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Categoria: Ateísmo

26 de Janeiro, 2016 Carlos Esperança

Mentiras melhores do que outras

«O influente escritor Richard Dawkins, ateu, afirmou que os cristãos são mais sensatos do que os muçulmanos ao interpretar a Palavra de Deus.
A declaração vem na esteira de uma série de reflexões do ativista ateu a respeito da ascensão do terrorismo baseado no extremismo religioso muçulmano. Recentemente, Dawkins afirmou que o cristianismo é a melhor arma de defesa contra o fundamentalismo islâmico.

Dawkins, que é biólogo evolucionista, afirmou textualmente que os seguidores do cristianismo têm “mais sensatez” em comparação com os muçulmanos, que tomam versos de suas escrituras de forma literal.

De acordo com informações do Gospel Herald, Dawkins citou, em uma publicação no Twitter, o caso de um menino que amputou a própria mão para se desculpar com Alá por uma blasfêmia: “Jesus disse: ‘Se a tua mão direita te faz tropeçar, corte-a’. Mas os cristãos têm mais sensatez, ao invés de interpretar literalmente”, escreveu, fazendo referência a Mateus 05:30.

O texto do evangelho de Mateus na íntegra fala sobre a renúncia ao pecado: “E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno”.

Dawkins revelou que sua aversão ao cristianismo se deve a um episódio de abuso sexual sofrido na infância, quando frequentava um colégio católico.

Reconhecendo que na doutrina cristã, ao contrário do islamismo, não existem incentivos ao uso da violência contra quem ignora seus ensinamentos, o escritor foi enfático ao afirmar que o cristianismo pode ser “um baluarte contra algo pior”.

“Não há cristãos, pelo menos que eu saiba, explodindo edifícios. Não tenho conhecimento de quaisquer ataques suicidas dos cristãos. Não tenho conhecimento de qualquer grande denominação cristã que acredita na pena de morte por apostasia”, destacou. “O cristianismo pode realmente ser a nossa melhor defesa contra as formas aberrantes de religião que ameaçam o mundo”, concluiu.»

23 de Janeiro, 2016 Carlos Esperança

Liberdade e/ou Religião?

Convidado, há algum tempo, para um colóquio em Miranda do Corvo, pelo Dr. Jaime Ramos, presidente de uma notável Fundação – ADFP – julguei-o adiado por falta de um programa que esperava receber. Afinal teve lugar (ontem) e, desfeito o equívoco, acabei por chegar com uma hora de antecipação.

À entrada do cinema, havia folhetos a anunciar o «Debate», que ali se realizaria, com o título em epígrafe. Aproveitei para escrever um texto que serviria de orientação para o «debate» com um professor universitário de História das Religiões, moderado pelo Dr. Jaime Ramos.

Aqui fica o texto, neste dia de reflexão eleitoral:

A liberdade contempla necessariamente as religiões, estas raramente consideram aquela. As religiões têm em comum o facto de serem criações humanas e diferenciam-se pelas tradições, cultura e estádio civilizacional das sociedades onde se inserem.

Atualmente, das religiões do livro, é o Islão a mais implacável na defesa dos princípios em voga nas sociedades tribais e patriarcais da Idade do Bronze, onde todas mergulham as raízes.

Foi nas sociedades cristãs, embora contra a vontade do clero, que os direitos humanos floresceram. Nas sociedades islâmicas verifica-se hoje a mais obstinada ofensiva contra as liberdades individuais, tendo encontrado nas armas ultramodernas o instrumento de eleição para a evangelização. A moral da Idade do Bronze é imposta à bomba.

O que está em causa não é tanto a puerilidade das convicções religiosas mas o espírito totalitário que as impregna e de cuja perversidade não têm o exclusivo.

Na religião, como na política, na crença ou na sua ausência, a tragédia é a obsessão em impor aos outros as suas crenças ou descrenças, sobretudo quando à discussão de ideias se sobrepõem as bombas e a demência suicida e assassina.

Na Europa, vivemos hoje uma época pós-cristã, secular e laicizada, sem uma vigilância adequada aos extremismos endógenos e à violência pia que sobrevive ao acolhimento de uma cultura estranha, que exige a rotura com a civilização europeia, outrora tributária dessa mesma cultura, hoje em choque. Tudo o que nos desvie do percurso renascentista, iluminista, da Revolução Francesa e das modernas democracias políticas, numa deriva teocrática, necessariamente obscurantista, é uma tragédia a que não sobreviveremos se a não contivermos.

Em nome da liberdade teremos de respeitar todas os crentes e na sua defesa teremos de combater todas as crenças que a ameacem.

19 de Janeiro, 2016 Carlos Esperança

A morte – fonte de todas as ilusões

((Texto d’“O Fim da Fé”, de Sam Harris, enviado por Paulo Franco)

Vivemos num mundo em que todas as coisas, boas e más, acabam por ser destruídas pela mudança. O mundo só nos sustenta, dir-se-ia, para depois nos devorar a seu bel-prazer.

Pais que perdem os filhos, filhos que perdem os pais. Marido e mulher que se separam de repente, para nunca mais se voltarem a encontrar. Amigos que se despedem a correr, sem saberem que o fazem pela última vez.

Esta vida, quando considerada de um ponto de vista mais abrangente, parece não constituir mais do que um grande espetáculo de perda.

Mas a religião diz que existe um remédio para isto. Se vivermos de modo correto – não necessariamente ético, mas segundo uma estrutura de certas convicções antigas e comportamentos estereotipados – conseguiremos tudo o que queremos depois de morrermos. Quando os nossos corpos nos falharem, libertaremos apenas o lastro corpóreo e viajaremos para um reino onde reencontraremos todas as pessoas que amámos em vida.

Claro que as pessoas excessivamente racionais, bem como a restante ralé, serão mantidos longe deste lugar feliz, ao passo que aqueles que puserem fim à sua descrença ainda em vida divertir-se-ão para toda a eternidade.

Vivemos num mundo de surpresas inimagináveis – desde a energia de fusão que inflama o Sol às consequências genéticas e evolutivas da luz solar que à milhões de anos cintila sobre a Terra – e, no entanto, o Paraíso conforma-se às nossas preocupações mais superficiais com um rigor de um cruzeiro nas Caraíbas.

Isto é assombrosamente estranho.

Alguém desprevenido, seria levado a acreditar que o ser humano, no seu medo de perder tudo o que ama, criou o Céu, bem como Deus, seu guardião, à sua própria imagem.

10 de Janeiro, 2016 Carlos Esperança

A decadência, colapso e descrédito da adoração a Deus*

*Texto do livro de Christopher Hitchens “Deus não é grande”

(enviado por Paulo Franco)
A decadência, colapso e descrédito da adoração a Deus não começam num momento dramático, como o pronunciamento histriónico e contraditório de Nietzsche de que Deus estava morto. Era impossível Nietzsche saber isso, ou presumir que Deus alguma vez tinha estado vivo, da mesma forma que um padre ou um curandeiro não poderiam jamais saber qual era a vontade de Deus. Antes, o fim da adoração a Deus revela-se no momento, que é de certa forma mais gradualmente revelado, em que se torna opcional, ou apenas uma de muitas crenças possíveis.

Convém não deixar de realçar que, para a maior parte da existência humana, essa «opção» não existiu verdadeiramente.

Pelos muitos fragmentos de textos e confissões queimados e mutilados sabemos que houve sempre seres humanos que não se deixaram convencer. Mas desde a época de Sócrates, que foi condenado à morte por espalhar um ceticismo nocivo, tornou-se imprudente seguir o seu exemplo, e para milhares de milhões de pessoas ao longo dos tempos, a questão pura e simplesmente não se colocou.

Muitas religiões surgem agora diante de nós com um sorriso afetado e insinuante e mãos estendidas, como um comerciante adulador num bazar. Oferecem consolo, solidariedade e elevação, como se estivessem a competir num mercado. No entanto, temos o direito de recordar como se comportaram de forma bárbara quando eram fortes e faziam uma oferta que as pessoas não podiam recusar. E se por acaso nos esquecermos como deve ter sido, basta-nos olhar para os Estados e sociedades onde o clero ainda detém o poder de impor as suas regras.

Nas sociedades modernas, os vestígios patéticos desta atitude podem ser vistos nos esforços feitos pela religião para garantir o controlo da educação, para não pagar impostos, ou para aprovar leis que proíbem as pessoas de insultar a sua divindade omnipotente e omnisciente, ou mesmo o seu profeta.

Na nossa condição semilaica e medíocre, até os religiosos falarão com embaraço sobre o tempo em que os teólogos discutiam problemas fúteis com uma intensidade fanática: medir o comprimento das asas dos anjos, por exemplo, ou debater quantas criaturas míticas podiam dançar na
cabeça de um alfinete.

Para reforçar a repugnância de tudo isto, claro que é horrível recordar quantas pessoas foram torturadas e mortas e quantas fontes de conhecimento foram atiradas para as chamas, em falsas discussões sobre a Trindade, ou o hadith muçulmano, ou a chegada de um novo Messias.

7 de Janeiro, 2016 Carlos Esperança

Deus e a liberdade

O Vaticano considerou desonesta a caricatura de ‘deus assassino’ na última edição do Charlie Hebdo, quando assinalou um ano em que o sangue dos seus desenhadores foi derramado em nome da fé e do biltre que a fundou.

O diário da teocracia católica, «L’Osservatore Romano», tem o direito de condenar a linha editorial do Charlie Hebdo, mas não pode exigir-lhe, em nome da vontade do clero romano, que expresse a condenação da violência em nome da fé. Quem não é obrigado a ler o jornal de compra facultativa, não tem o direito de lhe exigir normas de conduta.

A linha editorial dos jornais, satíricos ou sisudos, não pode nascer nas sacristias ou nas madrassas. O que o Vaticano exige é a censura a quem descrê do Deus do papa, do dos celerados islâmicos ou de qualquer outro.

O que está em causa é a liberdade de expressão, o direito de criticar e ridicularizar todas as doutrinas e mitos, do ateísmo à bruxaria, de Jeová a Shiva, do Boi Ápis a Maomé, no país onde «A República [Francesa] assegura a liberdade de consciência » e «garante o livre exercício dos cultos» (Art.º 1) mas «não reconhece, não remunera nem subvenciona nenhum culto» (art.º 2 ) da lei de 11 de Dezembro de 1905, texto que Pio X condenou e que João Paulo 2 e Bento 16 se esforçaram por remover.

As religiões dão-se mal com a liberdade, mesmo as que a repressão política ao seu clero submeteu à democracia. A abolição da inquisição, censura e conversões forçadas custou demasiado sangue. A cura da demência fascista islâmica custará rios de sangue e não é o respeito a facínoras medievais que impõe a liberdade de expressão.

Seria estulto que o Charlie Hebdo desse indicações sobre a liturgia da missa, tal como é para o Vaticano perorar sobre a forma como o semanário satírico deve exercer o direito à sátira, ao sarcasmo e à blasfémia.

Os jornais satíricos devem abster-se de dilatar a fé e as religiões de limitar a liberdade.

3 de Janeiro, 2016 Carlos Esperança

A explicação que os crentes precisam conhecer

(Texto foi retirado do livro de Carl Sagan ” Um mundo infestado de demónios” e enviado por Paulo Franco).

Em 1894 foi publicado em Londres “The International census of Waking Hallucinations”. Desde essa época até à atualidade, inúmeras sondagens revelaram que 10 a 25 por cento das pessoas comuns, em pleno exercício das suas faculdades, tiveram a experiência, pelo menos uma vez na vida, de uma alucinação nítida – em geral, ouvir uma voz ou ver uma forma onde não há ninguém. Mais raramente, as pessoas sentem um cheiro penetrante, ouvem música ou recebem uma revelação que chega independentemente dos seus sentidos. Em alguns casos, isto transforma-se em acontecimentos pessoais marcantes ou em experiências religiosas profundas. As alucinações podem ser uma pequena porta, a que não se tem dado importância, para uma compreensão científica da religião.

Provavelmente uma dúzia de vezes depois da sua morte, ouvi a minha mãe ou o meu pai chamarem o meu nome. Claro que me chamaram muitas vezes enquanto vivi com eles. Ainda sinto tanto a falta de ambos que não me parece nada estranho que o meu cérebro de quando em quando capte uma reminiscência lúcida das suas vozes.

As alucinações deste tipo podem acontecer a pessoas perfeitamente normais, em circunstâncias perfeitamente comuns. As alucinações também podem ser provocadas por uma fogueira num acampamento à noite, pela tensão emocional, ou então durante ataques epitéticos, enxaquecas ou acessos de febre alta, ou ainda pelo jejum e pela falta de sono prolongados, ou pela privação sensorial (por exemplo, no isolamento), ou através de alucinogénios como o LSD, a psilocibina, a mescalina, ou o haxixe (o delirium tremens, o terrível estado induzido pelo álcool, é uma manifestação bem conhecida de uma síndrome de privação dos alcoólicos).

Existem também moléculas, como as fenotiazinas (a torazina, por exemplo), que fazem desaparecer as alucinações. É muito provável que o corpo humano gere substâncias – talvez incluindo as pequenas proteínas do cérebro semelhantes à morfina, chamadas endorfinas –, que provocam alucinações e outras que as suprimem.

Sejam quais forem os seus antecedentes neurológicos e moleculares, as alucinações parecem reais. São procuradas em muitas culturas e consideradas um sinal de elevação espiritual. Há inúmeros exemplos nas religiões mundiais em que patriarcas, profetas ou salvadores se dirigem para o deserto ou para as montanhas e, com a ajuda da fome e de privações sensoriais, têm encontros com deuses e demónios. As experiências religiosas induzidas por drogas psicadélicas foram uma característica da cultura dos jovens dos anos 60. A experiência, embora provocada, é descrita como «transcendente»,
«divina» e «sagrada».

As alucinações são vulgares. Se o leitor tiver alguma, isso não significa que está louco.

A literatura antropológica está repleta de etnopsiquiatria de alucinações, de sonhos REM e de estados de transe, que têm muitos elementos comuns em diferentes épocas e civilizações. As alucinações são em geral interpretadas como manifestações de bons ou maus espíritos que possuem o indivíduo.

Weston La Barre, um antropólogo de Yale, chega ao ponto de afirmar que «é defensável dizer que grande parte da cultura é alucinação» e que «toda a intenção e função do ritual parece ser um desejo de grupo de alucinar a realidade».

2 de Janeiro, 2016 Carlos Esperança

Sejam pacientes

Jose Alberto O meio de transporte escolhido não foi o mais rápido e demora o seu tempo. Sejamos pacientes.

29 de Dezembro, 2015 Carlos Esperança

Deus no Expresso Revista

Por
Dieter Dellinger

O Senhor José Tolentino de Mendonça escreve excelentes artigos que os leio sempre para pensar. A 19 de Dezembro o Expresso publicou um artigo em que Tolentino escreve sobre o teólogo alemão Dietrich Bohnhoffer. Faltou-lhe dar a conhecer ao público algo mais do pensamento do corajoso teólogo alemão, mas eu, na minha qualidade de ateu, não me atrevia a contestar um crente. Nós, os ateus, somos silenciosos e respeitadores com todos os crentes, pelo que não nos passaria pela cabeça discutir com um hindu o caráter sagrado da vaca ou com um muçulmano o significado da pedra negra de Meca e com um católico a aparição da Virgem em Fátima ou com um jihadistas a realidade das 300 virgens que o esperam no paraíso depois de se fazer explodir, assassinando um monte de gente desconhecida.

O senhor Tolentino escreveu no último número da revista do Expresso um artigo a pugnar pelo diálogo entre crentes e ateus e, por isso, aceitei o repto.

Muitos alemães estudam teologia não catequista nas universidades na esperança de encontrarem Deus como Max Plank descobriu a física quântica, Einstein a relatividade e Heisenberg o princípio da incerteza. Quase tudo elaborado na teoria e depois comprovado em complicadas experiências.

Dietrich Bohnhoffer fez uma interpretação não religiosa da Fé, coisa que eu não faço por não ter fé em nada ao escrever: “O Mundo tornou-se adulto e mostrou ser capaz de viver sem religião. A tentativa frequentemente empreendida pela apologética religiosa de o reconduzir à dependência de crenças das quais já se libertou, parece-se com a tentativa de reconduzir à puberdade um indivíduo que é já um homem”.

“Quer isto dizer – continua Bohnhoffer – que o espaço a atribuir a Deus não está nos confins do conhecimento ou da existência dos humanos, nem para além dos limites da fraqueza, da morte e da culpa do homem, mas sim no centro do homem e do seu mundo”, o que nos leva ao pensamento de Ratzinger que afirmava ser Deus identificado pela razão humana, o que muda radicalmente o problema da fé.

“Deus não pertence à esfera do transcendente ou do sobrenatural mas sim à esfera da natureza, entendida para além do vitalismo e do mecanicismo como uma forma de vida que Deus conservou no Mundo caído, dirigindo-a para a renovação por meio de Cristo”, o que mostra no pensador alemão um certo panteísmo como unidade de Deus e do Mundo, o qual será o quê? Obra do “big bang” ou do divino? Para Bohnhoffer como para Ratzinger a “razão é ela própria uma forma de vida querida e conservada por Deus”. A razão no pior e no melhor sentido, acrescento eu, razão do nazismo ou jihadismo ou da Madre Teresa, cujo milagre é a sua própria vida a favor dos mais pobres dos pobres.

Deus é pois produto da razão, uma invenção do espírito humano como também se deduz da “História Geral de Deus” de Gerald Messadié.

Diário de uns Ateus – As posições dos ateus não são dogmáticas. Cada ateu tem o seu ponto de vista.