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Palmira Silva

22 de Janeiro, 2005 Palmira Silva

Da Natureza do Homem: mitos urbanos e outras histórias

A concepção do ser humano como naturalmente perverso é, na tradição judaico-cristã e em muitas outras culturas, a explicação para a existência do Mal. Outra concepção concomitante é o mito da Queda que nos sobrecarrega com o pecado original: «o homem era inocente e bom, e o mundo era um jardim, um paraíso. Mas o homem foi tentado, sucumbiu e caiu». Muito veementes na condenação da natureza humana e da sua natureza intrinseca e irrevogavelmente má (sem salvação fora do amor a Deus) encontramos na tradição cristã os escritos atribuídos a São Paulo. Nomeadamente podemos ler que os homens «estão cheios de perversidade, maldade, avareza, vícios, ciúmes, crimes, lutas, mentiras e malícia. Difamam e falam mal uns dos outros. Odeiam a Deus e são atrevidos, orgulhosos e vaidosos. Inventam muitas maneiras de fazer o mal, desobedecem aos pais, são imorais, não cumprem a palavra, não têm amor por ninguém e não têm pena dos outros».

Na sociedade ocidental este pessimismo em relação à natureza humana acompanhou e marcou os pensadores e, segundo Ashley Montagu, foi secularizado ao longo dos séculos de influência da tradição cristã de forma que influenciou mesmo os mais notáveis ateus ou autores que negavam a base religiosa do seu pensamento. Nomeadamente Freud, Thomas Huxley ( que introduziu o termo agnóstico), Herbert Spencer, Konrad Lorenz, Niko Tinbergen ou Desmond Morris.

O facto de os autores citados serem cientistas de renome, autores de obras com grande divulgação entre o público em geral, contribuiu para o sedimentar desta descrença na bondade do Homem.

Todos estamos familiarizados com a cena de abertura do famoso filme de Stanley Kubrik «2001, Odisseia no Espaço» que corrobora esta noção da inata violência do Homem, que o acompanha desde os primórdios da evolução. Mas poucos saberão que estamos a assimilar as teorias (erradas) de um antropólogo australiano, Raymond Dart. Em 1924, Raymond Dart fez a descoberta que o tornou famoso. Dart trabalhava com os seus alunos numa exploração de pedra em Taung e descobriu o fóssil de um crânio de um primata, um elo na evolução do homem, a que chamou Australopitecus africanus. Dart concluiu que nos locais onde estas criaturas tinham vivido, existia uma cultura «osteodonkeratic« (ossos, dentes e chifres) e argumentava que eles eram caçadores selvagens e sedentos de sangue, cujas tendências deixaram marcas indeléveis no comportamento humano. E afirmou que «as mais recentes atrocidades da II Guerra Mundial estão de acordo com o primitivo canibalismo universal, com as práticas de sacrifícios animais e humanos ou seus substitutos em religiões formalizadas, e com as práticas generalizadas de escalpelizar, caçar cabeças para reduzi-las, mutilar corpos, e com as actividades necrófilas da humanidade revelando esse hábito predatório, essa marca de Caim, essa sede de sangue que separa dieteticamente o homem dos seus parentes antropóides e o aproxima dos mais mortíferos dos carnívoros». A epígrafe do artigo de Dart «A Transição Predatória de Macaco a Homem», é uma citação de Baxter, famoso teólogo inglês do século XVII: «De todas as feras, a fera homem é a pior. Para as outras e para si mesma, o mais cruel inimigo», ou seja, as suas elucubrações foram certamente influenciadas pelo pensamento religioso!

A visão dos «macacos assassinos» foi popularizada pelo escritor Robert Ardrey em livros como African Genesis que por sua vez serviram de inspiração para a cena de abertura do filme «2001: A Odisseia no Espaço». Estas ideias foram fortemente criticadas e estudos posteriores provaram que estavam totalmente erradas. No entanto, para o público em geral a imagem que perdura incontestada é a violência primeva do Homem, a sua tendência natural para o mal, um assassino da sua própria espécie.

Em oposição a esta tese, que coloca na biologia ou na natureza do Homem, a fonte dos males que assolam a Humanidade, encontramos a tese do «bom selvagem», o homem intrinsecamente bom «estragado» pela civilização, defendida por Montesquieu, Rousseau e Reich, entre os mais conhecidos, que coloca o ónus do mal na estrutura social e política que desenvolvemos, na religião, na ética, na cultura, etc..

Apesar de não subscrever na íntegra esta tese do «bom selvagem», até porque os avanços da neurobiologia nos indicam que há causas biológicas para comportamentos violentos e anti-sociais em alguns indíviduos, ou seja, que nem os bons selvagens estão imunes a distúrbios biológicos, suponho que podemos encontrar algumas causas dos males sociais, tal como hoje os entendemos, nas raízes judaico-cristãs da sociedade ocidental, já que estas condicionaram e determinaram, directa ou por oposição, a nossa evolução social.

Assim, se analisarmos criticamente a História, podemos constatar que apenas depois de Petrarca e do início dos movimentos humanistas, que colocam a ênfase no Homem e não em qualquer ser transcendente, e consequentes separação da Igreja-Ciência e da Igreja-Estado se dá um avanço ético nas sociedades ocidentais. A progressão do sub-homem de Sartre para o Homem pleno, só pode de facto realizar-se através do humanismo. Apenas acreditando no Homem, repudiando a tradição cristã da sua natureza pecadora e má, e estabelecendo uma ética centrada no Homem e não em verdades «reveladas», podemos viver harmoniosamente com os nossos semelhantes. O que não obsta a que quem acredite nessas verdades reveladas as siga na sua vivência pessoal, desde que não colidam com a ética humanista.

De facto, as minhas objecções ao cristianismo são na linha das de Kierkegaard, ou seja, não apenas no campo da dúvida intelectual, mas no campo ético. O cristianismo aponta como doutrina fundamental uma aceitação submissa, que se opõe a qualquer «insubordinação, relutância em obedecer, rebelião contra a autoridade». O exemplo que Kierkegaard invoca é o de Abraão e Isaac. Deus ordena a Abraão para sacrificar o seu filho, isto é, Deus ordena a Abraão para cometer um assassínio. Há aqui um aparente paradoxo, resolvido se entendermos que este episódio pretende incutir a lição que é mais importante obedecer a Deus do que preservar a vida humana.

Para mim, independentemente de acreditarmos ou não na existência de Deus, deusas ou deuses, as regras de conduta social devem subscrever-se ao Homem e não a qualquer entidade exógena. Assim, acho que o desafio do século XXI é a separação Igreja/religião-Ética!

Bibliografia:

Ashley Montagu, «The Nature of Human Aggression». Oxford University Press

19 de Janeiro, 2005 Palmira Silva

Ano Mundial da Física

Vivemos o Ano Mundial da Física, que marca o centenário da publicação dos trabalhos de Albert Einstein sobre a natureza dualista da luz, sobre a relatividade restrita, a relação entre massa e energia e sobre o movimento browniano, que revolucionaram o mundo em que vivemos. E esta celebração não poderia ser mais conveniente dada a conjuntura internacional marcada por obscurantismo pós-moderno. Obscurantismo aparentemente paradoxal na era da genómica e das nanotecnologias mas, citando uma estafada máxima, familiaridade gera desprezo. Estamos tão familiarizados com as maravilhas da Ciência que simplesmente já não nos espantamos com nada que a Ciência produza.

Mas este desprezo, mantido ao longo do tempo, tem custos elevados. Actualmente a maioria das pessoas depende de tecnologias baseadas em conceitos que desconhece e que, quiçá, até contempla com um certo «misticismo» supersticioso. O argumento a partir da ignorância – se eu não sei o que é, pode ser qualquer coisa – pode ser muito convincente para determinado público. Assim, abundam vendedores de banha da cobra que oferecem dispositivos «magnéticos» ou «quânticos» para aplicações sortidas, desde curas «milagrosas» passando pela imortalidade até à economia de combustível! Gente instruída acredita em processos de fusão fria «biológica», que é possível «alimentar-se» unicamente da luz do Sol, e em inúmeras outras lendas urbanas.

O facto do conhecimento científico não ter permeado a sociedade em geral, ou seja, a complexidade crescente da ciência não ter sido acompanhada por um esforço de divulgação, abriu um fosso crescente entre o conhecimento científico e a sua compreensão pelo público. Este é certamente um dos parâmetros a equacionar na explicação do aumento de uma religiosidade rígida e intolerante!

A única forma de combater o obscurantismo é o conhecimento! Façamos então do Ano Internacional da Física um ano de combate ao obscurantismo!

E começo por recomendar um livro de um amigo meu, o Jorge Buescu, «O Mistério do Bilhete de Identidade e Outras Histórias: Crónicas das fronteiras da ciência»

15 de Janeiro, 2005 Palmira Silva

Verdade ou ficção: fé e reabilitação

Sob a égide do presidente G. W. Bush multiplicam-se nos Estados Unidos iniciativas destinadas a promover a religião, seja sob a forma de estudos pseudo-científicos sobre o poder da oração, apoios de mais de um bilião de dólares a organizações baseadas na fé, a criação de um gabinete destinado a financiar e promover essas organizações, o White House Office of Faith-Based and Community Initiatives (OFBCI), e ainda uma organização que presta auxílio na disseminação de informação sobre programas existentes e nas formalidades necessárias para aceder ao financiamento. Para além da criação de um plano «cristão» de saúde destinado aos trabalhadores federais, que exclui contraceptivos, interrupção voluntária da gravidez, esterilização ou reprodução assistida. Tudo possível porque o presidente Bush, depois de não ter conseguido convencer o Congresso de tal decisão, alterou por sua iniciativa as leis federais de forma a ser possível financiar organizações religiosas e planeia agora alteração de mais leis de forma a permitir o mesmo em relação a financiamento estadual.

Todas estas iniciativas, que violam claramente a laicidade do estado, princípio basilar da Constituição dos Estados Unidos, têm a oposição de vários grupos cívicos de que se destaca a organização Americans United for Separation of Church and State.

Uma das iniciativas promovidas pelo presidente em 1997, na sua qualidade de governador do estado do Texas, foi o programa InnerChange Freedom Initiative ao cargo da Prison Fellowship, uma organização fundada pelo conselheiro de Nixon, Charles W. Colson, condenado em 1974 pelo seu envolvimento no caso Watergate, cujos objectivos consistem em levar o Evangelho aos reclusos e aprofundar o seu relacionamento com Cristo. Como se esperaria de tal organização, o programa consistiu em sessões contínuas de evangelização, oração e aconselhamento cristão para um grupo de 177 voluntários. Um grupo equivalente que não participou no programa serviu de controle à experiência. Os resultados do programa foram analisados pelo Centro de Investigação em Religião e Sociedade Civil da Universidade da Pensilvânia, e divulgados com grandes parangonas e elogios nos jornais como sendo prova irrefutável da necessidade de mais programas religiosos para promover a reabilitação de reclusos, já que, de acordo com as fontes oficiais, se verificou que os participantes do programa apresentavam uma menor probabilidade de virem a ser detidos (17.3% contra 35% do grupo de controle) ou condenados (apenas 8% contra 20.3%).

Na realidade, os números reais indicam que os participantes no programa tiveram resultados piores que o grupo de controle, ou seja, que reincidiram mais em actividades criminosas. O que se passou foi que dos 177 reclusos que participaram no programa a Prison Fellowship ignorou a maioria e divulgou os resultados referentes a apenas 75 reclusos. Ou seja, os dados foram viciados de forma a demonstrar o sucesso retumbante de uma iniciativa na realidade falhada! Iniciativa falhada que neste momento se repete em inúmeras prisões americanas…

9 de Janeiro, 2005 Palmira Silva

A insustentável leveza do ser

«Logo no começo do Génesis, está escrito que Deus criou o homem para que ele reinasse sobre os pássaros, os peixes e o gado. É claro que o Génesis é obra do homem e não do cavalo. Ninguém pode ter a certeza absoluta que Deus realmente queria que o homem reinasse sobre todas as outras criaturas. O mais provável é que o homem tenha inventado Deus para santificar o seu poder sobre a vaca e o cavalo, poder esse que ele usurpara. Sim, porque, na verdade, o direito de matar um veado ou uma vaca é a única coisa que a humanidade, no seu conjunto, nunca contestou, mesmo durante as guerras mais sangrentas.

É um direito que só nos parece natural porque quem está no topo da hierarquia somos nós. Bastava que entrasse mais outro parceiro no jogo, por exemplo um visitante vindo de outro planeta cujo Deus tivesse dito «Tu reinarás sobre as criaturas de todas as outras estrelas», para que toda a evidência do Génesis ficasse logo posta em questão. Talvez depois de um marciano o ter atrelado a uma charrua ou enquanto estivesse a assar no espeto de um habitante da Via Láctea, o homem se lembrasse das costeletas de vitela que costumava comer e apresentasse (tarde de mais) as suas desculpas à vaca.

(…)

Descartes deu o passo decisivo: fez do homem «mestre e proprietário da Natureza». Que seja precisamente ele quem nega de maneira categórica que os animais tenham alma, eis aí uma enorme coincidência. O homem é senhor e proprietário, enquanto o animal, diz Descartes, não passa de um autómato, uma máquina animada, uma machina animata. Quando um animal geme, não é uma queixa, é apenas o ranger de um mecanismo que funciona mal. Quando a roda de uma charrete range, isso não quer dizer que a charrete sofra, mas apenas que ela não está lubrificada. Devemos interpretar da mesma maneira o gemido dos animais, e é inútil lamentar o destino de um cachorro que é dissecado vivo num laboratório.»

Milan Kundera in «A insustentável leveza do ser». Um livro que considero quasi obrigatório ler. Fala essencialmente do ser humano, da vida, do amor, das relações entre as pessoas, tornadas complexas pela sua simplicidade. Sobre o livro deixo a opinião de outro dos meus autores favoritos, Italo Calvino, em «Six Memos for the Next Millenium», «O peso da vida, para Kundera, está em qualquer forma de opressão. O romance mostra-nos como, na vida, tudo aquilo que escolhemos e apreciamos pela sua leveza acaba rapidamente revelando o seu verdadeiro, insustentável peso. Apenas, talvez, a vivacidade e a mobilidade da inteligência escapam à condenação – as qualidades de que se compõe o romance e que pertencem a um universo que não é mais aquele do viver».

O filme, dirigido por Philip Kaufman, com interpretações sublimes de Juliette Binoche, Daniel Day-Lewis e Lena Olin é fabuloso e recomenda-se mas não é possível ler o livro e continuar ileso. Se lido com a mesma simplicidade com que Kundera dialoga com a realidade…

29 de Dezembro, 2004 Palmira Silva

Propaganda política à moda medieval

Veja aqui um detalhe do mural, e aqui a obra completa

Um mural do século XIII descoberto há quatro anos na cidade Massa Marittima, Toscana, na opinião do Dr. George Ferzoco, constitui o primeiro exemplar de propaganda política na História.

No livro que publicou recentemente, o perito em história toscana explica que este mural pretendia ser um aviso aos locais dos apoiantes do papado, os Guelphs, para que não permitissem a subida ao poder dos seus rivais políticos, os Ghibellines, já que estes introduziriam a heresia, perversão sexual, feitiçaria e caos.

Os Guelphs e os Ghibellines constituíam duas facções que, durante a Idade Média, lutaram por décadas pelo poder na Toscana em particular e no norte da Itália em geral. Niccolo Machiavelli é certamente mais (injustamente) conhecido pelo «O Príncipe» mas a sua obra prima «História de Florença», especialmente a partir do capítulo V, ilustra magistralmente este episódio de uma Itália dividida por guerras fraticidas que pretendiam o controle secular pela Igreja de Roma.

No dito mural propagandístico domina uma árvore deveras peculiar, já que os seus ramos estão recobertos de exemplares sortidos de uma parte específica da anatomia masculina. Debaixo da árvore são representadas mulheres, que Ferzoco diz simbolizarem bruxas, entregues a uma tarefa muito popular, de acordo com o folclore toscano dominante à época: o cultivo em ninhos de aves dessa parte da anatomia masculina, previamente roubada a incautos, que depois de assim tratadas adquiririam vida própria.

Duas das mulheres representadas parecem lutar pela posse de um destes animizados orgãos sexuais masculinos magicamente cultivados. Outra é sodomizada por um dos vinte e cinco «objectos» mágicos voadores.

«Na Idade Média, os heréticos dedicavam-se a uma coisa em especial que era a sodomia.» explica o Dr Ferzoco. «Para a mente italiana medieval, tal constituía um acto que exemplificava o agir contra natura, desarmonia, e falta de sentimento de comunidade.»

O autor relembra ainda uma passagem do tenebroso Malleus Maleficarum, o manual de caça às bruxas da santa Inquisição, responsável pela queima na fogueira de entre seiscentas mil a nove milhões de mulheres inocentes. Nela monges indicam ser prática das bruxas «a recolha de orgãos sexuais masculinos em grandes números, tantos como vinte ou trinta, e colocam-nos num ninho de pássaros ou fecham-nos numa caixa, onde eles se locomovem como membros vivos e comem aveia e milho, como tem sido visto por muitos e é alvo de descrição comum».

27 de Dezembro, 2004 Palmira Silva

Espírito natalício

A maioria dos creús acredita que a religião é condição sine qua non para a existência de um sistema moral, ou seja, insinua que o ateísmo é incompatível com a moralidade. Na realidade tais afirmações não passam disso mesmo, insinuações sem qualquer suporte experimental, são dogmas de fé que não carecem demonstração. E, aliás, os dados das prisões norte-americanas, que mantêm registos das religiões professadas pelos presos, indicam que os ateístas nas cadeias são apenas 0,21%, uma percentagem marcadamente inferior aos estimados 8-16% ateístas na população americana.

Para além da superioridade moral conferida pela verdade absoluta de dogmas revelados que não questionam, outra característica dos crentes consiste no paradoxo de se considerarem perseguidos se não puderem impor as suas crenças e dogmas. As suas prelecções de tolerância esgotam-se na imposição do seu proselitismo e os exemplos de intolerância em relação aos que não partilham as suas crendices são uma constante na História.

Um exemplo recente demonstra a vacuidade da apregoada tolerância cristã e do amor ao próximo, que era suposto caracterizar especialmente o tal espírito natalício.

Numa escola preparatória em Boulder, Colorado, os piedosos e promissores crentes de palmo e meio perseguem fisica e verbalmente os que não professam a fé cristã ou não a professam com o fervor adequado, acreditando em heresias ateístas como o evolucionismo. Os pais de vários alunos, vistos pelos colegas como perigosos ateus ou pagãos, queixaram-se em vão da perseguição de que estes eram alvo. Um dos abominados ateus de 13 anos chegou a ser preso por ter declarado num momento de desespero que ou o deixavam em paz ou suicidava-se e levava com ele todos os que o perseguiam. Apenas depois de outra aluna se ter tentado suicidar pelo mesmo motivo as autoridades escolares investigam finalmente o problema.

23 de Dezembro, 2004 Palmira Silva

Terror nas escolas tailandesas

Milhares de professores estão em greve no sul da Tailândia, reinvidicando das autoridades mais protecção contra ataques de militantes muçulmanos. Na realidade, desde o ressurgimento do conflito entre budistas e muçulmanos nesta zona da Tailândia as escolas têm sido um alvo privilegiado, tendo sido queimadas centenas de escolas e assassinados muitos professores. Esta greve nas províncias de Pattani, Narathiwat e Yala foi decretada depois de dois professores terem sido assassinados no mesmo dia.

Os lideres das comunidades muçulmanas tentam justificar os ataques a escolas queixando-se que os curricula escolares forçam as suas crianças a seguir os princípios budistas.

À Associated Press um responsável escolar Pattani afirmou que «Professores e estudantes estão demasiado assustados para ir à escola».

22 de Dezembro, 2004 Palmira Silva

Imaculada contracepção

A publicidade a uma pílula do dia seguinte foi retirada depois de a autoridade que regula a publicidade em Inglaterra, The Advertising Standards Authority, ter recebido 179 queixas, na sua maioria de entidades religiosas, o recorde absoluto de objecções para publicidade fora da televisão.

A frase «Imaculada Contracepção? Se apenas» foi a causa apontada para a retirada da dita publicidade, depois de a Associação Nacional de Famílias Católicas e da Sociedade da Verdade Católica, terem afirmado que esta frase, que consideram um trocadilho blasfemo à imaculada concepção, «provavelmente causará ofensa séria e generalizada».

As queixas de que a publicidade «encoraja sexo casual e trivializa a gravidez indesejada» não foram consideradas na decisão.

17 de Dezembro, 2004 Palmira Silva

Rapsódia em ateu maior

Continuando as músicas recomendadas pelos ateus, não poderíamos esquecer o «Ain’t Necessarily So», originalmente escrito por George e Ira Gerhswin em 1934 para a ópera «Porgy and Bess». A canção foi banida de todas as estações de rádio nos Estados Unidos e Inglaterra pouco depois do seu lançamento, já que, não questionando directamente a existência de Deus, desafiava a interpretação literal da Bíblia e era vista como um ataque aos «cientistas» criacionistas. Pessoalmente gosto da versão com Ella Fitzgerald e Louis Armstrong, mas há uma grande variedade de interpretações para todos os gostos, desde Frank Sinatra a Sting.

It ain’t necessarily so

It ain’t necessarily so

The things that you’re liable

To read in the Bible

It ain’t necessarily so

Não fora os irmãos Gershwin serem à época referências para a cultura americana, em processo de afirmação nas décadas de 20 e 30 do século passado e êxitos incontornáveis como «Raphsody in Blue», e «Ain’t Necessarily So» teria ditado o fim das suas carreiras.

Também não poderíamos esquecer os The The, conhecidos pela acutilância das suas letras, especialmente no que respeita à epidemia de SIDA e à guerra, com ênfase no álbum de 1989 «Mind Bomb» em que é questionado o valor da religião e é apontada a hipocrisia de algumas religiões. Recomendamos assim as faixas «Good Morning Beautiful», «The Violence Of Truth» e «Armageddon Days are Here (again)».

Noutro ponto do espectro musical, temos os Bauhaus de que recomendo a faixa «God in an Alcove» do álbum «In The Flat Field».

Go and look for the dejected once proud

Idol remembered in stone aloud

Then on coins his face was mirrored

Take a look it soon hath slithered

To a fractured marble slab, renunciation clad

His nourishment extract from his subjects

That mass production profile

(…)Don’t perceive his empty pleasure

That redundant effigy.

Os Bauhaus separaram-se em 1983, com o breve interlúdio «Ressurrection Tour» em 1998 para comemorar os vinte anos da banda, mas o vocalista Peter Murphy continuou o tema na sua carreira a solo. A faixa «Socrates the Python» do álbum «Love Hysteria» vale a pena, para os apreciadores do estilo, claro.

15 de Dezembro, 2004 Palmira Silva

Religião e psicose

Notícias macabras de mães que mataram violentamente os filhos têm sido ultimamente fequentes no estado do Texas. No mês passado a filha de dez meses de Dena Schlosser foi a infeliz protagonista de mais um caso.

Os Schlosser são membros de uma Igreja fundamentalista, a Igreja da «Água da Vida», dirigida por auto-proclamado profeta, Doyle Davidson, que ensina serem as mulheres dominadas pelo espírito rebelde de Zezebel e que os Dez Mandamentos não se aplicam aos «justos».

Na realidade, estas mulheres têm em comum, para além de uma severa doença mental ou psicose, reclamarem que as suas acções têm uma justificação religiosa, seja no caso de Andrea Yates uma «ordem» do Demo para afogar os seus cinco filhos, de Deus para Deanna Yates apedrejar à morte os seus três filhos ou a vontade de Dena Schlosser de entregar os filhos a Deus. A recorrência do tema religião nas causas subjacentes aos assassínios levanta a questão se haverá culpa da religião nestes, pergunta que, nuns Estados Unidos em que cada vez mais esta tem um papel preponderante no quotidiano, justificou vários estudos.

Alguns peritos no campo da psiquiatria sugerem que certas doenças mentais são muito difíceis de identificar e tratar em seguidores de religiões para as quais o Diabo tem existência real, e é o culpado por comportamentos «estranhos», e que acreditam mais no poder da oração que na Ciência. Sugerem ainda que em ambientes fundamentalistas os sintomas de desordem psicológica, mesmo severa, podem parecer comportamentos normais aos fiéis: a obsessão (em relação a um líder religioso, fim do mundo, etc..) pode ser interpretada como fervor religioso e manifestações esquizofrénicas como visões religiosas.

Por exemplo, no caso de Laney, esta informou a sua congregação Pentecostal que o mundo estava a acabar e que Deus lhe tinha dito para pôr a sua casa em ordem. Nenhum membro do seu rebanho achou estranha esta afirmação, considerando-a uma expectável manifestação de devoção.

O Dr. Phillip Resnick, testemunha no caso Laney manifestou a sua estupefacção sobre a reacção do respectivo pastor sobre o que este faria se detectasse indicações de perturbação mental num dos seus fiéis. O pio pastor recomendaria tal pessoa aos cuidados de um religioso e não a um psiquiatra.

Outro perito considera que, não obstante a religião não provocar distúrbios mentais per se, predisposições para este tipo de disfunções podem ser agravadas em ambientes religiosos em que os lideres religiosos reclamam falar em nome de Deus e exigem a obediência absoluta dos créus .