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Categoria: Ateísmo

11 de Agosto, 2015 Carlos Esperança

O direito à eutanásia

No dia 10 de agosto de 2001, a Holanda foi o primeiro país a legalizar o direito que nos interpela e assusta mas que, cada vez mais, se assume como direito individual que deve ser aprovado, regulamentado e objeto de ponderação. Foi há 14 anos.

A morte, como disse Saramago, é uma injustiça, mas a vida, em certas circunstâncias, é um suplício cujo prolongamento não se pode impor ao enfermo contra a sua vontade.

Urge ponderar o poder arbitrário dos médicos na sua obsessão terapêutica ou na decisão irrevogável de prolongar a vida, segundo os seus preconceitos religiosos tal como ao doente uma decisão precipitada ao primeiro sinal de desespero.

Entre os médicos nunca haverá consenso e, das Igrejas, não se pode esperar senso. Cabe aos Estados, de forma responsável, responder a dramas que diariamente afligem doentes terminais, pessoas em vida vegetativa ou seres sem uma réstia de esperança ou qualquer trégua no sofrimento.

Defender a alimentação obrigatória dos pacientes em estado vegetativo – como impõe o Vaticano –, é um ato de crueldade que a lei dos Estados civilizados deve impedir.

Haverá sempre situações ambíguas, estados de fronteira onde a decisão se torna difícil e eticamente discutível. É nestas alturas que o doente, se mentalmente são, deve poder exercer sozinho o direito de decisão, usufruir pela última vez da liberdade individual.

Ramón Sampedro, “uma cabeça sem corpo”, como amargamente definiu a sua situação de tetraplégico foi o denodado militante da eutanásia que quebrou um tabu e abriu a discussão sobre o direito à morte que a compaixão de mão amiga lhe permitiu.

A norte-americana Terri Schiavo viveu 15 anos em estado vegetativo permanente, sem que ocorresse a morte cerebral, até que um Tribunal da Florida determinou que lhe fosse retirado o tubo de alimentação. Quinze anos!

Há situações em que a alegada defesa da vida é um inqualificável ato de crueldade.

8 de Agosto, 2015 Carlos Esperança

Deus é bom…

Blogger ateu assassinado no Bangladesh. É o quarto este ano

por DN

Niloy Neel escrevia sobre religiões, e sobre os direitos das mulheres.
Niloy Neel escrevia sobre religiões, e sobre os direitos das mulheres.Fotografia © Via Facebook

Niloy Neel foi morto à machadada em sua casa. Já outros três bloggers que defendiam o laicismo morreram da mesma forma este ano.

Um blogger apoiante do laicismo foi morto à machadada na sua casa em Daca, no Bangladesh, esta sexta-feira. Niloy Neel, ateu, era apologista da separação entre a religião e os assuntos da esfera pública como a política e a cultura. Suspeita-se que o crime foi cometido por extremistas islâmicos.

“Era a voz contra o fundamentalismo e o extremismo”, disse à BBC o dirigente da Rede de Bloggers e Ativistas do Bangladesh, Imran H. Sarkar. “Ele também falava pelas minorias, especialmente pelos direitos das mulheres e pelos direitos as pessoas indígenas”.

É a quarta vez este ano que um blogger apoiante do laicismo é morto à machadada no Bangladesh. Avijit Roy morreu em fevereiro, o blogger Washiqur Rahman foi morto em março, e Ananta Bijoy Das foi atacado por homens mascarados em Sylhet.Segundo a BBC, duas pessoas foram detidas que se presume terem ligações a estes crimes, mas nenhuma foi acusada. Embora o Bangladesh seja oficialmente um estado laico, críticos do governo acusam-no de não agir em reação a estes ataques.

Niloy Neel foi morto em sua casa por um grupo de atacantes, que entraram no edifício ao fingir que queriam alugar um apartamento. Dois deles fecharam-no depois num quarto e mataram-no com machetes.

O blogger e ativista escrevia criticamente sobre várias religiões, incluindo o islão, o hinduísmo, o budismo e o cristianismo, e tinha participado, em 2013, num movimento de protesto que exigia a pena de morte para um líder islâmico que tinha sido condenado de cometer crimes de guerra em 1971.


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7 de Agosto, 2015 Carlos Esperança

As multinacionais da fé

Deus é uma perigosa ficção que conquistou, no início, gente primária e supersticiosa. Umas vezes extinguiu-se rapidamente, outras fez uma carreira gloriosa até atingir as classes poderosas que o confiscaram e transformaram em instrumento do seu próprio poder.

Se escasseiam os sócios, Deus dá origem a uma seita. Quando se reproduz e esmaga a concorrência, combate os indiferentes e passa a religião. Então, cria-se uma hierarquia, impõem-se regras, organizam-se as finanças e reduz-se a escrito a tradição oral sob os auspícios de um iluminado a quem Deus dita um livro, normalmente num sítio ermo.

As religiões do livro já foram a sofrida aspiração de quem tinha o medo e a fome como horizonte. O Paraíso tornou-se o bálsamo para o desespero, a aspiração inconsciente de uma sociedade sem classes, o desejo de pobres e infelizes se tornarem iguais aos ricos e poderosos, renunciando à luta.

A correlação de forças impôs em cada lugar a hegemonia de uma religião e definiu qual era, ali, o Deus. O Deus único e verdadeiro é o Deus de quem detém o poder, onde outro qualquer é pertença de quem não preza a vida. Muitas vezes foi expulsa a concorrência, com brutalidade e inaudita crueldade.

Foi então que se deu o salto dialético. A ficção institucionalizou-se, a vontade de Deus sobrepôs-se à dos Homens, a fé venceu a razão, o medo impediu o pensamento.

As religiões dividiram o mundo, de acordo com a sorte das armas, e nunca renunciaram ao proselitismo que impusesse o seu deus ao crentes doutro deus e, sobretudo, aos ateus. A distribuição de religiões tem áreas privativas e zonas de influência demarcadas que a globalização pôs em causa. Demolido o equilíbrio, acossadas pelo medo, algumas religiões entraram em histeria. Há o fantasma da extinção e do domínio de uma só.

O cristianismo, apoiado na cultura judaico-cristã, no poder económico e na força militar, partiu em vantagem para o ajuste de contas com o islão fanático. A ICAR pressentiu o perigo de o Vaticano se reduzir a um museu, subalternizado pelos protestantes, e tem tentado a fusão das várias correntes cristãs sob a hegemonia papal.

No seu proselitismo à escala planetária veio à tona o antissemitismo secular, o pasmo pela fé islâmica, a sedução pela intolerância e o fascínio pelo fanatismo, a acordar na ICAR a memória das Cruzadas e o entusiasmo do Santo Ofício, ora mitigado pelo papa de turno.

O próprio Opus Dei, uma espécie de braço armado do Vaticano, por ora sem recorrer ao terrorismo armado, não hostiliza o islão, com quem partilha ideias ultrarreacionárias, e recuperou o medo de uma alegada conspiração judaico-maçónica, a quem atribui, em delírio, a responsabilidade pelo agnosticismo, a laicidade e o ateísmo.

O Vaticano faz pressão para impor anacrónicas conceções aos Governos e ONGs e aguarda que se decida a correlação de forças para se empenhar na batalha final.

Cabe aos livres-pensadores impedir que as religiões sepultem a liberdade e corroam as democracias. A laicidade não é só uma exigência moral é uma questão de sobrevivência da democracia.

6 de Agosto, 2015 Carlos Esperança

O mito de Sísifo e a procura do imortal e do eterno

Por

Paulo Franco

A história humana é demasiado complexa para, de forma sucinta, expressar numa frase a sua essência. Mas se tivermos de o fazer, eu diria que a história humana se poderá sintetizar num processo contínuo de procura de imortalidade.

Todo o humano que nasce, se tiver a sorte de não morrer entretanto, mais tarde ou mais cedo irá confrontar-se com a verdade inexorável da sua finitude. A magistral máquina do processo evolutivo transformou todos os seres vivos em seres competitivos natos,
e no que diz respeito a nós humanos, para o demonstrar, competimos num campeonato invisível de aquisição de brinquedos. Quem adquirir mais brinquedos ganha a competição mas deparamo-nos com um problema para a qual não estamos preparados: o fim da competição, ou seja, a nossa morte. Inevitavelmente sairemos todos derrotados. Todos morreremos e esse é um resultado que não queremos aceitar de maneira nenhuma.

A evolução apetrechou-nos com inúmeros equipamentos de sobrevivência mas não nos preparou para a morte. Bem pelo contrário. Desde a pré-história que o Homem tem deixado indícios que tudo faz para acreditar que morrer não é algo definitivo.

O problema existencial é um beco sem saída no qual estamos irremediavelmente bloqueados.

E é aqui que a imaginação humana consegue transcender a fronteira aparentemente intransponível: a humanidade cria o mito: os Deuses; as Nossas Senhoras, os Anjos. Todos eles portadores de todas as características humanas, das mais triviais às de essência superior, mas, acima de tudo, são portadores daquilo que mais ansiamos mas que a natureza nos negou: a imortalidade.

Procuramos ainda a imortalidade através dos nossos filhos e das nossas realizações que podem ser desde uma pirâmide, uma torre Eiffel, a muralha da China ou o convento de Mafra.

Já alguém disse que na génese de todo o conflito humano está a ânsia de liberdade.
Que liberdade maior poderia ser alcançada do que tornarmo-nos imortais?

O mito de Sísifo é um ensaio filosófico escrito por Albert Camus em 1941. Camus introduz a sua filosofia do absurdo: o Homem em busca de sentido, unidade e clareza no rosto de um mundo ininteligível desprovido de Deus e eternidade. Será que a realização do absurdo exige o suicídio? Camus responde: “Não. Exige revolta”. Ele descreve então várias abordagens do absurdo da vida. No último capítulo compara o absurdo da vida do Homem com a situação de Sísifo, uma personagem da mitologia grega, condenado a repetir sempre a mesma tarefa de empurrar uma pedra até ao topo de uma montanha, sendo que, toda vez que estava alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até ao ponto de partida por meio de uma força irresistível, invalidando completamente o duro esforço despendido.

Sísifo é a humanidade. Todo Homem é Sísifo. Todos os dias temos de empurrar uma pedra até ao topo da montanha. Resta-nos apreciar, amar, deslumbrar, sentir durante o percurso aquilo a que chamamos viver. E por isso Albert Camus alertou que temos de imaginar Sísifo feliz.

Perguntaram ao Dalai Lama: “O QUE MAIS O SURPREENDE NA HUMANIDADE?”
Resposta : “ Os homens… porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem dinheiro para a recuperar. E, por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de forma que não vivem nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer … e morrem como se nunca tivessem vivido.”

29 de Julho, 2015 Carlos Esperança

NÃO ACREDITO NO QUE REZA O PAPA FRANCISCO

Por

PEDRO TADEU , in DN

No dia 6 de outubro de 1973 deixei de acreditar em Deus. Aos 9 anos de idade perdi o meu pai, morto num fortuito acidente de automóvel. Hoje, dia 28 de julho de 2015, depois de acumular mais 42 anos de experiência em inúmeras tristezas e alegrias, estou sem acreditar em Deus.

Nem a literatura, nem a arte, nem a teologia, nem a filosofia, nem a história, nem a política, nem a ciência, nem as amizades, nem a maturidade, nem, em suma, a vida, conseguiram contrariar a retórica de negação divina associada às perguntas que formulei naquele dia, inocentes, ignorantes, infantis:

“Se Deus existe e é omnisciente, porque lhe é indiferente a guerra, a fome, a doença, a miséria?”

“Se Deus existe e é omnipresente, porque não olha para a injustiça, para a escravidão, para a violência?”

“Se Deus existe e é omnipotente, porque deixa as crianças sofrerem?”

“Se Deus existe e tudo pode, tudo controla e tudo sabe, porque matou o meu pai?”

Se a justificação para a prevalência da crueldade divina, brutalmente revelada à minha candura infantil, estava escondida por um mistério de fé, cínico na sua transcendência inumana, mais valia não procurar a sua revelação.

O egocentrismo do meu sofrimento, o abismo da minha orfandade, revelaram-me um código social: se Deus existia, então ou era mau ou era indiferente às agruras do Homem e da Mulher. Por essa razão mais valia ignorarmos Deus. Mais valia, seguramente, sermos todos e todas órfãos de Pai.

Deveríamos tentar encontrar o divino em nós, na capacidade coletiva de construirmos um presente digno para as nossas vidas e um futuro esperançoso para a perpetuação da Humanidade, guiados pela justiça, pela bondade, pela busca incessante da felicidade. Pelo bem de todos nós, não para o bem de Deus.

O papa Francisco fala arrebatadoramente como homem de justiça na Terra. O papa Francisco, porém, tem todas as suas palavras contaminadas pelos mandamentos de um Deus inviável, lá do Céu.

As apaixonadas intervenções que o papa faz contra a exploração capitalista do mundo, a defesa do acesso ao trabalho, a crítica feroz ao monopolismo ideológico, a denúncia assustada das agressões ambientais ao planeta, são um valor precioso no presente de todos os homens, pois contrariam a avalanche para o inferno na Terra em que estamos a precipitar-nos.

Estou de acordo com o que diz o papa Francisco. Não posso estar de acordo com o que o reza o papa Francisco: a fé em Deus destrói a Humanidade. O passado e o presente comprovaram-no milhares de vezes, ao longo de milhares de anos, e a minha pequena vida afirma-o, claramente, desde 6 de outubro de 1973… Lamento.

25 de Julho, 2015 Carlos Esperança

Vítor Madeira – Debates sobre o ateísmo

A MINHA PARTE PREFERIDA DA BÍBLIA
É aquela em que Jesus está sozinho a falar com deus (com ele próprio),
e alguém que não estava lá descreveu tudo para nós.

(Mateus 26:36 a 46; Marcos 14:32 a 42 e Lucas 22:39 a 46)

Foto de Vitor Madeira.
16 de Julho, 2015 Carlos Esperança

A Transferência

Por

Frei Bento

Caríssimos irmãos em Cristo, apenas duas letras de despedida. Podereis considerar que uma semana sem vir ao DduA é pouco, mas para mim será uma eternidade.

E se eu sei o que é uma eternidade!!!

Na verdade, o cabr… o nosso santo Abade de Priscos castigou-me por eu ter apresentado uma sugestão. Ainda para mais, uma sugestão que não só era inteligente como também era economicamente apetecível.

Eu explico: hoje, ouvi na TV que, por causa da transferência do Casillas para o FCP, o clube tem-se fartado de vender camisolas com o nº 12. Vai daí que eu tive uma ideia que considero luminosa mas o filho d… o santo abade de Faria, certamente movido pela inveja, logo o 6º dos capitais pecados, mandou-me para um retiro espiritual na abadia das freiras Carmelinhas Calçadas.

E qual era a ideia? Ora, nós temos uma catrefada de terços, todos benzidos, cujas contas, as do rosário, claro, são, imagine-se, bolotas. Portanto, é um produto que além de ser precioso e imprescindível não só nos meses marianos, também serve para comer. E nós sabemos que o que serve para porcos também serve para homens. Até melhora a reza, porque a gente engole uma bolota a cada ave-maria e, além de não ser tão fácil a gente enganar-se, sempre é um terço nutritivo. Os padre-nossos podem, perfeitamente, ser acompanhados por copos de vinho, que sempre ajudam à digestão. A cereja em cima do bolo é  a benzedura do nosso Abade, que tem uma garantia de dois anos, e os terços são acompanhados pelo competente certificado. Só que ninguém compra aquilo, se calhar por causa do preço que, aliás, eu considero exagerado, tendo em vista a cotação em bolsa da bolota. Mesmo que seja bolota da nossa Abadia. ! Vai daí, eu lembrei-me: se nós, com o dinheiro dos óbolos, tentássemos a transferência de Nossa Senhora de Fátima para aqui, os terços começavam a ter saída.

O sacan… o nosso santo abade, primeiro chamou-me besta. Depois, perguntou-me se eu imaginava quanto custaria uma transferência da que é considerada a virgem mais valiosa, uma espécie de Cristiano Ronaldo em formato feminino e, ainda por cima, divina. Ainda tentei sugerir uma outra nossa senhora qualquer, já que são mais que as mães, mas o filho da p… o nosso santo abade nem me deixou falar: “Vais de castigo para as Carmelinhas, por oito dias! E ficas ao cuidado da Abadessa, que é para aprenderes.” Ainda lhe pedi que trocasse a abadessa por duas ou três noviças, que ela bem as vale, mas o gajo, perdão, o nosso santo abade nem me ouviu. Amanhã, lá vou eu…

Voltarei em breve.

Saúde e merda, que Deus não pode dar tudo.

PS: Peço desculpa, mas alguém tirou as teclas de correcção do meu computador.