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Categoria: Ateísmo

12 de Junho, 2018 Carlos Esperança

A vida, a morte, a ressurreição e o sermão ímpio

Uma velha história pia recreada com um tique jacobino e um toque de humor.

Na sexta-feira, adjetivada de santa, a cristandade chora a morte matada de Jesus Cristo (JC), judeu usado por Paulo de Tarso na cisão com o judaísmo, e às 00H00 de domingo há euforia com a ressurreição, todos os anos repetida. Nos três dias de luto, nunca três dias tiveram tão poucas horas, põem de lado a carne, sobretudo de porco e, presume-se, também aquela que dá origem ao pecado da luxúria.

JC, antes de proceder à sua ressurreição e de ter subido ao Céu com os órgãos intactos, incluindo o santo prepúcio que, só em Itália, chegou a gozar o ouro de igual número de relicários, antes de um papa acabar com as peregrinações e a disputa sobre o verdadeiro, com a alegação de que a subida ao Céu não podia deixar resíduos, JC já tinha treinado o truque da ressurreição num pobre diabo, que referirei adiante, onde se iniciou no truque.

Sabe-se que JC morreu no Gólgota onde o dedicado Cireneu o ajudou a arrastar a cruz e, embora com algumas discrepâncias, o Novo Testamento encarregou-se da narrativa da morte, da ressurreição e das conversas com pessoas das suas relações antes de subir ao Céu. Sabe-se que deu nas vistas nos últimos três anos de vida, em que se dedicou aos milagres e à pregação, atividades frequentes para quem fugia do setor primário. Um dos milagres, quiçá o que lhe valeu a divindade, milagre só repetido para si próprio, foi o da ressurreição de Lázaro. Hoje os milagres são pífios e basta a cura da queimadela de um olho com óleo de fritar peixe, suprindo o colírio, para canonizar um bem-aventurado.

A homilia da ressurreição de Lázaro é, ainda hoje, um comovente exercício da divina omnipotência. Era este sermão que cabia fazer ao pároco de uma aldeia da Beira, num qualquer domingo depois do Pentecostes, quando ficou afónico. Não se atrapalhou o padre e ordenou ao sacristão, inexperiente na parenética, que fosse ele, a substituí-lo.

Depois das peripécias da recusa, que por economia dispenso de referir, o padre garantiu estar a seu lado para emendar algum erro improvável a quem sabia de cor o sermão que tinha ouvido dezenas de vezes. E assim fez.

Tal como combinado, o sacristão advertiu os paroquianos de que ia dizer o sermão pelas razões conhecidas, e começou:

– Queridos irmãos, naquele tempo estava Jesus e alguns apóstolos, com a mesa e a mala, a fazer milagres à beira do Lago de Genesaré, hoje chamado de Tiberíades, e veio junto dele um coxo e disse: «Senhor, curai-me» e o Senhor curou-o; veio depois um cego com igual pedido e o Senhor curou-o; e fez o mesmo com sifilíticos, leprosos e paralíticos. Já Jesus tinha arrumado a mala e ainda vieram junto dele as irmãs de Lázaro, chorosas, e lhe disseram: «Senhor, o nosso irmão morreu; Senhor, valei-nos». O Senhor disse-lhes: ide e orai, e elas assim fizeram.

– O Senhor foi junto da campa de Lázaro e ordenou-lhe: Lázaro, levanta-te e anda. E ele andeu…

-…«andou, estúpido!» balbuciou-lhe do lado o padre, afónico. E o sacristão continuou…

– …andou estúpido algum tempo, e depois curou-se.

11 de Junho, 2018 Carlos Esperança

Gazeta Ateísta

Por

ONOFRE VARELA

“Igrejas para Ateus”

Recentemente fui surpreendido com este título de notícia num jornal virtual. Não se trata de associações de ateus, mas sim de igrejas no sentido de templos de fé deística, mas sem o deus dos outros, o que daria ao Ateísmo o estatuto de religião (não me vou alongar agora com a origem do termo “religião” e a sua significação. Para aqui interessa o sentido que tem de fé num deus). No meu entender o Ateísmo será religião quando um sindicato operário for uma associação patronal.

No caso que comento, a notícia começa por dizer: “O declínio constante da Religião no mundo ocidental está actualmente a rever-se no crescimento das chamadas igrejas ateístas”, e refere que, de acordo com o Pew Research Center, os religiosamente não filiados são agora o segundo grupo religioso na América do Norte e na maior parte da Europa.

O professor Stephen Bullivant, da St Mary’s University de Londres, descobriu que mais de metade da população do Reino Unido não se identifica como sendo religiosa, característica que se tem vindo a acentuar desde há 50 anos, e que “ao mesmo tempo tem havido um crescimento do número de igrejas ateístas que visam reproduzir grande parte da atmosfera do serviço da igreja, mas sem religião”. Ora… isto parece-me uma espécie de Metadona para os drogados que se querem ver livres da droga! Pode enquadrar-se no espírito de alguns daqueles que se transformaram em ateus depois de terem passado por qualquer fé religiosa, mas não nos outros, como eu, que nunca entraram numa igreja com sentimento de fé e, por isso, não têm necessidade de um período de desmame, que seria a tarefa a desempenhar pelas “igrejas ateístas”.

No final da notícia dá-se conta da igreja ateísta mais difundida, como sendo a Sunday Assembly, sob o lema “Viva melhor – Ajude com frequência – Admire-se mais” que foi criada em Londres no ano de 2013 pelos comediantes Sanderson Jones e Pippa Evans. Ah!… Assim já se percebe!… É comédia!… Pois então viva a comédia. Eu também gosto de rir, e rio muito.

Em conclusão a notícia diz que a maior parte das pessoas que frequentam estas igrejas ateístas sente uma “maior satisfação com a vida” graças ao poder da participação fortemente estimulada durante as reuniões.

Dentro da Sunday Assembly há quem defenda que nunca se deveria designar aquela instituição, e outras do mesmo género, como “Igreja Ateísta”. Neste entendimento, o filósofo Alain De Botton defende o nome “Humanismo Cultural”, sem qualquer conotação a modelos de religiões deístas, que o Ateísmo, obviamente, não tem. Ora aqui está alguém com cabecinha pensadora!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

29 de Maio, 2018 Carlos Esperança

Gazeta Ateísta — Fábrica de santos

Fábricas de santos

Por

Onofre Varela

Vimos no último artigo que a Igreja Católica mantém um departamento para fabricar santos, com laboração muito produtiva. Mas nesta treta das canonizações nem só o Vaticano labora. A Igreja Ortodoxa Russa, também. E esta foi mais longe. Ao saber que a Igreja Católica tem na calha, há imenso tempo, a ideia de canonizar o arquitecto Antoni Gaudi, autor da magnífica obra que é a igreja da Sagrada Família, em Barcelona (e que morreu atropelado por um carro eléctrico no dia 10 de Junho de 1926), a Rússia canonizará um czar: Nicolau II será São Nicolau, o portador da Paz. Mas não só ele. Toda a família (mulher e cinco filhos) está proposta para a canonização ortodoxa, não por produzirem milagres, nem por terem levado uma vida exemplar na distribuição do bem, mas sim por terem sido fuzilados pelos revoltosos bolcheviques – fraccionários do Partido Social Democrata Russo – na cave de um prédio na madrugada do dia 17 de Julho de 1917.

Recorde-se este facto histórico: O czar Nicolau II foi quem permitiu a existência faustosa do tenebroso Rasputine, alegadamente por lhe ter salvo um filho, e também foi o responsável pelo tristemente célebre Domingo Sangrento, de 9 de Janeiro de 1905, quando as tropas abriram fogo contra a marcha pacífica de 140.000 trabalhadores. Enquanto foi czar, Nicolau II fechou os olhos, os ouvidos, e encolheu os ombros, perante a profunda miséria em que vivia o povo russo, ao mesmo tempo que se convencia de ser adorado pelo mesmo povo que oprimia. Daí as execuções.

Com santos desta estirpe não tarda que se canonize, via Roma ou Moscovo, Estaline, Franco, Hitler, Mussolini, talvez Pinochet pela sua profunda catolicidade… e, quiçá, Salazar!… Sobra um problema. A nomenclatura dos santinhos já conta com um São Nicolau. O São Nicolau de Mira, dito Taumaturgo, também apelidado de São Nicolau de Bari, Itália, onde estão sepultados os seus ossos. É o santo padroeiro da Rússia, da Grécia e da Noruega, e na Arménia acumula a função de patrono dos guardas nocturnos. Nicolau era um bispo tão caridoso que ficou conhecido pela sua afinidade com as crianças. Por isso mesmo todo o mundo o conhece por Pai Natal. Para evitar confusões, o czar russo, ao ser canonizado, terá de conservar o seu número de série… São Nicolau II.

O tom brincalhão com que refiro a produção de santos, é o único modo que me parece adequado para

aludir essa prática medieval no século XXI. É impossível tomar-se a sério essa preocupação eclesiástica, e

não me venham dizer que estou a desrespeitar as ideias beatas… o que acontece, é que a actividade de

produzir santos desrespeita a minha inteligência, e é intelectualmente desonesta. Se a “qualidade de santo”

fosse conferida de modo semelhante àquele com que se atribui o título de herói a um soldado na guerra e a

um bombeiro que salvou vidas, ou da maneira como se afere a excelência de um futebolista fora de série,

um cantor, cineasta ou actor… com provas dadas e reconhecidas pelas autoridades especialistas em cada

uma das áreas, percebia-se o porquê da homenagem. Mas escolher os santinhos de acordo com os milagres

produzidos por Deus, intermediados por aquela figura morta e ressequida, e aferidos pela paranóia

eclesiástica… é demasiada brincadeira para constituir assunto sério. O processo das canonizações acaba

por nos afirmar que lá, no inexistente céu, também têm lugar as tão humanas cunhas, e os santos acabam

por fazer o papel de parasitas intermediários perante a divindade!… Isto não é ridículo?…

Onofre Varela

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

26 de Maio, 2018 Carlos Esperança

A fé esclarecida e o ateísmo ignorante

«Não existem apenas fundamentalistas religiosos. Também existem fundamentalistas ateus e sem religião. Também existem ateus sem religião que combatem o fundamentalismo de um ateísmo ignorante». Frei Bento Domingues, Público (LIDO – DN, 09-01-2005)

(Encontrei esta referência no meu computador)

Ateus sem religião deve ser o oposto de crentes com religião. Os crentes sem religião são supersticiosos não filiados.

Os ateus não têm livros sagrados nem são incitados a combater os fiéis. Ao contrário dos crentes, não têm o Paraíso à espera. Não os aguardam setenta virgens nem rios de mel em recompensa de atos terroristas; não ascendem aos Céus por participarem em cruzadas; não comprazem Deus a carrear lenha para queimar hereges.

É verdade que os ateus se livram do Purgatório, sítio mal frequentado, com aposentos despojados de quaisquer eletrodomésticos, sem divertimentos nem conforto, donde se sai à custa de missas de quem tem cabedais e devoção para as mandar rezar.

Também o Inferno é reservado aos crentes que discordam da teologia do látex, comem carne de porco à sexta-feira, faltam à santa missa e amam sem intuitos exclusivamente reprodutivos.

O ateísmo pode ser ignorante, ao contrário da fé. Fr. Bento não conhece os ateus e tem-nos em má conta. Mas pensar que a fé é esclarecida e que a devoção não é ignara, é miopia ou necessidade de preservar o futuro da ICAR, os seus ativos financeiros e o fausto do clero romano.

17 de Maio, 2018 Carlos Esperança

Humor – Um texto que circula pela NET

O INFERNO CIENTIFICAMENTE EXPLICADO

O Inferno, explicado por um estudante de Engenharia

O que se segue é (alegadamente) uma pergunta que saiu num exame de um curso de Engenharia numa universidade americana. A resposta de certo estudante foi tão criativa que o professor a partilhou por e-mail com vários colegas.

— Pergunta: O Inferno é exotérmico (liberta calor) ou endotérmico (absorve calor)?

A maioria dos alunos respondeu baseando as suas opiniões na lei de Boyle (o gás arrefece quando se expande e aquece quando é comprimido), ou nalguma variante disso. Houve um aluno que, no entanto, deu a resposta que se segue.

“Primeiro, precisamos de saber como a massa do Inferno está a variar com o tempo. Portanto, precisamos de saber a taxa a que as almas se estão a mover para o Inferno e a taxa a que o estão a deixar. Acho que podemos assumir seguramente que uma vez que uma alma entra no Inferno ela nunca mais de lá sai. Portanto, não há almas a sair. Para verificarmos qual a quantidade de almas que entram no Inferno, vamos olhar para as diferentes religiões que existem no mundo actual. A maioria dessas religiões afirma que quem não é membro dessa religião vai para o Inferno. Como há mais do que uma dessas religiões, e como as pessoas não pertencem a mais do que uma religião, podemos prever que todas as almas vão para o Inferno. Com as taxas de natalidade e mortalidade actuais, podemos esperar que o número de almas no Inferno aumente exponencialmente.

Agora, vamos olhar para a taxa de variação de volume do Inferno, porque a lei de Boyle afirma que, para que a temperatura e a pressão no Inferno se mantenham constantes, o volume do Inferno tem de se expandir proporcionalmente à medida que são adicionadas mais almas. Isto abre duas possibilidades:

1. Se o Inferno se expandir a uma taxa inferior à da taxa a que as almas entram, então a temperatura e a pressão no Inferno vão aumentar até ele explodir.

2. Se o Inferno se expandir a uma taxa superior à do aumento de almas no Inferno, então a temperatura e a pressão irão baixar até que o Inferno congele.

Então, qual das hipóteses é a correcta?

Se aceitarmos a afirmação da Mary no meu ano de caloiro de que “o Inferno vai congelar antes de eu ir para a cama contigo”, e tendo em conta o facto de que eu dormi com ela a noite passada, então a hipótese número 2 deve ser a verdadeira, e portanto tenho a certeza de que o Inferno é exotérmico e já congelou.

O corolário desta teoria é que, uma vez que o Inferno congelou, então já não aceita mais nenhuma alma e está, portanto, extinto, passando a existir apenas o Céu e provando assim a existência de um ser divino, o que explica porque é que ontem à noite a Mary gritava “Oh, meu Deus! Oh, meu Deus!”

Este estudante teve a única nota máxima!

16 de Maio, 2018 Carlos Esperança

Gazeta Ateísta

Por

ONOFRE VARELA

Fazer santos

Das várias actividades a que a Igreja se dedica, destacam-se estas três que me parecem principais: 

1) – Celebrações litúrgicas para prenderem os crentes ao culto carregando-lhes a bateria da fé; 

2) – Acções caritativas e gestão de instituições com subsídios estatais; 

3) – Produção de santinhos e santinhas, com o estatuto de deuses menores,para preencherem os altares das paredes dos templos, tendo por baixo caixinhas de ranhura para colecta, porque a Igreja, enquanto indústria do espiritual, obviamente não se governa sem o material

Vaticano tem um gabinete específico para a criação de santinhos, denominado “Congregação para a Causa dos Santos”, dirigido pelo cardeal Português José Saraiva Martins (Gagos de Jarmelo, Guarda, 1923. Presumo que ainda é vivo, mas não sei se estará no activo, pois os seus 95 anos poderão não lho permitir).

Há 30 anos a Enciclopédia Católica contava cerca de 5.000 santos. No pontificado de João Paulo II foram tantas as nomeações de candidatos aos altares que a lista quadruplicou, e hoje contempla perto de 20.000 nomes.

A abordagem desta tarefa medieval da Igreja fabricar santos no século XXI, só pode ser feita com humor para não afectar a qualidade de raciocínio de quem quer manter a sua sanidade mental!… 

Atribuir a qualidade de santo a um morto não é como medalhaum herói de guerra ou um bombeiro! A coisa fia mais fino, leva imenso tempo e precisa de um certificado de Deus!… Apenas o Santo António foi santificado no tempo recorde de 11 meses e meio, e a Santa Teresa conseguiu-em 28 anos, porque o Papa Pio XII estava muito necessitado de criar santinhos e fez dela a estrela do seu pontificado. Todos os outros cerca de 20.000 nomes levaram imenso tempo para serem santos. 

Os candidatos à santidade precisam de vencer três etapas. A saber:

1 – Veneração. É uma espécie de requisição de paróquia que aponta as qualidades do atleta para trepar a um altar.

2 – BeatificaçãoPrecisa de uma análise profunda para despistar reguilices e falcatruas, exigindo, pelo menos, um milagre comprovado por via das dúvidas.

3 – CanonizaçãoÉ a peneira mais fina que vai analisar a biografia do candidato, seguindo, passo a passo, todos os passos que o morto deu em vida na senda da santidade, e comprovar se Deus operou milagres através daquele intermediário. (Os parasitas intermediários estão em todo o lado!).

Ter o cadáver incorrupto ao fim do tempo regulamentar para levantar a ossada, já não vale como prova de aferição da santidade, porque se sabe que as características químicas do terreno, e a toma de medicamentos, pode preservar o corpo de qualquer patife. Então inventou-se este outro modo de fingir que se atribui seriedade ao acto de fazer santos, sempre de acordo com a vontade dos homens, mas apregoando ser pela vontade de Deus… que também foi inventado pelos homens!…

Onofre Varela

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

7 de Maio, 2018 Carlos Esperança

A Liberdade Religiosa

Considerações, regime e soluções

Todo o homem tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião.

Declaração Universal dos Direitos Humanos

1. Um Mundo Plural

Actualmente, sempre que se fala em liberdade religiosa, somos de imediato remetidos para o desafio de se conviver num mundo plural. Por força da globalização e da maior facilidade de circulação de pessoas, as sociedades são cada vez mais multiculturais, compostas de indivíduos de diferentes origens, religiões, costumes e identidades. É neste contexto que a protecção contra a discriminação, em particular a discriminação directa ou indirecta baseada na religião ou nas convicções, assume um papel de grande relevo: trata-se, reconhecidamente, de um dos principais factores de sustentação e promoção da coesão económica e social, da solidariedade, da livre circulação das pessoas e do aumento do nível e qualidade de vida das populações.

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2 de Maio, 2018 Carlos Esperança

A mentira das religiões

Quando Deus ordenou a Abraão para lhe sacrificar o filho, o estúpido preparava-se para obedecer ao monstro que trazia em si. Valeu a Isaac que o pai, demente e subserviente a Deus, acabou por vê-lo substituído por outro animal que a cegueira mística projetou no altar do sacrifício.

É desse tresloucado que as religiões do livro se reclamam herdeiras, do louco capaz de imolar o filho por uma ilusão, disposto a derramar o sangue do inocente para obedecer à vontade de um patife imaginário.

Foi o Deus que, no Monte Sinai, havia de obrigar Moisés a descalçar-se antes de revelar a sua vontade e lhe ditar o futuro da humanidade, em data cuja falsificação é hoje uma evidência, e sentenças que só os doidos acolheriam. Mas o negócio à volta dos livrinhos sagrados originou falsificações ainda mais toscas e a perpetuação do deus abraâmico.

No fim de cada ano, em Meca, mais de três milhões de intoxicados pelo Corão prestam vassalagem a Maomé, um rude pastor de camelos que acreditava falar com Deus. Ainda hoje há indivíduos assim, desde a liderança de grandes nações até – o mais frequente –, aos serviços de psiquiatria dos hospitais. Têm em comum conversas com o Divino.

Aliás, não é monopólio de uma religião o curto-circuito dos neurónios dos crentes. Uns odeiam o porco porque o profeta, que não era um modelo de asseio, embirrou com o bicho; outros não usam preservativo porque o almocreve de Deus o condena na teologia do látex; muitos fazem jejum; quase todos viajam de joelhos e viram o rabo em sentido contrário ao altar onde presumem um deus que julgam omnipresente.

Os muçulmanos não podem urinar virados para Meca; os católicos não o podem fazer nos bispos; todos temem os padres e receiam duvidar de Deus.

A religião é o pântano da fé onde os homens perdem o senso e ganham medos, onde a razão dá lugar à superstição e a dignidade se esvai de joelhos ou de rastos.