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Ricardo Alves

22 de Março, 2010 Ricardo Alves

«Que dirá Deus da sua Igreja?»

Artigo de opinião de Manuel António Pina no Jornal de Notícias.

  • «Trata-se de uma organização que habitualmente enche os ouvidos dos fiéis de moralismo sexual (basta ouvi-la falar de divórcio, casamento homossexual, aborto) e que, enquanto isso, encobria milhares de abusos sexuais de crianças praticados no seu seio. Agora, quando já não é possível continuar a encobri-los, o Papa vem de novo pedir “desculpa”, mas omitindo qualquer sanção quanto a abusadores e encobridores (ele próprio terá participado nesse encobrimento quando arcebispo de Munique e Freising). A hipocrisia foi ao ponto de, um dia depois, o Papa ter exortado os católicos a não se assumirem como juízes “dos que cometem pecados”. É em alturas assim que um ateu como eu lamenta que não haja um Deus que julgue gente desta.»
21 de Março, 2010 Ricardo Alves

As responsabilidades e a fuga

O mito central do cristianismo pode ser lido como uma alegoria sobre a transferência de responsabilidades. Segundo a interpretação mais difundida, Jesus Cristo teria morrido pelos «pecados» da humanidade inteira, «pecados» que não cometera e pelos quais não era responsável. Obviamente, os «pecados» incluem desde comportamentos inócuos e até banalizados na nossa civilização (como relações sexuais consentidas entre adultos), até actos que serão sempre crime em todas as sociedades (como o homicídio). Há duas formas diferentes de encarar o sacrifício crístico: ou se o entende como um heróico exemplo a seguir, e portanto deve-se assumir a responsabilidade pelos próprios actos e até pelos de outrém (e estar disponível para sofrer as consequências), ou pelo contrário transferem-se as responsabilidades para uma entidade transcendente («Cristo morreu por nós, e só a Deus prestamos contas»).

Ratzinger publicou ontem o seu documento sobre os abusos sexuais cometidos por padres irlandeses. A «imprensa amiga» tenta convencer-nos de que «assumiu a responsabilidade». Nada mais falso: Ratzinger nada disse, por exemplo, sobre a carta que ele próprio escreveu em 2001, enquanto prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, a exigir o «segredo clerical» para as denúncias de abuso sexual de menores dentro da ICAR. Nessa época, não recomendava a colaboração com tribunais civis. Também não assumiu, que eu saiba, a responsabilidade por um caso em que teve responsabilidade directa: o acolhimento de um padre pedófilo em Munique quando aí era arcebispo. (mais…)

3 de Março, 2010 Ricardo Alves

A ICAR é pobre!

O altar para a missa de Ratzinger em Lisboa (portanto, para usar uma vez) vai custar 200 mil euros.

2 de Março, 2010 Ricardo Alves

Visita do Papa é ofensiva clerical

No seu documento de enquadramento da visita de B-16, os bispos da ICAR «apelam» a que este evento não «se esgote num mero acontecimento passageiro», mas que sirva para «fortalecer a nossa unidade [dos católicos] (…) com o intuito de poder responder às alterações civilizacionais em que vivemos». É cada vez mais óbvio que esta visita está concebida para fazer, não a mera propaganda católica (o que seria aceitável), mas sim, inevitavelmente, para fazer também o combate aos casamentos entre pessoas do mesmo sexo e para condicionar as celebrações do centenário da República. Enquanto monarca da última ditadura europeia, Ratzinger será recebido pelo Presidente e pelo Primeiro Ministro. Enquanto líder religioso, fará o que não seria tolerado a chefe de Estado algum: interferir na política interna portuguesa.

Subindo a parada, os bispos exigem ao governo que seja declarado feriado ou tolerância de ponto durante a visita, com o óbvio objectivo de aumentarem o número de pessoas presentes em manifestações que irão para além do ritual religioso para assumirem um cariz político. Já conseguiram que a Câmara Municipal de Lisboa aceitasse que a inauguração da «nova» Praça do Comércio, supostamente integrada nas celebrações do Centenário da República, seja feita pelo monarca do Vaticano. Mais exigências «pastorais» com água política no bico surgirão nas próximas semanas.

Após o fracasso da manifestação anti-homossexual de 20 de Fevereiro, o clericalismo português necessita de um reforço chamado B-16. E um governo em queda de popularidade não lhe recusará «pedidos» pastorais. Estupidamente.

[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]

28 de Fevereiro, 2010 Ricardo Alves

Inteligência e ateísmo

Um estudo estatístico mostrou uma correlação entre o ateísmo e ter um QI mais elevado.

Honestamente, não sei se o estudo tem grande significado (as diferenças são pequenas).

19 de Fevereiro, 2010 Ricardo Alves

Hitchens: do ateísmo ao combate ao islamismo

Foi uma excelente iniciativa da Casa Pessoa, a conferência de ontem com Christopher Hitchens. É raro podermos sentir que Portugal não fica de fora do movimento global de ideias.
Hitchens começou com uma citação de Marx, e com algumas memórias, dos anos 70, dos seus contactos com revolucionários africanos de língua portuguesa.
A citação do «ópio do povo», descontextualizada como habitualmente, é reduzida a um bitaite anti-religioso. Na opinião de Hitchens, é mais do que isso: Marx entendia a crítica da religião como o início do processo que liberta o homem para questionar a sua condição.

No início da parte mais formal da sua conferência, Hitchens sublinhou como «Deus» retira o homem da sua liberdade, ao condicionar o seu pensamento ao de um «criador» que estabeleceu o que é certo e errado. Precisou a distinção entre o deísmo (mera fé) do teísmo (que já presume uma religião revelada, com os seus textos dogmáticos e as suas regras normativas inquestionáveis).

Christopher Hitchens é um bom conferencista. Exprime-se com clareza, em frases curtas, leu os clássicos do iluminismo (mais os anglo-saxónicos, todavia), acompanha as descobertas científicas actuais, e trata de questões complexas com frases certeiras, rematadas com o humor altivo típico da sua formação oxfordiana.

Existem, sem dúvida, boas razões para o regresso de um ateísmo combativo: a persistência de irracionalidades supersticiosas que impedem um mundo mais justo; as tentativas renitentes de interferir na política das democracias; e o islamismo radical.

Foi só na parte final da sua intervenção, e em particular no período de perguntas, que Hitchens insistiu mais na questão do islamismo radical enquanto movimento global. Está correcto quando afirma que se trata do único movimento totalitário global em ascensão no mundo actual; e quando acrescenta que boa parte da esquerda europeia renunciou a confrontar esse movimento, com o argumento do «anti-imperialismo»; é injusto quando diz que a Europa, toda, desistiu. Porque, na verdade, muitas correntes políticas na Europa percebem bem o que o extremismo islâmico na Europa significa. A proibição do véu nos serviços públicos, na França de 2004, é um sinal claro de que pelo menos um país ainda entende que o laicismo não se resume à separação entre o Estado e a igreja (católica).

A pretexto de um autógrafo, troquei mais algumas palavras com o homem. Interessava-me sobretudo entender que limites entende que se devem colocar no combate contra o islamismo. Disse-me que Geert Wilders apela aos «sentimentos errados» mas que, se fosse suíço, não saberia como votar no referendo sobre os minaretes («que são a coisa mais bonita no Islão»). Mostrou-se também sensível ao perigo que representam a Arábia Saudita e o Paquistão. A insistência no Irão aparece, portanto, como escusada. E como um alinhamento excessivo com a política externa dos EUA. O que me parece desnecessário.

No fundo, Hitchens ainda tem algo de marxista: a convicção de que é viável uma «guerra permanente» contra os movimentos reaccionários activos no mundo. Mas é lamentável que não tenha retirado a lição do que isso significou no Iraque.

22 de Janeiro, 2010 Ricardo Alves

«As Tardes da Júlia», 10/11/2009

Eis aqui, a pedido de vários comentadores e de várias famílias (umas muito católicas, outras nem tanto), a minha prestação no programa da TVI «As Tardes da Júlia», no dia 10/11/2009, em debate sobre laicidade e crucifixos com o sacerdote católico Jacinto Farias e com Hermínio Corrêa, representante da CONFAP (Confederação Nacional das Associações de Pais). Em representação da Associação República e Laicidade.

Crucifixos nas escolas – Tardes da Júlia from Republica Laicidade on Vimeo.

15 de Janeiro, 2010 Ricardo Alves

Tragédia do Haiti foi mal menor

Segundo o bispo católico de San Sebastian (Espanha), «existem males maiores do que o Haiti», tais como… «a nossa pobre situação espiritual».

Ler para crer.

14 de Janeiro, 2010 Ricardo Alves

O Papa quer falar connosco

Tenho sempre a agenda bastante preenchida, mas se ele quiser podemos ir beber umas bijecas. Tenho é muito para lhe dizer, se ele me quiser ouvir com a mesma paciência que eu tenho tido para o ouvir.

7 de Janeiro, 2010 Ricardo Alves

Hitchens em Portugal

Boas notícias: o escritor Christopher Hitchens, conhecido pelo seu ateísmo militante há décadas (recordar os livros «desmascarando» a «Madre Teresa de Calcutá»), e mais recentemente pelo celebrado «Deus não é grande – Como a religião envenena tudo», estará em Portugal para uma conferência sobre ateísmo na Casa Pessoa (Lisboa).

Marquem nas agendas: Casa Pessoa (Campo de Ourique, Lisboa) no dia 18 de Fevereiro às 18h30m. Título da conferência: «A urgência do ateísmo». Tradução simultânea e entrada livre.

(Agradecimento à Palmira.)