A judia fundamentalista Esther Mucznick brindou-nos, no Público de quinta-feira, com a sua (má-)fé e fanatismo habituais.
Exemplo:
Em primeiro lugar, a laicidade constitucional é bem mais «radical» nos EUA do que em França (note-se os subsídios estatais de que gozam centenas de igrejas católicas em França, e que seriam inconstitucionais nos EUA). Em segundo lugar, considerar a religião «um factor de atraso e obscurantismo» não é anticlericalismo (ou laicismo), mas sim anti-religiosidade. Em terceiro lugar, os laicistas sabem distinguir o espaço estatal (que deve ser religiosamente neutro) do espaço público (que pode ser
pluriconfessional). Em quarto lugar, considerar o laicismo uma religião necessita de um conceito tão abrangente de religião que duvido que a senhora Mucznick lhe aturasse as consequências. Mas é de registar a espontaneidade com que associa dogmatismo e religião.
E continua:
Esqueceu-se a senhora Mucznick do papel de «combate» às ditaduras desempenhado pela ICAR em Portugal (saberá onde fica?), na Espanha de Franco a Aznar, na França de Pétain, na Alemanha do católico Hitler, na Eslováquia do padre Tiso, na Croácia de Pavelic e Stepinac, na Argentina dos militares, no Chile de Pinochet, e, já agora, o papel de «fermento» da religião no Irão dos aiatolás, no Tibete feudal, na Arábia Saudita onde as
mulheres não podem sair à rua sozinhas, ou no Sudão, para nos ficarmos apenas pelos casos mais recentes. Esqueceu-se também a senhora Mucznick de que quem se prostrou perante Hitler foi o Partido do Centro Católico que lhe votou os plenos poderes (ditadura) e o Pio 12 da Concordata que a ICAR recebeu em troca. Esqueceu-se ainda de que o ser humano não tem nenhuma tendência natural para a prostração ou para rastejar, são as
religiões abraâmicas que o tentam transformar em escravo.
No fundo, o clericalismo judeu é pior do que o católico, embora se dê menos por isso.
Sam Harris, depois do sucesso do seu primeiro livro e da publicação de um segundo, prepara-se para lançar uma fundação («The Reason Project») dedicada a «difundir o conhecimento científico e os valores laicos» na sociedade, com o propósito de contribuir para a «erosão (…) do dogmatismo, superstição e fanatismo». A fundação contará, no seu conselho consultivo, com figuras como Richard Dawkins, Daniel Dennett, Rebecca Goldstein, Ayaan Hirsi Ali, Steven Pinker, Ibn Warraq e Steven Weinberg, e promoverá conferências, produzirá filmes e fornecerá bolsas.
Em muitos casos, o ateísmo militante é uma porta de entrada para a militância laicista ou para a divulgação científica. Em Setembro, na conferência da Atheist Alliance (aqui referida pelo Ricardo Silvestre e pelo Helder Sanches), Sam Harris mostrara já ter compreendido que a religião não vai desaparecer, talvez nem no século 4º da era iluminista, e que os ateus, de facto, têm pouca apetência para «converter» crentes. Efectivamente, não existem, em todo o mundo, muitas organizações ateístas. Os ateus que decidem associar-se optam ou pela intervenção política laicista, ou pela difusão do pensamento crítico e céptico (nalguns casos, pelos dois caminhos), em ambas as situações misturados com outros que não são ateus ou não se definem nesses termos. Em Portugal, temos a Associação República e Laicidade e a Associação Cépticos de Portugal.
Habituara-me a situar José Policarpo entre os mais moderados dos bispos portugueses. Afinal, enganei-me. É um fanático que acha que existirem pessoas com ideias diferentes das dele é mais grave do que existir fome, guerras ou miséria. Enfim. Estamos a falar de uma religião que acha que há pensamentos que podem condenar uma pessoa a viver a «eternidade» em sofrimento. E portanto.
Num país em que a TV pública fala das «aparições» de Fátima como se fossem um facto, em que os jornais ainda precedem o nome dos bispos (mas só dos da ICAR) de um reverente «D.», e em que raramente se fala de como pensa e vive essa (afinal…) maioria da população que não pratica qualquer religião, o Diário Ateísta destacou-se por fornecer uma visão ateísta e científica do mundo, reflectir sobre ética e valores a partir de premissas humanistas seculares, divulgar notícias que os jornalistas «religiosamente correctos» escondem ou distorcem, e tratar os membros do clero como pessoas iguais às outras. Nestes quatro anos, o Diário Ateísta ajudou também a organizar três encontros de ateus, duas idas à televisão, publicitou dois livros de autores da casa ou quase, e contribuiu para mudar o modo como se olha para a religião em Portugal.
É de toda a justiça recordar os colaboradores que nos ajudaram a chegar aqui, e que por razões diversas que pessoalmente lamento em cada caso, se afastaram do Diário Ateísta: Palmira Silva, Ludwig Krippahl, Luís Rodrigues, Pedro Fontela, André Esteves, Christiane Assis Pacheco e Mariana Pereira da Costa. E seria falta de educação deixar de agradecer o apoio dos nossos comentadores mais frequentes: gt, 1atento, José Moreira, Ana, D. Frederico da Sé de Braga, Nina the Cat, panúrgio, Veríssimo, kavkaz, Adão Latorre, Satanucho, ateu comunista, FR, entre muitos outros.
Infelizmente, a presença nas caixas de comentários de católicos (leigos e sacerdotes) deseducados pela missa, que cospem óstia e vomitam o seu discurso de ódio, insultos e ameaças, pode obrigar-nos a alterar o modo de funcionamento das caixas de comentários. Chegámos a um ponto em que a tolerância excessiva se tornaria laxismo. O Diário Ateísta tem a singularidade de ser um espaço criado por ateus e para ateus, e portanto não permitiremos que as constantes tentativas de boicote desvirtuem essa intenção. Acima de tudo, estamos aqui para nos divertir.
Hoje, o programa «A Voz do Cidadão» (organizado pelo Provedor dos telespectadores da RTP) será sobre religião. Às 21 horas no canal RTP 1, e às 19h44m no RTP Internacional, com repetição amanhã às 14h45m no RTP 2, e às 19h45m no RTP N. Vamos ver.
Se consulto os fenómenos geológicos,
Se contemplo no céu as nebulosas,
Se interrogo os segredos histológicos,
E os restos das esferas luminosas;
Vejo sempre matéria em traços lógicos,
No espaço, nas entranhas tenebrosas,
Com átomos subtis, embriológicos,
Tecendo maravilhas assombrosas
Transformação constante – a causa eterna
Eis a lei que preside e que governa,
O facto que destrói a escura fé.
É debalde que os crentes se consomem,
Se Deus veio primeiro do que o homem,
Deve ser, quando muito, um chimpanzé.
Este soneto claramente ateísta foi publicado, em 5/6/1910, no Jornal de Abrantes, pela republicana, feminista e socialista Angelina Vidal. Repare-se no deslumbramento perante um universo cujos mistérios só se resolvem pela ciência, e na coragem da blasfémia final.
O Diário de uns ateus é o blogue de uma comunidade de ateus e ateias portugueses fundadores da Associação Ateísta Portuguesa. O primeiro domínio foi o ateismo.net, que deu origem ao Diário Ateísta, um dos primeiros blogues portugueses. Hoje, este é um espaço de divulgação de opinião e comentário pessoal daqueles que aqui colaboram. Todos os textos publicados neste espaço são da exclusiva responsabilidade dos autores e não representam necessariamente as posições da Associação Ateísta Portuguesa.