigamente equipadas com instrumentos para atormentar as presas”.

Esta afirmação de John Stuart Mill deveria ser suficiente para demonstrar que o argumento do “desígnio inteligente” defendido pelos crentes, particularmente os literalistas bíblicos como as testemunhas de Jeová e os membros da igreja Evangélica, não passa de vãs ilusões.

Num dos mais conhecidos vídeos do youtube de humor antirreligioso com o título “A maior mentira de todos os tempos”, George Carlin desdenha brilhantemente sobre as exageradas declarações e promessas das 3 grandes religiões monoteístas. Analisemos algumas dessas “declarações”:

«Deus é todo poderoso e ama todos os seres humanos»; vivemos num mundo com um pouco mais de 7 biliões de seres humanos, dos quais cerca de 2 biliões vive na pobreza e na miséria. Por muito que se queira culpar o sistema económico capitalista de promover as desigualdades económicas, não podemos ignorar que muita da pobreza existente no planeta é consequência de desastres naturais e doenças das quais nenhuma responsabilidade se pode imputar à actividade humana.

Uma pergunta que deixa sempre os crentes sem resposta é a seguinte: se num mundo com 7 biliões de pessoas que beneficiam do amor e protecção de um Deus todo poderoso, que sabe tudo e vê tudo, tem 2 biliões de pessoas na miséria, quantos biliões de pessoas estariam na miséria se não existisse Deus? Dois biliões de pobres parece-vos compatível com a ideia de um Deus super sábio e absolutamente perfeito?

Outra questão pertinente: Um dos fenómenos mais extraordinários do universo são as colisões entre galáxias. Elas envolvem uma quantidade incrível de matéria e demoram uma eternidade, à escala humana, para que se concluam. Existem muitas colisões entre galáxias que estão a ser observadas por nós, neste momento.

Ora acontece que a galáxia Andrômeda está em rota de colisão com a nossa Via Láctea. Isto é certo que vai acontecer, independentemente se nós nos vamos auto-destruir ou não, ou se o Sol vai explodir antes disso acontecer ou não.

Será razoável acreditar que existe um Plano Divino por detrás da existência da raça humana tendo em conta que esta está, muito provavelmente, condenada à extinção?

Para além disso, hoje sabemos que, de todas as espécies que já existiram no planeta Terra, cerca de 99% já se extinguiram. Como poderemos considerar tudo isto como fazendo parte de um Plano Divino? Ou designa-lo como Desígnio Inteligente?

Se com o conhecimento de todos estes factos perturbadores, ainda assim acreditarmos que o universo foi criado com o objectivo principal de albergar a vida humana, isso só pode ser um sintoma de uma propensão doentia para o egocentrismo.

Mas a “cereja no topo do bolo” é que este Deus de que estamos a falar, para além da visível imperfeição da “sua” obra, ainda consegue albergar no seu vasto currículo, vários genocídios, aprovação de sacrifícios humanos, aprovação da escravatura, homofobia e misoginia, noções de justiça pré-históricas, aprovação da pena de morte e absoluta desaprovação da liberdade de pensamento.

Estamos assim tão desesperados para escapar da morte ao ponto de termos de acreditar em algo parecido com isto?