Loading

Categoria: Ateísmo

11 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

Catolicismo – uma religião politeísta

Por

Paulo Franco

As crenças do cristianismo raiam o politeísmo: Jesus, a virgem Maria, os Santos são entidades aos quais os cristãos prestam muitas vezes maior reverência do que ao próprio Deus. Veja-se o exemplo de Fátima: Maria é adorada como se de uma Deusa se tratasse e indiscutivelmente é muitíssimo mais homenageada e reverenciada do que o próprio Deus, o que, por si só constitui uma total violação ao 1º Mandamento “Amar a Deus sobre todas as coisas”.

Os ensinamentos da Igreja Católica baseiam-se no “facto” de Jesus ser Deus e a Virgem ser a mãe de Deus feito homem na pessoa de Jesus. Esta afirmação só não nos soa a algo estapafúrdio porque é algo que nos é repetido milhões de vezes. Como acreditar que um homem é Deus, e que uma mulher concebeu de forma virginal um homem que é Deus? Todos estes dogmas foram estabelecidos por homens iguais a nós, com fraquezas, limitações e erros. O cristianismo actual tem muito pouco a ver com o cristianismo primitivo. Todos estes dogmas baseiam-se nos acordos estabelecidos pelo concilio de Niceia no ano 325, convocado, não pela Igreja ou pelos seus representantes, mas pelo imperador Constantino, “o Grande”.

Constantino, um adorador do “Solis Invictus”, homem cruel e sanguinário, cuja consciência carregava crimes horrendos, conseguiu unificar o Império Romano no âmbito politico e territorial, mas precisava de um elemento de unidade social, e o cristianismo, naquela época no seu auge, converteu-se num instrumento necessário para levar a cabo o seu objectivo.

A Niceia acorreram bispos e representantes de toda a cristandade de todos os recantos do Império e, o que é mais importante, de todas as correntes religiosas, porque não existia apenas uma forma de cristianismo, mas várias, umas muito semelhantes e outras totalmente contraditórias. Os bispos esforçaram-se por definir a sua posição face ao poder civil do Império. Quando Constantino apoiou em Niceia a criação de um credo que fosse aceite pela maior parte dos presentes, todos os que não assinaram foram imediatamente exilados e afastados. Um exemplo importante desses debates foi
o dos seguidores de Ário, que negavam a divindade de Jesus, considerando-o não como Deus, mas como uma criação de Deus para transmitir a sua palavra entre os homens.

No credo aprovado, que ainda hoje vigora na religião católica ficou estabelecida a divindade de Jesus graças à utilização do termo “consubstancialidade”, que significa “da mesma essência de Deus”. FOI DE UMA LUTA DE IDEIAS MERAMENTE HUMANAS QUE FEZ SURGIU A SUPOSTA DIVINDADE DE JESUS.

Foi uma luta de ideias na qual uns saíram vencedores e outros vencidos. Durante os anos que se seguiram, os arianos foram afastados, exilados para lugares distantes onde não podiam causar problemas. A vigência do édito de tolerância ditado por Constantino afastou-os. Apesar disso, tiveram épocas de ressurgimento com o imperador Constâncio II no ano 337, que impôs o arianismo na Igreja. Em 361, o imperador Juliano, o Apóstata, voltou a opor-se às crenças do cristianismo e tentou, sem o chegar a conseguir, restabelecer o paganismo e a adoração dos Deuses Romanos. Mas com Teodósio, o Grande, e o seu édito de 380, no qual a religião cristã se tornava oficial no império, regressou tudo ao seu curso normal.

A Igreja passou de perseguida a perseguidora, de coagida a coactora, de reprimida a repressora. Mandou-se arrancar e exterminar qualquer crença contrária, ou simplesmente diferente dos seus dogmas, considerando-as como heréticas. Ou se estava com ela ou contra ela. A tolerância foi esquecida.

A Igreja teve o apoio do Império. Foi o que se chamou o processo de cristianização do Império e a romanização do cristianismo.

Constantino doou bens e dinheiro para a construção de igrejas sumptuosas e “comprou” a vontade dos mais altos representantes da Cristandade, que viam como a fortuna, poder e pompa aumentavam sem limites. A partir desse momento, formou-se uma amálgama hierarquizada e perfeitamente organizada de homens que dizem agir em nome de Deus e que permitem a pobreza e a injustiça, enquanto eles vivem cercados de luxo e segurança.

O seu poder foi e é imenso, e não se pode negar que esse poder e essa influência se mantêm ainda hoje no Vaticano. A Cúria, o papado e toda a parafernália de movimentos e braços seculares que saem do tronco do Vaticano influenciam muitos aspectos da sociedade que apenas deveriam depender do poder estritamente politico, não do religioso.

Este texto é inspirado em partes do livro de Paloma Sánchez-Garnica “O Grande Arcano”.

Paulo Franco.

9 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

“EM VERDADE VOS DIGO” – Crónica Ateísta (14)

 Por

Onofre Varela

Os que não são Charlie

Qualquer movimento, por muito consensual que seja, rapidamente atrai os seus contrários.
Se isto é uma atitude que sublinha a diversidade de opiniões que todos queremos plurais, também retrata reacções, ideologias e pensamentos, que merecem a nossa especial atenção.
Após as manifestações de solidariedade com os jornalistas/cartunistas satíricos, denominadas “Eu Sou Charlie”, não tardaram os artigos de opinião anunciando em título “Eu Não Sou Charlie”.
É uma negação que pretende contrariar a solidariedade da maioria de nós pelas vítimas do terrorismo de cariz religioso, tendo por base a filosofia do “não alinhamento”.
Atitude que pertence ao fenómeno social da rejeição de ideias consensuais, e que pode conduzir muitos leitores a, inconscientemente, alinharem ao lado do inimigo das liberdades essenciais nas sociedades modernas, dando razão a quem a não tem. O que é perigoso e desaconselhável.

Atente-se neste exemplo histórico que nos é transmitido através de um poema:
Martin Niemoller (1892-1984) foi um pastor luterano alemão que, em 1966, recebeu o Prémio Lénine da Paz. A partir da década de 1980 tornou-se conhecido por ter adaptado o poema “E Não Sobrou Ninguém”, de Vladimir Maiakovski (1893-1930), que transcrevo em tradução livre:
“Quando os nazis levaram os comunistas, calei-me: eu não era comunista!… Quando prenderam os sociais-democratas, calei-me: eu não era social-democrata!… Quando levaram os sindicalistas, calei-me: eu não era sindicalista!… Quando levaram os judeus, calei-me: eu não era judeu!… E quando os nazis vieram para me levar… não houve quem protestasse em minha defesa!…”.

Tenhamos a consciência de que, enquanto Seres Humanos, quando somos solidários com os outros, estamos, na verdade, a ser solidários connosco! É esta a linha que separa o racional do irracional e o solidário do indiferente, do insensível… e do acusador extremista.

OV
(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

Diário de uns Ateus – Texto publicado na GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA, um jornal acolhe a opinião de um ateu.

8 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

“EM VERDADE VOS DIGO” (13)

Por
Onofre Varela

Limites da Liberdade de Expressão

“Não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até à morte o vosso direito de dizê-lo”. Este pensamento é de Voltaire (1694-1778), filósofo da Ilustração e do Iluminismo. Profundamente religioso, foi também um polemista satírico que usou as suas obras para criticar a Igreja Católica, as instituições francesas, os reis absolutistas e os privilégios do Clero e da Nobreza. Defendeu a liberdade de pensamento e expressão, e criticou a censura.

Os vis assassinatos no jornal Charlie Hebdo fizeram ressurgir o espírito crítico de Voltaire, e a reimpressão dos seus livros são êxito de vendas em França.
“A sátira é a gargalhada da Razão, frente à solenidade da loucura”, disse Alberto Manguel, em artigo defendendo a crítica satírica, no suplemento cultural Babélia (jornal El País, 17/1/2015). Os fundamentalistas do Islamismo não sabem que o próprio Maomé valorizou o riso e condenou a falta de humor, ao dizer “mantém sempre o coração ligeiro, porque quando o coração se ensombra a alma fica cega”. São as
almas-cegas islâmicas que matam em nome de Maomé e de Deus (Alá).

A sátira é intemporal e usa a ironia para criticar uma situação, uma personagem ou uma sociedade inteira. É utilizada por artistas e escritores de todos os tempos, desde os discursos filosóficos de Sócrates (399 aC), até às pinturas de Goya e aos escritos de Eça, passando pelos filmes de Chaplin. A sátira escrita ou desenhada é atacada por ser justa, por apontar imoralidades e por denunciar. Por isso provoca a fúria dos que acusa. A censura, a prisão e a morte são, habitualmente, as reacções dos impotentes fundamentalistas e arrogantes ditadores (políticos ou religiosos) que se sentem visados nas críticas dos bem-pensantes. A liberdade de expressão tem os seus limites, sim: o caricaturista não critica doentes ou portadores de deficiência, não ri com a fome em África, nem defende a violência doméstica. O humor é a capacidade humana de realçar o ridículo e o absurdo da realidade. Quem não entende o humor e a sátira, e pretende estabelecer outros limites à liberdade de expressão… será, ele próprio, o ridículo e o mais alentado dos absurdos.

OV
(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

Diário de uns Ateus – Texto publicado na GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA, um jornal acolhe a opinião de um ateu.

6 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

Deus e o seu alegado plano

Por

Paulo Franco

“Se uma décima parte do trabalho tido à procura de sinais de um Deus benevolente e todo-poderoso tivesse sido empregue na recolha de provas para denegrir o carácter do criador, que extensão de conhecimentos teria sido encontrada no mundo animal?
O mundo animal está dividido entre devoradores e devorados, e a maioria das criaturas predadoras estão prodigamente equipadas com instrumentos para atormentar as presas”.

Esta afirmação de John Stuart Mill deveria ser suficiente para demonstrar que o argumento do “desígnio inteligente” defendido pelos crentes, particularmente os literalistas bíblicos como as testemunhas de Jeová e os membros da igreja Evangélica, não passa de vãs ilusões.

Num dos mais conhecidos vídeos do youtube de humor antirreligioso com o título “A maior mentira de todos os tempos”, George Carlin desdenha brilhantemente sobre as exageradas declarações e promessas das 3 grandes religiões monoteístas. Analisemos algumas dessas “declarações”:

«Deus é todo poderoso e ama todos os seres humanos»; vivemos num mundo com um pouco mais de 7 biliões de seres humanos, dos quais cerca de 2 biliões vive na pobreza e na miséria. Por muito que se queira culpar o sistema económico capitalista de promover as desigualdades económicas, não podemos ignorar que muita da pobreza existente no planeta é consequência de desastres naturais e doenças das quais nenhuma responsabilidade se pode imputar à actividade humana.

Uma pergunta que deixa sempre os crentes sem resposta é a seguinte: se num mundo com 7 biliões de pessoas que beneficiam do amor e protecção de um Deus todo poderoso, que sabe tudo e vê tudo, tem 2 biliões de pessoas na miséria, quantos biliões de pessoas estariam na miséria se não existisse Deus? Dois biliões de pobres parece-vos compatível com a ideia de um Deus super sábio e absolutamente perfeito?

Outra questão pertinente: Um dos fenómenos mais extraordinários do universo são as colisões entre galáxias. Elas envolvem uma quantidade incrível de matéria e demoram uma eternidade, à escala humana, para que se concluam. Existem muitas colisões entre galáxias que estão a ser observadas por nós, neste momento.

Ora acontece que a galáxia Andrômeda está em rota de colisão com a nossa Via Láctea. Isto é certo que vai acontecer, independentemente se nós nos vamos auto-destruir ou não, ou se o Sol vai explodir antes disso acontecer ou não.

Será razoável acreditar que existe um Plano Divino por detrás da existência da raça humana tendo em conta que esta está, muito provavelmente, condenada à extinção?

Para além disso, hoje sabemos que, de todas as espécies que já existiram no planeta Terra, cerca de 99% já se extinguiram. Como poderemos considerar tudo isto como fazendo parte de um Plano Divino? Ou designa-lo como Desígnio Inteligente?

Se com o conhecimento de todos estes factos perturbadores, ainda assim acreditarmos que o universo foi criado com o objectivo principal de albergar a vida humana, isso só pode ser um sintoma de uma propensão doentia para o egocentrismo.

Mas a “cereja no topo do bolo” é que este Deus de que estamos a falar, para além da visível imperfeição da “sua” obra, ainda consegue albergar no seu vasto currículo, vários genocídios, aprovação de sacrifícios humanos, aprovação da escravatura, homofobia e misoginia, noções de justiça pré-históricas, aprovação da pena de morte e absoluta desaprovação da liberdade de pensamento.

Estamos assim tão desesperados para escapar da morte ao ponto de termos de acreditar em algo parecido com isto?

4 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

“EM VERDADE VOS DIGO” – Crónica Ateísta (12)

Por

Onofre Varela

“Eu sou Charlie”

O hebdomadário satírico francês Charlie Hebdo foi alvo de um ataque cobarde e sangrento com a assinatura dos extremistas islâmicos, no dia 7 de Janeiro último. Os assassinos mataram “em nome de Deus”, alegadamente para “limparem o nome de Maomé” que, nas suas ópticas, teria sido conspurcado pelos desenhos satíricos dos caricaturistas.

Foi uma atitude assassina em desrespeito pelas liberdades democráticas, o que é acção habitual nas facções extremistas do Islão, com mais incidência desde a formação da Al Qaeda, organização terrorista islâmica nascida no Afganistão, com a liderança e o apoio
económico de Osama bin Laden, entretanto morto numa operação militar dos EUA, em Maio de 2011, mas que deixou seguidores. Não há quem lhes dê razão no acto que cometeram contra os jornalistas do Charlie, porém… (e neste “porém” é que reside o perigo) ouvi e li responsáveis católicos referirem como motivação da chacina a falta de respeito que o ocidente tem demonstrado pelos símbolos da fé islâmica!… Afirmo que tal observação é falaciosa.

Os caricaturistas respeitam Deus, Alá, Maomé e Jesus Cristo enquanto ícones religiosos. As caricaturas e as sátiras humorísticas em questão não são dirigidas à figura de Deus nem à dos seus profetas, mas sim aos extremistas que fazem malfeitorias em nome de Alá e Maomé. São as palavras e as acções destes extremistas que são criticadas, e não a divindade nem a própria religião islâmica. Aqui reside a diferença que os religiosos católicos mais fundamentalistas também não querem reconhecer por sentirem o seu fundamentalismo igualmente criticado.

Um extremista religioso é alguém com defeito de fabrico: tem os intestinos no crânio. Quando se mete a pensar e a actuar, só produz aquilo que os intestinos produzem. Perante esta espécie de animal vamos calar a nossa voz para não ferirmos susceptibilidade tão frágil?

Não! Nunca!… Os caricaturistas devem caricaturar como até aqui, porque a liberdade de expressão é uma conquista da Democracia. Se o sentimento religioso é sagrado, a liberdade de expressão é igualmente sagrada nesta Europa que se libertou do jugo religioso no século XVIII… precisamente em França.

OV
(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

Diário de uns Ateus – Texto publicado na GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA, um jornal que acolhe a opinião de um ateu.

3 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

“EM VERDADE VOS DIGO” – Crónica Ateísta (11)

Por

Onofre Varela

Sobre Francisco I (2)

O jovem Daniel (nome fictício), que escrevera ao Papa contando ter sido vítima de pedofilia na comunidade religiosa “Clã dos Romanes”, em Granada, estava ao volante do seu carro no dia 10 de Agosto último, quando atendeu um telefonema de um número desconhecido.
— Falo com o senhor Daniel?
— Sim, sou eu. Quem fala?
— Boa tarde, filho. Sou o padre Jorge.
— Deve ter-se enganado. Não conheço nenhum padre Jorge…
— Bom… sou o Papa Francisco.

Foi assim, directamente, sem intermediários e com esta simplicidade, que o Papa contactou o reclamante. Aturdido, Daniel ficou incapaz de articular qualquer palavra.

— Continuas a ouvir-me? Mantem-te sereno. Li a tua carta várias vezes. Emocionei-me e senti imensa dor ao ler o teu relato. Quero pedir-te perdão em nome de toda a Igreja de Cristo. Perdoa este gravíssimo pecado e gravíssimo delito que sofreste. Já há gente a trabalhar para que tudo isto se possa resolver.

Na sequência da acção do Papa, foi aberto um inquérito pelo arcebispo de Granada que pôs sobre investigação policial dez padres, decretando o cumprimento da “disciplina da Igreja” para estes casos, a qual consta de “tolerância zero com os abusos e quem os comete, ajuda às vítimas uma vez comprovados os factos, e cooperar com as autoridades”.

Parece que algo está a mudar na Santa Sé, e a humildade do clérigo Jorge Bergoglio, no papel de Papa Francisco I, é facto inédito no Vaticano. Só nos falta saber se o ítem da “comprovação dos factos” é, mesmo, passível de ser aplicado… com tantas mantas encobridoras dos crimes clericais! O que se sabe, para já, é que das dez pessoas investigadas, quatro foram detidas mas acabaram por ser postas em liberdade com a obrigação de apresentações quinzenais na esquadra de polícia.

OV
(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

Diário de uns Ateus – Texto publicado na GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA, um jornal que acolhe a opinião de um ateu.

2 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

“EM VERDADE VOS DIGO” – Crónica Ateísta (10)

Por

Onofre Varela

Sobre Francisco I (1)

Para um ateu o Papa tem a mesma importância de um chefe de Estado; que é isso mesmo que ele é: chefe do Estado do Vaticano. Porém, para as sociedades religiosas frequentadoras da Igreja Católica, o Papa é muito mais do que isso… é, também, uma autoridade religiosa e um símbolo moral. Houve tempo em que se afirmava ser, o Papa ,“o representante de Deus na Terra”, o que não passava de um disparate infantilizado.

A história da Igreja está recheada de atitudes papais negativas, quer pela prepotência e arrogância históricas, quer por actos criminosos que gozavam de impunidade no tempo em que a Igreja ditava leis e ordenava sobre tudo e sobre todos. Porém, a mesma história também conta com exemplos positivos. É o caso do Papa actual, Francisco I,que tem sido referenciado como um clérigo exemplar, incorruptível e dono de uma moral sã que quer ver consagrada (nos termos de a tornar durável) em todos os locais onde haja um sacerdote católico.

O jornal espanhol El País de 18/11/2014 e o Jornal de Notícias de 25/11/2014 noticiaram que um jovem de Granada (Espanha), hoje um professor com 24 anos e elemento do Opus Dei, foi abusado sexualmente, no início da juventude, numa instituição religiosa, após um sacerdote o ter induzido a abandonar a casa dos pais, aos 17 anos, passando a ser visitado no seu quarto por três sacerdotes e um leigo, que o violavam sistematicamente, numa comunidade intitulada “Clã dos Romanes” em homenagem ao seu líder, o padre Román Velázquez de Castro.

Recentemente, não conseguindo esquecer nem calar por mais tempo o crime de abuso sexual de que foi vítima, e considerando que outros jovens podiam estar a passar pela mesma agonia, o jovem decidiu escrever uma carta a Francisco I contando o seu infortúnio.

No dia 10 de Agosto de 2014, o Papa telefonou ao jovem. O teor desse telefonema e as suas consequências serão aqui abordadas na próxima edição.
(Continua)

OV
(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

Diário de uns Ateus – Texto publicado na GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA, um jornal que acolhe a opinião de um ateu.

1 de Fevereiro, 2015 Carlos Esperança

“EM VERDADE VOS DIGO” – Crónica Ateísta (9)

Por

Onofre Varela

Valores e Princípios (2)

Uma outra pessoa entrevistada naquele programa das manhãs televisivas, garantiu que baptizou o filho, alegadamente porque “temos de transmitir valores e princípios”, e referiu a aprendizagem escolar como exemplo comparativo: “se (aos filhos) os ensinamos a ler e a contar, igualmente teremos de lhes transmitir valores e princípios.
Por isso baptizei o meu filho”(!?!).

Só mesmo por fé se pode afirmar que se colhem “valores e princípios” no acto folclórico do baptismo religioso!… E só por ignorância se pode dizer que a militância religiosa é tão importante quanto saber ler, escrever e contar! Na verdade a cerimónia religiosa do baptismo não acrescenta nada aos “valores e aos princípios” daquele cidadão, se tais preceitos éticos não lhe forem ensinados para lá da pia baptismal.

Os “valores e os princípios” de uma sociedade são aprendidos e apreendidos no dia-a-dia da vida prática, no exemplo comportamental da família e dos vizinhos, na lição dos mestres que temos na escola e, até, nas palavras e nos actos dos políticos que nos governam (profundamente católicos) cujos “valores e princípios” sociais e económicos desgraçaram este país! Os valores e os princípios dos cidadãos, não são religiosos, mas laicos. Os valores da amizade, da entre-ajuda e da justiça, mais os princípios morais que nos conduzem ao respeito pelo outro tratando-o como igual, não são pertença das religiões, mas são, sim, preceitos laicos que pertencem a todas as sociedades espalhadas por todos os quadrantes do planeta, independentemente da religião professada. Os valores sociais e os princípios comportamentais fazem parte de um entendimento ético universal, e só são desrespeitados por grupos deslocados e socialmente extraviados, como gangues de ladrões, grupos xenófobos, exércitos ao serviço de ditadores (e estes próprios) e religiosos fundamentalistas.

Quando se afirma a Religião como cultivadora de valores e princípios, isso não é garantia do bom comportamento social do religioso. Tudo depende da qualidade do entendimento do crente. Lembremo-nos que os católicos da Santa Inquisição, e os islamitas radicais, ficaram (e ficam) na História por assassinarem de acordo com os seus “valores e princípios” religiosos.

OV
(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

Diário de uns Ateus – Texto publicado na GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA, um jornal que merece aplausos de todos os ateus, por ter aberto as suas páginas à opinião de um ateu.

30 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

“EM VERDADE VOS DIGO” – Crónica Ateísta (8)

Por

Onofre Varela

Valores e Princípios (1)

Num dia do passado Verão, no programa televisivo das manhãs da TVI “Você na TV”, apresentado por Manuel Luís Goucha, foi tratado o tema Religião sob a constatação do cada vez menor número de baptizados realizados na Igreja Católica.
(O espaço que me é dado na Gazeta é demasiado curto para tratar este tema na sua totalidade, pelo que me permito dividi-lo em dois e terminá-lo na próxima edição).

Para o debate foram convidadas duas personalidades de diferentes quadrantes: o padre Avelino, Católico, e o presidente da Associação Ateísta Portuguesa, e meu amigo, Carlos Esperança. O programa foi ilustrado com imagens de entrevistas de rua. Foi interessante o depoimento de uma senhora Portuguesa, Católica, casada com um Moldavo, Cristão Ortodoxo.

O casal encontrou uma plataforma de entendimento para conciliar as duas religiões e a filha teve dois baptizados: primeiro, Católico, e, um ano depois, Ortodoxo. Podemos entender este duplo baptismo como exemplo de um perfeito ecumenismo no respeito pelas vontades dos cônjuges… mas, na verdade, desrespeitaram a vontade da principal protagonista, que é a adulta que a filha será. Pior ainda se, em consciência, ela quiser abraçar uma terceira filosofia religiosa e ver-se engajada a outras duas que não escolheu. Mas também pode viver pacificamente com o duplo baptismo.

Pode, até, produzir engraçadas anedotas com o facto, e rir-se muito na roda de amigos, com as brincadeiras das fantasias religiosas dos progenitores!…
Na verdade, estes pais apenas trataram de salvar as suas imagens perante as respectivas famílias ciosas das suas tradições. O mesmo acontece a muita gente baptizada à sua revelia, quando bebés, e que em adultos podem ter conflitos interiores por pertencerem,
estatisticamente, a uma religião que não praticam, ou por serem ateus.
(Continua)

OV
(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

Diário de uns Ateus – Texto publicado na GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA, um jornal que merece aplausos de todos os ateus, por ter aberto as suas páginas à opinião de um ateu.

28 de Janeiro, 2015 Carlos Esperança

“EM VERDADE VOS DIGO” – Crónica Ateísta (7)

Por

Onofre Varela

Todos somos ignorantes

Por honestidade devo confessar que compreendo muito bem a posição dos religiosos quando consideram ser um escândalo a negação da divindade em que crêem. Em consequência do choque, as suas reacções podem, até,ser violentas, porque entendem ser violento o discurso que contraria as suas mais profundas convicções… e reagem emocionalmente. Provavelmente, se, em vez de ateu, eu fosse frade franciscano, reagiria do mesmo modo!

Se repararem bem, uma discussão entre um religioso e um ateu assemelha-se à de um portista ferrenho com um benfiquista empedernido. Não tem elevação!… As posições antagónicas tomadas no início do confronto verbal são as mesmas que encerram a contenda. Não há cedências nem reconhecimento da razão (sequer parcial) do outro!

Confesso que só aceito defender o Ateísmo publicamente porque estou em minoria numa sociedade de crentes, e sou um defensor acérrimo das minorias que sofrem com a ditadura das maiorias instaladas, neste tempo de democracias tão cantadas mas nunca plenamente cumpridas. Por isso tenho todo o interesse em publicitar o meu pensamento na expectativa de ser ouvido, entendido e, eventualmente, conquistar adeptos para a minha causa.

Acontece que há uma grande verdade no centro de todas as coisas, mas nós só vemos a periferia e sobrelevamos os nossos interesses particulares e egoístas. Essa verdade não é mais do que, todos nós, ateus, agnósticos ou profundamente crentes, sermos, principalmente, ignorantes, vaidosos e interesseiros. Ignorantes porque não sabemos o que há para saber além daquilo que julgamos saber; vaidosos porque garantimos saber o que dizemos, quando dizemos o que imaginamos saber; e interesseiros porque procuramos gritar a nossa razão mais alto do que a razão dos outros (é o que eu faço aqui!…).

Todos somos ignorantes. Os próprios cientistas são ignorantes… eles só procuram, investigam e estudam, porque não sabem!… Se soubessem não se davam a esse trabalho! E eu presumo que sou menos ignorante do que os crentes em Deus, porque a teoria do conhecimento exclui o sobrenatural, e os crentes aceitam-no como paradigma do conhecimento e do saber, defendendo a ideia de um deus de existência real impossível… tal e qual como é propagandeado…

OV
(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

Diário de uns Ateus – Texto publicado num jornal que merece aplausos de todos os ateus, por ter aberto as suas páginas à opinião de um ateu. O jornal é: GAZETA DE PAÇOS DE FERREIRA.