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Ricardo Alves

13 de Fevereiro, 2007 Ricardo Alves

Sabiam?

Sabiam que a Marktest publicou este excelente livro que recolhe as crónicas e outros escritos do «nosso» Carlos Esperança?

Para alguém da minha geração, para além do prazer de apreciar a escrita do Carlos Esperança, e as suas estórias bem contadas, este livro permite conhecer um pouco do mundo, (para mim) distante e quase incompreensível, que era a Beira Interior no terceiro quartel do século passado, entre a catequese terrorista da ICAR, a pobreza e o futebol, as procissões e a «Índia portuguesa», os padres informadores da PIDE, os contrabandistas e as aulas do liceu, e depois o Martinho da Arcada antes da guerra colonial, as praias da Caparica nos anos 60 e finalmente o 25 de Abril. Compreender o que foi tudo isto não é óbvio para quem só tem memória da democracia.

A partir de 1974, dão-se umas alfinetadas valentes numas figuras que sobraram do antigamente e que parecem não sabê-lo (como os seguidores de Josemaría Escrivá e o pai do Dinis de Santa Maria), e, após o 11 de Setembro, surge a preocupação com o islamismo e outros clericalismos, e a sua vacina: a laicidade.

Tudo numa prosa de fazer inveja, e com o humor do Carlos.

(É pena que não esteja nas livrarias.)

12 de Fevereiro, 2007 Ricardo Alves

Terramoto: o Estado a ajustar-se a uma sociedade em mudança

A laicidade avança quando os debates sobre as leis do Estado são racionais e pragmáticos, e não teológicos e dogmáticos. Quando os crentes aceitam raciocinar sobre a res publica pondo de lado os argumentos do clero que lhes exige obediência, e preocupando-se em primeiro lugar com a comunidade política que existe tanto para eles como para os ateus, a fé passa finalmente a ser um assunto privado e não político. Deu-se um passo importante nesse sentido na campanha para o referendo de ontem (muito mais do que em 1998, alguns católicos leigos assumiram abertamente o seu voto pela despenalização; o único sacerdote católico que o fez claramente foi o Mário de Oliveira).

A ICAR, principalmente a hierarquia e a sua ala mais reaccionária, sofreram a sua maior derrota desde o 25 de Abril. Tinham-se empenhado muito mais do que em 1998, quando partiram do princípio de que o «sim» ganharia e tentaram desvalorizar o referendo fazendo um apelo misto ao «não» e à abstenção. Desta vez envolveram-se a fundo, desde a CEP até aos movimentos de leigos, o que ajuda a explicar que o «não» tenha obtido mais 200 mil votos do que em 1998. No entanto, as maiores subidas percentuais do «sim» deram-se nas regiões mais conservadoras.

Os políticos derrotados neste referendo chamam-se António Guterres e Marcelo Rebelo de Sousa. Em 1998, após o Parlamento votar favoravelmente a despenalização, reuniram-se em privado, talvez tenham orado, e decidiram criar um obstáculo à legalização da IVG. Lideravam os dois maiores partidos nacionais e pensaram sobretudo no interesse da igreja a que pertenciam. Por responsabilidade deles, as mulheres que abortaram na última década fizeram-no na clandestinidade.

O Estado começa agora a acertar o passo com uma sociedade que desde o 25 de Abril se tem secularizado rapidamente (de 1973 até 2005, os casamentos civis passaram de 18% para 45%; os nascimentos fora do casamento, de 7% para 31%; os divórcios, de 1 por cada 100 casamentos para 47 por cada 100 casamentos; os católicos praticantes passaram de 2,44 milhões em 1977 para 1,93 milhões em 2001). Se o «sim» tivesse ganho em 1998, os debates posteriores sobre a Lei da Liberdade Religiosa de 2001 e a Concordata de 2004 teriam sido diferentes.

Perderam os que acreditam que o problema do aborto clandestino se resolve fechando os olhos à realidade e fazendo sermões às mulheres. Ganharam os que preferem enfrentar os problemas, por difíceis que sejam. Ficou mais claro, para os católicos praticantes ou para os católicos culturais, qual é a diferença entre um crime e um pecado, entre uma lei do Estado e uma questão pessoal com a própria religião. Nesse sentido, ganhámos todos.
8 de Fevereiro, 2007 Ricardo Alves

Porque não sou um cristão cultural

Nenhum dos autores do Diário Ateísta é cristão, no sentido rigoroso do termo: acreditar que «Jesus Cristo» foi a encarnação de «Deus». (Se acreditássemos na divindade de «Cristo», seríamos crentes, como é óbvio!) Mas eu também não sou cristão no sentido cultural, de considerar «Cristo» o maior pensador da história da humanidade, ou de considerar o cristianismo o melhor dos sistemas éticos. Pelo contrário, falta-me na cultura cristã uma defesa clara da liberdade, da tolerância para com aqueles que não seguem o caminho de «Cristo», e da igualdade independentemente das crenças. Mais. Consigo facilmente pensar numa dezena de pensadores que são mais importantes para mim: Voltaire, Thomas Paine, Robert Green Ingersoll, Antero de Quental, Tomás da Fonseca, Albert Camus, Bertrand Russell, Carl Sagan, Richard Dawkins, Henri Peña-Ruiz.

Há ainda um outro sentido, biográfico, em que não me posso considerar um cristão cultural: não fui baptizado, nunca pertenci a nenhuma igreja cristã. Num sentido muito preciso, posso dizer que nunca fui cristão.
8 de Fevereiro, 2007 Ricardo Alves

Debates sobre a despenalização da IVG

Estarei hoje, às 21 horas, na Rádio Nova Antena (Odivelas), para um debate sobre a despenalização da interrupção voluntária de gravidez (podem ouvir em FM 92.0 na região de Lisboa, e 101.3 no Alentejo; ou na internete). E amanhã, às 10 horas, na escola Vitorino Nemésio (Chelas, Lisboa), para outro debate sobre o mesmo tema. Em ambos os debates represento a plataforma «Eu voto sim!».
6 de Fevereiro, 2007 Ricardo Alves

Símbolos religiosos em secções de voto: o que fazer e como fazer

Como é sabido, existem muitas secções de voto em Portugal com símbolos religiosos visíveis (crucifixos, estatuetas de santos, outras imagens religiosas…). Como também é do conhecimento geral e o Diário Ateísta tem documentado, a ICAR tem feito uma campanha de tipo político a favor de uma das posições a votação no referendo. Assim sendo, é inadmissível que existam dentro das secções de voto, ou na sua proximidade, símbolos identificativos de uma das posições assumidas perante o referendo, pois foi nisso que se tornaram os símbolos da ICAR: símbolos do «não».

A Associação República e Laicidade disponibiliza um formulário para que cada cidadão que o desejar possa apresentar o seu protesto junto da sua secção de voto. Conforme alguns estudos académicos indicam, os símbolos presentes nas secções de voto podem influenciar significativamente as decisões tomadas pelos eleitores. Cabe aos cidadãos defenderem a legalidade e a lisura do acto referendário. (Cada protesto pode ser apresentado em duplicado: uma cópia para o presidente da assembleia de voto e outra para o cidadão que protesta. A Associação República e Laicidade agradece que se envie uma comunicação de cada protesto para mailto:[email protected].)
6 de Fevereiro, 2007 Ricardo Alves

O riso perseguido

Os participantes de um grupo carnavalesco espanhol estão ameaçados de excomunhão. A razão? Terem montado um espectáculo chamado «A minha primeira hóstia», que o pároco local considera blasfemo.

A ICAR espanhola tem uma grande preocupação com o uso religiosamente correcto da palavra «hóstia». Existe mesmo um grupo católico que gasta 1 500 euros por mês a policiar a linguagem de quem mistura, verbalmente, a hóstia com funções corporais de evacuação de resíduos.
5 de Fevereiro, 2007 Ricardo Alves

O paraíso saudita

Conforme já foi várias vezes descrito aqui no Diário Ateísta, a Arábia Saudita é o país, em todo este esferóide que orbita o Sol, que mais se aproxima de realizar o «paraíso» com que sonham os crentes fundamentalistas.

Na Arábia Saudita, não há liberdade religiosa, nem sequer para os estrangeiros. Recentemente, 433 imigrantes fizeram uma festa onde se beberam bebidas alcoólicas e onde os homens e as mulheres dançaram juntos. Foram todos presos, e 20 passarão entre três e quatro meses na prisão. Como se não bastasse, serão açoitados.

O direito a sonhar e a tentar realizar os seus sonhos é legítimo. O que não é legítimo é querer que os outros vivam no «paraíso» dos crentes.
2 de Fevereiro, 2007 Ricardo Alves

Símbolos religiosos em secções de voto

Nos EUA também há secções de voto com símbolos religiosos: pior ainda, há locais de voto que são igrejas. Felizmente, também há quem proteste. E com razão: segundo um estudo académico que efectuou simulações de voto, cerca de 75% das pessoas a quem foram mostradas imagens de locais de voto neutros (escolas, quartéis de bombeiros…) votaram favoravelmente a investigação científica em células estaminais, mas essa percentagem desce para aproximadamente 50% nas pessoas a quem foram mostradas imagens de locais de voto em igrejas.

Em Portugal, a Associação República e Laicidade levantou esta questão junto da Comissão Nacional de Eleições, que recomendou às câmaras municipais e juntas de freguesia que, no referendo sobre a despenalização da IVG, não coloquem mesas de voto em locais onde existam «outros símbolos» para além daqueles ligados à República.

É necessário que não sejam escolhidas como locais de voto nem igrejas nem escolas com símbolos religiosos, ou pelo menos com estes símbolos visíveis. Só assim será assegurada a plena neutralidade das secções de voto, indispensável a que os cidadãos votem em perfeita liberdade de consciência.

1 de Fevereiro, 2007 Ricardo Alves

Debate no Sábado, dia 3 de Fevereiro

Estarei presente no dia 3 de Fevereiro, às 16 horas, num debate sobre a despenalização da IVG, em representação do movimento «Eu Voto Sim!».

Local: Igreja do Nazareno, Avenida Óscar MonteiroTorres, 44-A/B (Lisboa, junto ao Campo Pequeno).

30 de Janeiro, 2007 Ricardo Alves

Não há catolicismo progressista

Não há catolicismo progressista. Nunca houve. O que existe são católicos que tentam conciliar a sua pertença a uma organização autoritária e totalitária com o seu apreço pela democracia e pela tolerância. Mas a ICAR não é uma democracia, o catolicismo não é uma doutrina de tolerância, e a laicidade não é cristã.