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Categoria: Ateísmo

20 de Junho, 2018 Carlos Esperança

Protetores de almas – cogitações de um ateu

Não sei como se sentem os protetores de embriões, óvulos e células correlativas, quando uma alma por erro de navegação ou capricho da natureza se infiltra num feto estacionado fora do parque, em sítio proibido.

Refiro-me às gravidezes ectópicas. Trata-se de asneira de Deus ou produto do acaso, mas, para quem tudo o que acontece de bom é obra de Deus e o mal fruto do Diabo, deve ser um dilema que perturba o entendimento e consome os neurónios.

Para os pios, a ejaculação é um genocídio e o aborto uma alma que se desperdiça. Só assim se percebe a sanha com que os protetores das almas encaram o sexo e a irritação que lhes causa a reprodução medicamente assistida.

Há neste negócio das almas obscuros interesses e perturbações mentais.

Dos caminhos rurais abalaram as caixas de esmolas das alminhas do Purgatório e, lentamente, vão acabando as missas de sufrágio e os lucrativos trintários, moedas celestes para antecipar a vaga no veículo que liga(va) o Purgatório ao Paraíso.

As almas estão à guarda de Deus, que as manda em correio azul aos espermatozoides capazes de atingir os óvulos. Não sei se envia várias para a hipótese de falharem o alvo ou se apenas uma, para não irritar os padres.

Após a morte, a alma viaja para os destinos do costume: Purgatório, Inferno ou Paraíso, pois o Limbo foi extinto por falta de interesse comercial por Bento 16. Só não percebo a obsessão dos padres com a alma dos que se desinteressam do seu destino e desprezam o Paraíso.

Deve ser a vocação totalitária que os consome.

19 de Junho, 2018 Carlos Esperança

Novo colaborador

Vítor Julião

Dou as boas-vindas ao novo colaborador do Diário de uns Ateus esperando que a entrada de um ateu militante enriqueça este blogue e inverta o declínio a que a longevidade e o cansaço dos velhos colaboradores o estavam a condenar.

15 de Junho, 2018 Carlos Esperança

O comércio das almas

O Paraíso não é um bar de alterne nem um lugar particularmente bem frequentado. A avaliar pelos santos que o defunto JP2 tirou das profundezas do Inferno ou do estágio no Purgatório, há hoje uma multidão de patifes a jogar as cartas com o divino mestre e a servir bebidas ao Padre Eterno. Até o papa Francisco continua a criar santos como os oleiros das Caldas a fazer recordações.

Não sei se é Torquemada que toma conta do armazém das almas de crianças por nascer ou de adultos por batizar, pois sabia-se de ciência certa, com aquela honestidade que se reconhece ao clero, que os não batizados eram destinados ao Limbo, um sítio insípido, sem divertimentos nem crueldades como os que o Deus de Abraão criou como destino dos bem-aventurados ou das almas penadas. No entanto, num ápice, Bento 16 extinguiu o local e não se voltou a falar no destino das almas que ali se tinham amontoado.

No armazém das almas o negócio anda próspero com a explosão demográfica a que se assiste. Mas Deus é um comerciante insatisfeito que quer despachar mais mercadoria.

É por isso que a ICAR é contra o planeamento familiar, a contraceção, o preservativo, a IVG, o DIU e a pílula. No Céu há uma alma para cada espermatozoide e é por isso que tanto o pecado solitário como a ejaculação noturna são uma catástrofe para o negócio.

Os clérigos, encarregados de tratar das almas e olhar pelo negócio, andam estarrecidos com a possibilidade do fim da perseguição criminal ás mulheres que interrompam a gravidez. Na última quarta-feira, na Argentina, o Parlamento votou a legalização da IVG, com os padres a ameaçarem com labaredas as mulheres que comentam tal pecado.

Aliás, para as religiões do livro, a mulher é um ser inferior que deve obediência ao marido e serve apenas para a reprodução e os louvores ao Deus da zona de residência.

12 de Junho, 2018 Carlos Esperança

A vida, a morte, a ressurreição e o sermão ímpio

Uma velha história pia recreada com um tique jacobino e um toque de humor.

Na sexta-feira, adjetivada de santa, a cristandade chora a morte matada de Jesus Cristo (JC), judeu usado por Paulo de Tarso na cisão com o judaísmo, e às 00H00 de domingo há euforia com a ressurreição, todos os anos repetida. Nos três dias de luto, nunca três dias tiveram tão poucas horas, põem de lado a carne, sobretudo de porco e, presume-se, também aquela que dá origem ao pecado da luxúria.

JC, antes de proceder à sua ressurreição e de ter subido ao Céu com os órgãos intactos, incluindo o santo prepúcio que, só em Itália, chegou a gozar o ouro de igual número de relicários, antes de um papa acabar com as peregrinações e a disputa sobre o verdadeiro, com a alegação de que a subida ao Céu não podia deixar resíduos, JC já tinha treinado o truque da ressurreição num pobre diabo, que referirei adiante, onde se iniciou no truque.

Sabe-se que JC morreu no Gólgota onde o dedicado Cireneu o ajudou a arrastar a cruz e, embora com algumas discrepâncias, o Novo Testamento encarregou-se da narrativa da morte, da ressurreição e das conversas com pessoas das suas relações antes de subir ao Céu. Sabe-se que deu nas vistas nos últimos três anos de vida, em que se dedicou aos milagres e à pregação, atividades frequentes para quem fugia do setor primário. Um dos milagres, quiçá o que lhe valeu a divindade, milagre só repetido para si próprio, foi o da ressurreição de Lázaro. Hoje os milagres são pífios e basta a cura da queimadela de um olho com óleo de fritar peixe, suprindo o colírio, para canonizar um bem-aventurado.

A homilia da ressurreição de Lázaro é, ainda hoje, um comovente exercício da divina omnipotência. Era este sermão que cabia fazer ao pároco de uma aldeia da Beira, num qualquer domingo depois do Pentecostes, quando ficou afónico. Não se atrapalhou o padre e ordenou ao sacristão, inexperiente na parenética, que fosse ele, a substituí-lo.

Depois das peripécias da recusa, que por economia dispenso de referir, o padre garantiu estar a seu lado para emendar algum erro improvável a quem sabia de cor o sermão que tinha ouvido dezenas de vezes. E assim fez.

Tal como combinado, o sacristão advertiu os paroquianos de que ia dizer o sermão pelas razões conhecidas, e começou:

– Queridos irmãos, naquele tempo estava Jesus e alguns apóstolos, com a mesa e a mala, a fazer milagres à beira do Lago de Genesaré, hoje chamado de Tiberíades, e veio junto dele um coxo e disse: «Senhor, curai-me» e o Senhor curou-o; veio depois um cego com igual pedido e o Senhor curou-o; e fez o mesmo com sifilíticos, leprosos e paralíticos. Já Jesus tinha arrumado a mala e ainda vieram junto dele as irmãs de Lázaro, chorosas, e lhe disseram: «Senhor, o nosso irmão morreu; Senhor, valei-nos». O Senhor disse-lhes: ide e orai, e elas assim fizeram.

– O Senhor foi junto da campa de Lázaro e ordenou-lhe: Lázaro, levanta-te e anda. E ele andeu…

-…«andou, estúpido!» balbuciou-lhe do lado o padre, afónico. E o sacristão continuou…

– …andou estúpido algum tempo, e depois curou-se.

11 de Junho, 2018 Carlos Esperança

Gazeta Ateísta

Por

ONOFRE VARELA

“Igrejas para Ateus”

Recentemente fui surpreendido com este título de notícia num jornal virtual. Não se trata de associações de ateus, mas sim de igrejas no sentido de templos de fé deística, mas sem o deus dos outros, o que daria ao Ateísmo o estatuto de religião (não me vou alongar agora com a origem do termo “religião” e a sua significação. Para aqui interessa o sentido que tem de fé num deus). No meu entender o Ateísmo será religião quando um sindicato operário for uma associação patronal.

No caso que comento, a notícia começa por dizer: “O declínio constante da Religião no mundo ocidental está actualmente a rever-se no crescimento das chamadas igrejas ateístas”, e refere que, de acordo com o Pew Research Center, os religiosamente não filiados são agora o segundo grupo religioso na América do Norte e na maior parte da Europa.

O professor Stephen Bullivant, da St Mary’s University de Londres, descobriu que mais de metade da população do Reino Unido não se identifica como sendo religiosa, característica que se tem vindo a acentuar desde há 50 anos, e que “ao mesmo tempo tem havido um crescimento do número de igrejas ateístas que visam reproduzir grande parte da atmosfera do serviço da igreja, mas sem religião”. Ora… isto parece-me uma espécie de Metadona para os drogados que se querem ver livres da droga! Pode enquadrar-se no espírito de alguns daqueles que se transformaram em ateus depois de terem passado por qualquer fé religiosa, mas não nos outros, como eu, que nunca entraram numa igreja com sentimento de fé e, por isso, não têm necessidade de um período de desmame, que seria a tarefa a desempenhar pelas “igrejas ateístas”.

No final da notícia dá-se conta da igreja ateísta mais difundida, como sendo a Sunday Assembly, sob o lema “Viva melhor – Ajude com frequência – Admire-se mais” que foi criada em Londres no ano de 2013 pelos comediantes Sanderson Jones e Pippa Evans. Ah!… Assim já se percebe!… É comédia!… Pois então viva a comédia. Eu também gosto de rir, e rio muito.

Em conclusão a notícia diz que a maior parte das pessoas que frequentam estas igrejas ateístas sente uma “maior satisfação com a vida” graças ao poder da participação fortemente estimulada durante as reuniões.

Dentro da Sunday Assembly há quem defenda que nunca se deveria designar aquela instituição, e outras do mesmo género, como “Igreja Ateísta”. Neste entendimento, o filósofo Alain De Botton defende o nome “Humanismo Cultural”, sem qualquer conotação a modelos de religiões deístas, que o Ateísmo, obviamente, não tem. Ora aqui está alguém com cabecinha pensadora!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

29 de Maio, 2018 Carlos Esperança

Gazeta Ateísta — Fábrica de santos

Fábricas de santos

Por

Onofre Varela

Vimos no último artigo que a Igreja Católica mantém um departamento para fabricar santos, com laboração muito produtiva. Mas nesta treta das canonizações nem só o Vaticano labora. A Igreja Ortodoxa Russa, também. E esta foi mais longe. Ao saber que a Igreja Católica tem na calha, há imenso tempo, a ideia de canonizar o arquitecto Antoni Gaudi, autor da magnífica obra que é a igreja da Sagrada Família, em Barcelona (e que morreu atropelado por um carro eléctrico no dia 10 de Junho de 1926), a Rússia canonizará um czar: Nicolau II será São Nicolau, o portador da Paz. Mas não só ele. Toda a família (mulher e cinco filhos) está proposta para a canonização ortodoxa, não por produzirem milagres, nem por terem levado uma vida exemplar na distribuição do bem, mas sim por terem sido fuzilados pelos revoltosos bolcheviques – fraccionários do Partido Social Democrata Russo – na cave de um prédio na madrugada do dia 17 de Julho de 1917.

Recorde-se este facto histórico: O czar Nicolau II foi quem permitiu a existência faustosa do tenebroso Rasputine, alegadamente por lhe ter salvo um filho, e também foi o responsável pelo tristemente célebre Domingo Sangrento, de 9 de Janeiro de 1905, quando as tropas abriram fogo contra a marcha pacífica de 140.000 trabalhadores. Enquanto foi czar, Nicolau II fechou os olhos, os ouvidos, e encolheu os ombros, perante a profunda miséria em que vivia o povo russo, ao mesmo tempo que se convencia de ser adorado pelo mesmo povo que oprimia. Daí as execuções.

Com santos desta estirpe não tarda que se canonize, via Roma ou Moscovo, Estaline, Franco, Hitler, Mussolini, talvez Pinochet pela sua profunda catolicidade… e, quiçá, Salazar!… Sobra um problema. A nomenclatura dos santinhos já conta com um São Nicolau. O São Nicolau de Mira, dito Taumaturgo, também apelidado de São Nicolau de Bari, Itália, onde estão sepultados os seus ossos. É o santo padroeiro da Rússia, da Grécia e da Noruega, e na Arménia acumula a função de patrono dos guardas nocturnos. Nicolau era um bispo tão caridoso que ficou conhecido pela sua afinidade com as crianças. Por isso mesmo todo o mundo o conhece por Pai Natal. Para evitar confusões, o czar russo, ao ser canonizado, terá de conservar o seu número de série… São Nicolau II.

O tom brincalhão com que refiro a produção de santos, é o único modo que me parece adequado para

aludir essa prática medieval no século XXI. É impossível tomar-se a sério essa preocupação eclesiástica, e

não me venham dizer que estou a desrespeitar as ideias beatas… o que acontece, é que a actividade de

produzir santos desrespeita a minha inteligência, e é intelectualmente desonesta. Se a “qualidade de santo”

fosse conferida de modo semelhante àquele com que se atribui o título de herói a um soldado na guerra e a

um bombeiro que salvou vidas, ou da maneira como se afere a excelência de um futebolista fora de série,

um cantor, cineasta ou actor… com provas dadas e reconhecidas pelas autoridades especialistas em cada

uma das áreas, percebia-se o porquê da homenagem. Mas escolher os santinhos de acordo com os milagres

produzidos por Deus, intermediados por aquela figura morta e ressequida, e aferidos pela paranóia

eclesiástica… é demasiada brincadeira para constituir assunto sério. O processo das canonizações acaba

por nos afirmar que lá, no inexistente céu, também têm lugar as tão humanas cunhas, e os santos acabam

por fazer o papel de parasitas intermediários perante a divindade!… Isto não é ridículo?…

Onofre Varela

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

26 de Maio, 2018 Carlos Esperança

A fé esclarecida e o ateísmo ignorante

«Não existem apenas fundamentalistas religiosos. Também existem fundamentalistas ateus e sem religião. Também existem ateus sem religião que combatem o fundamentalismo de um ateísmo ignorante». Frei Bento Domingues, Público (LIDO – DN, 09-01-2005)

(Encontrei esta referência no meu computador)

Ateus sem religião deve ser o oposto de crentes com religião. Os crentes sem religião são supersticiosos não filiados.

Os ateus não têm livros sagrados nem são incitados a combater os fiéis. Ao contrário dos crentes, não têm o Paraíso à espera. Não os aguardam setenta virgens nem rios de mel em recompensa de atos terroristas; não ascendem aos Céus por participarem em cruzadas; não comprazem Deus a carrear lenha para queimar hereges.

É verdade que os ateus se livram do Purgatório, sítio mal frequentado, com aposentos despojados de quaisquer eletrodomésticos, sem divertimentos nem conforto, donde se sai à custa de missas de quem tem cabedais e devoção para as mandar rezar.

Também o Inferno é reservado aos crentes que discordam da teologia do látex, comem carne de porco à sexta-feira, faltam à santa missa e amam sem intuitos exclusivamente reprodutivos.

O ateísmo pode ser ignorante, ao contrário da fé. Fr. Bento não conhece os ateus e tem-nos em má conta. Mas pensar que a fé é esclarecida e que a devoção não é ignara, é miopia ou necessidade de preservar o futuro da ICAR, os seus ativos financeiros e o fausto do clero romano.