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Ricardo Alves

11 de Setembro, 2007 Ricardo Alves

Ex-muçulmanos, agora na Holanda

É hoje lançado na Holanda o Comité de Ex-Muçulmanos. Grupos semelhantes já foram formados na Alemanha, no Reino Unido, e em países escandinavos. O porta-voz da organização holandesa é Ehsan Jami, um jovem político trabalhista de origem iraniana, que se encontra actualmente sob protecção policial depois de ter sido atacado fisicamente o mês passado.

É na Europa que se vencerá a luta decisiva por uma nova relação entre os indivíduos e o Islão.
7 de Setembro, 2007 Ricardo Alves

Tudo como dantes

É extremamente lamentável que a «nova» Comissão de Liberdade Religiosa, naquilo que depende do actual Ministro da Justiça, Alberto Costa, seja igualzinha à «velha», nomeada por Celeste Cardona em 2004.

Alberto Costa decidiu manter em funções os três representantes das comunidades religiosas não católicas, incluindo a Comunidade Israelita de Lisboa, uma convicção que terá um número de crentes praticantes bastante inferior à Comunidade Bahá´í, e que é representada pela fundamentalista Esther Mucznik, que no anterior mandato da CLR tentou utilizar o seu lugar para introduzir no ensino público português uma disciplina obrigatória de religião e a correcção religiosamente orientada dos manuais. A CLR inclui ainda dois representantes nomeados directamente pela ICAR (a única comunidade religiosa a que a Lei da Liberdade Religiosa não se aplica), enquanto os restantes cinco lugares da CLR, que supostamente deveriam ser confiados a «especialistas», são utilizados pelo Ministério da Justiça para assegurar a representação hindu e xiíta, e para acrescentar três católicos (garantindo uma semi-maioria católica na comissão, e respeitando a hierarquia das igrejas em Portugal). Alberto Costa, ao reconduzir a CLR de Celeste Cardona, conseguiu não nomear para a CLR um único português sem religião, ou simplesmente alguém que entenda como fundamental o princípio (todavia, constitucional) de laicidade do Estado.

A única diferença significativa na composição desta comissão será portanto a presidência, para onde o conselho de ministros de Sócrates nomeou Mário Soares em substituição de Menéres Pimentel. Esperemos que Soares não confunda a Comissão de Liberdade Religiosa estatal com um qualquer fórum de diálogo inter-religioso organizado pela ICAR, e que compreenda que um departamento do Estado não pode ser usado para subverter o princípio constitucional de laicidade do Estado.

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
5 de Setembro, 2007 Ricardo Alves

Cientologia acusada na Bélgica

O ministério público da Bélgica levará a Igreja da Cientologia a tribunal com acusações de extorsão, fraude, exercício ilegal de medicina e contratos com cláusulas abusivas. O procurador acusará doze pessoas individuais, e a própria Igreja da Cientologia será acusada de ser uma organização criminosa.

A cientologia é uma igreja fundada em 1953 por L. Ron Hubbard, um ex-escritor de ficção científica que abusava do alcóol e dos comprimidos. Os cientologistas acreditam que, há 75 milhões de anos atrás, um comandante extra-terrestre chamado «Xenu» resolveu o problema da superpopulação nesta parte da galáxia despejando em vulcões da Terra a população em excesso, que teria sido liquidada com bombas-H. Ainda de acordo com a religião cientologista, as «almas» destas pessoas teriam sido aprisionadas com feixes electrónicos, e em seguida o malvado «Xenu» tê-las-ia exposto a sessões contínuas de filmes 3-D, processo durante o qual teriam sido «implantadas» nas «almas» falsas memórias de «Deus», «Cristo», «Diabo» e de outros acontecimentos. Estas «almas» (ou «Thetans») teriam depois invadido todos os seres vivos, e quem se quiser libertar delas terá que aderir à Igreja da Cientologia e seguir os seus «cursos» (pelos quais se paga bom dinheiro), e submeter-se aos «tratamentos» com maquinetas absurdas patenteadas pela Igreja. Durante esses cursos, obtêm-se geralmente confissões sobre a vida privada das pessoas, que posteriormente são usadas para intimidar e chantagear os desgraçados que caíram na ratoeira. Supostamente, quem seguir todas as instruções e tiver o dinheiro suficiente pode chegar a um ponto em que não apenas remove todas as «memórias negativas» («engramas»), como se cura de qualquer doença mental. Uns passos mais à frente, a Cientologia garante que os seus crentes ganham controlo sobre «o espaço, a matéria e o tempo» (incluindo a capacidade de mexer objectos com a mente).

Como é evidente, os mitos fundadores da cientologia não são menos disparatados do que a narrativa do génesis, e o «esquema» cientologista de controlo dos indivíduos não é diferente (a não ser em questões de grau) daquele usado por igrejas milenares, como a ICAR. Simplesmente, a cientologia é mais competente do que as religiões tradicionais no controlo interno dos indivíduos, no combate às heresias e aos críticos externos, na recolha de dinheiro, e nas pressões políticas. A Cientologia conta hoje com cerca de dez milhões de crentes, incluindo estrelas de cinema como John Travolta e Tom Cruise. Entre as igrejas fundadas no século 20, será provavelmente a que teve mais sucesso. Prevejo que será consensualmente respeitável dentro de cinquenta anos.
4 de Setembro, 2007 Ricardo Alves

Criacionismo nas escolas públicas portuguesas

Conforme os leitores mais antigos do Diário Ateísta talvez se recordem, o criacionismo é ensinado nas escolas públicas portuguesas na disciplina de Educação Moral e Religiosa Evangélica. No novo programa de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), o criacionismo aparece, a par da «evolução das espécies», nos «conteúdos» do «ensino secundário» (página 159 do programa de EMRC):
  • «A origem do ser humano e a evolução das espécies vs o criacionismo, numa visão literal da Bíblia; A visão científica sobre a origem do universo; Is 64,7: Deus é o criador do ser humano; Sl 136(135),1-9; Jr 10,6.10a.11-13.16 A origem do universo e a doutrina da criação».

Temos assim que nas aulas de biologia e física se ensinam (espero eu) teorias comprováveis sobre a origem do universo e da humanidade, e uma hora depois, nas mesmas salas, pessoas investidas pelo Estado de idêntica autoridade escolar colocam mitos inventados por uns pastores do Médio Oriente a par de teorias revisíveis, quantificáveis e corroboradas pela observação. Assim se mergulha os alunos no pior relativismo epistemológico, convencendo-os de que a relatividade geral e a narrativa do génesis são abordagens igualmente válidas da realidade.

O criacionismo aparece também, por exemplo, na página 104 («conteúdos» para o 7º ano de escolaridade):

  • «A mensagem fundamental do Génesis (1-2,24): A origem de todas as coisas é Deus; Deus mantém as coisas na existência; O amor de Deus cria e alimenta a natureza; Todas as coisas materiais são boas; O ser humano é a obra-prima de Deus; Sl 8: Hino ao Criador do ser humano».

O programa de EMRC tem ainda as suas pitadas de propaganda anti-ciência, por exemplo na página 158:

  • «O determinismo cientista e a liberdade e dignidade do ser humano; (…) A ordem e a racionalidade do universo vs o acaso como hipótese explicativa; A rejeição da hipótese «Deus» como factor explicativo na ciência».

Uma pessoa estremece só de imaginar o que um professor de EMRC (que, recorde-se, não pode ser nomeado nem demitido sem o «acordo» da «autoridade eclesiástica») pode fazer com estas indicações: desde extrapolações simplistas de que «a ciência determinista tira a liberdade ao Homem», até falsas alternativas entre a «ordem divina» do universo e o «acaso» que erradamente se atribui à visão científica (na realidade, a formação da Terra ou a selecção natural não são «acasos», da mesma forma que a queda de um objecto ou a extinção de uma espécie por predação também não são «acasos»; são, isso sim, acontecimentos sem propósito ético).

Note-se que o direito de acreditar em mitos antiquados, e até o direito de ensiná-los, é intocável. Simplesmente, é inaceitável que esse ensino tenha lugar na escola pública, paga pelos contribuintes e mantida pelo Estado para difundir o conhecimento e a ciência. Como é inaceitável que na escola da República se ensinem valores anti-republicanos.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

4 de Setembro, 2007 Ricardo Alves

Defende-se a pena de morte na escola pública portuguesa

O nº2 do artigo 24º da Constituição da República Portuguesa é claro:
  • «Em caso algum haverá pena de morte».

Presume-se, portanto, que a oposição à pena de morte é um valor importante da nossa comunidade política. E, em boa lógica, espera-se que na escola pública não se defenda a pena de morte. E no entanto, do programa de uma disciplina oficial e paga pelo Estado (embora os professores sejam nomeados pelos delegados de um Estado estrangeiro), faz parte o seguinte tópico:

  • «Razões para a manutenção da pena de morte».

O programa escolar em causa é elaborado por uma organização com sede em Roma que «não exclui (…) o recurso à pena de morte», embora tenha perdido há muito a capacidade de a fazer aplicar em massa. E, por incrível que pareça, o Estado limitou o seu direito a alterar o programa desta disciplina leccionada na escola pública.

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

28 de Agosto, 2007 Ricardo Alves

Censura

Enquanto na Suécia um jornal publica uma caricatura de Maomé sem qualquer problema, na Malásia a publicação de uma caricatura de Cristo implica a suspensão durante um mês de um jornal. Note-se que a caricatura do jornal sueco exibia um cão com cara de Maomé, enquanto a do jornal malaio mostrava Cristo com um cigarro numa mão e uma cerveja na outra. E que no segundo caso houve pedido de desculpas, e no primeiro não. Porque a diferença real não está nem no profeta, nem no credo respectivo, nem nas pressões internacionais. Está no regime político.
27 de Agosto, 2007 Ricardo Alves

Proibir o Corão?

O holandês Geert Wilders diz que quer proibir o Corão. O que ele quer é atenção, mas a ideia é péssima. Não se deve proibir o Corão: deve-se criticá-lo, refutá-lo e ridicularizá-lo. Não se proíbe ninguém de ser muçulmano (ou católico, ou cientologista), numa sociedade em que se pode explicar-lhe que «Deus» é uma fantasia intelectual, que os sacerdotes enganam as pessoas e que a religião organizada é uma aldrabice massificada.

O populista holandês diz ainda que o Corão «é fascista e semelhante ao Mein Kampf». É verdade. E outro tanto pode ser dito sobre a Bíblia. Mas o Corão não se proíbe, como também não se proíbe a Bíblia ou o Mein Kampf. As apologias da violência, da discriminação, da instauração de regimes opressivos, como as defesas da escravatura e da opressão das mulheres que estes livros contém, são genuínas e inspiraram alguns dos piores regimes que a humanidade conheceu. Mas privar-nos de as ler seria tirar-nos as armas com que nos poderemos defender. E perder a liberdade de expressão que tanto gozo nos dá exercer.
[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
14 de Agosto, 2007 Ricardo Alves

A democracia mais teocrática

A democracia mais teocrática do mundo chama-se Israel. Não existe casamento civil. A nacionalidade é atrbuída por critérios de religião. Os rabinos ortodoxos são funcionários do aparelho de Estado. O criacionismo é ensinado nas escolas como se fosse verdade.

Muitos, por ingenuidade ou por calculismo político, garantem-nos que Israel é tão laico como qualquer país da Europa ocidental. É falso. Aconselho a visão de um debate entre uma ex-deputada de um partido de esquerda israelita e um rabino que garante que a Constituição é a Torá.

31 de Julho, 2007 Ricardo Alves

Qual conflito, amigo?

Há quem se preocupe muito com um hipotético conflito entre a ciência e a religião. Fazem mal, porque na realidade não há conflito algum. Nunca houve. A história do relacionamento entre a ciência e a religião é a história da correcção da segunda pela primeira. Ou melhor, do recuo da religião perante o avanço da ciência.

Houve um tempo em que a religião pretendia saber a correcta ordem cosmológica, especificamente que era o Sol que rodava em torno da Terra. Depois de umas altercações que não evidenciaram muito «amor cristão» do lado eclesial (que repetidamente proclama ter uma «sabedoria» especial em matéria de «amor»), a ICAR recuou.

Até ao final do século 19, o cristianismo pretendia que as espécies se tinham mantido fixas ao longo do tempo, que não tinham evoluído, e que muito menos se tinham diferenciado a partir de antepassados comuns. O cristianismo não tinha razão.

Ainda recentemente, insistiam que os continentes tinham sido criados por um «dilúvio». Errado outra vez.

Por mais que procuremos, não se encontra um único assunto no pretenso «conflito» entre ciência e religião em que a segunda tenha marcado um ponto contra a primeira. Isto não é um conflito, é um massacre.

Senhores religiosos: do fundo da minha amizade anti-cristã (e portanto porventura mais ampla do que a cristã), sugiro-vos uma solução fácil e eficaz para que deixeis de sentir que existe um «conflito» onde há apenas uma goleada de baliza aberta. E a solução é: deixai de fazer alegações sobre o mundo sensível. Renunciai à «criação» do universo, abandonai a crença na «ressurreição», aceitai que a «alma» é um nome pretensioso para um conjunto de funções biológicas, e vereis que deixareis de sentir que existe um «conflito». Dedicai-vos à ética e nada mais. Sei que aí também não concordamos, mas esse é um conflito genuíno sobre possibilidades reais. Esquecei tudo o resto, inclusivé aquela treta da mulher a aparecer em cima das azinheiras.

Certo, amigos?

23 de Julho, 2007 Ricardo Alves

Atentado contra quem?

  • «O fenômeno dos sacerdotes pedófilos na diocese de Los Angeles tem uma amplitude assustadora e é um atentado contra a identidade da missão que temos que desempenhar» (cardeal Tarcisio Bertone na Zenit).

Importa-se de repetir? O abuso sexual de menores é um «atentado contra a identidade da missão» católica? Não será antes um atentado contra a auto-determinação das crianças? Contra o seu direito a uma livre escolha da sua sexualidade? Senhor cardeal, um pouco mais de respeito pela liberdade e pela sexualidade das crianças ficaria bem à sua igreja…