30 de Abril, 2011 Raul Pereira
VINO SOPITA ECCLESIA EST
+ BIBETVR «É boa pinga!», dizia o senhor bispo.
[enviada por um leitor devidamente identificado]
+ BIBETVR «É boa pinga!», dizia o senhor bispo.
[enviada por um leitor devidamente identificado]
Quem diria que a toda-poderosa Igreja estaria em perigo no país verde. A sucursal romana de Armagh, que manipulou vergonhosamente o Estado (enfraquecido após o processo de independência), para se apoderar do ensino e da saúde, que pregou a moral bacoca, que apoiou a censura até bem dentro do século XX, que congregou os exércitos beatos para pugnar contra leis dignificadoras do bem-estar humano (proibição constitucional do aborto em 1983, p.ex.) e pela a lei, bastante recente, de criminalização da blasfémia, levou a machadada final com os escândalos de ocultação de pedofilia que viram a luz do dia nos últimos anos.
Com tudo isto, conseguiu que os irlandeses sentissem no âmago que a sua consciência nacional, supostamente católica, tinha sido brutalmente traída. Descobriram que, se as bases que a sustentavam eram assim tão anacrónicas, ignaras e frágeis e isso não os tornava menos irlandeses, então é porque, na realidade, não precisavam delas para nada.
Pedindo emprestada uma expressão ao meu colega Ludwig, as últimas décadas, que aproximaram a Irlanda da Europa laica e levaram o desenvolvimento e o progresso ao país, mostraram também aos irlandeses que tinham sido dominados tempo demais por uma série de «tretas». Felizmente, agora dizem «basta» ou, simplesmente, ignoram o que é perdigotado da catedral de St. Patrick.
«Se a Irlanda se quiser tornar numa nova Irlanda, ela tem primeiro que se tornar europeia», escreveu James Joyce. Se o escritor a pudesse ver agora…
Richard Dawkins respondeu a algumas questões colocadas no Reddit.
No final, uma surpresa: a leitura de alguns emails que recebe com regularidade, sem censura.
Comunicado:
A Associação Ateísta Portuguesa (AAP), na sequência da separação constitucional do Estado e das Igrejas e na defesa da laicidade daí decorrente, nunca se conformou com os benefícios fiscais concedidos em 1990 à Igreja católica e a sua extensão em 2001 às instituições religiosas não católicas e às instituições particulares de solidariedade social (IPSS), instrumentos de poder e de financiamento habitualmente ao serviço das diversas confissões religiosas.
Perante a crise em curso, a proposta de Orçamento do Estado (OE) de 2011 pretende retirar – e bem – os benefícios fiscais, que jamais deviam ter sido concedidos, às instituições religiosas não católicas. O que deixa a AAP perplexa e indignada é que se mantenham ainda os benefícios fiscais que privilegiam a Igreja católica.
Mantendo esta situação injusta e injustificável, o Governo acrescenta à deplorável genuflexão perante a Igreja Católica a discriminação para com todas as outras confissões religiosas. A injustiça ganha agora geometria variável, com o Estado laico a usar poder discricionário a favor de uma das confissões que disputam o mercado da fé, sem respeitar dois princípios constitucionais: o da igualdade e o da separação entre o Estado e as Igrejas.
A AAP acompanha no espanto e indignação todas as confissões religiosas não católicas e comunidades religiosas radicadas no país, bem como os institutos de vida consagrada e outros institutos que a prevista revogação dos artigos 65º da Lei de Liberdade Religiosa e 2º do Decreto-Lei n.º 20/90 remete para uma situação de desigualdade. É inadmissível que a proposta do OE 2011, pedindo tantos sacrifícios a todos os portugueses, ainda assim mantenha o Estado obrigado «à restituição do imposto sobre o valor acrescentado correspondente às aquisições e importações efectuadas por instituições da Igreja Católica», para fins religiosos, ao abrigo do Artigo 1º do Decreto-Lei n.º 20/90, cirurgicamente preservado nesta proposta.
Assim, a AAP reivindica a revogação do Decreto-Lei nº 20/90, pondo fim aos benefícios fiscais concedidos à Igreja Católica e repondo a igualdade não só entre as confissões religiosas mas também a igualdade entre todos os cidadãos, sejam leigos ou padres, deixando aos crentes o ónus da sustentação do culto sem o fazer recair sobre todos os que não se revêem nessa religião: ateus, agnósticos, cépticos e crentes de outras religiões a quem não cabe custear o proselitismo da religião que se reclama dominante.
Associação Ateísta Portuguesa – Odivelas, 25 de Outubro de 2010
SIT TIBI TERRA LEVIS, Armindo Lopes Coelho. [1] Hoje, chegou o teu fim. Acabou. Tu garantias que não, no alto das tuas homilias de duas horas, lá no cume de Santa Luzia e dominando a Viana conservadora que, entretanto, se modernizou. Agora que penso nisso, acho que as tuas pregações infindáveis poderão ter sido uma das causas para a formação do meu ateísmo. Eram demasiado penosas de aturar, camufladas por uma erudição estranha e teologias sem sentido às quais, bradando, querias dar poder de verdadeiras. Lembro-me que até as beatas desesperavam, por baixo dos seus lenços pretos e limpando com os punhos os buços suados pelo ardente sol de Agosto.
Mais tarde, pregaste-me uma chapada, no crisma. Soubesses tu que já nessa altura eu era ateu e a terias, provavelmente, aplicado com mais vigor. Subi, obrigado pela família, ao teu cadeirão dourado e barroco, onde pensavas que atemorizavas toda a gente com o teu olhar severo e a tua mitra, parte da personagem que encarnavas. Não a mim. A mim atemorizava-me, sobretudo, que os meus descobrissem que Deus já não fazia parte dos meus raciocínios, que o meu mundo era agora o observável, o científico e o histórico. Por amor aos nossos podemos esconder os maiores segredos, e esse dia, em que tudo seria desvendado, chegaria certamente.
Também creio que eras demasiado inteligente para acreditar em grande parte do que apregoavas, e que essa inteligência fazias tu transitar para os artifícios linguísticos com que ocultavas alguma da tua descrença. Fazia parte do teu trabalho. Para o que fica de ti e das tuas lembranças, agradecem-te os teus fiéis. Falavam sempre maravilhas da tua serenidade, da tua eloquência, mas todos concordavam que, por isso mesmo, eras um grande maçador.
Hoje, no dia em que tudo para ti se tornou num vazio sem retorno e não um paraíso celeste, também eu te agradeço. Obrigado, Armindo, por teres contribuído, em parte, para o meu ateísmo. Para o que serve, perdoo-te o bofetão.
[1] TSF – Morreu D. Armindo Lopes Coelho, antigo bispo do Porto.
[Nota: no que me diz respeito, foi, também, de 27 de Outubro de 1982 até 13 de Julho de 1997, bispo da diocese de Viana do Castelo.]
A Biblioteca-Museu República e Resistência e a AAP – Associação Ateísta Portuguesa promovem um ciclo de conferências a realizar no decorrer dos meses de Maio e Junho.
PROGRAMA
ATEÍSMO, LAICISMO E ANTICLERICALISMO EM PORTUGAL
Dia 7 de Maio
18.30 h
Onofre Varela
Jornalista
Saber sobre Deuses e crer em Deus.
Dia 14 de Maio
18.30 h
Ludwig Krippahl
Professor Universitário
Argumentos científicos contemporâneos intitulados Deus não existe.
Dia 21 de Maio
18.30 h
Carlos Barroco Esperança
Presidente da AAP – Associação Ateísta Portuguesa
Ateísmo, Laicidade e Democracia.
Dia 4 de Junho
18.30 h
Amadeu Carvalho Homem
Professor Universitário
A Religião e a República.
Dia 18 de Junho
18.30 h
Isabel Lousada
Investigadora da Cesnova-FCSH-UNL
O anticlericalismo em Portugal: uma perspectiva.
Biblioteca-Museu República e Resistência – Espaço Cidade Universitária
Morada: Rua Alberto Sousa, 10 A, Zona do Rego – 1600-002 Lisboa
Telefone: 21 780 27 60 | E-mail: [email protected]
Escusado será dizer que contamos com a vossa presença.
Richard Dawkins celebra hoje o seu sexagésimo nono aniversário.
Em homenagem, um dos seus momentos mais célebres no Youtube:
Que continue por muitos e largos anos com a força que o caracteriza na luta contra o obscurantismo é o que lhe desejo. Estou também curioso pelo seu próximo livro, que será direccionado às crianças. Suspeito que será uma obra que terei grande prazer em oferecer aos mais novos.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.