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Palmira Silva

15 de Maio, 2005 Palmira Silva

Não entrem em pânico!

Dia 25 de Maio é o «Dia da toalha» em que todos os admiradores de Douglas Noel Adams, DNA, que se descrevia como um ateísta radical, o autor da trilogia (com cinco livros) de culto, The Hithhikers Guide to the Galaxy, lhe podem prestar tributo simplesmente transportando uma toalha.

Douglas Adams, um ex-libris do «orgulho ateu», estudou em Cambridge onde participou com o seu amigo Griff Rhys Jones no grupo de teatro amador desta Universidade, Footlights, por onde também passaram Emma Thompson, John Cleese e Graham Chapman. Aliás Douglas Adams ambicionava ser um escritor/actor na linha dos Monty Python, com quem colaborou escrevendo um sketch com Graham Chapman.

O filme, que em Portugal terá o título «À Boleia pela Galáxia», apresenta algumas variantes em relação aos livros, infelizmente nunca publicados em Portugal, escritas pelo autor para a versão cinematográfica. Como a introdução de um novo personagem, Humma Kavulaé, interpretado por John Malkovich.

Não consegui descobrir quando será a estreia do filme em Portugal mas entretanto… não se esqueçam da toalha!

13 de Maio, 2005 Palmira Silva

Panteão Católico alargado

O panteão católico terá muito em breve mais um beato, certamente a elevar a santo tão rápido quanto possível. De facto, o Vaticano divulgou hoje que o processo de beatificação de João Paulo II já se iniciou!

12 de Maio, 2005 Palmira Silva

Defesa Intransigente da Vida

Excertos do Memorando confidencial enviado pelo então cardeal Ratzinger a Theodore McCarrick, arcebispo de Washington, tornado pública em Julho de 2004. Relembrando que nessa época se disputava a Presidência dos Estados Unidos entre Bush, um evangélico anti-aborto e Kerry, um católico pessoalmente contra o aborto mas respeitando a consciência de quem o escolhia e como tal pró escolha, e que, supostamente, o Papa era veementemente contra a guerra no Iraque.

« 2. A Igreja ensina que o aborto e a eutanásia são um pecado grave. A carta evangélica Evangelium vitae, com referência a decisões judiciais ou leis civis que autorizem ou promovam o aborto ou eutanásia, estipula que «existe uma grave e clara obrigação para a sua oposição por objecção de consciência. […] No caso de uma lei intrinsecamente injusta, como uma lei que permita o aborto ou a eutanásia, nunca é lícito, por conseguinte, obedecer a essa lei ou fazer propaganda em favor dessa lei ou votar a seu favor’» (no. 73). Os cristãos têm uma «grave obrigação de consciência de não colaborarem em práticas, mesmo que permitidas pela legislação civil, que são contrárias à lei de Deus. […] Esta colaboração nunca pode ser justificada por invocação do respeito à liberdade de outros ou apelando ao facto que a lei civil o permite ou requer»(no. 74).

3. Nem todas as questões morais têm o mesmo peso que o aborto ou a eutanásia. Por exemplo, se um católico tiver opinião contrária da do Papa na aplicação da pena capital ou na decisão de iniciar uma guerra, ele não deve ser considerado por essa razão indigno de se apresentar para receber a sagrada comunhão. Pode existir uma legítima diversidade de opiniões entre católicos sobre uma guerra e a aplicação da pena de morte mas não em relação ao aborto e eutanásia.»

Ou seja, para Ratzinger os cristãos devem ser contra decisões judiciais e leis que autorizem o aborto e a eutanásia, considerados pecados graves. Aliás é seu dever ser completamente intolerantes com quem não se reger pelo dogma da sacralidade do embrião e com quem reclama o direito a morrer com dignidade.

Nas recomendações de como devem os católicos votar, explica assim que um católico será considerado culpado por cooperar com o mal, e não poderá receber a comunhão, se votar num candidato político que seja a favor da eutanásia e/ou do aborto. Em contrapartida um candidato político que seja (fervorosamente) a favor da pena de morte (afinal inscrita e abundamente prescrita na palavra de Deus revelada, i.e. na Bíblia) ou que decida por uma guerra injusta com centenas de milhares de vidas inocentes como «danos colaterais» deve ser aceitável para qualquer cristão.

Fico sempre muito baralhada com a defesa intransigente da vida advogada pela Igreja Católica…

10 de Maio, 2005 Palmira Silva

Rádio Vaticano condenada por poluir

Não, ainda não foi condenada por poluição social, por enquanto apenas por poluição ambiental.

Na realidade, na longa tradição de a Igreja se considerar acima das leis dos homens, os emissores da Radio Vaticano não cumprem as estipulações da intensidade de campo permitida pela lei italiana. Já em 2001 o Ministério do Ambiente italiano verificou que em onze dos catorze locais analisados a intensidade dos campos electromagnéticos apresentava valores superiores aos seis volts por metro permitidos.

O presidente da Rádio Vaticano, o cardeal Roberto Tucci, e o seu director-geral, o padre Pasquale Borgomeo, foram hoje condenados a dez dias de prisão por poluição ambiental. Claro que num país tão católico como Itália as sentenças foram automaticamente suspensas.

A queixa foi interposta em Novembro último pelos habitantes da localidade de Cesano, que acusaram os emissores da Rádio Vaticano de causar problemas graves para a saúde da população, tendo inclusive ocorrido a morte de uma criança que desenvolveu leucemia.

É estranho que a Igreja que é tão intransigentemente defensora da vida não tenha reduzido a potência dos seus emissores mal soube, em 2001, que estes infringiam as normas de segurança. Será por considerarem que a transmissão da palavra de Deus é mais importante que a vida de meros homens?

8 de Maio, 2005 Palmira Silva

Be scared, be very scared…

«É minha firme convicção que as decisões do Supremo Tribunal que levaram à matança indiscriminada de 40 milhões de bébes que não nasceram, à remoção da verdade religiosa das escolas e da praça pública; (…) a sanção da pornografia e a potencial destruição do casamento são quaisquer delas maiores perigos nas décadas que se avizinham que os terroristas que a nossa grandiosa nação derrotou no Afeganistão e no Iraque»

Foi desta forma que Pat Robertson, o pastor evangélico que é o ex-libris dos teoconservadores ou «religious right», fundador da Coligação Cristã e director executivo da CBN (Christian Broadcast Network) respondeu ao pedido de explicações do senador de New Jersey (democrata, claro), Frank Lautenberg. De facto as afirmações de Pat Robertson no programa «This Week with George Stephanopoulos» em que afirmou que os terroristas que perpetraram o 11 de Setembro são apenas «alguns terroristas barbudos que voam contra edíficios» e que os juízes federais que não partilham os seus pontos de vista são uma ameaça maior para a América que os terroristas, Nazis durante a segunda Guerra Mundial ou a Guerra Civil no século XIX provocaram um expectável repúdio.

Pat Robertson, que aumentou a sua influência política com a re-eleição de G. W. Bush, expressa assim a sua frustração pelo impasse na nomeação dos novos juízes federais, alguns deles classificados por grupos liberais como ideólogos da extrema-direita. Como Janice Rogers Brown, que numa reunião de advogados católicos afirmou que «as pessoas de fé estão envolvidas numa guerra contra os humanistas seculares que querem separar a América das suas raízes religiosas». As afirmações de Janice Brown, que provocaram reacção imediata dos atingidos, ocorreram em simultâneo com uma iniciativa dos teoconservadores contra o bloqueio da nomeação do que consideram «pessoas de fé». Bloqueio que o presidente Bush tenciona rodear alterando a lei que o permite

De qualquer forma a constituição do Supremo Tribunal, formado por juízes de nomeação vitalícia, será irrelevante se o «Acto de Restauração» for aprovado, como tudo indica. Esta «restauração», tentada infrutiferamente em 2004 e que regressa em 2005, pretende limitar o âmbito das acções que podem ser apreciadas pelo Supremo Tribunal. Mais especificamente pretende que não sejam passíveis de recurso decisões feitas por um agente judicial que reconheça Deus como a fonte da lei, liberdade ou governo:

«Notwithstanding any other provision of this chapter, the Supreme Court shall not have jurisdiction to review, by appeal, writ of certiorari, or otherwise, any matter to the extent that relief is sought against an entity of Federal, State, or local government, or against an officer or agent of Federal, State, or local government (whether or not acting in official or personal capacity), concerning that entity’s, officer’s, or agent’s acknowledgment of God as the sovereign source of law, liberty, or government.»

Ou seja, será possível que os dominionistas possam aplicar os seus castigos «bíblicos» a quem prevaricar, por exemplo, a lei do Texas que criminaliza a sodomia. E o castigo «bíblico» é uma sentença de morte… E mais castigos «bíblicos» para homossexualidade, adultério, apostasia, heresia, aborto… Aparentemente não para a escravatura, como parece indicar o livro utilizado numa das escolas cristãs mais frequentadas na Carolina do Norte, em que se apresenta a justificação bíblica para a escravatura e a vida dos escravos antes da Guerra Civil é descrita como uma vida «farta e de simples prazeres».

E não esqueçamos que afirmar a supremacia das lei de Deus sobre as iníquas leis dos homens é também o objectivo da Igreja de Roma…

7 de Maio, 2005 Palmira Silva

Desobediência civil

«Por definição, toda religião – toda fé – é intolerante, pois proclama uma verdade que não pode conviver pacificamente com outras que a negam.» Mario Vargas Llosa

A conferência Episcopal espanhola publicou ontem uma nota em que, se tal é possível, exponencia a rejeição da Igreja ao estado de direito, concretizada na reacção à lei que contempla a possibilidade de casamentos entre pessoas do mesmo sexo. De acordo com estes «peritos» em Direito esta não é uma «verdadeira lei» e exigem aos católicos que se oponham de forma «clara e incisiva» a esta lei iníqua.

Têm sido inúmeros os apelos da hierarquia católica à desobediência civil para, como diz o Bispo de Segorbe-Castellón, Juan Antonio Reig Pla, a actuação dos católicos não ir «contra a sua consciência rectamente formada». Reig Pla, afirmou ainda que um católico «tem que obedecer a Deus antes que aos homens, pois, de contrário, pode-se chegar a um Estado totalitário». O que me induz em dúvida sobre o que o ilustre prelado entende por totalitarismo, já que este é, por definição, o poder de uma doutrina, de uma ideologia, de uma «verdade» indiscutível. Ou seja, um estado democrático nunca pode ser totalitário mas as religiões são inerentemente totalitárias e intolerantes!

Já o Arcebispo de Génova, Cardeal Tarcisio Bertone, opinou que José Luis Zapatero, foi demasiado impulsivo no que considera ser o seu afã de «dar uma bofetada na Igreja» comparando algumas promessas eleitorais de Zapatero, sufragadas em eleições democráticas e livres, à «promessa de Herodes», aludindo à passagem mítica de Herodes e Salomé. «Depois de excitado pela dança da sua enteada (e sobrinha) Salomé, Herodes Antipas lhe disse: ‘peça-me o que quiser, que te darei’. E acrescentou sob juramento: ‘Dar-te-ei o que me pedires, embora seja metade de meu reino’». Do mesmo modo, «há governantes veleidosos que, a fim de arrecadar uns quantos votos, são capazes de dar de presente um reino que nem sequer lhes pertence. Não creio que, chegado o momento, estes governantes tenham incómodo em oferecer numa bandeja a cabeça da Igreja, para manter-se no trono». Certamente que este outro ilustre prelado prefere as monarquias teocráticas, como a dos reis católicos, ou o totalitarismo de Franco (posto no poder com o auxílio do Vaticano) que dominaram durante séculos a Espanha e que ofereceram à Igreja, sem quaisquer incómodos, as cabeças dos que ousaram contrariar os ditames desta.

Para além das habituais tácticas de vitimização que são lugar comum na actuação da Igreja de Roma, os últimos tempos têm sido palco de exibições de totalitarismo muito preocupante por parte da Igreja católica. Tentativas de recuperação do integrismo católico que se manifestam um pouco por todo o globo mas com especial visibilidade em Timor e em Espanha. Como o Diário Ateísta vem alertandomuitos meses a Igreja Católica encontra na conjuntura actual as condições necessárias para restaurar a antiga ordem, fundada no casamento (incestuoso) do poder político com o poder clerical. Com uma integração de todos os elementos da sociedade sob a hegemonia do «poder espiritual» representado, interpretado e proposto pela Igreja Católica, mais uma vez com o seu expoente máximo no Papa, não mais um primum inter pares.

Reitero as minhas expectativas já expressas de que a História recente nos tenha despertado da atitude complacente em relação às religiões e acordado para a ameaça latente que estas constituem para o modelo de sociedade que queremos construir, preconizado na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Que ameaça ruir se não pusermos um freio aos ensejos totalitários e intolerantes das religiões, nomeadamente da Igreja de Roma, e se cedermos às chantagens sob a forma da desobediência civil, tão queridas aos Papas do século XXI, que se vão expectavelmente repetir onde o catolicismo é a religião dominante.

5 de Maio, 2005 Palmira Silva

Yom Hashoah

Hoje 5 de Maio de 2005 ou 26 de Nisan no calendário judaico, celebra-se o Dia de Lembrança do Holocausto. Em que se recordam os seis milhões de mortos judeus para que nunca mais seja possível o horror que aconteceu há 60 anos. Para perpetuar a memória e as lições do Holocausto para as futuras gerações e para que imagens como estas nunca mais se repitam!

Mas o Yom Hashoah é também um dia de esperança em que simultaneamente se celebra a revolta heróica no ghetto de Varsóvia em 1943. Assim como as acções dos «Justos entre as Nações». Porque há sempre esperança se todos repudiarmos tiranos em nome de uma ideologia, religião ou do que quer que seja…

4 de Maio, 2005 Palmira Silva

Bispos de Timor ensandeceram!

As palavras não são minhas mas podê-lo-iam ser: na página «Notícias Lusófonas» onde tenho recolhido boa parte das notícias do comportamento aberrante, anacrónico e anti-democrático da Igreja católica em Timor, que transcreve notícias da Lusa na sua maioria não utilizadas pela nossa imprensa nacional pode ler-se: Igreja Católica quer que o caos passe ao Poder em Timor-Leste
«Novas exigências da igreja católica timorense inviabilizaram hoje o fim da manifestação anti-governamental que há 16 dias mantém o país em suspenso. Exorbitando todas as suas funções num Estado de Direito, a Igreja parece apostada em levar o país para o caos, indiferente aos apelos do Vaticano e das instituições internacionais. Pediram a mão e o Governo cedeu, agora querem o braço, e depois se verá…»

A situação em Timor parece o proverbial barril de pólvora prestes a explodir a qualquer faísca. E o o porta-voz do Episcopado, padre Domingos Soares, bem se esforça por «incendiar» os ânimos dos manifestantes, sendo certamente um dos visados pela declaração do superintendente-chefe da Polícia Nacional de Timor-Leste de que «alguns padres querem que algo corra mal, para atirarem a culpa para cima da PNTL e do Governo». O piedoso prelado tenta acirrar os ânimos da multidão de fanáticos que arregimentou explicando-lhes como devem actuar no caso de a Polícia utilizar gás lacrimogéneo, bem como a forma de a enfrentar caso os tente dispersar pela força.

O primeiro ministro Alkatiri já fez cedências «importantes» à Igreja, um erro estratégico, e assim a saga continua. E a História permite prever que continuará até ao estabelecimento de uma teocracia se as cedências face à despótica Igreja se mantiverem. Não obstante fontes religiosas sugerirem que os bispos de Timor estão a ser pressionados pelo Vaticano para uma mudança do rumo das reivindicações, cada vez mais claramente de índole política. Sugestão pouco credível já que o Núncio Apostólico esteve recentemente em Díli a apoiar os protestos e subscreve as reinvidicações dos bispos timorenses.

Aliás, a Igreja timorense segue ipsis verbis o preconizado pelo finado Papa, expresso no seu best-seller, «Memória e identidade» em que João Paulo II diz claramente que «Parlamentos que criam e promulgam essas leis devem estar conscientes de que transgridem os seus poderes e se colocam em conflito aberto com a lei de Deus e a lei natural». Aliás em consonância com a encíclica «O Evangelho da Vida» (1995), em que João Paulo pedia a desobediência pública a César em nome de Deus «Quando uma lei civil legitima o aborto ou a eutanásia», escreveu, «deixa de ser, por essa mesma razão, uma verdadeira lei civil, e por isso moralmente obrigatória… Está inteiramente privada de autêntica validade jurídica». Aliás o próximo santo no panteão católico nunca aceitou sem reservas a democracia, a que chamou «uma liberdade que cria escravos», uma nova serpente biblíca a tentar com o fruto do conhecimento populações que certamente preferiria, tal como o actual Papa, manter simples e longe da influência de intelectuais…

4 de Maio, 2005 Palmira Silva

Desenvolvimentos em Timor

O Comando-geral da Polícia Nacional de Timor-Leste, pela pena do seu superintendente-chefe, Paulo Martins, solicitou por escrito aos responsáveis da Igreja Católica timorense que ponham fim à manifestação que se desenrola há quinze dias a 150 metros do palácio do Governo. Evidenciando o carácter ilegal da mesma e a violência infligida pelos manifestantes a quem tivesse comportamento «diferente», a PNTL pôs como prazo para a desmobilização da manifestação o final do dia de ontem, terça-feira.

«Face à violência que perturbou a ordem pública, o Comando- Geral da PNTL ordena que esta manifestação acabe terça-feira, dia 03 de Maio» pode ler-se na carta enviada à residência oficial do bispo de Díli, onde está instalado o «tribunal popular» que «julgou» os dois portugueses que foram agredidos pelos católicos manifestantes.

Uma vez que a Igreja de Timor não desiste do seu propósito de derrubar o governo democraticamente eleito a resposta do padre Apolinário Guterres, Vigário-geral da Diocese de Díli, foi simplesmente o reinstar da supremacia da Igreja em relação à lei afirmando que a manifestação ilegal «acaba quando tiver que acabar, e não com ultimatos da polícia».

Uma vez que a manifestação decorre no coração da cidade onde estão instalados diversos organismos internacionais, nomeadamente os escritórios do Banco Internacional, para além do Banco Central timorense, fechados desde segunda-feira, e o clima de tensão vivido no local tem conhecido uma escalada devido à existência de um «sentimento de provocação» por parte dos manifestantes, já que «alguns padres querem que algo corra mal, para atirarem a culpa para cima da PNTL e do Governo», a polícia timorense propôs hoje à igreja a mudança do local da manifestação após uma reunião promovida pelas Nações Unidas.

O padre Filomeno Jacob, secretário do bispo de Díli, não se quis comprometer com qualquer resposta a esta proposta para recuar 200 metros da localização actual, sem antes consultar a hierarquia da igreja.

Esperam-se novos desenvolvimentos da situação em Timor, que de momento não parece estar a desenrolar-se muito favoravelmente para a delegação timorense da Igreja liderada por Bento XVI, o Papa anteriormente conhecido como o inquisidor-mor Joseph Ratzinger.

4 de Maio, 2005 Palmira Silva

Miami vices

A Flórida, governada pelo mui religioso irmão do ainda mais devoto presidente dos Estados Unidos, ambos defensores intransigentes da vida, como tivemos oportunidade de apreciar durante o caso Terry Schiavo, é um estado de profundas contradições.

Um mês depois de aprovada uma lei que permite que qualquer cidadão possa matar um potencial agressor na rua (anteriormente já o podia fazer em casa, no carro ou local de trabalho) e que os opositores garantem ir transformar as ruas da Flórida em versões modernas do velho Faroeste, Jeb Bush afirmou-se novamente um «cruzado» pela vida, ou, como ele próprio se descreveu, o governador mais pró-vida da História.

Em causa estava a gravidez de uma criança de 13 anos confiada à guarda do Estado e que o Estado pretendia ser demasiado «imatura» para acatar a sua decisão de terminar essa gravidez que, de acordo com idade de consentimento expressa na lei da Flórida, é resultado de uma violação. Assim o estado da Flórida tentou impedir a adolescente de efectuar uma interrupção voluntária da gravidez.

A ACLU (American Civil Liberties Union) interpôs um recurso em nome da adolescente e segunda-feira o juíz Ronald Alvarez que apreciou o caso decidiu que a esta poderia realizar o aborto.

O estado decidiu, quiçá recordando o desfecho do caso Terry Schiavo, desistir da sua intenção de impedir a livre escolha da adolescente.

O governador Jeb Bush vai certamente continuar a trabalhar na sua defesa intransigente da vida, tal como esta defesa é entendida pela esmagadora maioria dos cristãos americanos, ou seja, a defesa de embriões, espermatozóides, óvulos e células estaminais embrionárias. Porque como disse a senadora da Carolina do Norte Elizabeth Dole na convenção do Partido Republicano em Setembro do ano transacto «A protecção da vida não é algo que os republicanos inventaram mas é algo que os Republicanos defenderão». Para além, claro, da famosa afimação de que «A Constituição garante liberdade de religião não liberdade DA religião (The Constitution guarantees freedom of religion, not freedom from religion)».