Loading

Ricardo Alves

20 de Maio, 2011 Ricardo Alves

Sexo e religião

Um estudo da Universidade do Kansas sobre sexo e secularismo chegou às seguintes conclusões (a partir de entrevistas a mais de 14 mil e quinhentas pessoas).

  1. Ateus e religiosos começam a ter relações sexuais com a mesma idade, e têm relações sexuais um número semelhante de vezes por semana.
  2. Ambos os grupos admitiram masturbar-se, ver pornografia, ter sexo oral.
  3. A diferença é que os ateus estão mais satisfeitos com a sua vida sexual, enquanto os religiosos se sentem culpados.

Portanto: ateus e religiosos são animais da mesma espécie (o homo sapiens), daí o mesmo comportamento. A culpa é que é um implante cultural. Que torna os religiosos menos felizes.

(Rogo que a caixa de comentários mantenha um nível de discussão elevado sobre este assunto.)

19 de Maio, 2011 Ricardo Alves

Estes católicos são loucos

Segundo a mui católica Agência Ecclesia, «Bebés que nasceram por intercessão de Madre Clara estarão na beatificação». Como é que uma pessoa morta em 1899 interveio na fecundação de mulheres nossas contemporâneas, é algo que me dispenso de aprofundar. A bruxaria e as magias não são a minha especialidade. Mas que haja pessoas, em pleno século 21, que fazem pronunciamentos surreais destes, e sem provocar o riso generalizado, é abismal.

Na mesma notícia, descobre-se também que o Policarpo vai levar para casa dele uma falange de um dedo da tal Maria Clara que a ICAR vai «beatificar». Eu sou tolerante, e considero que estes fetichismos são inócuos. Mas se isto se passasse fora da Europa seria considerado idolatria. Acho eu.

9 de Maio, 2011 Ricardo Alves

Licenciatura em Estudos Laicos

Que eu saiba, é a primeira do mundo: a Universidade Pitzer, no sul da Califórnia, vai abrir um departamento de «Estudos Laicos», com a correspondente licenciatura. O curso incluirá aulas de filosofia, história, sociologia e ciência. Um que me agrada intitula-se «A Bíblia enquanto literatura».

7 de Maio, 2011 Ricardo Alves

O que é clericalismo?

Clericalismo é entender que as decisões sobre a vida de todos devem ser tomadas por referência a valores religiosos. É inseparável da instrumentalização da religião para fins políticos (e da política para fins religiosos), como no cartaz acima, que apela ao «não ao divórcio» arregimentando o Cristo para a campanha.
A cena passa-se em Malta, o único país da União Europeia onde o divórcio (ainda) não é legal (a menos que obtido no estrangeiro). Existe, todavia, a anulação eclesiástica do casamento, uma fonte de rendimento que a ICAR local não quer perder e que a tem levado a investir meios financeiros e humanos na campanha.
Malta tem uma longa história de clericalismo de Estado. A sociedade, essa, muda: um terço das crianças nascem fora do casamento, em muitos casos de pais que não se conseguem divorciar (os portugueses conheceram esta situação antes de 1975). O referendo será dentro de três semanas.
[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
3 de Maio, 2011 Ricardo Alves

Momento humorístico

  • «Jorge Ortiga diz que as “baixíssimas” taxas de natalidade que se registam em Portugal são, sobretudo, o reflexo “de medidas legislativas” como os casamentos gay ou a facilitação do divórcio» (CM).
2 de Maio, 2011 Ricardo Alves

Ossama Bin Laden (1957-2011)

No dia da morte de Bin Laden, o seu projecto político-religioso parece irremediavelmente fracassado. Ele foi o rosto da ascensão do terrorismo islamista, entre 2001 e 2006, numa sucessão de atentados espectaculares pela sua crueldade. Foi tal o horror que causou, pelo «atrevimento» de atacar em solo norte-americano e na Europa, por usar bombistas suicidas e pela óbvia intenção de maximizar o número de vítimas inocentes, que se tornou quase um acto de traição tentar compreender o homem e os que o rodeavam. Mas, no momento do seu assassinato, a sua estratégia de polarização estava esgotada: o islamismo só tomou o poder em zonas de guerra endémica como a Palestina ou a Somália, os atentados na Europa terminaram, e os povos árabes parecem mais interessados na democracia e na laicidade do que estavam há dez anos.
Ossama Bin Laden foi, no seu tempo, o mais influente líder religioso do mundo. A sua notoriedade global deveu-se a ter inspirado, financiado e parcialmente planeado uma campanha terrorista, mas o discurso que usou para justificar essa campanha apresentava a especificidade de ser integralmente religioso, e sem esse apelo religioso não teria mobilizado tantos seguidores nem teria podido pretender falar por centenas de milhões de muçulmanos. A percepção do Islão alterou-se radicalmente (não para melhor) desde 2001, e é graças a ele que muitos hoje compreendem que nem tudo o que é inspirado pela religião é necessariamente bom. A fronteira entre a devoção e o fanatismo, na realidade e ao contrário do que pensam os que só vêem qualidades na religião, não é clara. E o rosto de Bin Laden, com aquele sorriso tranquilo, é mais próximo do de um santo da ICAR do que da compleição enfurecida de um Hitler ou do que da frieza gélida de um Estaline. Provavelmente, matava convencido de estar a fazer o bem. O que isso nos diz sobre o ser humano e a religião ainda vai demorar a ser compreendido.
Bin Laden teve as suas vitórias. Pretendia polarizar o mundo entre uma revolta islamista e as democracias europeias, e a sua estratégia passava por arrastar estas para a guerra, os assassinatos arbitrários e a violência sobre civis. Em parte, conseguiu o que queria: as democracias da Europa e dos EUA rebaixaram-se ao voltarem a legitimar a prática da tortura, ao invadir Estados muçulmanos sem mandato legal, e ao vigiarem cidadãos que não cometeram qualquer crime mas são muçulmanos. Que Barack Obama diga que se «fez justiça» (sem julgamento) é um sintoma do recuo civilizacional que Ossama logrou: um verdadeiro sinal de superioridade civilizacional seria tê-lo preso e julgado (o que nem sequer foi tentado). A sua herança, para nós europeus, inclui também o poder imenso que os serviços ditos «de informações» reuniram nesta década: existem mais pessoas e meios envolvidos na vigilância dos cidadãos das democracias do que acontecia durante a «guerra fria». E, igualmente assustador, parece haver hoje menos resistência à intrusão do Estado policial na vida privada do que havia nessa época.
As circunstâncias da sua morte têm zonas cinzentas. Da caverna nas montanhas tribais (onde nos diziam que apodrecia) para a mansão de luxo fortificada próxima da capital, vai uma grande distância. As alegações de que o ISI faz jogo duplo ganharam novo crédito. E há portanto mais um indício de que a raiz do terrorismo islamista é o próprio Paquistão.
Finalmente: supondo que o terrorismo islamista a partir de agora agravará o declínio em que já vem desde 2006, não será a altura de encerrar Guantánamo e a rede de prisões ilegais? Penso que sim: a guerra acabou. Ou não?
[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
29 de Abril, 2011 Ricardo Alves

O estado mundial da crença

Segundo uma sondagem IPSOS, 51% da população mundial acreditará numa «entidade divina», enquanto 18% serão ateus e 17% agnósticos. 51-35 não é um mau resultado, se tivermos em conta que a sondagem incluiu apenas 23 países. Aliás, é significativo que os Estados com maiores percentagens de crentes sejam a Indonésia (93%), a Turquia (91%), o Brasil (84%), a África do Sul (83%) e o México (78%), enquanto os Estados com maior percentagem de ateus são a França (39%), a Suécia (37%), a Bélgica (36%), o Reino Unido (34%), o Japão (33%) e a Alemanha (31%). O ateísmo aparece correlacionado com a literacia, o conforto social e níveis baixos de violência e criminalidade. (O Extremo Oriente, curiosamente, parece ser um bastião do agnosticismo, com percentagens de 54% no Japão, 52% na China e 50% na Coreia do Sul; uma cultura indiferente à «crença»?)

A mesma sondagem aponta maior percentagem de evolucionistas do que criacionistas: 41%-28% (31% «não sabem»).

20 de Abril, 2011 Ricardo Alves

Viva Afonso Costa!

A Lei de Separação da Igreja do Estado completa hoje cem anos. Se ainda estivesse em vigor, não deveriam existir «empregos» de capelão no funcionalismo público, subsídios das autarquias à construção e manutenção de igrejas (muito menos a missas campais ou a peregrinações), lugares de professor na escola pública por nomeação da ICAR ou outras igrejas, crucifixos e outros símbolos religiosos em serviços públicos, uma Comissão de Liberdade Religiosa que hierarquiza as comunidades religiosas, uma Concordata que garante o reconhecimento civil das associações canónicas, devolução do IVA para a ICAR e outras e mais isenções fiscais para as igrejas, políticos a convidarem padres para benzer as «obras feitas» e «mensagens de natal» do Policarpo na televisão pública.
Faz-nos falta Afonso Costa. Leia-se a sua carta no site da Associação República e Laicidade, em que explica a Lei de Separação.

(mais…)

12 de Abril, 2011 Ricardo Alves

Ateísmo: o último tabu?

Em Madrid podem realizar-se manifestações fascistas e paradas do orgulho gay. Parece que não pode é realizar-se uma «procissão ateia» (um nome que é um raio de um oxímoro, mas enfim). Ou só pode se não for na quinta-feira que é «santa» para os católicos. A Arábia Saudita afinal é já aqui ao lado?