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Palmira Silva

28 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Moral cristã segundo os teocratas americanos

O líder republicano da Câmara dos Representantes, Tom Delay, um fervoroso cristão muito activo no caso Terri Schiavo, foi forçado a abandonar o seu cargo de liderança no Congresso dos Estados Unidos por ter sido indiciado por um Grande Júri num caso de conspiração, que envolve financiamento ilegal da campanha republicana de 2002.

Os teocratas americanos, vulgo religious right, perdem assim uma das vozes mais tonitruantes no Congresso em defesa dos «valores cristãos», um grande paladino de óvulos, espermatozóides e células estaminais, que abomina e tenta com todas as forças anular a separação estado-religião. Especialmente perdem um dos soldados de Deus na promoção de «uma perspectiva bíblica» na política norte-americana, que participou activamente no impeachment de Bill Clinton por considerar que este tinha «a perspectiva errada». O devoto republicano considera ainda que «Apenas o cristianismo permite uma forma de perceber as fronteiras morais e físicas» do «sentido da vida» e que «apenas o cristianismo fornece uma forma de viver em resposta às realidades que vivemos neste mundo». Aparentemente essa «fronteira moral» e as respostas cristãs aos estímulos exteriores seguem a máxima maquievélica de que os fins justificam os meios… e para eleger paladinos da moral e bons costumes cristãos, como Delay, todos os meios, mesmo ilegais, são moralmente (para os cristãos, claro) legítimos!

26 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Campanhas de desinformação

Todos nós recordamos a campanha contra a Associação para o Planeamento da Família, APF, que incluiu uma petição que circulou célere na Internet e onde, entre outras coisas, se exigia a suspensão de supostos programas de educação sexual em curso nas escolas, promovidos pelo Ministério da Educação em parceria com a APF.

A campanha caluniosa, lançada por associações ultra-conservadoras, nomeadamente a Associação Juntos pela Vida, que pretendiam certamente desacreditar a APF e o seu meritório trabalho, foi baseada em factos falsos, numa clara manobra para assustar as famílias portuguesas e criar um clima político-social pouco propício à introdução da disciplina de Educação sexual nas escolas. A matéria em que se baseou esta campanha foi veiculada numa notícia publicada na edição de 14 de Maio no Semanário Expresso que versava sobre manuais e materiais de educação sexual de conteúdo não só nitidamente de mau gosto mas completamente despropositados. Apesar de ter sido por diversas vezes referida na notícia, a APF nunca foi ouvida nem os seus comunicados publicados ao abrigo do direito de resposta. Mas procedeu contra os seus detractores, nomeadamente apresentando queixa na Alta Autoridade para a Comunicação Social, AACS.

Hoje foi divulgada uma nota de imprensa da APF que transcreve a deliberação da AACS que dá razão à queixa apresentada pela APF, aprovada por unanimidade em 21.09.05:

«Apreciada uma queixa da Associação para o Planeamento da Família (APF) contra o jornal Expresso com base na alegação que este, referindo-a, lhe não deu voz como deveria, no processo de elaboração do artigo publicado a 14 de Maio último a propósito da Educação Sexual nas Escolas, desse modo, ao que sustenta, praticando uma informação parcial, com elementos falsos e atentatórios da sua honorabilidade, a Alta Autoridade para a Comunicação Social, ao abrigo das faculdades conferidas pela Lei nº43/98, de 6 de Agosto, entendendo que a audição e pronúncia da reclamante era, no contexto, necessária e adequada, delibera chamar a atenção do jornal para a necessidade de cumprimento do ético-juridicamente disposto em matéria de rigor informativo.»

26 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Tolerância cristã

Uma estudante de 14 anos, Shay Clark, foi expulsa de uma escola cristã em Ontário, Califórnia, devido ao facto de a sua mãe viver com outra mulher.

«A sua família não verifica as políticas de admissão» foi a justificação escrita enviada pelo director da escola à mãe biológica da adolescente, Tina Clark. Aparentemente nessas políticas de admissão de estudantes está a incluída a necessidade de pelo menos um dos pais não viver em pecado, mais concretamente não estar envolvido em práticas «imorais e inconsistentes com uma vida cristã positiva, tais como cohabitação sem casamento ou relações homossexuais»

Tina Clark e a sua companheira vivem juntas há 22 anos e têm mais duas filhas com 9 e 19 anos, respectivamente.

26 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Instruções papais

A intolerância e discriminação da Igreja de Roma atingiu o seu zénite sob o papado de Ratzinger. Assim, após séculos de acolhimento de braços abertos, espera-se para breve uma instrução papal que formalizará a interdição aos homossexuais de ingressarem em seminários. Esta instrução surge após uma revisão da política da Igreja em relação à homossexualidade ordenada pelo finado João Paulo II na sequência do escândalo da pedofilia nos Estados Unidos, envolvendo padres católicos. Aparentemente foi ao actual Papa que o nosso opinador de estimação, J.C. das Neves, foi beber a sua inspiração para equivaler a homossexualidade ao crime de pedofilia! Mesmo para uma instituição que considera a homossexualidade uma «desordem intrínseca» parece um pouco forte esta declaração implícita de que, contrariamente aos seus colegas heterossexuais, os padres homossexuais não só são incapazes de manterem os votos de celibato como são intrinsecamente predispostos a cometer actos criminosos.

Espera-se ainda que inicie brevemente uma inspecção aos 229 seminários católicos americanos, uma Visita Apostólica que tem como fim examinar se existe «evidência de homossexualidade» nos mesmos.

Considerando que uma percentagem significativa do clero americano é homossexual, mais de 25% segundo algumas estimativas, e que existem seminários designados por «seminários lavanda» com uma população estudantil quasi exclusivamente gay, a medida pode ser um tiro no pé de uma instituição com cada vez mais dificuldade em atrair recrutas, pelo menos no mundo ocidental!

25 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Arte proibida em Teerão

O Museu de Arte Contemporãnea de Teerão está a conhecer uma afluência inusitada de visitantes. A razão é uma exposição que exibe 190 quadros da colecção de Farah Pahlavi, a mulher do ex-Xá, incluindo obras de Picasso, Toulouse-Lautrec e Andy Warhol, que é simultaneamente uma despedida simbólica do actual director Ali-Reza Samiazar, forçado a pedir a demissão pelo novo regime do presidente Mahmoud Ahmadinezhad. De facto, os quadros agora expostos estavam banidos numa cave desde a queda do Xá e advento da teocracia no Irão, considerados «imorais» e «anti-islâmicos» pelos mullahs.

Numa entrevista ao Jornal de Arte, Samiazar, que acredita que a exposição não será encerrada porque é demasiado popular, revela que «Foi difícil promover a arte sob o governo reformista de Khatami (o anterior presidente), não há qualquer hipótese de o fazer sob os conservadores». Especialmente devido à recente tomada de posse como ministro da Cultura de Hossein Saffar-Harandi, um ultra-conservador, que acabará com o que resta da liberdade cultural no Irão.

Não obstante este ser um óbvio acto de revolta contra a ditadura dos mullahs, muito bem acolhido pelos visitantes do museu, que consideram esta a melhor exposição que Teerão conheceu e que se indignam por terem sido negados a sua apreciação por tanto tempo, Samiazar estabeleceu limites. Alguns quadros nunca saíram da cave, incluindo um Renoir representando uma mulher semi-nua. Pior sorte teve um tríptico de Francis Bacon representando dois homens numa cama e respectivos servos, que teve um tempo de vida efémero na exposição. No dia de abertura dois membros da milícia Basij arrancaram o painel central que representava os dois homens adormecidos e saíram com ele. O destino do quadro é desconhecido…

25 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Exorcistas explicam-se

Depois de realizada em grande segredo a oitava convenção dos exorcistas italianos, a que compareceram 180 caçadores de demónios, realizada em Collevalenza, na província de Perúgia, subordinada ao tema esclarecedor «O exorcista na Nova Evangelização», o presidente da Associação Internacional de Exorcistas resolveu esclarecer os mal entendidos sobre os exorcistas ao periódico italiano Avvenire.

Ficámos a saber que a tarefa principal do exorcista é proclamar os Evangelhos e que o «seu apostolado conduz à fé pessoas que estão possuídas, iludidas ou obsecadas pelo demónio».

Mas o principal de toda a entrevista reside na descrição dos sinais de possessão que, muito convenientemente, para além de «doença desconhecida ou mesmo sintomas que são difíceis de identificar», uma descrição suficientemente lata para incluir todo o género de manifestações, especialmente em países menos desenvolvidos, esclarecem que a presença do mafarrico é denunciada pela «aversão pelo sagrado». Assim para o devoto charlatão prelado serão certamente possuídos pelo demo todos os ateístas!

Na realidade, desde 1999, data em que foi revisto e publicado o novo manual de caça ao Demo, que a Igreja de Roma tenta recuperar esse instrumento de dominação que se mostrou tão útil para a santa Igreja ao longo dos séculos. Como preleccionou o cardeal Jorge Medina Estevez, ex-prefeito da Congregação para o Culto Sagrado e a Disciplina dos Sacramentos, que relembrou o mundo católico da presença bem real do Demo, em cuja existência é mandatório acreditar, e esclareceu que o Demo «Engana os homens persuadindo-os de que não precisam de Deus e que são auto-suficientes». Não esquecendo que para o dignitário o mafarrico tem novas armas linguísticas que não hesita em usar: «O Diabo está muito presente, serve-se da mentira e para enganar usa eufemismos. Denomina o aborto interrupção da gravidez e os filhos, cargas. Anima os casamentos entre homossexuais e as leis de divórcio, apresenta o mal como bem, endeusa o dinheiro». Ou seja, o ilustre dignitário identificou como possuídos pelo Demo os que são a favor da despenalização do aborto, do controlo de natalidade, do casamento entre homossexuais e do divórcio.

Agora que a ciência desmistificou, no mundo ocidental pelo menos, as doenças e manifestações antigamente atribuídas a influências demoníacas veremos certamente muito esgrimir desta conveniente «aversão pelo sagrado», sinal inequívoco de possessão demoníaca, como a causa que impede o reconhecimento das «verdades absolutas» da ICAR e subjacente à laicidade.

24 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Dois pesos, duas medidas

Numa altura em que os conservadores cristãos britânicos protestam e tentam boicotar a digressão do espectáculo «Jerry Springer: The Opera», muito contestado especialmente depois de a BBC ter transmitido uma gravação do espectáculo, simultaneamente preparam uma mega manifestação para protestar legislação que segundo eles… restringe a liberdade de expressão!!

De facto, numa demonstração óbvia da hipocrisia e multiplicidade de critérios características das religiões em geral e da cristã em particular, mais de 100 igrejas e denominações cristãs inglesas preparam-se para protestar a legislação, já aprovada na Câmara dos Comuns, que criminalizará o incitamento ao ódio por motivos religiosos.

Pessoalmente considero a proposta de lei completamente absurda mas por razões totalmente distintas das dos piedosos cristãos. Estes opõem-se à legislação, que define ódio religioso como «ódio contra um grupo de pessoas definidas em relação a uma crença religiosa ou ausência de crença religiosa», porque temem que sob esta legislação não possam proselitar à vontade. Como todas as religiões e variantes dentro da mesma religião se reclamam a única verdadeira, as mais viperinas manifestações de ódio religioso verificam-se nos púlpitos, onde os prelados das várias religiões atribuem os males do mundo aos desvios às suas «verdades absolutas», aos incréus e «relativismos» morais ateus e consequentemente atacam e denigrem não só o ateísmo e secularismo como as «falsas» religiões.

Para os piedosos cristãos, em Inglaterra como cá, liberdade de expressão é sinónimo de liberdade de expressão apenas para as suas «verdades absolutas». Sentem-se no direito de criticar livre e vigorosamente as outras religiões e o ateísmo mas não só protestam a alto e bom som a menor crítica, como carpem acusações de perseguição e cruzadas anti-cristãs quando essas «verdades absolutas» não são transcritas para a letra de lei. Para eles todas as vozes discordantes devem ser silenciadas. No caso inglês é-me completamente mistificante que estes preocupados crentes não se apercebam da hipocrisia subjacente a exigirem a «cristianização» da BBC, a censura da difusão pelos media de estilos de vida «alternativos» e de programas «blasfemos», enquanto protestam contra a ameaça à «liberdade de expressão».

Curiosamente durante a tão abominada ópera de Jerry Springer, que levanta questões éticas e morais importantes, nomeadamente sobre justiça e o problema do mal, o personagem representando o mítico fundador do cristianismo é confrontado com acusações e desafiado a responder a uma série de questões morais. O personagem não responde a alguma das questões, ignora as acusações e simplesmente exige «respeitem-me».

Quiçá a luta encarniçada dos cristãos contra o espectáculo seja exactamente porque o seu comportamento apenas reforça o estereótipo dos representantes do panteão católico caricaturados na peça. Os seus dogmas anacrónicos, aquilo que para eles passa por moral, não respondem aos muitos problemas éticos e sociais da actualidade, na realidade só os agravam, e, com total desrespeito pelos que não partilham as suas crenças, exigem não só que estas crenças sejam respeitadas mas, especialmente, que os seus dogmas sejam seguidos por todos!

22 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Lavagem de dinheiro

Aparentemente no México até os traficantes de droga são devotos católicos que acreditam em dedicar parte dos respectivos proventos à «santa» Igreja. E para os piedosos eclesiásticos mexicanos dinheiro é dinheiro, sendo irrelevante se provem de narcotráfico ou outra qualquer actividade criminosa. Essa é pelo menos a opinião do Bispo Ramon Godinez que afirmou na segunda-feira que o dinheiro pode ser sujo inicialmente mas «transforma-se» mal entra na Igreja. Informando ainda que são habituais doações à Igreja ligadas a tráfico de drogas e que não é responsabilidade da Igreja averiguar a sua origem.

Claro que o governo mexicano reagiu de imediato às considerações do Bispo e no dia seguinte o porta-voz do governo, Ruben Aguilar, avisou que «Nunca, sob nenhuma condição, alguém pode receber dinheiro ilegal. Ninguém pode ajudar desta forma a lavar dinheiro e ninguém pode ser a favor de o crime organizado actuar com impunidade».

Godinez reagiu às declarações governamentais ripostando que «Se eles têm dinheiro têm de gastá-lo; não percebo porque se fez um tal escândalo disto. Se um traficante de droga dá dinheiro à Igreja, nós não vamos investigar se ele é um traficante ou não. Deixem-me explicar: nós vivemos disto, de ofertas dos fiéis. E não vamos investigar onde eles foram buscar o dinheiro».

O curioso de mais este «pequeno» apontamento de uma Igreja para a qual os fins justificam os meios, e não há fim mais louvável que dinheiro para a Igreja, não importa como foi obtido, «imoralmente», como no caso das Filipinas ou ilegalmente neste, é o facto de ele vir a lume depois de um lamento de Ratzinger, aka Bento XVI. Que se lamentou num encontro no Vaticano com Bispos mexicanos …da corrupção, tráfico de drogas e crime organizado que grassam no México. Que segundo o Papa «levam a várias formas de violência, indiferença e menosprezo para o valor inviolável da vida». Como para o Vaticano apenas a vida não nascida (e os doentes terminais) tem valor inviolável fiquei na dúvida se o governo de Fox pretende legislar sobre a interrupção voluntária da gravidez, proibida em qualquer circunstância no México.

Mas de qualquer forma acho interessante o relativismo moral denotado por todo o episódio, especialmente se considerarmos que o Vaticano culpa o relativismo ateu, que não reconhece as «verdades absolutas» da santa Igreja, por todos os males, e mais alguns, que assolam a humanidade!

21 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Cristal Vermelho

A Cruz Vermelha e o seu equivalente em países islâmicos, o Crescente Vermelho, podem ter em breve uma designação comum, o Cristal Vermelho. A medida que se pretende implementar visa a utilização de um emblema neutro, nesta era de crescentes conflitos de origem religiosa. De igual forma, sob a nova designação algumas organizações humanitárias anteriormente excluídas, como a israelita Magen David Adom, que usa o escudo vermelho de David, podem juntar-se à organização. A Suiça, o país de origem da Cruz Vermelha, pretende realizar uma conferência no final do ano em que os 192 países que aderiram à convenção de Genebra serão auscultados sob a nova designação e símbolo.

A Cruz Vermelha é uma organização humanitária que não tem nada a ver com religião e o seu símbolo actual é apenas a imagem revertida da bandeira suiça, um país com uma longa tradição de neutralidade. Mas o facto fortuito de esta ser uma cruz impediu, quasi desde as origens da organização, a utilização universal do símbolo. Esperemos que o novo símbolo e designação sejam aprovados e que o Cristal Vermelho seja uma realidade a nível global já em 2006!

21 de Setembro, 2005 Palmira Silva

Uma fraude centenária

Relíquia sagrada? Não, apenas uma solução coloidal de óxido de ferro(III) hidratado, FeO(OH)

Um frasco selado contendo uma substância sólida acastanhada, supostamente o sangue seco de San Gennaro, o patrono de Nápoles, é mostrado há séculos numa catedral apinhada de crédulos fiéis que, no decorrer duma cerimónia solene, assistem ao «milagre» da liquefacção da massa sólida.

A liquefacção do sangue do «santinho» é uma parte integrante da vida de Nápoles e uma garantia de «boa sorte» para a cidade. O frasco é guardado num cofre na Catedral de Nápoles e é levado, com pompa e circunstância, para o altar-mor onde é submetido aos rituais específicos associados à cerimónia da liquefacção, que tem lugar três vezes por ano, em Maio, Setembro e Dezembro. Numa atmosfera rondando a histeria, após os hocus pocus e demais rituais necessários à manutenção da lenda urbana, o arcebispo, nos últimos anos o «ingénuo» Cardeal Michele Giordano, que tem alguma dificuldade em distinguir o seu dinheiro pessoal do da diocese,e que até à prisão deste financiava o seu irmão agiota Mario Lucio Giordano, ergue o frasco, agita-o e declara que o sangue se liquefez. A notícia é saudada com uma salva de 21 tiros no Castel Nuovo.

Como naquelas mensagens em cadeia, a lenda urbana desenvolvida em torno do «milagre» garante que a cidade será atingida por uma qualquer calamidade, seja uma erupção do Vesúvio ou a derrota do Nápoles, a equipa local de futebol, caso a cerimónia não tenha sucesso (provavelmente causado por um dignitário com uma sacudidela menos vigorosa).

Mas a cerimónia centenária foi ontem «manchada» pelas declarações de uma cientista italiana que afirmou que a liquefação não passa de uma fraude.

De facto, a astrofísica Margherita Hack afirmou que «Não há nada místico acerca disto. Vocês podem fazer este apelidado sangue na vossa cozinha».

A Professora Hack e restantes cientistas da Associação Italiana para o Estudo do Paranormal afirmam que o frasco contém simplesmente uma mistura química à base de um sal de ferro, mais especificamente FeO(OH), que data da Idade Média (mais ou menos quando se começaram a registar os ditos «milagres», em 1389).

Ou seja, o frasco vendido como um dos milagres mais estabelecidos da Santa Igreja, contém apenas uma mistura tixotrópica. A tixotropia é uma propriedade que determinados géis apresentam que lhes permite tornarem-se mais fluídos, podendo apresentar uma transição sólido-líquido, quando sujeitos a vibração, agitação ou outra forma de perturbação mecânica, solidificando quando deixados em repouso. Alguns exemplos comuns de géis que apresentam estas propriedades são alguns tipos de tintas ou mesmo a vulgar maionese.

Neste caso a substância sólida é um gel contendo FeO(OH), que se assemelha a sangue seco. Quando o gel é agitado durante as cerimónias dá-se uma mudança de fase e liquefaz, quando é guardado no cofre solidifica!

Como seria de esperar a explicação científica levantou um coro de protestos em Nápoles. O marquês Pierluigi Sanfelice, um dos guardiães oficiais do frasco «milagroso» afirmou que a Igreja Católica efectuou testes no frasco e confirmou que contém hemoglobina, uma proteína hémica que contém ferro e dá a cor característica ao sangue. Tanto quanto eu tenha descoberto estes testes não foram confirmados por alguma entidade idónea e competente!

Será pouco provável que a Igreja de Roma ceda o frasco para análise (não destrutiva e in situ) do seu conteúdo a alguma Universidade ou Instituto devidamente certificado (e independente) para o fazer…