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Categoria: Ateísmo

27 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

Associação Ateísta Portuguesa (AAP)

Comunicado

A Associação Ateísta Portuguesa (AAP) tomou conhecimento da deslocação de Sua Excelência o Presidente da República ao Panamá para, durante três dias, participar nas XXXIV Jornadas Mundiais da Juventude, assistir a uma missa papal e estar presente na bênção da restauração de um edifício religioso.

O anúncio, na página oficial da Presidência da República, convenceu esta associação de que é de carácter oficial a viagem, atitude que, a ser assim, merece o seu maior repúdio por ser em representação do País.

A título particular e a expensas próprias, caberia a esta Associação respeitar e ignorar tamanha devoção. Participar em jornadas da Juventude, onde manifestamente a idade não o recomenda, ir à missa e assistir à benzedura de um templo católico, é um assunto que a AAP ignoraria se o enviado fosse um membro da Conferência Episcopal, mas que considera um grave atentado à neutralidade religiosa do Estado laico, quando perpetrado pelo Presidente da República.

A Associação Ateísta Portuguesa não se revê nas frequentes manifestações de fé que o PR explicita publicamente e lamenta a reincidência de Sua Excelência em manifestações pias, que ofendem gravemente a laicidade do Estado comprometem a neutralidade religiosa a que Constituição obriga.

Sem perda do respeito que é devido ao PR, a AAP sente-se profundamente ofendida quando vê o PR de joelhos ou curvado perante o clero de qualquer religião. O País não é um bando de beatos e não merece tal ofensa.

Odivelas, 27 de janeiro de 2019   

22 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

Espírito missionário

Por

ONOFRE VARELA

Cumpri o serviço militar em Angola (de Dezembro de 1965 a Fevereiro de 1968) em condições que não me permitiram tirar do facto as melhores lições e aproveitá-las para meu engrandecimento.

Primeiro, porque estava nas fileiras do Exército a prestar um serviço obrigatório que repudiava (conto a experiência no livro 191 – Memórias de um Soldado Em Angola. Editora Verso da História / Book Cover. 2016). E depois, porque os meus 20 anos de idade não me davam a madurêza de que necessitava para ter, naquela fase da vida, outro interesse que não fosse o de chegar vivo ao fim do dia. Só muitos anos depois de regressar me dei conta de ter perdido oportunidades únicas,desperdiçadas por desconhecimento. Estive em terra africana, no berço da Humanidade, e não vi, nem senti, do modo como deveria ter visto e sentido, o que me rodeava. Não só a paisagem, mas principalmente aquela gente graciosa com chocolate na pele; os seus usos e costumes e o entendimento que tinham das coisas e da própria vida. Um manancial de estudos antropológicos que desperdicei por ser um estúpido moço de 20 anos mal vividos!

Recordo que numa outra zona onde não estive, havia militares aquartelados na “Missão”. Seria um lugar de sanzalas que rodeavam um edifício que serviu de moradia a missionários protestantes. Após 1961, com o evoluir da guerra e os violentos ataques traiçoeiros dos guerrilheiros aos colonos, deixando rastos de cinza e morte, os missionários acabaram por abandonar a “Missão” que o Exército tomou como quartel.

Dos missionários e do espírito de missão, tenho a maior admiração. Provavelmente terei uma visão romântica do que é ser missionário (como tinha dos jornalistas antes de entrar nas redacções dos jornais). Vi filmes e li histórias que me mostraram o sacrifício e a heroicidade daquela gente cujo interesse seria ajudar a aguentar a vida diária de quem nada tinha, desde comida à saúde, acalentando-lhes a necessária confiança no futuro para lhes permitir a continuação da vida. Bem sei que toda essa dádiva tinha a intenção de conquistar almas para o culto religioso representado por quem prestava ajuda social, com a organização de uma Igreja na rectaguarda, levando os pobres africanos a abraçar o Cristianismo. Aquilo era só a sementeira; a colheita haveria de ser feita anos depois.

Agora decidi procurar informação sobre a atitude missionária, e constatei haver uma indústria!… Encontrei uma lista de 23 “empresas missionárias” procurando jovens com espírito de missão evangélica! Empresas que ostentam nomes como: Missionários do Preciosíssimo Sangue; da Consolata; do Coração de Maria; de São João Baptista… E li a declaração de interesses: “Missionário é ser chamado, escolhido, separado e preparado por Deus, para levar a mensagem do Evangelho (…) com o intuito de converter alguém à sua fé”.

Esta constatação dissipou o romantismo do entendimento que tinha da atitude missionária, mas ficou-me a certeza reforçada do espírito fraterno e desapegado dos nossos jovens generosos que prestam missões humanitárias e que, por isso, merecem todo o meu respeito e admiração.

(Texto de Onofre Varela, a publicar no jornal Gazeta de Paços de Ferreira na edição de 24 de Janeiro de 2019)

15 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

Há 5 anos

Desventuras de S. Victor e da Freguesia que tem o seu nome (Crónica)

Durante muitos anos S. Victor ouviu as preces dos devotos e atendia-as na medida das suas disponibilidades, de acordo com a modéstia dos mendicantes. Afeiçoaram-se os créus ao taumaturgo e este aos paroquianos que o fizeram patrono da maior paróquia da Arquidiocese de Braga.

Há uma década foi retirado do “Martirológio”, o rol da Igreja Católica que regista todos os santos e beatos reconhecidos ao longo de vinte séculos, desde que a Igreja católica se estabeleceu. O argumento foi pouco convincente e deveras injusto. Não se exonera do catálogo um santo por ser apenas uma lenda. Que o tenham feito a S. Guinefort, cão e mártir, morto injustamente pelo dono, aceita-se, porque a santidade não se estende aos animais domésticos. Duas mulas, que rudimentares conhecimentos dos padres da língua grega confundiram com duas piedosas mulheres, compreende-se que fossem apeadas dos altares, interditos a solípedes.

Mas um santo com provas dadas, clientela segura, devoção fiel, foi a maldade que não se fazia aos pios fregueses, tementes a Deus e cumpridores dos Mandamentos. O padre Sérgio Torres afirmou ao «Correio do Minho», em janeiro de 2005, que os paroquianos «reagiram com desagrado e muita surpresa». Não lhe permitiu o múnus e a urbanidade dizer que foi uma santa patifaria do Vaticano. O séc. IV, em que o jovem Victor foi condenado à morte por se recusar a participar numa cerimónia pagã, segundo a tradição agora desmentida, foi há tanto tempo! Que importa uma pequena mentira numa Religião que vive das grandes?

Ainda hoje, nove anos volvidos, a Junta de Freguesia de São Victor, sita na Rua de São Victor, n.º 11, afirma com orgulho, no sítio da Internet, que, «segundo reza a lenda» o seu patrono foi “martirizado pelos romanos, através do fogo e da degolação, por afirmar as suas convicções”. E acrescenta, em jeito de propaganda eleitoral: “Ainda hoje, este exemplo serve de mote ao executivo desta freguesia”.

E agora? Que fazer? Arrancam-se os azulejos que documentam a mentira? Transfere-se a devoção para os santos fabricados por João Paulo II, alguns tão pouco recomendáveis e tão detestáveis, quase todos espanhóis, e apenas com a sorte de terem dois milagres no currículo?

Era presidente da Junta de Freguesia na altura da despromoção, Firmino Marques, que embora revelando “algum desconforto”, justificou a retirada do orago do calendário litúrgico «somente pelos critérios científicos usados atualmente para a proclamação dos santos e beatos da Igreja Católica». Esse autarca era um admirador confesso da ciência.

O atual, Ricardo Silva, de sua graça, prefere apelar para o exemplo glorioso de um santo falsificado a procurar um novo taumaturgo cujo nome não acertaria com o da Freguesia e de que não obteria garantias mínimas de ser mais santo e de ganhar tão dilatada fama.

O bom senso e pragmatismo do autarca Ricardo valeram-lhe decerto a eleição.

11 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

Artigos dos leitores

Por

Diogo Fonseca

A ignorância é um conhecimento persistente

Como estudante de História e amante da mesma tenho a possibilidade de estudar e investigar o percurso da Humanidade. Um facto que constato (que na minha opinião é muito interessante) é que, cada vez que estudo e investigo, encontro mais provas da inexistência de Deus, e uma das conclusões que retiro é que o Homem não descobre algo novo de um momento para o outro, não existe uma ideia original que mova “escolhidos”, não! O que existe são várias influências culturais que são adotadas e manietadas por um determinado povo, para fazer de si ideias messiânicas. Mas como na investigação histórica, não existe história sem factos, vamos analisar alguns exemplos que vão clarificar a minha argumentação.

1-  Génesis, o conhecido “Jardim do Éden”, ou seja, o paraíso terreno onde Adão e Eva foram criados – Este mito do paraíso é na verdade uma influência da Suméria e da cultura da Mesopotâmia (uma cultura que vou com frequência exemplificar), pois o “Dilmun” – o paraíso sumério, era um fértil oásis entre as montanhas. Este mito do paraíso é retomado muito mais tarde pelos hebreus, pondo em evidência no Génesis.

2- A segunda influência adotada foi na conhecida “Epopeia de Gilgamesh”. Este antigo poema épico da Mesopotâmia, é uma das primeiras obras conhecidas da literatura mundial. Neste épico encontra-se a mais antiga história do dilúvio, onde mais tarde os hebreus vão escrever no Génesis o aniquilamento da humanidade, onde o responsável pelo “salvamento” da humanidade é identificado por Noé, mas na tradição mesopotâmica é Utnapishtim.

3- Avançando para o Egito, também encontramos aculturações por parte dos hebreus. O Faraó, Amenófis IV ou mais tarde Akhenaton, o seu filho é o célebre Tutankhamon, mas este faraó não é muito conhecido, pois os antigos egípcios tentaram a todo custo apagá-lo da história. Este faraó teve a ideia que as religiões abraâmicas adotaram – o Monoteísmo. Ele queria acabar com todas as divindades, e manter só uma – o deus Aton. Como é evidente esta ideia não teve o resultado desejado porque, depois da sua morte, o seu filho Tutankhamon, voltou a adotar todas as divindades. Não podia romper com a tradição muito antiga da grande diversidade de deuses egípcios, mas esta mudança de paradigma de Amenófis IV ou Akhenaton pode ser vista como a criação do Monoteísmo que irá ser adotada pelo povo hebreu. Para fechar esta parte do Egito refiro que a deusa Isis é a primeira representação da virgem Maria, pois esta deusa egípcia também gerou um filho sem o relacionamento com um homem.

4- No último exemplo vou referir as célebres “Tábuas da lei” de Moisés, mais conhecido como os 10 mandamentos; a sua fonte primária é o 1º código de leis da humanidade – o código de Hammurabi. Hammurabi foi rei da Babilónia e compilou em 1675 a.C. este extenso código de leis. Nos 10 mandamentos que Deus entregou a Moisés no monte Sinai, podemos ver onde Deus foi buscar a sua fonte de inspiração.

Em suma, as influências que o povo hebreu recebeu dos egípcios e da Mesopotâmia foram depois criadas para legitimar a sua crença. Assim constatamos que a religião é uma construção humana e cultural e que a fé é uma maquinação elabora ao longo da história.

10 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

Deus está em parte incerta

Deus, cansado dos disparates que fez, das maldades que praticou ou envergonhado dos preconceitos, emigrou para lugar incerto e, depois da invenção da escrita, nunca mais deu sinais de vida. A Revolução Francesa criou-lhe um habitat adverso, o sufrágio universal reduziu-o a bagatela, e, por não se ter inscrito nos cadernos eleitorais, passou a valer menos do que qualquer eleitor.

Os truques que fazia, as diversões com que embasbacava os primitivos, contrariando as leis da Física, os milagres que exibia para estupefazer os terráqueos, tudo isso foi sendo revelado pela ciência enquanto o progresso concebeu espaços de liberdade que um deus arrogante não suporta. Tal como o patrão que arruinou a fábrica, fugiu, alheio à sorte dos servidores, e nunca mais foi visto nem julgado.

Os empregados mais devotos, os clientes mais timoratos e os oportunistas mais afoitos continuaram a garantir a sua existência e a ameaçar com os castigos de que ele é capaz. Desejam fazer indigentes mentais, como os portugueses que esperam D. Sebastião, ou aliciar oportunistas com ilusões garantidas e ameaças assustadoras.

A excomunhão e a fatwa são duas armas carregadas de ódio; o Inferno é ainda o destino com que os clérigos aturdem os incréus; a penitência e a oração são as penas suaves, quando os meios mais expeditos são interditos; a lapidação, a fogueira, a decapitação, a amputação de membros, a deflagração bombista e outras formas de justiça, despachadas a mando do clero impetuoso, mantêm-se em vigor para deleite divino.

Deus sempre se imiscuiu nos processos eleitorais. Em países democráticos faz pender o prato para o lado pior, nos outros vai entravando as eleições com o argumento de que a lei divina não é passível de juízo humano. Há suspeitas de que Deus visitou os EUA, antes da eleição de Bush, passa largas épocas no Médio Oriente, percorre os países pobres de África e anda em campanha por algumas repúblicas da antiga URSS. Onde lhe cheirar a guerra, Deus não falta, para dilatar a fé.

O método destinado à multiplicação da espécie humana saiu-lhe mal – a reprodução por estaca. Usou um ramo ‘costela’ de um indivíduo para o duplicar. Os humanos acharam outro método mais fácil e deleitoso. Dizem os beatos que é obsceno, só aceitável para fazer filhos e não para folgar. Pensa-se que Deus tinha este método reservado para o fabrico de tratores mas os humanos apropriaram-se dele muito antes de os tratores terem sido inventados, sem ajuda divina.

7 de Janeiro, 2019 Carlos Esperança

Ainda sobre o Natal

Por

ONOFRE VARELA

No último artigo falei sobre o Natal de um ateu. Ficou-se a saber que é exactamente igual ao de um católico, retirando-lhe as liturgias próprias do culto da efeméride. 

O nascimento de Jesus Cristo aconteceu do mesmo modo como se faz, e nasce, uma criança em qualquer parte do mundo. A anunciação, a virgindade de Maria e a visita dos reis magos guiados por uma estrela, é folclore de uma narrativa religiosa que não passa de mito. A perseguição do bebé por Herodes, a infância de Jesus dando lições a doutores, e a ressurreição, fazem parte da mesma mitologia cristã.

A estória de Herodes na matança de bebés, é cópia de uma narrativa do deserto, anterior a Jesus, segundo a qual o rei Zohak sonhou que ia ser morto. Perguntou ao mago da corte o que significava o sonho, e o mago disse-lhe que tinha acabado de nascer o homem que o haveria de destronar. Em pânico por vir a perder o poder, Zohac mandou matar todos os bebés.

A vida de Jesus Cristo (a ter existido realmente) não foge ao que era o normal na Palestina invadida pelo poder de Roma. Havia vários grupos religiosos esperando um messias que libertasse aquelas terras do jugo romano (hoje seriam movimentos políticos). João Baptista teria formado um deles, cujo rosto foi Jesus, talvez por ter mais carisma e convencer mais gente. 

No seu tempo ninguém registou a vida de Jesus, que seria um ilustre desconhecido, e o próprio historiador Josefo, pouco diz sobre um pregador que foi sentenciado à morte. E Juvenal, poeta que satirizava os costumes, não o refere, o que sublinha o desconhecimento total da sua existência. 

O Cristianismo resultou de uma criação posterior à morte de Jesus, que foi sendo construída através do tempo. E só existe hoje porque o imperador Constantino, no século IV, deixou de perseguir os cristãos reciclando o culto em religião de Estado, transformando-o em ferramenta política. Criou Constantinopla onde elementos religiosos gregos, romanos e cristãos acabaram por se fundir no Catolicismo. Quinhentos anos depois (século IX) Carlos Magno cimentou os alicerces da cristandade medieval.

E o presépio é uma criação de Francisco de Assis no século XIII. O frade baseou-se nos Evangelhos para retirar elementos. Porém, dos quatro evangelistas, só Lucas refere o nascimento de Jesus numa manjedoura, e que foi visitado por pastores (Lucas: 2;7-20), omitindo a visita dos reis magos (que está em Mateus:2). Francisco encenou o nascimento num estábulo, decorando-o com um burro e uma vaca, pastores, carneiros e os três reis magos. É uma imagem bonita, mas não é História!…

Numa revista espanhola li o Horóscopo da semana de Natal. Todos os signos do Zodíaco falavam em reunião de família, festa, crianças e boa comida. Em nenhum referia o acto de dar e receber prendas. Porquê? Porque em Espanha, aquilo a que nós chamamos “prendas de Natal”, são trocadas no dia de Reis… o que, segundo a lenda dos Reis Magos, faz todo o sentido! 

Para cada cultura, a sua própria liturgia…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

31 de Dezembro, 2018 Carlos Esperança

Feliz passagem de ano!

Bem-vinda a passagem de ano, porque é numa data que exonera a santidade do dia que finda e do que chega, uma data profana, sem recriminações de excessos, onde, todos os que podem, a gozam sem remorso, como se a euforia do momento se perpetuasse.

Não se assinala o número de viagens que a Terra fez à volta do Sol, apenas se destaca o dia em que no calendário gregoriano principia nova viagem, meridiano a meridiano, em mais uma volta no carrossel da vida do planeta à volta da estrela que o alimenta.

À meia-noite, tendo como referência, desde 1884, o Meridiano de Greenwich, quando a Inglaterra era a grande potência, capaz de definir os meridianos a partir do Observatório Real, empurram-se doze passas com champanhe, sem tempo para o número equivalente de desejos que é mister formular em simultâneo, como se fosse possível comer, beber e pensar uma dúzia de coisas num momento sem tempo, o intervalo entre as 24H00 do dia em que o ano acaba e as 00H00 do que inicia o seguinte.

Ficam, do momento, os sonhos e os votos, as recordações dos corpos que se fundem na embriaguez do amor, de beijos que se prolongam em promessas mudas, dos abraços que estreitam corpos e dos corpos que se erguem em dificuldade com articulações a ranger e reumatismo a recordar a erosão do tempo e os limites biológicos da existência.

Que importa, se o ano que chega vai ser pior, se tudo o que pode correr mal correrá pior, se são utópicos os desejos? Por uma vez não são cínicos os votos e a alegria corre para o calendário da vida com fogo de artifício a substituir, na beleza das cores e no júbilo que contagia, os fogos e os desastres que voltarão a ser servidos nas televisões na desvairada competição que alimenta a morbidez de gente azeda.

Façam favor de ser felizes e de se divertirem. Não há idades para o sortilégio do amor e a esperança em melhores dias. A racionalidade é o veneno que intoxica o quotidiano. Os pecados são a única coisa que vale a pena. Não troquem os sonhos pela realidade.

Pequem muito, entusiasmem-se e divirtam-se. Deus é uma aberração que inventaram para nos enegrecer a existência.

Feliz 2019!

28 de Dezembro, 2018 Carlos Esperança

Os monoteísmos e a violência

As religiões provaram ao longo dos séculos a sua nocividade e falsidade, sobrevivendo através dos interesses instalados e de constrangimentos provocados. Os sistemas criados mantêm os povos na sujeição do clero e a intoxicação começa à nascença.

Os monoteísmos distinguiram-se pela sua intolerância e inquinaram as sociedades onde se consolidaram. Nem a modernidade os conseguiu implodir. De um livro da Idade do Bronze, o Antigo Testamento, de matriz hebraica, surgiu o judaísmo cujos seguidores residuais (cerca de 18 milhões) ainda creem na Conservatória do Registo Celeste, onde estará guardada a escritura que lhes garante direitos imprescritíveis sobre a Palestina.

Paulo de Tarso fez a única cisão bem conseguida do judaísmo, criando a primeira seita de vocação global, que o Imperador Constantino imporia com inaudita violência como a religião do Império Romano, a que serviu de cimento.

O catolicismo romano só viria a reconhecer a liberdade religiosa na década de sessenta do século XX, durante o Concílio Vaticano II. Nem o Renascimento, o Iluminismo e a Revolução Francesa o conseguiram vergar.

No entanto, o mais implacável dos monoteísmos, o Islamismo, fez da cópia grosseira do cristianismo com laivos de judaísmo, um inflexível é totalitário código de conduta que se agrava com a decadência da civilização árabe mas mantém, no seu primarismo dos 5 pilares, um poder de sedução a que não são alheios radicalismos em certas idades e em várias fases da adolescência de indivíduos que vivem à margem dos valores humanistas que a Europa herdou do Iluminismo e da Revolução Francesa.

Se as democracias continuarem a abdicar da laicidade, única forma de conter o carácter prosélito dos dois últimos monoteísmos, em especial o Islão, ficam desarmadas contra os surtos terroristas de superstições à escala global, que se reclamam da vontade divina para imporem aos outros o que só têm direito de usar como crença doméstica.

O proselitismo é a mais nefasta nódoa das crenças e a laicidade o único antídoto para o conter.