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Ricardo Alves

13 de Março, 2009 Ricardo Alves

Sejamos tolerantes com o fascismo e o crime, diz Ratzinger

Para se justificar da desexcomunhão dos lefebvristas, Ratzinger sai-se com esta:

  • «Poderemos nós simplesmente excluí-los, enquanto representantes de um grupo marginal radical, da busca da reconciliação e da unidade? E depois que será deles?»

É bonito. É aquela coisa cristã da abertura a todos, do criminoso ao violador, do pedófilo ao genocida, todos-mesmo-todos encontram a ICAR aberta, menos, evidentemente, as mulheres que abortam ou os homens que gostam de outros homens. Isso sim, é inadmissível.

Ratzinger diz-nos mais:

  • «Às vezes fica-se com a impressão de que a nossa sociedade tenha necessidade pelo menos de um grupo ao qual não conceda qualquer tolerância, contra o qual seja possível tranquilamente arremeter-se com aversão.»

Tem razão. Há coisas que serão sempre crime, em qualquer país e em qualquer língua: o homicídio, a violência gratuita, a selecção de grupos sociais para serem discriminados ou eliminados, etc… Espera lá. O nazismo fez isso tudo. Alguns fascistas gostariam de repeti-lo. Ratzinger acha que os deveríamos «tolerar»? A sério?

Sem mais comentários.

13 de Março, 2009 Ricardo Alves

Ratzinger afirma-se info-excluído. Acredite quem tiver fé…

Sobre o caso Williamson, o Papa dos católicos explica-se assim:

  • «Disseram-me que o acompanhar com atenção as notícias ao nosso alcance na internet teria permitido chegar tempestivamente ao conhecimento do problema. Fica-me a lição de que, para o futuro, na Santa Sé deveremos prestar mais atenção a esta fonte de notícias

Portanto, quer convencer-nos de que, no Vaticano, ninguém tem acesso à internet. Os seus assessores só usam os computadores para escrever cartas e fazer tabelas de contabilidade. Não há empresas de telecomunicações que lhes façam contratos, muito menos rede sem fios em toda a «cidade» do Vaticano. Não há agências noticiosas do Vaticano na internet. O site do Vaticano deve ser pirata. O canal do Vaticano no youtube é no gozo. O do twitter também não existe.

Enfim, admito que Ratzinger seja info-excluído. Mas tentar convencer-nos de que não sabia nada sobre o extremismo político-religioso dos lefebvristas (que conhece há pelo menos 20 anos), e que ninguém em toda a Praça de S. Pedro e arredores usa a internet para se informar sobre religião, é tomar-nos por parvos.

25 de Fevereiro, 2009 Ricardo Alves

Williamson expulso da Argentina

O bispo negacionista Williamson abandonou a Argentina. Regressou ao Reino Unido, país de que é nacional. Williamson é hoje um herói das organizações de extrema-direita e neo-nazis.

No aeroporto, dois elementos da sua guarda pessoal agrediram um jornalista, enquanto o próprio Williamson os ameaçava com o punho.

A polémica, para além de mostrar o anti-semitismo que persiste nos sectores católicos tradicionalistas de que Ratzinger se escolheu aproximar, evidenciou também as ligações da Fraternidade São Pio X à ditadura militar argentina. Em 1976, Lefebvre elogiou a ditadura argentina como «um governo de ordem, que tem princípios». Em 1977, reuniu-se com o ditador Videla, que lhe facilitou a instalação no país da sua organização. Os lefebvristas viriam a ter um acesso privilegiado às forças armadas argentinas. Recorde-se que a ICAR argentina colaborou proximamente com a ditadura militar, havendo mesmo o caso de um padre que colaborou na tortura de presos políticos, e que foi posteriormente protegido pela hierarquia da ICAR. Depois de detido (numa paróquia remota do Chile) seria condenado a prisão perpétua. Sabe-se também que a Fraternidade São Pio X deu asilo, em França, ao criminoso de guerra fascista Paul Touvier.

Williamson não deseja, visivelmente, qualquer reconciliação com Roma, para ele um antro de comunistas e mações. Roma também não deseja Williamson, que se tornou incómodo. A própria Fraternidade São Pio X ganhará em desembaraçar-se de um homem que diz em voz alta o que costumam dizer em privado. A solução, portanto, deverá ser a marginalização de Williamson.

Como o Diário Ateístaanunciara no verão de 2005, Ratzinger tem uma postura de abertura à extrema-direita. Presumivelmente, deseja uma ICAR mais coesa (mais radical), e se isso implicar a diminuição do número de católicos, pouco lhe importa. Resta saber como lidará com o anti-semitismo de outras figuras da Fraternidade São Pio X, como Tissier de Mallerais.

Williamson tem o seu próprio blogue.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

21 de Fevereiro, 2009 Ricardo Alves

Vem aí a «desestruturação»!

Os bispos portugueses da ICAR publicaram o seu mui aguardado documento teórico sobre o casamento entre homossexuais.

Essencialmente, dizem-nos que o casamento «desestrutura» a sociedade. Ou seja, pessoas do mesmo sexo poderem casar-se, assumirem jurídicamente deveres mútuos, comprometerem-se a sustentarem-se um ao outro, a partilharem propriedades e dificuldades, seria «desestruturante». Curiosamente, sempre pensei o contrário: que a assunção de deveres e responsabilidades seria estruturante, sinal de maturidade e integridade. Os bispos discordam.

Porquê? Aparentemente, porque acham que a «base antropológica da família» seria a «complementaridade dos sexos». Bom, enganaram-se no adjectivo e num substantivo: suponho que queriam dizer que a base biológica da reprodução é a procriação sexuada. Ou seja, só há reprodução com um espermatozóide (macho) e um óvulo (fêmea). Mas os bispos não gostam de ciêncas da natureza. E por isso divagam e atribuem à antropologia o que é da biologia. Porque, antropologicamente, já houve de tudo. Desde haréns com um macho dominante, até filhos criados comunitariamente pela mãe, irmãs e avós, passando pela mulher propriedade do homem, até ao actual casal igualitário. Querem proibir mais uma variação, na era da procriação assistida e das famílias recompostas? Ridículo.

Note-se também que não explicam como é que a existência de mais um tipo de família iria «desestruturar» os outros tipos de família. Se os vizinhos gueis do 2º esquerdo se casarem, os heterossexuais do terceiro andar vão divorciar-se? Não se entende a relação.

Finalmente, os senhores bispos acham que fazer uma lei é «alterar» a «antropologia». Que exagero. As pessoas fazem o que querem. Cada vez se reconhece mais que é assim que deve ser. São as alterações no modo como as pessoas vivem que levam a alterações legais. Pretender que as leis impeçam as alterações sociais é segurar uma inundação com as mãos. E é isso que os bispos parecem querer fazer. E se deixassem as pessoas escolher?

12 de Fevereiro, 2009 Ricardo Alves

Ratzinger recentrado

Ratzinger conhecia a Fraternidade São Pio X e os seus (ir)responsáveis bispos, quanto mais não fosse porque foi ele próprio que, há duas décadas e enquanto prefeito da «Congregação para a Doutrina da Fé», tentou impedir o afastamento destes católicos tradicionalistas. Sabia portanto o que estava a fazer. Pode não ter adivinhado todas as consequências, mas sabia quem eram, e o que pensam, as ovelhas que voltariam ao redil.

Portanto, a verdadeira questão é o porquê destas re-comunhões. A resposta mais óbvia é que considera os católicos tradicionalistas parte da sua ICAR, da igreja que imagina e que deseja. E as opiniões políticas e históricas dos lefebvristas, provavelmente, não o chocam intimamente por aí além. Outra resposta é que Ratzinger deseja criar um contrapeso aos «católicos progressistas». E está a consegui-lo. Por compreender isto, Hans Kung pede a demissão do Papa e Leonardo Boff chama-lhe «pastor medíocre» e «politicamente desastrado», e sugere também o afastamento de Ratzinger. Para azar deles, Ratzinger parece preferir uma ICAR mais pequena mas mais coesa.

Nota final: Williamson não é o único anti-semita dos bispos reintegrados. Outro desses bispos, Tissier de Mallerais, já proclamou que «os judeus são os mais activos artesãos da vinda do anti-Cristo». Esse mesmo Mallerais já anunciou a intenção dos lefebvristas de «converter Roma». (E o próprio Lefebvre era crente no «complô judaico-maçónico-comunista».)

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

11 de Fevereiro, 2009 Ricardo Alves

Arredai!

Desde o Concílio Vaticano 2º que a ICAR aceita a laicidade no sentido da autonomia «administrativa» do Estado perante as igrejas (mas só porque insistimos muito, mesmo muito, durante séculos) mas, todavia, continua sem aceitar a laicidade no sentido da autonomia ética da sociedade perante a cultura cristã. Os mais mediáticos dos conflitos contemporâneos entre política e religião, da legalização da IVG aos casamentos entre homossexuais, têm aqui a sua origem.

A laicidade, ao contrário do que argumentam equivocadamente os clericais, não é simples «autonomia administrativa», ou seja, separação entre registo civil e ficheiros canónicos, entre poder democrático e cargos de nomeação do Vaticano, entre receitas públicas e remunerações do clero. É também a distinção entre regras legais para todos, e conceitos morais para os que são religiosos.

A ICAR tem todo o direito de não casar homossexuais. Tem também o direito de os excomungar. Já duvido de que tenha o direito de despedir alguém a quem pague salário – por esse alguém ser homossexual.

A laicidade garante a liberdade de expressão para todos. Até para os que gostariam de a restringir, ou que a ela se opuseram historicamente. A ICAR pode portanto bradar contra os casamentos entre homens, ou entre mulheres, ou entre pessoas estéreis. Está no seu direito. Como nós estamos no nosso ao criticar os argumentos apresentados e a sua fundamentação.  Por exemplo, que «detrimento» resulta para as famílias existentes do reconhecer-se novos tipos (legais) de família? Ou qual será o prejuízo para a «crise» de uma medida legislativa que cria novas famílias? Ou ainda, porque será a «família homossexual» mais «antropologicamente errada» do que o celibato? Finalmente, será que não compreendem que o que se deve mesmo dizer às novas gerações é que «sejam o que quiserem»?

Evidentemente, tudo isto me parece pouco relevante. Apesar de se anunciarem indicações de voto especificando os partidos políticos «catolicamente correctos», já vai sendo tempo de ignorar a ICAR nestes debates. Nos dois referendos sobre a IVG, mostraram a sua inigualável capacidade de envenenar o debate público com panfletos terroristas, imagens sanguinolentas, manipulação de crianças, abuso das plataformas públicas que lhes oferecem (geralmente, para outras finalidades) e, não esquecer, as atoardas sobre as famigeradas «leis naturais». Querem fazê-lo em eleições legislativas? Se sim, convém recordar que há limites legais às intervenções de sacerdotes em campanhas eleitorais. Mas o melhor é mesmo arredarem, porque já não há pachorra.

A terminar, não posso deixar de registar como uma novidade positiva as declarações de dirigentes do PS sobre este assunto. Não vi a mesma clareza aquando dos referendos à IVG. Só falta que Pedro Silva Pereira diga que a ICAR não deve meter o bedelho nesta questão. Mas não deve tardar, penso eu…

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

7 de Fevereiro, 2009 Ricardo Alves

A evolução de Fátima

Foi colocado no arquivo da Associação República e Laicidade um ensaio sobre Fátima publicado, em Dezembro, pela revista L´Idée Libre: «Fátima e a transformação do catolicismo português». O artigo descreve a evolução de Fátima, da manifestação anti-republicana de 1917 ao actual «centro comercial da fé», passando pelo santuário anticomunista do Estado Novo.

Resumo: «As «aparições» de Fátima, entre 13 de maio e 13 de outubro de 1917, nasceram em reacção ao laicismo da República e nas circunstâncias da 1ª guerra mundial, mas o culto e o santuário ali instalados adaptaram-se facilmente ao regime reacionário de Salazar, designadamente ao seu anticomunismo, e constituem hoje o coração do catolicismo português, que seria inimaginável sem Fátima e o seu capital simbólico e financeiro».

Conclusão: «O catolicismo português, religião oficial do Estado até 1910, substituiu o apoio estatal pelo apoio na crença na visita a Portugal de uma figura celestial».

Da bibliografia consultada, foi-me particularmente útil «As “aparições de Fátima” – Imagens e Representações», de Luís Filipe Torgal (editado pela primeira vez pela Temas e Debates em 2002), na minha opinião o estudo histórico mais sério e sistemático, actualmente existente, sobre a maior aldrabice do século 20 português.

Guardado também no meu arquivo pessoal.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

5 de Fevereiro, 2009 Ricardo Alves

Bispo católico processado na Alemanha

O bispo católico tradicionalista Richard Williamson, recentemente re-incomungado por Ratzinger, vai ser processado judicialmente, na Alemanha, por «incitação ao ódio racial» e por negação do «Holocausto». A pena máxima para estes crimes é de cinco anos de prisão. Simultaneamente, há rumores de que o governo argentino, incomodado com a presença de Williamson no seu país, prepara também uma acção judicial.

Pessoalmente, sou contrário a leis que penalizem o mero discurso, mesmo que fascista e factualmente errado, como é o caso. No entanto, concedo que na Alemanha o negacionismo, particularmente quando vindo da ICAR, possa colocar um problema de ordem pública.

Hipocritamente, Ratzinger e os seus insistem que «não sabiam» do anti-semitismo de Williamson antes da divulgação da famosa entrevista à televisão sueca. Há razões para duvidar, quanto mais não seja porque as diatribes de Williamson encontram-se pela internet, quer defendendo que os judeus têm «vocação para o domínio mundial», e que as «nações ex-cristãs» só devem «culpar o seu próprio Liberalismo por permitirem a livre circulação na Cristandade aos inimigos de Cristo» (os judeus), quer garantindo a autenticidade dos «Protocolos dos Sábios de Sião», quer ainda rejeitando a liberdade religiosa, quer considerando Ratzinger (em 1999) um «inimigo terrível da Igreja Católica» (em quem não se podia «confiar»), quer recomendando que as mulheres não vão à universidade, quer contra a mistura de sexos nas escolas, quer argumentando que a ICAR mentiu sobre o «terceiro segredo de Fátima», quer dizendo que o 11 de setembro foi orquestrado pelo governo dos EUA. Portanto, não acredito que B16 não conhecesse a fera que voltava ao redil.

Embora a imprensa refira os dislates negacionistas de Williamson, tem-se abstido de evidenciar que entre os lefebvristas há quem defenda que a a Inquisição «deve ser reabilitada», e que os católicos «não têm nada de que se envergonhar no trabalho passado deste santo tribunal». Seria interessante que os jornalistas portugueses confrontassem a ICAR portuguesa (incluindo os seus lefebvristas) com estas (e outras) tomadas de posição.

Note-se ainda que um teólogo católico abandonou a ICAR em protesto contra a decisão papal de levantar a excomunhão aos lefebvristas, que qualifica de «grupo extremamente reacionário e profundamente anti-semita que simpatiza com ditadores e regimes direitistas». Um protesto usando a táctica oposta foi feito por um grupo católico que ordenou mulheres sacerdotisas («padresas»?), que pediu também a sua desexcomunhão. Não creio que as católicas feministas tenham o mesmo acolhimento caloroso que Ratzinger proporcionou aos fascistas da Sociedade Pio X. E do lado dos «católicos progressistas» portugueses houve-se um ensurdecedor silêncio.

Refira-se finalmente que os membros do grupo ex-cismático são claros quanto aos seus propósitos: «temos a intenção de converter Roma, isto é, trazer o Vaticano para as nossas posições». Trata-se de um regresso entendido por quem regressa como uma reconquista. Nada, repita-se, que o Diário Ateísta não tivesse previsto já em 2005. À época, os católicos insultaram-nos. Afinal, tinhamos razão.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

29 de Janeiro, 2009 Ricardo Alves

A fascização da ICAR

Praticamente desde o início do reinado de B16 que o Diário Ateísta alertou que Ratzinger planeava abrir as portas aos lefebvristas, a ala abertamente fascista, lunática, do catolicismo.

Concretizada há poucos dias, a reconciliação com os fascistas que Ratzinger expulsara a contra-gosto já causa problemas: «descobriu-se» que um dos quatro bispos nomeados por Lefebvre, o inglês Williamson, nega o genocídio dos judeus às mãos dos nazis, que reduz a «200 ou 300 mil mortos». Não é nada que o Diário Ateísta não tivesse já noticiado em 2005. Falta aos media tradicionais «descobrirem» que outro dos bispos lefebvristas considera que «os judeus são os mais activos artesãos da vinda do anti-cristo».

O rabinato de Israel, entretanto, cortou relações com o Vaticano, o que permite a B16 manifestar-se incomodado, ele que conhece estes rapazes de gingeira. Sabe bem que dentro de duas semanas os media já terão esquecido que a unidade da ICAR ratzingeriana se faz à custa dos «católicos progressistas» (uma espécie em vias de desaparecimento nos dias que correm), e graças à pitoresca «Fraternidade São Pio X».

Resta saber que os desexcomungados repudiam que as mulheres católicas casem com ateus (seria «conduta cruel e atroz», caro Policarpo), que defendem que a pena de morte «é um ensinamento tradicional da ICAR» (ouviste, Bento Domingues?), que a Inquisição «deve ser reabilitada» (explica lá, Anselmo…) e que os católicos «não têm nada de que se envergonhar no trabalho passado deste santo tribunal». Visitai e pasmai.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]