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Ricardo Alves

28 de Janeiro, 2008 Ricardo Alves

Ciência e teologia

A divergência entre ateísmo e religião não se resume à existência de «Deus». Na sua raiz, é principalmente uma divergência quanto ao método de analisar a realidade. O ateu, normalmente, confia na ciência (teoria -> confronto com a observação -> nova teoria -> etc). O crente, incrivelmente, acha que «houve umas pessoas especiais» que sabem (ou souberam) mais do que as outras sobre a natureza das coisas, apesar de terem vivido há muito tempo em sociedades menos tecnológicas. Enfim, o mundo é um lugar estranho.

26 de Janeiro, 2008 Ricardo Alves

«Do 28 de Janeiro ao 5 de Outubro»

Terça-feira 29 de Janeiro, às 18h30m na Biblioteca Museu República e Resistência, terá lugar a conferência «Do 28 de Janeiro ao 5 de Outubro», por Francisco Carromeu (organização da Associação República e Laicidade).

Refira-se que, há apenas 100 anos, existiam em Portugal organizações como a Associação do Registo Civil (mais tarde, Associação do Livre Pensamento), capazes de reunir 20 000 pessoas em manifestações anticlericais. É uma época difícil de imaginar hoje, e na qual se registaram enormes avanços para a causa da laicidade. A conferência ajudará certamente a desfazer alguns mitos que a propaganda monárquica e católica tem propagado.

26 de Janeiro, 2008 Ricardo Alves

Detido por blasfémia no Afeganistão

O jornalista afegão Parwiz Kambakhsh foi preso em Outubro de 2007, e condenado à morte pelo «Conselho dos Eruditos Religiosos» da província de Balkh, pelo «crime» de imprimir um artigo (da Internet) que apontava alguns versos do Corão particularmente nocivos para os direitos das mulheres.

Pode ler-se mais informação sobre este caso (e formas de protestar) no blogue da ateísta militante iraniana Maryam Namazie.

É gente desta que tem, verdadeiramente, coragem.

21 de Janeiro, 2008 Ricardo Alves

Ausência de fé não é fé

Há religiosos que gostam de dizer que os ateus têm fé de que «Deus» não existe, e que portanto têm tanta fé como os crentes.

É uma afirmação absurda. Ausência de fé não é ter fé, do mesmo modo que a careca não é um penteado e a saúde não é uma doença. Pode estar-se doente com gripe, arteriosclorose, varicela, diabetes, gonorreia ou cancro, mas estar saudável não é uma doença: é o estado de ausência de doença. Da mesma forma, pode ser-se muçulmano, católico, cientologista, mórmone ou budista, mas ser ateu não é outra forma de ter fé; é ausência de fé.

18 de Janeiro, 2008 Ricardo Alves

«Vida espiritual»

«Vida espiritual» é só um nome pretensioso para a actividade cerebral.

Aos religiosos que argumentam que os pensamentos de cada um de nós são mais do que função da matéria que nos constitui, gostaria de perguntar qual foi o primeiro animal que teve «vida espiritual» (ou «alma», já agora). Foi o nosso antepassado comum com os chimpanzés e os orangotangos? Foi o Neanderthal? Começámos a pensar de modo diferente com o Neolítico? Antes? Depois? Quando?

17 de Janeiro, 2008 Ricardo Alves

O agnosticismo superficial

Há um certo agnosticismo superficial que os crentes tentam, por vezes, invocar a seu favor. Parte da premissa de que «a ciência não pode refutar a existência de Deus», se esse «Deus» encolher para dimensões deístas (iniciou o universo e remeteu-se à inactividade) ou ainda menores (existe fora de um universo que não criou mas que observa sem fazer nada). Tendo lidado com a contradição entre ciência e teologia dessa forma superficial, alguns crentes partem depois para uma defesa dos dogmas das religiões reveladas, ou, quando é a política que lhes interessa, para uma defesa dos valores morais mais ou menos reaccionários das igrejas tradicionais.

Acontece que da premissa de que a ciência tenha dificuldade em dizer algo sobre um «Deus» situado fora do universo não se segue, em primeiro lugar, que a religião tenha algo de válido a dizer sobre essa mesma hipótese. Em segundo lugar, ao agnosticismo face a um «Deus» indetectável deveria seguir-se uma equidistância face às diversas religiões com ele compatíveis, e até a oposição às religiões que se acham «reveladas» (para nada dizer dos respectivos valores morais).

No entanto, deve sublinhar-se que se os humanos criadores das diversas religiões reveladas tivessem inventado deuses meramente ausentes, e tranquilamente exteriores ao universo, jamais teriam tido sucesso. Esses deuses nunca teriam garantido as formas de relação com os falecidos que constituem o apelo maior comum a tantas religiões, ou os argumentos de autoridade que permitiram aos sacerdotes aliar-se aos poderes políticos. A crença no «Deus» ausente, no fundo, só serve mesmo para fins de credibilidade filosófica.

15 de Janeiro, 2008 Ricardo Alves

Nota sobre o acaso

Os crentes costumam afirmar que, na ausência de crença em «Deus», «nós estamos aqui por acaso». Esta afirmação presta-se a confusões.

Em primeiro lugar, os crentes costumam englobar no «acaso» dois conceitos distintos: a aleatoriedade e a ausência de propósito ético. Fazem-no porque na sua cosmovisão a distinção não existe ou é nebulosa, uma vez que atribuem ao universo simultaneamente uma criação divina (que inclui as leis que o regem), e um propósito ético, que remetem para a mesma entidade.

No entanto, a existência do nosso planeta, da nossa espécie animal, ou de cada um de nós individualmente, considerados os constrangimentos das leis físicas e as inevitabilidades dos sistemas biológicos, é tanto um acaso como a verticalidade da queda do meu telemóvel se eu o largar no ar. Não são acasos no sentido de aleatório.

E a existência da nossa espécie tem tanto propósito ético, à partida, como a existência dos chimpanzés ou dos caranguejos. O desenvolvimento de uma linguagem complexa, e depois de uma cultura, convenceram-nos do contrário. E quem conta estórias grandiosas, mesmo que falsas, engana os incautos.

14 de Janeiro, 2008 Ricardo Alves

O catecismo católico-fascista em Espanha

«[Franco é] o homem providencial, escolhido por Deus para governar a Espanha (…) é como a encarnação da Pátria e tem o poder recebido de Deus para nos governar».

As palavras são do Catecismo Patriótico espanhol, escrito por dois padres que, em pleno franquismo, produziram para as crianças uma descrição da síntese de fascismo e catolicismo conseguida por Franco. No livro em causa, classificam a Espanha de Franco como um Estado «totalitário cristão». Um caso típico que mostra como o fascismo e o catolicismo dos anos 30 foram duas realidades apenas separáveis no âmbito teórico.