6 de Abril, 2015 Carlos Esperança
A ICAR odeia a ciência
Nos EUA alguns Estados conseguiram a proibição do ensino da teoria da evolução se, em simultâneo, não fosse ensinado o criacionismo bíblico.
O movimento criacionista alastra como mancha de óleo a conspurcar o tecido científico de um país cuja constituição é laica. Nas escolas do Estado do Kansas já desapareceram todas as referências às teorias de Darwin e do Big Bang. A lepra do obscurantismo já atravessou o Atlântico e contaminou a Europa. Uma ministra da Educação da Sérvia decidiu que o ensino da teoria da evolução só pode ser abordada se também, for descrita a história da vida segundo a Bíblia. Se esta orientação vier a ser alargada à geografia só permitirá ensinar o movimento de translação da Terra se, ao mesmo tempo for abordada a deslocação do Sol à volta da Terra.
Alguém vê um bispo a condenar a ignóbil decisão desses beatos analfabetos, o Papa a execrar tal cabotinismo, a Cúria romana a manifestar-se contra a infâmia?
Os milagres confirmados no Vaticano são pueris. Constituem um ultraje à inteligência, um recurso à mentira e à superstição, uma vergonha para a humanidade e o ridículo para os fiéis. Já algum dignitário se mostrou constrangido, algum clérigo reclamou ou um só crente se atreveu a desmascarar a trapaça?
A fé é inconciliável com a ciência, mas escusava de ser tão contraditória.
Já se fazem milagres pela televisão, tal como se transmitem bênçãos apostólicas, se apela ao óbolo que alimenta a indústria da fé, a troco da bem-aventurança eterna que se promete pela mesma via. Lenta e seguramente resvalamos para o obscurantismo mais indecoroso conduzidos pelo clero mais ignaro e o beatério mais lorpa, através dos mais avançados meios de comunicação.
Não é a nova Renascença que chega, é a Idade Média que regressa. Sob os escombros do Vaticano II a ICAR trouxe de volta o concílio de Trento. O obscurantismo deixou e ser monopólio do Islão e do judaísmo ortodoxo e voltou a ser a marca do cristianismo.
Quando julgávamos Deus mero objeto de estudos mitológicos e de adorações residuais, eis que aparece o cadáver a agredir a pituitária das pessoas de mente sã. Da lixeira da história, dos resíduos tóxicos, foi exumado por sicários para ser exibido nas escolas, mostrado nas universidades e servir de ameaça à ciência.
Deus nunca foi uma farol que iluminasse o progresso mas hoje não passará do fogo-fátuo de um corpo putrefacto enquanto o mundo gira e avança indiferente ao cheiro.
E não é o Papa Francisco que consegue, se é que pode ou quer, arejar as alfurjas da Fé.