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Ricardo Alves

2 de Junho, 2006 Ricardo Alves

Laicidade no Nepal?

Tendo sido restaurado com poderes constituintes na sequência das manifestações populares de Abril, o parlamento do Nepal decidiu no dia 18 de Maio que o hinduísmo deixará de ser a religião de Estado. Foi também decidido transformar o monarca numa figura meramente decorativa (sem imunidade judicial, isenções fiscais ou controlo sobre o exército), abalando assim os fundamentos do regime monárquico-clerical.

Os 27 milhões de nepaleses incluem cerca de 80% de hindus, 11% de budistas, 4% de muçulmanos e uma grande diversidade de religiões tradicionais, línguas e etnias. O rei do Nepal (que pertence a uma dinastia que governa este país dos himalaias há mais de duzentos anos) é tradicionalmente considerado pelos hindus a encarnação de Vishnu (um dos três deuses mais importantes numa mitologia que inclui vários milhões de divindades). O clericalismo hindu tem servido para legitimar o sistema de castas e a discriminação das mulheres e dos não hindus. O proselitismo está proibido, muitas igrejas cristãs não se conseguem legalizar, e matar vacas, mesmo que se tenha muita fome, é ilegal e resulta numa pena de prisão.

Nos últimos dias, após críticas de hindus fundamentalistas, manifestações de protesto contra a laicização do único Estado oficialmente hindu do mundo foram promovidas, apoiadas por organizações hindus extremistas da Índia, em quatro dos 75 distritos do Nepal. O líder do partido indiano BJP (hindus conservadores) lamentou a decisão, argumentando que se está a colocar em causa «a identidade» do Nepal.
29 de Maio, 2006 Ricardo Alves

Hindus conseguem censura de exposição blasfema

Muitas vezes gostamos de pensar que as religiões sem raízes judaico-cristãs sentirão um menor desconforto com as liberdades de uma civilização aberta e tolerante do que aquele que os monoteísmos indubitavelmente demonstram. No entanto, a realidade desmente este optimismo.

Um exemplo recente é dado por uma notícia da National Secular Society, que nos informa que o Fórum Hindu da Grã-Bretanha conseguiu que uma exposição de quadros, em Londres, fosse cancelada. Porquê? Porque o artista, Maqbool Fida Husain (um indiano de origem muçulmana) se atrevera a pintar alguns quadros com deuses e deusas hindus em completa nudez. Apesar de alguns templos da Índia apresentarem divindades em actos sexuais explícitos, as organizações hindus do Reino Unido organizaram uma campanha que levou ao encerramento prematuro da exposição, mostrando uma vez mais que não são as religiões, e particularmente as mais tradicionais, que ensinam a tolerância pela liberdade de expressão alheia.

Não foram também as religiões que construíram a democracia ou que inspiraram o desenvolvimento tecnológico dos últimos duzentos anos. Convém não esquecê-lo.
25 de Maio, 2006 Ricardo Alves

O pensamento de Josemaría Escrivá (2): obediência

(continuação)

Como foi explicado no artigo anterior, o método Escrivá de sujeição do indivíduo funciona entre dois pólos: humilhação e obediência. A humilhação tem a finalidade de abater a vontade do indivíduo e de prepará-lo para obedecer. E a enfase na obediência nas palavras de Escrivá é tão chocante quanto a insistência na procura da dor e da humilhação.

  • «Obedecer… – caminho seguro. Obedecer cegamente ao superior… – caminho de santidade. (…)» (941) «Obedecei, como nas mãos do artista obedece um instrumento – que não pára a considerar porque faz isto ou aquilo, certos de que nunca vos mandarão fazer nada que não seja bom e para toda a glória de Deus.» (617)

Este dever de obediência, que teoricamente é devido a um «Deus» que não dá ordens porque não existe, é transferido para o «director espiritual», que é um personagem importantíssimo no sistema de controlo do Opus Dei.

  • «Director. – Precisas dele. – Para te entregares, para te dares…, obedecendo. – E Director que conheça o teu apostolado, que saiba o que Deus quer;» (62)

O «director espiritual» funciona como figura parental de substituição e como «representante de Deus». A sua autoridade é portanto enorme, e é reforçada pela devassa sobre a vida privada praticada através da confissão.

Como é evidente, ao castrar os afectos terrenos (os únicos reais), a recompensa que o Opus Dei oferece em troca encontra-se noutro mundo, ilusório.

  • «Que nenhum afecto te prenda à Terra, além do desejo diviníssimo de dar glória a Cristo e, por Ele e com Ele e n’Ele, ao Pai e ao Espirito Santo.» (786)

Mas o «director espiritual» não é uma ilusão, é bem real, e Escrivá cuidou até de protegê-lo da crítica.

  • «(…) E nunca o contradigas diante dos que lhe estão sujeitos, mesmo que não tenha razão.» (954)

Aliás, nunca se pode sublinhar demais que o pensamento de Escrivá é o oposto exacto do ideal iluminista de pensamento crítico e de liberdade individual. Escrivá encontra-se do lado daqueles que crêem que existem assuntos acima da crítica (a sexualidade de «Cristo», os cartunes do profeta) e que a autonomia pessoal é um perigo.

  • «É má disposição ouvir as palavras de Deus com espírito crítico.» (945) «No Apostolado, estás para te submeteres, para te aniquilares; não para impor o teu critério pessoal.» (936)

Tudo o que temos construído nos últimos 200 anos assenta na capacidade de cada indivíduo usar o seu próprio juízo e ter liberdade de escolha. Escrivá defende o oposto de tudo isto, e a sua organização não apenas pratica essa cultura internamente como a tenta difundir na sociedade. Note-se que o Opus Dei aspira a formar «chefes» (empresários, professores universitários, políticos), que coloquem as suas actividades profissionais ao serviço da causa.

  • «Aburguesar-te? Tu… da multidão?! Mas, se tu nasceste para chefe! Entre nós não há lugar para os tíbios. Humilha-te, e Cristo voltará a inflamar-te com fogo de Amor.» (16) «Dá um motivo sobrenatural à tua actividade profissional de cada dia, e terás santificado o trabalho.» (359)

O risco de que haja desvios do «Caminho» é constante. E por isso Escrivá insiste bastante em que há um único caminho, e que não se deve resistir a obedecer.

  • «Por essa demora, por essa passividade, por essa tua resistência em obedecer, como se ressente o apostolado e como se alegra o inimigo!» (616) «Que bem entendeste a obediência quanto me escrevias: “Obedecer sempre é ser mártir sem morrer”!» (622) «Se a obediência não te dá paz, é que és soberbo.» (620)

A obsessão de que existe um único caminho é fundamental para manter a ovelha no rebanho, e necessita de uma castração contínua, de uma renúncia a tudo o que não é útil para uma finalidade pretensamente sobrenatural.

  • «Tudo o que não te leva a Deus é um estorvo. Arranca-o e atira-o para longe.» (189)

O pensamento de Josemaría Escrivá é genuinamente católico. A mesma procura do sofrimento contra o prazer, a mesma defesa da humilhação contra a dignidade e a mesma imposição da obediência contra a liberdade podem ser encontradas nas encíclicas papais e nas práticas populares, por exemplo em Fátima. Mas o pensamento de Escrivá é o catolicismo exacerbado, exponenciado. E o Opus Dei é uma «seita» no mesmo sentido em que o são a Igreja da Cientologia ou o Templo do Sol, porque a vida dos indivíduos é totalmente colocada ao serviço da organização, com a cenoura enganosa do «sobrenatural» e com o chicote bem real das privações sensoriais.

Repito, como já o fiz dezenas de vezes, que as pessoas devem ser livres de aderir ao Opus Dei. No entanto, os pais católicos têm o direito de saber qual é o tipo de «espiritualidade» que se pratica numa organização para a qual os seus filhos adolescentes podem ser recrutados a partir do colégio privado ou da paróquia. E a sociedade tem o direito de se defender denunciando e criticando. Porque não há democracia sem democratas, nem a liberdade pode durar muito se grande parte dos cidadãos obedecem a uma organização autoritária e totalitária.

24 de Maio, 2006 Ricardo Alves

O pensamento de Josemaría Escrivá (1): humilhação

A principal obra de Josemaría Escrivá, o fundador do Opus Dei, chama-se Caminho e consiste em 999 «considerações espirituais». É uma leitura imprescindível para quem queira compreender a autêntica «lavagem ao cérebro» a que esta organização submete os seus membros.

Os temas recorrentes do livro (para além do apelo à oração e outras trivialidades cristãs) são a humilhação e a obediência. A intenção, como se compreende pela leitura do livro e pelas descrições conhecidas do funcionamento interno da organização, é a mesma de qualquer outra seita em que se submete o indivíduo para melhor o utilizar: destruir tudo o que estrutura a personalidade do sujeito, nomeadamente o seu orgulho e os seus instintos, fazendo dessa terraplanagem da personalidade uma virtude, e recompensando-a com a progressão dentro da organização. As citações seguintes, todas retiradas do livro Caminho, ilustram a glorificação da humilhação segundo Josemaría Escrivá.

  • «- Nega-te a ti mesmo. – É tão belo ser vítima.» (175) «Quando te vires como és, há-de parecer-te natural que te desprezem.» (593) «Não te esqueças de que és… o depósito do lixo. (…) Humilha-te; não sabes que és o caixote do lixo?» (592) «Não és humilde quando te humilhas, mas quando te humilham e o aceitas por Cristo.» (594) «Mortificação interior. – Não acredito na tua mortificação interior, se vejo que desprezas, que não praticas a mortificação dos sentidos.» (181) «Onde não há mortificação, não há virtude.» (180)

Escrivá encoraja os seus seguidores não apenas a humilhar-se ou a fazer humilhar-se por outros (convido o leitor a imaginar a cena…), mas convence-os também a procurar activamente a dor moral e até física que, numa inversão de valores típica do pensamento católico, considera «bendita».

  • «Bendita seja a dor. Amada seja a dor. Santificada seja a dor… Glorificada seja a dor!» (208) «Se sabes que essas dores – físicas ou morais – são purificação e merecimento, bendi-las.» (219) «Não esqueças que a Dor é a pedra de toque do Amor.» (439)

Escrivá encoraja ainda os seus adeptos a reprimirem ferozmente os instintos mais naturais de qualquer animal (comer e procriar), elevando sempre a repressão destes instintos a virtude. É evidente que quer os prazeres da cama quer os prazeres da mesa podem desviar as suas ovelhinhas do rebanho, e «perdê-las» da seita…

  • «Quando te decidires com firmeza a ter vida limpa, a castidade não será para ti um fardo: será coroa triunfal.» (123) «O matrimónio é para os soldados e não para o estado-maior de Cristo. – Ao passo que comer é uma exigência de cada indivíduo, procriar é apenas uma exigência da espécie, podendo delas desinteressar-se as pessoas individualmente. (…)» (28) «A gula é um vício feio. (…)» (679) «À mesa, não fales de comida; isso é uma grosseria, imprópria de ti. (…)» (680) «No dia em que te levantares da mesa sem teres feito uma pequena mortificação, comeste como um pagão.» (681)

Portanto, qualquer membro do Opus Dei se deve privar, em todas as refeições, de enchidos ou de açúcar no café, de água ou de vinho, de sobremesa ou de prato principal, como forma de «mortificação». Assim se assegura que o membro não se distraia perante uma mesa cheia de bons petiscos e bons vinhos. (Felizmente existe o contrário desta vida castradora: as delícias do hedonismo…)

O corpo, porque pode levar o jovem a desviar-se do caminho, é visto, obviamente, como um inimigo a tratar com violência, e a auto-tortura é inevitavelmente considerada uma virtude.

  • «Se sabes que o teu corpo é teu inimigo, e inimigo da glória de Deus, por sê-lo da tua santificação, porque o tratas com tanta brandura?» (227)

Convencido o jovem de que é «lixo», destruído o seu amor-próprio e controlados os seus instintos mais naturais, o «lixo» pode ser reciclado. Como? Obedecendo…

  • «Padre: como pode suportar todo este lixo? – disseste-me, depois de uma confissão contrita. Calei-me, pensando que, se a tua humildade te leva a sentires-te isso – lixo, um montão de lixo – ainda poderemos fazer algo de grande da tua miséria.» (605)

É neste ponto, quando a personalidade do jovem está submetida, que Escrivá lhe recomenda que se entregue aos pés de um «director espiritual» que o dirija, pense por ele, escolha livros por ele, e possivelmente lhe dê ordens não apenas «espirituais»…

(continua)

16 de Maio, 2006 Ricardo Alves

Hirsi Ali abandona a Holanda,ou… Hirsi Ali abandonada pela Holanda?

A ateísta militante Ayaan Hirsi Ali demitiu-se do parlamento holandês e nunca terá tido a nacionalidade holandesa. Estes desenvolvimentos surpreendentes aconteceram na sequência da exibição na televisão holandesa, na quinta-feira, de um documentário que evidenciava que Hirsi Ali mentira quanto ao seu nome, idade e país de partida com o objectivo de obter asilo político. A ministra da imigração Rita Verdonk (que curiosamente se prepara para concorrer à liderança do seu partido) decidiu entre sábado e segunda-feira retirar a nacionalidade à sua mediática colega de bancada parlamentar, e acrescentou que a teria deportado se fosse ministra aquando da naturalização dela, em 1997.

A agora ex-deputada tornou-se famosa internacionalmente em 2004 como autora do guião do filme «Submissão», por causa do qual o realizador Theo Van Gogh foi assassinado por um fascista islâmico que deixou espetada no seu corpo, com uma navalha, uma carta ameaçando Hirsi Ali.

A vida desta rapariga de origem somali não tem sido propriamente fácil. Mutilada sexualmente na infância, foi educada numa escola wahabita na Arábia Saudita e doutrinada na mais extremista das versões do Islão (no seu livro, conta que quando viu um judeu pela primeira vez ficou espantada ao verificar que era um ser de carne e osso). Fugiu a um casamento forçado (alegadamente) e na Holanda trabalhou como empregada de limpeza e tradutora antes de se tornar colaboradora de um instituto próximo do Partido Trabalhista. Após o 11 de Setembro, radicalizou a sua crítica do islamismo e descobriu que a esquerda holandesa, imobilizada pelo «multiculturalismo», não aceitava a violência dos seus ataques ao Islão. As primeiras ameaças de morte chegaram nesta altura, por ela ter chamado «pedófilo» a Maomé. No ano seguinte, aderiu ao partido conservador holandês (VVD), que agora a abandona, acusando-a de ter «polarizado» o debate sobre o Islão. No dia 27 de Abril deste ano, um tribunal decidiu que tinha que abandonar o seu apartamento até Agosto porque era um alvo do terrorismo e portanto um perigo para os seus vizinhos.

Confesso que não sou um especialista em política holandesa, mas parece-me que Hirsi Ali foi usada e deitada fora pela direita que a acolhera. O facto de ter escolhido ir trabalhar num instituto neoconservador, o American Enterprise Institute, só mostra que continua encurralada. Entre uma esquerda «multiculturalista» que a acusa de estigmatizar os imigrantes, e uma direita anti-imigrantes que lhe dá voz mas que detesta o seu ateísmo militante.
11 de Maio, 2006 Ricardo Alves

O estranho mundo das religiões (11/5/2006)

  1. No Nepal, uma mulher budista foi condenada a doze anos de prisão por ter comido uma vaca. Não lhe serviu de nada alegar que tinha fome: o Nepal é oficialmente de religião hindu e portanto as vacas são sagradas e protegidas pela lei.
  2. Na Malásia, um casal de chineses foi processado, e pode ser preso, por se ter abraçado e beijado em público. Não eram muçulmanos, mas na Malásia a lei da maioria islâmica tem sido aplicada a toda a população. Em Kuala Lumpur, houve uma manifestação pelo direito a namorar em público.
  3. No Pacífico, no micro-Estado de Vanuatu, os seguidores de um «culto da carga» acreditam que a ajuda económica que os EUA decidiram dar à sua ilha significa que as suas preces foram atendidas: nesta ilha (e noutras do Pacífico), as pessoas vestem-se com fatos imitando os soldados americanos dos anos 40 e marcham com «espingardas» feitas de bambu, na esperança de que os grandes carregamentos de utensílios que ali chegaram durante a guerra voltem a acontecer. Os líderes da pequena nação do Pacífico explicarão agora aos seguidores da religião «John Frum» («Hello, I´m John from America») que, apesar das aparências, a sua religião não funcionou.
9 de Maio, 2006 Ricardo Alves

A Noruega discute a separação entre Estado e Igreja

Na sequência das recomendações de um relatório de uma comissão governamental nomeada em 2002, a Noruega iniciou a discusão pública sobre a separação entre o Estado e a Igreja.

Neste país do norte da Europa, a Igreja Luterana Evangélica é, constitucionalmente, a igreja de Estado. A Constituição desta monarquia impõe também que o monarca e pelo menos metade dos membros do Governo professem a religião de Estado, sem que se saiba o que qualquer um deles deve fazer se perder a fé. Os membros do clero luterano são funcionários públicos e existe nas escolas públicas um curso obrigatório de «religião cristã», aliás já condenado pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos na sequência de queixas de ateus e muçulmanos.

Esta situação anacrónica está a tornar-se insustentável num país cada vez mais secularizado (descontando alguns fundamentalistas), em que um terço dos novos casais se casam em cerimónias civis. A prática religiosa é cada vez menor, enquanto a Associação Humanista Norueguesa conta já com quase 70 mil membros e celebra casamentos que têm efeitos legais desde 2004.

O lançamento da discussão na Noruega, conjugada com a separação entre Estado e Igreja que se efectivou na Suécia no ano ano 2000, comprova que a ideia de laicidade tem progredido na Escandinávia. Existem, no entanto, desenvolvimentos contrários noutros pontos do norte da Europa, por exemplo no Reino Unido, onde o Governo «desconta pontos» às escolas públicas que não realizem diariamente uma oração conjunta a que os alunos só podem escapar a requerimento dos pais, e onde os trabalhistas, telecomandados pelo Opus Dei, querem que o Estado integre escolas privadas confessionais abertamente sexistas, que boicotam a educação sexual e que muitas vezes ainda arranjam tempo para intoxicar os alunos com o obscurantismo criacionista.

A separação entre Estado e igreja na Noruega terá que ser confirmada através de votações em duas legislaturas consecutivas, e portanto acontecerá, se tudo correr bem, em 2014.
5 de Maio, 2006 Ricardo Alves

As virgens terão que esperar

Zacarias Moussaoui é um desgraçado. Em 2001, deixou-se apanhar com o passaporte caducado algumas semanas antes do 11 de Setembro. Os seus dezanove amigos conseguiram capturar quatro aviões comerciais, despenhar dois deles contra edifícios de Nova Iorque e outro contra o Pentágono, e apenas perder o controlo do último dos quatro aviões, todavia perpetrando o maior ataque terrorista de sempre.

Reduzido a contemplar, da prisão, o sucesso da conspiração em que participara, Zacarias gritou «Deus é grande», mas é crível que tenha tido alguma inveja. Na religião com que o iludiram, não apenas se acredita numa «vida eterna» posterior à morte, mas também que morrer matando os inimigos da fé garante a maior das glórias nessa «vida depois da morte», em algumas versões garante mesmo umas dezenas de donzelas virgens. Devido ao seu próprio desleixo, Zacarias falhara a ida para este «paraíso das virgens».

Não tem sido devidamente sublinhado que o 11 de Setembro só foi possível porque há pessoas, na Europa e noutros continentes, que vendem a ilusão de que existe uma «vida depois da morte», e que se apresentam como únicas conhecedoras do caminho para essas maravilhas póstumas. Em Portugal, a maioria desses charlatães são muito respeitados, e a ilusão que vendem raramente é criticada em público. Mas é essa ilusão que permite o bombismo suicida.

Zacarias Moussaoui teve azar. O tribunal não o condenou à morte, que ele acha que ainda seria consideravelmente gloriosa e que lhe abriria o caminho, acredita ele, para a «glória eterna». Foi uma decisão humanista do tribunal, mas foi também a segunda desilusão de Zacarias Moussaoui. Esperemos que tenha agora tempo para compreender que foi enganado, e que a vida vale muito mais do que a morte, mesmo sem «paraíso» nem «virgens».

30 de Abril, 2006 Ricardo Alves

É devido um agradecimento

Em primeiro lugar, é devido um agradecimento especial ao Daniel Cachapa por ter resolvido os problemas técnicos que afastaram o Diário Ateísta do convívio com os seus leitores durante praticamente quatro dias.

Em segundo lugar, apresentamos as nossas desculpas aos nossos leitores, e muito particularmente à pequena comunidade que nos acompanha nas caixas de comentários, pela interrupção na emissão. Infelizmente, por enquanto apenas o blogue voltou a estar acessível.

Em terceiro lugar, garanto-vos que embora a causa última da interrupção permaneça desconhecida, nenhum de nós passou a acreditar no sobrenatural…