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Categoria: Ateísmo

22 de Fevereiro, 2018 Carlos Esperança

A Inclemência do Clemente

Por
ONOFRE VARELA (in Gazeta Ateísta)
A INCLEMÊNCIA DO CLEMENTE.

O senhor Clemente, titular do cargo de cardeal patriarca na Igreja Católica, sugeriu que os casais católicos com união matrimonial celebrada na Igreja e depois divorciados, se quisessem casar novamente pela Igreja não deveriam ter relações sexuais. Quer isto dizer que homem e mulher recasar-se-iam com as competências de casal reduzidas. Apenas fariam refeições conjuntas e assistiriam às missinhas de mãos dadas. Na cama, dormiriam em leitos separados ou de costas voltadas, e… provavelmente… cada qual procuraria, fora do casamento, parceiro para satisfazer as suas necessidades sexuais!

Esta atitude cardinalícia não mereceria mais do que o entendimento da anedota que é, se não configurasse outra coisa mais grave, que é a Igreja meter o nariz no sexo dos crentes.

A Igreja Católica, milenarmente fornicadora das mulheres dos outros, tem, perante o sexo, uma atitude de inimizade mortal. Incapaz de usar da Humanidade que hipocritamente apregoa, a Igreja não entende o sexo como coisa natural, porque para ela nada é natural. Tudo é obra de um deus inexistente e a Igreja será o fiscal das leis que ela própria dita, apregoando-as como sendo sagradas e indicadas por um tal espírito santo travestido de pombinha, que a Igreja também inventou (e que não é banqueiro), atribuindo-lhe a confirmação da legislação que os cardeais decretam e fazem circular como tendo sido recebidas do tal inexistente deus que não passa de um conceito inventado pelo Homem do Paleolítico.

Se esta bodega não passasse de um conto da carochinha, tudo estaria bem… mas apregoar estas atoardas como sendo uma vontade divina, para que todos cumpram sem pestanejar nem pensar, pode, no extremo, configurar atitude criminosa (assim actuam, contra a mulher, os malfeitores do Islão extremista). O sexo é o grande pecado que diabolizou a mulher, e os sacerdotes que aferem a sugestão do cardeal, serão os continuadores dessa atitude de entender o sexo como “pecado”, esquecendo a importância que ele tem na Natureza e nas relações humanas. O sexo, para além de reprodutor da vida, no Ser Humano tem outras funções igualmente importantes. É um indutor de calma, e um destruidor de stresse e carregador de energias. Uma vida saudável conta com actividade sexual regular sem intuito de procriar, mas apenas pelo prazer que a relação sexual dá. Este prazer é o maior pecado para a Igreja que impede os seus sacerdotes de o usufruir com legalidade eclesiástica. A Igreja considera a prática sexual como diabólica e que, por isso mesmo, todos nós nascemos com um défice de confiança perante o deus, pelo que estamos obrigados a conquistar as graças divinas assistindo às missas, para limparmos a nódoa com que os nossos pais nos conspurcaram pelo facto de nos terem concebido através da cópula!… Esta ideia é de uma idiotice chapada! Só um sádico imbecil é capaz de a afirmar… e o senhor Clemente anda a precisar de experimentar deitar-se com uma mulher que ame, e que por ela seja amado.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

9 de Fevereiro, 2018 Carlos Esperança

AAP na Comunicação social

“O Sr. Manuel Clemente é veículo litúrgico em rota de colisão com a vida”

 Em declarações ao Notícias ao Minuto, Carlos Esperança, presidente da Associação Ateísta Portuguesa (AAP), comentou o documento publicado por D. Manuel Clemente em que é referido que os casais recém-casados, após um divórcio, deve optar pela abstinência sexual.

Notícias ao Minuto

POR INÊS ANDRÉ DE FIGUEIREDO

PAÍS

CARLOS ESPERANÇA

D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa, defendeu que casais que se encontram “em situação irregular”, isto é, que se voltaram a casar após um divórcio, devem ter uma “vida em continência na nova relação”.

Em reação a tais palavras proferidas num documento divulgado na quinta-feira pelo jornal Público, Carlos Esperança, presidente da Associação Ateísta Portuguesa (AAP), deixa duras críticas ao bispo da diocese de Lisboa, ressalvando que este “não é seguramente tão dotado quanto os seus antecessores” e recordando que para haver posições tão reacionárias é necessário “recuar ao cardeal Cerejeira”.

“A recomendação, expressa num documento canónico, é um paradoxo na Igreja que atribui ao casamento, como função primordial, a prossecução da espécie. E não se vê, sem inseminação artificial, prática que abomina, como é possível a reprodução enjeitando o método tradicional e o mais popular”, começa por explicar Carlos Esperança ao Notícias ao Minuto.

O presidente da AAP vai mais longe: “se o ilustre purpurado tivesse amado uma só vez, o que não me atrevo a admitir, talvez fosse mais compreensivo com a prática que execra e, quem sabe, em vez de a condenar, a praticasse”.

E é (também) metaforicamente que Carlos Esperança reage à defesa de D. Manuel Clemente. “Um casamento sem relações sexuais é como o voo de um crocodilo, que, se acaso voa, voa muito baixinho”. “O Sr. Manuel Clemente, perdoe-me Eminência, não passa de um veículo litúrgico em rota de colisão com a vida. Pode ser uma glória para a Igreja, mas é uma nódoa no prémio Pessoa”, atira Carlos Esperança. “Fazia-lhe bem um orgasmo”, insinua, em jeito de ironia.

Além do documento que foi alvo de muitas críticas, o ateu garante ainda que lhe são “indiferentes os sacramentos que a Igreja católica reserva aos crentes ou ao seu rateio”, mas assegura que não é “alheio à hipocrisia de quem liderou os interesses eclesiásticos na chantagem ao Governo, na defesa de subsídios públicos para as escolas privadas”.

“O purpurado a quem o Presidente da República em volúpia beija o anelão, sem respeito pelas funções que exerce, pôs o país a rir. Foi talvez a única coisa boa que já fez, capaz de unir ateus e crentes, agnósticos e devotos da concorrência, céticos e ingénuos, num festival de riso”, critica.

Esta quinta-feira, saliente-ss, o padre Mário Pais Oliveira já havia falado sobre o tema ao Notícias ao Minuto, assegurando que “tanto disparate não merece comentário”. 

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2 de Fevereiro, 2018 Carlos Esperança

Einstein era ateu

Carta de Einstein

O que se segue traduz o pensamento de Einstein sobre Deus, Religião e Judaísmo, em 1954, um ano antes da sua morte.

É a tradução para inglês, feita por Joan Stambaugh, do original alemão de parte de uma carta que Albert Einstein escreveu de Princeton, em janeiro de 1954, ao filósofo alemão Eric B. Gutking, a propósito do livro Choose Life: The Biblical Call to Revolt que este filósofo havia publicado em 1952. O manuscrito foi posto a leilão pela firma Bloomsbury de Londres por £8000, tendo sido vendido por £170000!!!, em 15 de maio de 2008.  

«… I read a great deal in the last days of your book, and thank you very much for sending it to me. What especially struck me about it was this. With regard to the factual attitude to life and to the human community we have a great deal in common.

The word God is for me nothing more than the expression and product of human weaknesses, the Bible a collection of honourable, but still primitive legends which are nevertheless pretty childish. No interpretation no matter how subtle can (for me) change this. These subtilised interpretations are highly manifold according to their nature and have almost nothing to do with the original text. For me the Jewish religion like all other religions is an incarnation of the most childish superstitions. And the Jewish people to whom I gladly belong and with whose mentality I have a deep affinity have no different quality for me than all other people. As far as my experience goes, they are also no better than other human groups, although they are protected from the worst cancers by a lack of power. Otherwise I cannot see anything ‘chosen’ about them.

In general I find it painful that you claim a privileged position and try to defend it by two walls of pride, an external one as a man and an internal one as a Jew. As a man you claim, so to speak, a dispensation from causality otherwise accepted, as a Jew the priviliege of monotheism. But a limited causality is no longer a causality at all, as our wonderful Spinoza recognized with all incision, probably as the first one. And the animistic interpretations of the religions of nature are in principle not annulled by monopolization. With such walls we can only attain a certain self-deception, but our moral efforts are not furthered by them. On the contrary.

Now that I have quite openly stated our differences in intellectual convictions it is still clear to me that we are quite close to each other in essential things, ie in our evaluations of human behaviour. What separates us are only intellectual ‘props’ and ‘rationalisation’ in Freud’s language. Therefore, I think that we would understand each other quite well if we talked about concrete things. With friendly thanks and best wishes

Yours, A. Einstein»

 

D1A – Depois disto, julgo que não ficam dúvidas sobre o que Einstein pensava, que é muito diferente daquilo que muita gente gostava que ele tivesse pensado.

20 de Janeiro, 2018 Carlos Esperança

Toddy e Deus

Por

Onofre Varela

(in Gazeta Ateísta)

Frases afirmativas da existência de Deus são muitas vezes proferidas a propósito e a despropósito de tudo e de nada. “Deus é pai”, “Deus é amor” e “Deus é criador”, são três dessas frases do marketing religioso.

São afirmações que me fazem lembrar um anúncio radiofónico que esteve em voga quando eu era moço, propagando as virtudes de um pó achocolatado para misturar no leite. Produto americano de grande consumo na época, a sua mensagem afirmava categoricamente: “Toddy contém, porque contém mesmo!”

Ora… dizer isto, ou estar calado é, em termos informativos, rigorosamente a mesma coisa. A frase não acrescentava nem retirava nada ao produto que publicitava. Dizia-se que continha, mas não se definia, nem explicava, o respectivo conteúdo… porém, reiterava-se, à laia de explicação, que “contém mesmo” para sublinhar uma verdade: a de conter! Conter o quê?!… Ninguém sabia! “Contém porque contém mesmo”, é uma crença e não uma explicação. Não explicando coisa alguma, a mensagem Toddy conseguia gravar na mente dos consumidores a ideia de que aquilo haveria de conter algo de positivo que se reflectiria na boa saúde de quem bebesse aquela coisa misturada no leite.

Na verdade o poder nutritivo do produto estava no leite (que o consumidor já possuía independentemente do Toddy) e não no pó. Este servia para alterar a cor e o paladar do leite e funcionava ao nível da crença. “Contém porque contém mesmo” é uma afirmação tão redentora como aquela de Deus ser pai, amor e criador. Em religião as afirmações são feitas na base do sim porque sim, do não porque não e do é porque é (contém porque contém) e funcionam com a mesma eficácia do marketing Toddy. O que colhe resultados é a crença nas virtudes do pó (e na existência de Deus), e não o pó propriamente dito (nem Deus) que ninguém sabe de onde provém (e que não existe fora da cabeça do crente). O desconhecimento da origem do pó é, no fundo, o enigma, o dogma que alimenta a crença fazendo-a perdurar no tempo, e só encanta enquanto não se dissolve o mistério, mostrando que o pó nutritivo não é mais do que cacau… e então perde metade do interesse! Tal como perde o encanto e deixa de ter significado a magia do aparecimento da pomba, quando se conhece o truque do ilusionista.

É assim que Deus-Toddy vende a ideia do seu pó redentor e dulcificado a ser consumido em doses místicas de missas dissolvidas em orações…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

12 de Janeiro, 2018 Carlos Esperança

Gazeta Ateísta – A Igreja, o Papa e o meu Avô

Por

Onofre Varela

A Igreja Católica é uma monarquia absolutista de origem divina, com um soberano que detém o título de Papa. O termo designa “pai”.

O pai, numa sociedade patriarcal como a nossa, é a autoridade da família, e o Papa é a autoridade da Igreja Católica, a quem os crentes devem mais do que “respeitinho” e vassalagem; também lhe devem adoração e por isso lhe beijam o anel.

A Igreja é uma empresa multinacional que fabrica e comercializa fé, produto de grande consumo só comparável à Coca-Cola, ao
McDonald e aos Donuts… todos juntos. Mas não é uma multinacional qualquer! Comprova-o o Catecismo da Igreja Católica de 1992 (presumo que ainda está em uso e sem alteração) que reitera a sua doutrina de que “só a Igreja detém toda a verdade, porque a recebeu íntegra, por revelação directa de Deus, e transmite-a na sua pureza original”.

Ora, sendo Deus um conceito criado pelo Homem da Idade do Ferro, temos, na Igreja (Católica ou qualquer outra), um agente de contrafacção. Um explorador de fé e comerciante de um plágio, do qual se afirma detentor dos direitos de autor.

E mais afirma a Igreja, na Constituição Dogmática Dei verbum, do Concílio Vaticano
II: “A verdade de Deus é a sua sabedoria que rege toda a ordem do mundo […]
Deus único, criador do céu e da terra […] é o único que pode dar conhecimento verdadeiro de todas as coisas criadas pela relação
com Ele […]” cuja verdade se encontra na Bíblia como obra de Deus, pois “a revelação que a Sagrada Escritura contém foi escrita por inspiração do Espírito Santo”.

Esta mitologia católica que é apregoada como “verdade histórica”, vende como pão quente, e os crentes acreditam… porque é esse o papel dos crentes… porém, a fornada saiu queimada!… Esse pão está intragável!…

Quem consome deste pão convencido de que é um bom alimento, vai morrer à mingua de sabedoria, pensando que morre sábio! Do mal o menos para o próprio, que nunca soube que não sabia… mas quem por cá fica, alimentando-se do mesmo pão queimado, sem saber o que é a verdadeira qualidade do pão bem temperado, bem levedado e cozido, e do saber verdadeiro alicerçado em ciência, é um ser humano com um índice de qualidade racional… a que nível?!…

Aqui o leitor pergunta: E o que é que tem o teu avô a ver com tudo isso, porra?!…
E eu respondo. O meu avô era um excelente padeiro, tal como o Papa actual é um excelente ser humano. Mas não produzia, só, fornadas impecáveis. Uma vez por outra também deixava queimar a fornada e obrigava-se a deitar fora o pão sem qualidade.

A Igreja (todos os cultos religiosos) está precisada de fazer o mesmo. Não venda pão espiritual mal fabricado, e o crente não adore o Papa (ou bispos de outros credos, ou treinadores de outros futebóis), porque o Papa é um homem como eu, como você e como o meu avô… que era um excelente padeiro…
mas às vezes deixava queimar a fornada!…
(O autor escreve sem obedecer ao último Acordo Ortográfico)

18 de Dezembro, 2017 Carlos Esperança

Graças a Deus

Por

Onofre Varela

(Gazeta Ateísta)

As frases “Graças a Deus” e “se Deus quiser” são usadas pelos religiosos no sentido do agradecimento e do desejo de que tudo corra bem.

Os extremistas islâmicos também as usam no sentido de que tudo lhes corra bem na eliminação de vidas nos seus atentados criminosos. Deus é pau para toda a obra, e acaba por ser como a nódoa… que no bom pano cai!

Para os crentes, Deus representa tudo quanto de bom se possa imaginar, mais a fé e a esperança de que tudo corra conforme os seus desejos. Não conhecendo realmente o que é nem como é Deus, o crente teme-o e adora-o concomitantemente. Assim, a palavra “Deus” acaba por ser um código para referir o objecto sagrado da sua adoração.

Se o crente, em vez da palavra “Deus”, adoptasse qualquer outro termo… por exemplo, “Birobé”, em vez de dar “graças a Deus”, dava “graças a Birobé”! Birobé seria o cerne, o autor, o veio-rotor, de todas as coisas. Birobé passava a ser o criador e o dono do seu destino. Seria a explicação para tudo quanto você desconhece, e o guardião da fonte de todos os seus desejos.

Birobé é, a partir de agora, o dono da sua alma. E só por vontade de Birobé você acorda todas as manhãs para enfrentar o dia que tem à sua frente para viver, e vive-o graças a Birobé. Birobé é a explicação para tudo quanto você desconhece e quer ver explicado. Mesmo que aquilo que você não conhece seja sobejamente conhecido por todos, menos por si, é Birobé que preenche o enorme buraco do seu desconhecimento. E continuando você a desconhecer a verdadeira essência da coisa, você crê conhecê-la porque você “sabe” que a coisa… é Birobé!

Quando você procura uma explicação, não consulta uma enciclopédia; recorre a Birobé. Birobé tudo sabe, é Grande e o seu Poder é indesmentível. Com Birobé, tudo. Sem Birobé, nada. Birobé é aquele que você designa com letra maiúscula, que crê Omnipotente, Omnisciente e Omnipresente, que tudo vê, sabe e domina. Birobé é O princípio, O meio e O fim. É Ele que lhe ilumina o caminho e você deve-Lhe incondicional adoração.

Acha ridículo dar graças a Birobé?…

Tem toda a razão. É tão ridículo como dar graças a Deus!…

15 de Dezembro, 2017 Carlos Esperança

DEUS E A DESGRAÇA

Por

ONOFRE VARELA in Gazeta de Paços de Ferreira

Em 1998 a América Central foi palco de uma desgraça que mobilizou o mundo numa onda solidária perante a destruição que o furacão Mitch causou na Nicarágua, provocando 20.000 mortos, 11.000 feridos e três milhões de desalojados. A solidariedade do sacerdote Santiago Martin manifestou-se num texto que ele publicou no semanário madrileno ABC, sob o título genérico Crónicas desde la Fé. Na linha da ideia de Deus ser sinónimo de tudo quanto é bom, escreveu, subordinado ao título “Deus é amor”, um texto que começava assim: “Aqui, nestas três palavras, nesta breve frase, se encerra e condensa o essencial da nossa fé. Deus existe e é amor. Deus existe e quer-te, a ti, pequeno ser humano, vítima de tantas precariedades e de tanta dor. Deus não te abandona nunca, ainda que os teus mais próximos o façam. E a prova principal dessa felicidade e desse amor divino é a encarnação do filho de Deus, sua morte na cruz e a ressurreição gloriosa”.

Que dizer deste naco de prosa? Este discurso, proferido por um louco na paisagem desoladora da Nicarágua após a passagem do furacão, não passaria disso mesmo: do discurso de um louco!… Onde estava Deus com o seu carregamento de amor e de bondade, no momento em que o furacão varreu a Nicarágua? Aos crentes foi ensinado que Deus comanda as forças da Natureza (e também por cá, há poucos dias, se rezou para que chovesse!), e a própria Igreja o reafirmou pela boca do arcebispo de Caracas, Ignacio Velasco, quando trágicas inundações enlutaram a Venezuela em Dezembro de 1999, causando 15.000 mortos. O arcebispo afirmou que “a tragédia que assola e enluta a Venezuela e os seus habitantes, é devida à ira de Deus que quer castigar a soberba do presidente Chávez”. (El País, 20/12/1999). Religião, loucura e ódio misturam-se nestes discursos que parece serem habituais na América Latina, onde a esmagadora maioria do povo é fanaticamente religiosa, e onde a Igreja Católica conta a maioria dos seus crentes.

Quando a Igreja diz que Deus é amor, talvez conviesse especificar que raio de amor quer ela referir. Deus surge a distribuir o seu amor do mesmo modo como os bombeiros o fazem, sempre depois de ocorrida a desgraça? Deus é um enfermeiro que coloca pensos nos espíritos feridos? Convenhamos que é pouco para um deus, tal como o pintam as religiões! Deus dá-me amor e quer-me?!… Quer-me como? Quer-me bem, segundo o humano conceito do que é estar-se bem, fruindo de uma vida consideravelmente feliz… ou quer-me morto, segundo o conceito católico da “bem-aventurança-além-túmulo”?

Como é que se pode explicar às vítimas do furacão Mitch (ou de qualquer outro cataclismo) que tudo aquilo aconteceu por um acto de amor de Deus que tanto nos quer, e que naquele dia, ao que parece, estava um mãos-largas?!…

16 de Novembro, 2017 Carlos Esperança

A alma, essa desconhecida

A alma é um furúnculo etéreo que infeta o corpo dos crentes. É um vírus que sobrevive à morte do hospedeiro e migra para a morada perpétua que os clérigos lhe destinam.

A alma é um bem mobiliário sujeito a imposto canónico e que, à semelhança das ações de empresas, hoje também desmaterializadas, exige taxa de ‘gestão da carteira celestial’.

No mercado mobiliário as ações são transmissíveis e negociáveis. Representam avos do capital social das empresas. A sua clonagem é criminosa e leva o autor à prisão, exceto quando o Vaticano está envolvido e nega a sua extradição, como sucedeu ao arcebispo Marcinkus, que JP2 protegeu, após a falência fraudulenta do Banco Ambrosiano.

Quanto à alma, há suspeitas de haver um número ilimitado em armazém, o que exaspera os clérigos, intermediários do negócio, com o planeamento familiar. Não se sabe bem se a alma vai no sémen, está no óvulo ou surge depois da cópula, um ato indecente para tão precioso e imaculado bem.

Os almófilos andam de joelhos e põem-se de rastos sem saber se a alma se esconde nas mitocôndrias, nas membranas celulares, no retículo endoplasmático ou no núcleo e nos cromossomas, sem nunca admitirem que seja o produto de reações enzimáticas.

Ignoram se já tem algum valor no ovo, no embrião em fase de mórula ou no blastocito. Juram que aparece no princípio, sem saberem bem quando e onde está o alfa, ou quando surge Deus a espreitar pelo buraco da fechadura e a lançar aos fluidos a alma que escapa ao entusiasmo de quem ama.

Após o aparecimento dos rudimentos da crista neural, só às 12 semanas o processo de gestação dá origem ao feto e falta provar que a alma, embora medíocre, se encontra nos anencéfalos, ou seja de qualidade a que resulta de violação ou incesto.

A alma é um produto da religião destilado por sacerdotes no alambique da fé, através de um processo alquímico.

13 de Novembro, 2017 Carlos Esperança

As crenças e os crentes

Quem acreditou que o Sol girava à volta da Terra não foi, por isso, malfeitor. A ignorância da física quântica ou da energia atómica não torna ninguém indigno ou mau.

Quem crê que a Virgem Maria saltitou de azinheira em azinheira à procura da Lúcia ou que a beata Alexandrina de Balazar passou anos sem comer nem beber, em anúria, e a alimentar-se de hóstias consagradas, não comete um crime.

Quem reza ao franquista Escrivá de Blaguer, convicto de que o fascista se tornou santo com três milagres obrados em defunção, e lhe implora outro, não é delinquente.

Entendamo-nos de uma vez por todas. Os crentes são pessoas iguais aos ateus. O direito a acreditar na virgindade de Maria ou na virtude da bruxa da Lousã é um direito que os ateus defendem. Não significa que a bruxa não deva responder por burla e Fátima denunciada a uma associação de defesa dos direitos dos consumidores.

O que urge denunciar nas religiões ou no ateísmo, se for caso disso, é a publicidade enganosa, a coação psicológica, os terrores que infundem, os ódios que acicatam, as guerras que fomentam. Nenhum ateu persegue os crentes, apenas combate o que julga ser mentira.

A minha posição para com os crentes é a mesma que tenho para com os drogados. Tolerante com estes e vigoroso contra quem produz e trafica a droga.

As hóstias que cada um deglute, as missas que consome, os terços que reza, as ladainhas que debita, o incenso que aspira ou a água benta com que se borrifa, são direitos que os países livres consagram e defendem. E defendem ainda o direito de mudar de religião e o de abdicar de qualquer uma.

As Igrejas não podem nem devem, na minha opinião, servir-se do aparelho de Estado, ameaçar, perseguir ou perturbar a opinião pública no seu proselitismo. E, naturalmente, têm o direito de combater o ateísmo, pela palavra, o mesmo que assiste aos ateus para desmascarar a burla religiosa.

É do confronto dialético de posições divergentes que nasce a luz, não é da palavra de Deus bolsada pela voz de clérigos ou vertida na violência dos livros sagrados.

9 de Novembro, 2017 Carlos Esperança

A Estónia e a religião

«Igreja ortodoxa localizada na Cidade Velha em Tallinn. Ela foi construída em 1894, como influência do Império Russo.

De acordo com a mais recente pesquisa de opinião pública do Eurostat, em 2005, apenas 16% dos cidadãos estonianos responderam que “Acreditam que exista um Deus”, enquanto que 54% responderam que “Acreditam que exista algum tipo de espírito ou força vital” e 26% que “Não acreditam que exista qualquer tipo de espírito, Deus, ou força vital”.

Isto, segundo a pesquisa, faria dos estonianos o povo menos religioso de entre os então 25 membros da União Europeia. Historicamente, contudo, a Estónia foi um baluarte do Luteranismo devido a sua forte ligação com os países nórdicos. Durante o período de russificação, muitos camponeses foram convertidos à Igreja Ortodoxa, mas poucos permaneceram após a queda dos czares em 1917 e a lei de liberdade religiosa de 1920.

Uma pesquisa do Instituto Gallup, de 2009, indica que os estonianos são o povo menos religioso do mundo. Apenas 16% da população considera que a religião desempenha um papel importante em suas vidas.»

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