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Ricardo Alves

17 de Julho, 2007 Ricardo Alves

Arcebispado de Madrid ocultou caso de pedofilia

O Supremo Tribunal espanhol confirmou que o arcebispado de Madrid da ICAR deveria ter vigiado um padre pedófilo que abusou sexualmente de uma criança dentro de uma igreja de Madrid. A sentença é dura com o arcebispado católico, que não cumpriu o seu dever de vigilância de um padre pedófilo, e que expulsou da paróquia as catequistas que denunciaram às autoridades estatais o caso de abuso sexual. A ICAR espanhola terá que pagar 30 000 euros de indemnização.

A emissora católica espanhola COPE ignorou este caso nos seus noticiários. Não me apercebi de que os media portugueses o tivessem noticiado, mais ocupados que andaram a apresentar as reivindicações da ICAR portuguesa, que pretende mais dinheiro para os ATL´s católicos das crianças portuguesas.

O padrão comportamental das autoridades eclesiásticas católicas em Espanha, nos EUA, no Brasil, na Argentina, em Portugal, e em todos os outros países onde sacerdotes são acusados de abuso sexual de menores, é semelhante: jamais um padre pedófilo foi denunciado às autoridades estatais pela hierarquia da sua igreja, que protege sistematicamente este tipo de criminosos, limitando-se, quando o escândalo já é grande, a mudá-los de paróquia. Os pais de família católicos deveriam reflectir nestes factos.
13 de Julho, 2007 Ricardo Alves

A verdadeira liberdade é ajoelhar

  • «Quem se ajoelha para adorar a Santíssima Trindade como os Pastorinhos é livre para se dar na misericórdia sem ser oprimido por qualquer poder, pretensamente absoluto» (Jorge Ortiga, presidente da CEP, em Fátima).

Portanto, a liberdade, na concepção católica, obtém-se de joelhos. De joelhos, adorando uma fantasia, e submisso. Quem se ajoelha é livre, quem recusa ajoelhar-se será, presumivelmente, um escravo. De joelhos resiste-se ao poder, de pé é-se absolutamente submisso. Liberdade é escravidão, tirania é liberdade. Wojtyla já dissera algo de semelhante.

Poucas horas antes de pronunciar estas palavras, Jorge Ortiga estivera reunido com o Primeiro Ministro.

13 de Julho, 2007 Ricardo Alves

…E Sócrates ajoelhou

Na reunião de ontem, o Primeiro Ministro português cedeu às exigências da ICAR portuguesa. É essa a leitura da generalidade dos media, e do próprio José Policarpo, que emergiu sorridente para anunciar que uma Concordata é um texto «constitucional», e que a legislação que resulta da Concordata fascista de 1940 deve continuar a ser aplicada até que a Concordata de 2004 seja «regulamentada».

Evidentemente, é impossível saber com exactidão o que preocupava tanto os bispos, e o que lhes foi prometido para saírem tão tranquilos. Mas se a legislação sobre as capelanias hospitalares (ou militares) esperar pela regulamentação da Concordata, que pode demorar mais dois anos, essa garantia traduz-se num adiamento para a próxima legislatura da redução da despesa do Estado nessas áreas. Registe-se que as capelanias hospitalares são cerca de 180 empregos de nomeação eclesial com salário pago pelo Estado, e que as capelanias militares são mais 46. E que ambas constituem privilégios inconstitucionais, melhor protegidos pela Concordata de 1940 do que pela Concordata de 2004. Que outros privilégios da Concordata de 1940 se manterão até 2009, à custa do orçamento de Estado e a favor da corporação católica?

O PS continua assim fiel à herança de Mário Soares, o homem que toda a vida se proclamou «republicano e laico» sem que alguma vez essa proclamação significasse um único avanço concreto para a laicidade do Estado. A tibieza e cobardia do PS é tão mais incompreensível quanto Portugal é um dos países mais secularizados da Europa latina, com uma percentagem de casamentos civis que deve atingir os 50% antes do final da década, em que há um divórcio para cada dois casamentos, e em que os jovens fogem da «Religião e Moral» assim que podem. Espantosamente, sendo a Espanha um país sociologicamente mais conservador do que Portugal, a laicização política tem avançado mais depressa com Zapatero do que com Sócrates.

É um dos maiores paradoxos dos últimos 30 anos que um cada vez maior afastamento da população perante a religião tradicional coincida no tempo com uma crescente influência institucional da ICAR. Paradoxalmente, à medida que o número de fiéis diminui, os políticos parecem temer ainda mais a hierarquia eclesiástica.

Noutros países europeus, como a Espanha ou a França, os partidos socialistas são seguramente laicistas. Para nossa desgraça, o PS português é o mais clerical da Europa ocidental. Percam o medo, caros senhores do PS (e de outros partidos…). Portugal já não é o que era.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
12 de Julho, 2007 Ricardo Alves

Sócrates vai ajoelhar?

  • «Uma delegação da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) será recebida hoje, pelas 15h00, por José Sócrates na residência oficial do Primeiro-Ministro. O encontro acontece depois de, na passada terça-feira, os Bispos terem lamentado a falta de “diálogo” por parte do Governo, na relação com a Igreja Católica.» (Agência Ecclesia)

A agenda reivindicativa da CEP foi profusamente divulgada nos últimos dias: os bispos querem que as crianças passem menos tempo na escola e mais tempo nos ATL´s da ICAR (ou seja, querem ser eles a decidir os horários da escola pública), que as autarquias não negoceiem ATL´s com terceiros mas sim com a ICAR (ou seja, querem que os padres substituam os vereadores na gestão corrente das câmaras municipais), querem mais dinheiro para construir igrejas (como se já não chegasse o que recebem habitualmente), ainda mais dinheiro para a Universidade Católica (que é privada e tem um subsídio público que outras privadas não recebem), ainda mais dinheiro público para escolas privadas (mas só se forem católicas), e, a não esquecer, estão preocupados com o que vai acontecer aos cento e oitenta capelães hospitalares que têm o «direito» (inconstitucional) de andar de cama em cama a incomodar quem tem outra religião ou nenhuma, e que são pagos para isso pelo Estado. O que está em causa nesta ofensiva clerical é sobretudo o vil metal.

Sócrates, explica-lhes que a religião não é um serviço público.

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

10 de Julho, 2007 Ricardo Alves

Sacerdote católico implicado em genocídio

Na Argentina, o padre católico Christian Federico von Wernich sentou-se no banco dos réus pela primeira vez no dia 5 de Julho. É acusado de participar em sete crimes de homicídio e em quarenta e um de sequestro e tortura. Os crimes em que participou ocorreram entre 1976 e 1983, durante a ditadura militar de que a ICAR foi cúmplice e entusiasta de tal forma que, em 23/9/1975, o capelão católico das Forças Armadas chegou a afirmar, numa homilia em que falava de «Cristo»: «o Exército está expiando a impureza do nosso país (…) os militares foram purificados no Jordão do sangue para se porem à frente de todo o país» (outro sacerdote diria anos mais tarde que «por vezes a repressão física é necessária, obrigatória e, enquanto tal, lícita»). A repressão militar vitimou mortalmente cerca de 30 000 pessoas, num país que tinha uma população de 30 milhões. Tratou-se de um verdadeiro genocídio, que a ICAR caucionou moralmente, e em que sacerdotes católicos participaram. O padre católico von Wernich, uma peça chave do sistema repressivo, será acusado de genocídio.

Von Wernich, que era capelão da polícia de Buenos Aires, actuava nas prisões durante as sessões de tortura. Com o pretexto de prestar «assistência religiosa», e perante presos políticos enfraquecidos pelos espancamentos e pelos choques eléctricos, o padre oferecia a última tortura: a «salvação» a troco da confissão. Os seus longos interrogatórios tiveram frequentemente sucesso. Não parecia ter problemas éticos com o que fazia: quando um oficial do exército matou um oposicionista na presença de Von Wernich, este sossegou-o dizendo-lhe que «o que tinha feito era necessário; era um acto patriótico que Deus sabia que tinha sido para o bem do país». Graças aos seus mui católicos serviços, foi mesmo condecorado publicamente pela ditadura fascista. Em tribunal, tem-se recusado a dar detalhes alegando o «segredo de confissão».

A ICAR apoiou-o sempre. Quando, após o final da ditadura, se refugiou numa paróquia de província, a população protestou contra a presença do padre torcionário. A ICAR não ouviu os protestos, mas mudou-o de paróquia quando teve um caso amoroso com uma paroquiana. Conclusão: para a ética invertida que a ICAR pratica, a tortura não é condenável, mas o amor, esse sim, é intolerável.

Em 2003, um juiz argentino defensor dos Direitos do Homem pediu a sua captura. A ICAR disse que não sabia do facínora, mas era mentira: Von Wernich estava numa paróquia remota do Chile, dando missa tranquilamente. Foi capturado depois de a imprensa argentina e chilena ter descoberto o seu esconderijo. É caso para dizer que há jornalistas que têm princípios éticos que não se aprendem na missa.

(Mais informações actualizadas na Federación Internacional de Ateos; mais fotografias em atheisme.org.)

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

9 de Julho, 2007 Ricardo Alves

O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem decidiu que as aulas obrigatórias de religião nas escolas públicas da Noruega violam o artigo 2º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem. O caso resultou de sete famílias norueguesas, há 10 anos atrás, terem decidido levar a tribunal a obrigatoriedade de aulas de religião. Estas famílias perderam em todos os tribunais noruegueses, tendo decidido recorrer para o Tribunal de Estrasburgo.

Este avanço para a liberdade de consciência na Noruega poderá alimentar o debate sobre a separação entre Estado e igreja num país que mantém um regime de igreja de Estado perfeitamente anacrónico.

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
9 de Julho, 2007 Ricardo Alves

Bin Laden, o Bom Samaritano

No início dos anos 80, nos hospitais de Peshawar, na fronteira do Paquistão com o Afeganistão, havia um homem que ia de cama em cama, a dar uma palavra amiga aos feridos, distribuindo chocolates e frutos secos, e tomando nota do nome e endereço de cada mujahedin. Em casa, a família destes bravos lutadores contra o comunismo ateu recebia um chorudo cheque, com os cumprimentos do senhor Ossama Bin Laden.

A prática da caridade, para a qual nunca faltou dinheiro a um dos filhos de uma das mais ricas famílias sauditas, não é contraditória com a jihad. Amor para os nossos, e hostilidade para os de fora, são os dois preceitos que asseguram a estabilidade de muitos grupos sociais. Com uma ou outra variação, e com maior ou menor clareza, esta mecânica existe em todas as comunidades religiosas. E funciona.

Bin Laden ficou conhecido como «o Bom Samaritano». Anos depois, os pobres do Afeganistão e da fronteira paquistanesa ainda se recordam dele. Sacrificou uma vida serena, com dinheiro e conforto, pela sua fé. Um exemplo.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
6 de Julho, 2007 Ricardo Alves

No final do primeiro mandato da Comissão da Liberdade Religiosa

A Associação República e Laicidade enviou uma carta ao Ministro da Justiça onde faz o balanço do primeiro mandato de actividade da Comissão da Liberdade Religiosa (CLR). A carta destaca que a comissão que agora termina o seu mandato (nomeada por Celeste Cardona em Fevereiro de 2004) não espelhou a diversidade existente em matéria religiosa em Portugal, tendo sido deliberadamente excluídas da sua composição quer os defensores da laicidade do Estado, quer pessoas sem religião. Esta limitação traduziu-se num empobrecimento das perspectivas representadas na comissão, que foi particularmente visível nos colóquios promovidos, onde jamais foi convidado alguém que defendesse a laicidade do Estado ou uma pessoa que não tivesse religião. Efectivamente, e apesar de Portugal ser teoricamente um Estado laico, esta comissão estatal preferiu convidar oradores abertamente anti-laicistas (como Bacelar Gouveia, que foi ao ponto de confundir laicidade do Estado com ateísmo de Estado). Estive presente no primeiro colóquio promovido pela Comissão, e perguntei porque tinham sido convidados apenas oradores que descreviam os sistemas de relações entre Estado e igrejas na Alemanha, no Reino Unido ou na Espanha, e porque não era dada atenção aos sistemas mais laicistas da França ou dos EUA. Foi-me respondido taxativamente que essas perspectivas «não interessavam».

No entanto, a liberdade mais fundamental é a liberdade de consciência, que inclui a liberdade religiosa como um caso particular, mas que inclui também a liberdade de não ter religião e a liberdade de criticar a religião. Por querer restringir-se a pessoas e entidades religiosas, a CLR acabou por ver passar-lhe ao lado os debates mais importantes que neste período agitaram a sociedade portuguesa, nomeadamente sobre religião e violência, sobre a questão dos crucifixos ou sobre o protocolo de Estado. No período final, a CLR entrou em roda livre, com sugestões do seu presidente de «levar a religião às universidades», e com a proposta, no segundo colóquio, de uma disciplina obrigatória de religião. Note-se que qualquer uma destas propostas, se adoptada, afectaria os cidadãos sem religião ou sem prática religiosa (que constituem, registe-se, a maioria da população portuguesa).

A Comissão da Liberdade Religiosa, criada pela Lei da Liberdade Religiosa (2001), é formada por um presidente nomeado pelo Conselho de Ministros, três representantes das comunidades religiosas «radicadas» nomeados pelo Ministro da Justiça, «cinco pessoas de reconhecida competência científica» nomeadas pelo Ministro da Justiça, e dois membros directamente nomeados pela ICAR (que é a única confissão religiosa a que a Lei da Liberdade Religiosa não se aplica). Este arranjo é criticado pela Associação República e Laicidade num documento cuja leitura recomendo.

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
3 de Julho, 2007 Ricardo Alves

Pelo cilício e pela obediência, sempre!

Não há como estudarmos o nosso «inimigo» ideológico para melhor o compreendermos (e nesse processo compreendermos também porque nos encontramos no campo oposto). Na sequência do aniversário póstumo do fascistóide Josemaría Escrivá (devidamente assinalado pelo Carlos Esperança), o bispo auxiliar de Lisboa, Carlos Azevedo, produziu uma homilia onde explica com sinceridade o pensamento do fundador do Opus Dei.

Tal como o entendo, o sistema totalitário que o Opus Dei constitui funciona entre dois pólos: humilhação e obediência. Pela humilhação, destroem-se ou controlam-se as vontades, prazeres, instintos e valores éticos que podem afastar a ovelha do rebanho; e assim, castrado e amansado, se prepara o cordeirinho para obedecer, tornando-o um instrumento fiel da organização e dos seus objectivos. A homilia de Carlos Azevedo começa por desdenhar dos evangelistas e do «conteúdo da pregação de Jesus», para logo chegar ao que realmente interessa nas lendas cristãs: «à tua palavra, obedecerei» (o autoritarismo típico das religiões abraâmicas é útil para construir organizações de prosélitos e de soldados). Ao longo da homilia repetem-se depois as exortações a «ser instrumento nas mãos do Pai», e termina-se a prometer até a «glória» aos que «entregam a vida intensamente a ser instrumentos da Obra de Deus». As palavras recorrentes no texto são «vontade», «instrumento», «entrega» e, curiosamente, «liberdade». Mas esta é uma liberdade muito especial: ou é a «libertação» da «lei, do pecado e da morte» (sendo que «pecado» é quase tudo o que vale a pena, e a «libertação da morte» uma banha da cobra) ou então é a «liberdade» de ser instrumento («a vida de filhos tão queridos é impelida, com autêntica liberdade a ser instrumento nas mãos do Pai»). O único agente com «vontade» ao longo de todo o texto é «Deus». A ovelha não tem vontade, e portanto não é realmente livre. A autoridade divina garante a submissão terrestre. É uma leitura esclarecedora.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]