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Palmira Silva

20 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Padre ensina o valor do sofrimento

O padre Arthur Michalka resolveu ensinar as crianças da sua paróquia, em Austin, Texas, que «o sofrimento faz parte da vida». E nada melhor para isso que espetá-las com um alfinete para demonstrar a dor que Cristo experimentou durante a crucificação.

Aparentemente o grande problema do procedimento reside no facto de o padre ter usado o mesmo alfinete, não esterilizado, nas 15 crianças que submeteu à demonstração. As autoridades sanitárias de Austin investigam agora a possibilidade de alguma das crianças ter uma doença que tenha transmitido durante tão louvável cerimónia.

Entretanto alertado para os riscos desta forma tão cristã de mostrar que a vida é um vale de lágrimas, o padre Michalka pretende, na próxima missa, pedir desculpas por … não ter utilizado um alfinete esterilizado.

20 de Setembro, 2005 Palmira Silva

O caçador de nazis

Morreu Simon Wiesenthal, a consciência do Holocausto. O sobrevivente do Holocausto, que dedicou a sua vida a trazer perante a justiça criminosos nazis e a combater o anti-semitismo e discriminação contra qualquer grupo, morreu pacificamente durante a noite na sua casa em Viena.

O Rabi Marvin Hier, presidente e fundador da ONG de defesa dos direitos humanos que tem o nome de Wiesenthal, afirmou «Quando o Holocausto terminou em 1945 todos foram para casa para esquecer, apenas ele permaneceu para recordar. Ele (Wisenthal) não esqueceu. Ele tornou-se o representante permanente das vítimas, determinado em trazer os perpetradores de um dos maiores crimes da história à justiça. Não houve uma conferência de imprensa e nenhum presidente ou primeiro-ministro ou líder mundial anunciou a sua nomeação. Ele apenas tomou conta do trabalho. Era um trabalho que mais ninguém queria»

19 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Mais religião e política: andante

As Filipinas constituem um dos últimos redutos da teocracia católica. A Igreja católica é toda-poderosa e consegue em pleno as suas máximas aspirações «morais» no país mais católico (e dos mais pobres) do mundo: tem financiamento q.b., directo, do (pouco) dinheiro do erário público e indirecto, porque não só está totalmente isenta de impostos como todo o dinheiro doado à Igreja está também isento de impostos. De igual forma, as Filipinas são talvez o único país do mundo que segue à risca as determinações da «santa» Igreja em matéria das consequências «colaterais» do sexo: os abominados métodos contraceptivos «artificiais» são anátema nas Filipinas, a defesa de óvulos e espermatozóides absoluta em território tão dominado pela ICAR. Assim como é total a defesa do «sagrado» matrimónio, e o divórcio não é permitido, excepto para a reduzida comunidade muçulmana na qual se aplica a… Sharia!

Assim, não há grandes problemas de no futuro próximo a Igreja de Roma perder a sua hegemonia sobre um dos países mais corruptos do mundo. Os pobres, com proles numerosas que simplesmente não conseguem sustentar, continuarão miseráveis e ignorantes, dependentes da «boa-vontade» e «boas acções» que a Igreja, com dinheiro alheio, magnanimamente distribui, sem qualquer hipótese sequer de aprenderem a controlar a sua fertilidade. A «santa» Igreja, que actua activamente na política do país, influenciando e determinando não só resultados eleitorais mas destituições de presidentes que não se ajoelharam convenientemente face à Igreja, já fez saber que negará comunhão a, e dados os antecedentes fará certamente campanha contra, qualquer político que tente promover políticas de controle de natalidade.

Entretanto os «piedosos» eclesiásticos vivem num estilo de vida interdito à maioria dos filipinos. Não só devido aos financiamentos já referidos mas porque mantêm uma tabela precisa do que cobram aos miseráveis crentes pelos rituais indispensáveis a um «bom» católico: missas pelas «almas no Purgatório», casamentos, baptizados e funerais. Ah, e já esquecia… tinham até há uns meses (e suspeito que têm ainda não obstante os protestos em contrário) financiamento milionário da Philippine Amusement and Gaming Corporation (PAGCOR). Os operadores dos poucos cristãos, segundo a «santa» Igreja filipina, casinos, jogo na Internet, etc..

Aliás, um dos bispos recipiente de magnânimas doações, para os pobres apressou-se a afirmar, é, certamente por coincidência, o dignitário máximo de uma das zonas do país que mais contribuiu em 2004 para a vitória, muito contestada, da presidente Gloria Macapagal-Arroyo.

Presidente que é mui católica, embora tenha cometido o pecado, na sua longínqua juventude, de recorrer a métodos contraceptivos, pecado de que se redime impedindo que as suas conterrâneas nele incorram.

Quiçá pelo empenho na redenção dos seus pecados, entregando-se plenamente aos ditames da «santa» Igreja, esta tenha contribuido activamente para impedir recentemente o impeachment de Arroyo, por fraude eleitoral. E claro, são detractores ignóbeis, quiçá ateus, que pretendem que Arroyo comprou a cumplicidade da Igreja com as contribuições milionárias da PAGCOR aos bispos. Como a ex-secretária de estado da Segurança Social, Dinky Soliman, que, demonstrando uma evidente falta de solidariedade, reproduziu a resposta da presidente Arroyo à proposta de substituição de Efraim Genuino, o chairman da PAGCOR:

«Preciso dele para sobreviver. Ele toma conta dos meios de comunicação social e dos bispos»!!

19 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Religião e política : variações sobre um tema

A Igreja católica não abdica de tentar impôr os seus dogmas anacrónicos e intolerantes imiscuindo-se de forma inaceitável na política. Curiosamente nos países em que a religião católica é a dominante, a Igreja de Roma tem uma actuação estritamente selectiva, apenas intervindo na cena política para condenar partidos ou governos que pretendam legislar em matérias relacionadas com sexo, contra os preceitos emanados do Vaticano, claro, ou os que lhes pretendam cortar o financiamento. Nunca se ouviu um protesto ou uma condenação dos atropelos aos direitos humanos nas muitas ditaduras nestes países!

Assim, caiu o Carmo e a Trindade numa Itália em período de pré-campanha para as eleições da próxima Primavera, quando Romano Prodi, o social-democrata que foi presidente da Comissão Europeia e que encabeça a coligação de centro-esquerda, se declarou a favor do reconhecimento dos direitos legais dos casais que vivem em união de facto, que representam uma percentagem crescente da população italiana e que, ao abrigo da lei actual, não têm qualquer tipo de protecção ou direitos legais. Como seria expectável no país que alberga a delegação central da Igreja Católica, o Vaticano e os dignitários eclesiásticos italianos reagiram com uma tempestade de protestos e chantagens políticas contra esta «ameaça à família».

O jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano, afirmou que Prodi estava a relativizar a família, uma instituição baseada no casamento (para os peritos no assunto, os celibatários do Vaticano). E a agência noticiosa dos bispos italianos, SIR, disse que a coligação encabeçada por Prodi pagaria politicamente nas urnas se tentasse imitar Espanha, que legalizou o casamento homossexual este ano.

Prodi insistiu que a medida não pretende legalizar o casamento homossexual mas apenas garantir os devidos benefícios sociais a mais de um milhão de italianos, equiparando as uniões de facto em termos administrativos e legais às uniões legalizadas no cartório.

Muitos comentadores italianos comparam o que se passa e o que prevêm se vai passar com a campanha milionária e empenhada organizada pelo Vaticano para impedir que o referendo sobre a fertilidade assistida passasse. Em consequência, a Itália tem uma lei retrógrada e aberrante que basicamente considera um embrião equivalente a uma pessoa nascida.

Certamente nos próximos meses veremos o Vaticano a apelar ao voto em Silvio Berlusconi, que pode ter … algumas «arestas» menos polidas, mas é um modelo de virtudes católicas. Especialmente naquilo que de facto interessa, defesa intransigente de embriões, óvulos e espermatozóides e determinação em acabar com educações ateias de evolucionismos e voltar aos bons ensinamentos criacionistas da tradição católica!

19 de Setembro, 2005 Palmira Silva

A teoria Siri

Não, não vou escrever sobre um dos meus pratos baianos favoritos mas sobre uma espécie de teoria da conspiração prevalecente em alguns meios católicos mais, se possível, conservadores e visceralmente opostos ao inspirado pelo Demo Concílio Vaticano II.

Segundo estes sedevacantistas (de sede vacante ou trono papal vazio) o Papa legítimo, eleito em 26 de Outubro de 1958, após a morte do por muitos apelidado Papa nazi, Pio XII, foi o Cardeal Giuseppe Siri, um genovês anti-comunista militante e um tradicionalista intransigente em matérias de doutrina, aparentemente o favorito de Pio XII para a sua sucessão.

Especialmente elaboradas são as páginas do Novus Ordo Watch, que incluem um «testemunho» de um ex-membro do FBI na enorme lista de documentos que para eles apoiam esta teoria. Mas o Papa de Vermelho, até pela sua referência a Fátima, é igualmente de ler assim como este site, um site tradicionalista e simultaneamente anti Opus Dei, que consideram … obra de judeus! Mas o mais «nacional» no sentido que elege Fátima como fonte de inspiração, é o site da Igreja em eclipse.

18 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Educação católica nos EUA

O arcebispo J. Michael Miller, secretário da Congregação para a Educação Católica, foi o principal orador numa conferência devotada à discussão da educação católica no ensino primário e secundário, organizada pela Universidade Católica da América. Na sua intervenção o dignitário do Vaticano afirmou que a inexistência de financiamento público para escolas confessionais nos Estados Unidos é uma injustiça e «uma anomalia incrível» a nível mundial. Afirmando mesmo que os europeus estão «absolutamente espantados com a situação nos Estados Unidos», o que não deixa de ser verdade mas pelas razões opostas às que o piedoso arcebispo refere, isto é, os europeus estão espantados com o peso anormal que a religião tem na vida política americana. Mas, segundo Miller, o que espanta os europeus sobre os Estados Unidos (pela positiva diria eu) é esta ser uma das poucas nações no mundo em que existe pouco ou nenhum financiamento público para escolas religiosas, o que, de acordo com o responsável do Vaticano, coloca os Estados Unidos na companhia «do México, Coreia do Norte, China e Cuba».

Para Miller, a imagem de marca de uma escola católica é a sua inspiração numa «visão sobrenatural», de acordo com a missão evangelizadora da Igreja que pretende imbuir toda a vida das crianças com o espírito dos Evangelhos, com o louvável fim de «fabricar santos». E enfatizando que a descrição da pessoa humana oferecida pelas escolas laicas «simplesmente não é cristã», quiçá referindo-se ao odiado evolucionismo que nega a criação divina e o Imago Dei, fundamental à propalação das «verdades absolutas» obscurantistas tão queridas à santa Igreja. Pobres crianças sujeitas ao fanatismo de tais fundamentalistas!

Enfim, todo o episódio é apenas mais um que caracteriza uma igreja que se considera perseguida se não for financiada com dinheiros públicos para proselitar à vontade. E de uma igreja que considera a laicidade uma das abominações da actualidade. Nunca deixa de me surpreender, pela negativa, esta insistência da Igreja Católica, certamente relembrando os «gloriosos» tempos medievais, alvo de constantes reminiscências do anterior Papa, em ser sustentada com o dinheiro dos impostos de todos, católicos e não católicos! Especialmente este ênfase em usar os dinheiros públicos para fazer lavagens ao cérebro desde tenra idade, com total desrespeito pelos mais elementares direitos das crianças!

Espero que, de acordo com a Constituição dos Estados Unidos que consagra como pedra basilar a total separação religião-Estado, que estas jamais tenham financiamento público! Especialmente considerando o que ensinam nas escolas católicas americanas! Uma geração de americanos acreditando na definição de falácia e demais disparates «sobrenaturais» encontrados nos livros de ciência das escolas católicas seria desastroso!

«Falácia: tudo o que contradiz a verdade revelada de Deus, não importa quão científico, quão estabelecido ou quão aparentemente consistente e lógico pareça»

17 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Islão Liberal

O Jaringan Islam Liberal (JIL) é um movimento islâmico indonésio que se propõe desenvolver interpretações liberais do Islão, coerentes com os seus princípios democráticos e humanistas, e disseminá-las para o público em geral, como forma de contrariar a crescente influência no país do islamismo radical, fundamentalista e militante.

A escolha do termo liberal para a designação deste movimento progressista, desenvolvido por jovens intelectuais indonésios no início de 2001, inicialmente através de uma mailing list, [email protected], reflecte a enfatização do JIL na liberdade individual de acordo com a doutrina Muta’zilah (ou Mu’tazilite) de liberdade humana e libertação da polis do domínio opressivo e anti-democrático do Islão tradicional. Assim, os objectivos do JIL são a promoção de um meio de diálogo, aberto e livre da pressão do conservadorismo, de forma a permitir o desenvolvimento de uma estrutura sócio-política humana e justa. Para o JIL a democracia é o melhor sistema para conseguir tal objectivo.

A descrição oficial do JIL é «uma comunidade que estuda e tenta implementar uma visão do islamismo que é tolerante, aberta e que apoia o fortalecimento da democratização da Indonésia». Mas aderir a esta comunidade é agora muito perigoso para os indonésios, fatalmente perigoso mesmo, uma vez que o principal conselho islâmico na Indonésia decidiu banir Julho último as interpretações liberais da fé, lançando uma fatwa sobre a JIL. Desde então inúmeras ameaças de morte têm pendido sobre os membros do grupo, tendo, inclusive, sido organizado por um grupo radical, Islam Defenders Front, um ataque (falhado) à sede do grupo em Utan Kayu, Jacarta.

Outras instituições sedeadas em Utan Kayu são alvo do ódio dos fundamentalistas indonésios, nomeadamente uma galeria de arte, a Galeri Lontar, a «incubadora» do JIL, o Institute for the Studies on Free Flow of Information (ISAI), e a estação de rádio privada Radio 68H, que foram avisadas que devem cessar as suas actividades até ao início do Ramadão por promoverem, horror dos horrores, o liberalismo, pluralismo e laicidade.

Os éditos que baniram o JIL e a subsequente campanha de ódio contra os seus membros coincidiram com o encerramento de igrejas cristãs não autorizadas e com a prisão de três mulheres que cometeram o «crime» atroz de convidarem crianças muçulmanas para eventos cristãos.

Aparentemente os fundamentalistas islâmicos tentam por estes movimentos de ódio conseguir o que não conseguiram nas urnas, a imposição da linha dura islâmica na Indonésia. De facto, nas últimas eleições os partidos fundamentalistas que advogam a imposição da Sharia e o fim do pluralismo obtiveram apenas 22% dos lugares no Parlamento da maior nação muçulmana do mundo, que, afronta das afrontas para os fanáticos, não é um estado islâmico.

Como já reiterámos inúmeras vezes no Diário Ateísta nada nos move contra as religiões, muito menos contra a esmagadora maioria dos seus crentes, mas opor-nos-emos sempre aos fundamentalistas intolerantes de todas as religiões que pretendem impôr as suas visões obscurantistas e os seus dogmas anacrónicos às respectivas sociedades. A religião para nós deve ser algo estritamente do foro pessoal que não deve ter qualquer lugar nas estruturas políticas das nações democráticas. Assim, faço votos, fervorosos, que esta visão progressista do Islão tenha sucesso e não apenas na Indonésia. Aliás, considero que movimentos como o JIL são a única forma eficaz de combate ao terrorismo fundamentalista islâmico que devia ser apoiada pelas instâncias internacionais.

16 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Boas notícias do outro lado do Atlântico

Numa surpreendente votação, em que 30 republicanos votaram ao lado dos democratas, a Câmara dos Representantes* aprovou ontem um esboço de lei que inclui violência contra homossexuais na actual lei dos crimes de ódio, que contempla apenas crimes com motivação religiosa, étnica ou racial. A lei, que para além destes pretende incluir o género e orientação sexual nos crimes de ódio, e que tem sido repetidamente bloqueada no Congresso, vai ser agora apreciada no Senado.

Certamente que os teocratas americanos, publicamente visceralmente homofóbicos, carpirão em alto e bom som tal desvio à lei divina. Um dos assuntos favoritos da esmagadora maioria dos Jesus freaks americanos é exactamente a pregação contra os homossexuais, que são responsáveis por tudo, desde o 11 de Setembro ao Katrina. Tema de homilia que será interdito se a lei passar no Senado…

*O Congresso dos Estados Unidos, que detém os poderes legislativos, é composto pelo Senado, com dois senadores por cada Estado eleitos por um período de seis anos, e pela Câmara de Representantes, com um número variável de representantes por Estado, eleitos bianualmente.

15 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Impacto profundo


Um tribunal de Moscovo começou a audição de um caso no mínimo sui generis: um caso em que a queixosa é uma astróloga russa, Marina Bai, e o réu a NASA. A charlatã astróloga pretende que a experiência levada a cabo pela agência espacial americana em 4 de Julho, que envolveu a colisão de uma sonda com o cometa Tempel 1, interferiu com a sua vida espiritual e com o seu sistema de valores. A charlatã astróloga pretende uma indemnização de 300 milhões de dólares já que para além dos consideráveis danos espirituais para a queixosa e dos danos cometidos em relação à «vida elementar» do cosmos perturbando assim o balanço de forças no Universo, a NASA alterou o horóscopo de Bai.

«É óbvio que elementos da órbita do cometa e correspondentemente do periélio, serão alterados depois da explosão o que interfere com o meu trabalho de astrologia e distorce o meu horóscopo» afirmou há uns tempos Marina Bai.

Haja tolerância para crendices obscurantistas sejam elas astrológicas ou exorcistas mas há limites para os anacronismos «espirituais» de uns quantos fanáticos oportunistas! Considero aberrante que semelhante disparate tenha sequer chegado às salas de qualquer tribunal mas espero, para bem da humanidade, que o veredicto neste caso seja liminar: esta acção é completamente absurda!

15 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Exorcismos na Santa Sé

Em pleno século XXI quando a ciência desvenda as razões fisíco-químicas associadas a comportamentos considerados anormais, a Igreja Católica ainda tenta vender possessões diabólicas e quejandos e treina os seus sacerdotes naquilo que é chamado de «exorcismo real», um mambo jambo de 27 páginas que envolve o uso de litros de água-benta, encantamentos e orações sortidas q.b., incensos, imposição de relíquias ou símbolos cristãos como a cruz, para expulsar os «espíritos malignos» que supostamente possuem o desgraçado que lhes cai nas mãos.

O primeiro curso de caçadores de demónios, realizado no Ateneu Pontifício Regina Apostolorum, teve aparentemente tanto sucesso e o Demo é uma invenção tão conveniente para justificar as mais abjectas práticas, dirigidas, claro, não a pessoas mas a servos do Demo, que o Vaticano decidiu reeditar em Outubro o seu curso sobre «Exorcismo e oração de libertação».

Entretanto decorre em Roma, no meio do secretismo necessário à profissão, a convenção dos exorcistas católicos, saudados hoje por Bento XVI em pessoa, certamente depois de no Catecismo da Igreja que afirma: «Quando a Igreja exige publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo, que uma pessoa ou objecto sejam protegidos contra a influência do maligno e subtraídos ao seu domínio, fala-se em exorcismo».

Quiçá esta autoridade da Igreja em identificar a obra do Demo não seja suficientemente reconhecida, nomeadamente na Venezuela. De facto, o governo venezuelano não reconheceu qualquer necessidade de aceitar a piedosa oferta do Cardeal Rosalio Castillo Lara de exorcizar Hugo Chávez, certamente possuído pelo próprio Belzebu para cortar o financiamento à «santa» Igreja venezuelana.

Esta descrença na existência do princípe das trevas tem sido tão prejudicial aos cofres ensinamentos da Igreja Católica que, para além desta abundância de cursos na arte de bem exorcizar qualquer mafarrico, o Vaticano se viu na necessidade de actualizar o esquecido ritual de exorcismo, formalizado no ano da Graça de 1614.

Falando agora em demónios modernos no seio da Santa Sé relembro que o Ateneu Pontifício Regina Apostolorum, onde decorrerão os cursos para charlatães exorcistas, é uma instituição, dita universitária, privada, sustentada pelos Legionários de Cristo e pela Regnum Christi, fundadas pelo padre mexicano Marcial Maciel Degollado, uma «máquina» de angariação de fundos para a Igreja de Roma, sobre o qual pendem há décadas inúmeras acusações de abuso sexual de menores. Todas elas ignoradas pelo Vaticano, que não quer hostilizar uma das suas mais bem conseguidas fontes de rendimento. Estas e outras histórias «edificantes» sobre o patrono dos exorcistas podem ser lidas no «Vows of Silence: The Abuse of Power in the Papacy of John Paul II», de Jason Berry e Gerald Renner ou na análise do livro no National Catholic Reporter.