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Ricardo Alves

28 de Junho, 2012 Ricardo Alves

O debate sobre a circuncisão na Europa

A circuncisão é praticada por pessoas de duas comunidades religiosas originárias do Médio Oriente. Por ser dogma dessas duas religiões, aceita-se na Europa que cortar parte da pele do pénis das crianças do sexo masculino, sem razões médicas, não seja crime. Nunca compreendi porquê: a paternidade (ou a maternidade) não podem, em qualquer sociedade civilizada, dar o direito aos pais de cortar partes dos corpos dos filhos. E se se trata de um dogma religioso tão importante, que esperem que as crianças tenham idade para dar o seu consentimento informado (lá para os dezasseis anos, por exemplo).
Felizmente, o assunto começa a ser debatido. Na Alemanha, um Tribunal de Colónia deliberou que o direito de uma criança à sua integridade física era mais importante do que os direitos dos pais. Na Noruega, discute-se a proibição pura e simples, e na Holanda há um apelo nesse sentido de uma associação médica.
Evidentemente, não vão tardar os gritos de «islamofobia» e «anti-semitismo» daqueles que acham que a «religião» e a «cultura» têm direitos sobre os corpos de crianças que nem idade têm para compreender o que lhes estão a fazer.
[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
22 de Junho, 2012 Ricardo Alves

Austrália: «sem religião» já são 20%

Segundo o censo australiano de 2011, os «sem religião» ultrapassaram os 20%. Pela primeira vez, houve mais pessoas a responder «sem religião» (4,8 milhões), do que «anglicano» (3,7 milhões). O único grupo maior do que os «sem religião» são os «católicos» (5, 4 milhões). Por enquanto.

9 de Junho, 2012 Ricardo Alves

Propriedade ateísta

O Ricardo Pinho não gosta do Diário Ateísta. Está no seu direito. Não pode é esperar que os outros partilhem o seu gosto pessoal.

Colaboro com o Ricardo Pinho há mais de dez anos. Primeiro, numa mailing list ateísta defunta, depois no site ateismo.net, e depois ainda no blogue Diário Ateísta. Ao longo desses anos foram-se juntando pessoas, organizando encontros e dando maior visibilidade ao ateísmo. A discussão sobre a medida certa de crítica religiosa, divulgação da ciência e defesa da laicidade nas atividades deste grupo é recorrente. E nunca terá final, compreensivelmente.

O que não entendo  nem nunca entendi é que o Ricardo Pinho, não gostando do que os outros fazem, não faça ele mesmo. Nos quase nove anos que leva o Diário Ateísta, raramente escreveu. A despenalização da IVG interessou-lhe, é certo. Mas não me recordo que se tenha esforçado por escrever, sabiamente ou não, pelo menos uma vez por mês (ou por ano) sobre ateísmo.

Enfim. Não entendo também a importância que dá a quem tem o site registado em seu nome, ou porque é que finge não saber que este texto não é uma resenha. A vida continua, neste site ou noutro. Só me chateia verdadeiramente que escreva que eu não aprecio Bach ou os quadros do El Greco. Isso, é imperdoável. E já que estamos nisto, também aprecio uma boa sátira anti-religiosa. Chamar-lhe «ódio» é que é cómico.

8 de Junho, 2012 Ricardo Alves

Correlação entre religiosidade e racismo?

Segundo uma sondagem da Universidade de Tel-Aviv, 52% dos judeus (de Israel) concordam que os imigrantes africanos são «um cancro no corpo do Estado de Israel» (45% não concordam, 3% «não sabem»). Dado muito interessante da sondagem: 81,5% dos ultra-ortodoxos («haredim») concordam, 66% dos ortodoxos também, mas apenas 38% dos «judeus seculares» (o que vai desde judeus crentes mas não praticantes até ateus). Conclusão: a irracionalidade do racismo parece acompanhar (em parte) a da religiosidade. Pelo menos, no caso dos judeus israelitas.
[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
22 de Abril, 2012 Ricardo Alves

Para acabar de vez com a sondagem da católica

Verifica-se facilmente que os respondentes à sondagem da Universidade Católica sobre religião mentiram analisando os resultados para a região norte (ver gráfico na Ecclesia). A soma das percentagens de «católico militante» (12,2%) e «católico observante» (29,0%) dá 41,2%. Ou seja, dois em cada cinco respondentes disseram que vão à missa pelo menos uma vez por semana. Viseu faz parte da região norte, e não é de crer que tenha uma percentagem de «missalizantes» muito inferior à média dessa região. A própria ICAR contou, o ano passado, as cabeças presentes na missa. Eram 20% da população local. E não acredito que tenham subestimado o número. Logo, entre as duas pessoas em cada cinco que disseram ir à missa (sondagem) e haver uma em cada cinco que a diocese de Viseu disse lá estarem… metade dos que disseram ir à missa mentiram.
[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
16 de Abril, 2012 Ricardo Alves

Apontamento sobre uma sondagem

A Universidade Católica fez, em Novembro, uma sondagem de rua a 3500 pessoas. Os resultados parcelares estão nos jornais de hoje e merecem alguns breves comentários.
  1. A percentagem de pessoas sem religião aumenta relativamente a outro estudo de 1999: passa de 8.2% para 14.2%. Nesse grupo, os ateus passam de 2.7% para 4.1%, os agnósticos de 1.7% para 2.2% e os indiferentes de 1.7% para 2.2%.
  2. As pessoas de outras religiões passam de 2.7% para 5.7% (evangélicos de 0.3% para 2.8%, testemunhas de jeová de 1% para 1.5%, não cristãos de 0.2% para 0.8%).
  3. Os católicos passam de 86.9% para 79.5%.
Estes resultados parecem-me razoáveis e expectáveis. Mas há um segundo conjunto de dados que me parece mais discutível.
  1. 31.7% dos portugueses (dizem que) vão à missa «pelo menos uma vez por semana» e 14% «pelo menos uma ou duas vezes por mês». Algo de muito estranho se passa aqui: os 31.7% que (dizem que) vão à missa todos os domingos, mais um quarto dos 14% que vão «pelo menos uma vez por mês» (portanto pelo menos um domingo em cada quatro) são uns 35%. A nível nacional, parece imenso. Mas acontece que há poucas semanas a diocese de Viseu da ICAR divulgou uma «contagem de cabeças» que concluiu que a presença na missa dominical tinha caído de 29% para 20% entre 2001 e 2011. É possível que 20% dos viseenses vão à missa todos os domingos e que a média nacional seja 35%? Seria possível se distritos onde vivem muitas mais pessoas tivessem percentagens mais elevadas. Não creio que seja o caso: Viseu deve estar acima da média nacional em presenças na missa. Portanto, os respondentes à sondagem da Católica mentiram(*).
  2. Um terço dos inquiridos não concorda «com a doutrina de nenhuma igreja ou religião» e 22% «discorda das regras morais das igrejas e das religiões». Esse terço (33%) inclui os 14% sem religião, mas inclui também uns 19% que, mesmo assim, se dizem católicos ou de outra confissão religiosa? Quer dizer que 19% da população nacional vai à igreja ou templo evangélico ouvir doutrina com que «não concorda»? Então vai ouvir música e ver o espectáculo? Ou serão todos não praticantes? É cómico.
Nota final: só mesmo o António Marujo para pegar nos dados desmontados acima(*) e produzir o título  triunfalmente católico «Oito em cada dez portugueses são católicos e quase metade vai à missa». Infelizmente, este género de manipulação é habitual neste jornalista militante clerical que já ganhou dois prémios da Fundação Templeton, conhecida por «dar dinheiro a quem tem algo de agradável a dizer sobre a religião» (ler as esclarecedoras opiniões de Daniel Dennett e Anthony Grayling, Massimo Pigliucci e Richard Dawkins sobre a Templeton).

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
1 de Abril, 2012 Ricardo Alves

Deus existe

Não há Deus senão Alá, Maomé foi o seu profeta, e eu rezo virado para Meca todos os dias.

29 de Março, 2012 Ricardo Alves

Orwell em Cuba

Talvez por ter sido poupado a uma educação católica, espanta-me sempre o respeito e até veneração que rodeiam um homem que espalha pelo mundo (livre ou não) uma mensagem totalitária e menorizadora da mulher. Refiro-me a Ratzinger. Em Cuba, disse que “a obediência na fé é a verdadeira liberdade”. Imediatamente me recordei do “liberdade é servidão” no Mil Novecentos e Oitenta e Quatro de George Orwell. A semelhança é aumentada porque poucas palavras antes o papa católico elogiara a escravatura (divina) na pessoa da “Virgem”, a quem atribuiu o dito “eis aqui a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”.

O duplipensar foi definido por Orwell como “o poder de manter na mente simultaneamente duas crenças contraditórias, aceitando ambas”. Ratzinger, nota-se, é um cultor do duplipensar: já em 2005 afirmara que “a fé vem da razão”, no fundo uma variante fina do slogan “ignorância é força”. Será lícito supor que alguém que a quase unanimidade dos mediocratas lusitanos jura ser um grandessíssimo intelectual desconheça Orwell? E que não saiba portanto que quase plagia os slogans do totalitarismo ficcionado (e satirizado) nesse célebre romance? O leitor que responda, que eu não consigo.

Os cubanos, submetidos a uma ditadura idêntica às que Orwell criticou, viram Ratzinger oferecer-lhes um sistema de pensamento tão parecido e tão totalitário. Pobres deles.