16 de Outubro, 2005 Palmira Silva
Ovos da evolução
Um dos ossos de contenção dos criacionistas reside nos dinossauros, cujo nome significa «lagarto terrível» (do grego deinós, terrível) e assim denominados em 1841 pelo paleontólogo inglês Sir Richard Owen que os classificou como membros da família dos sáurios.
Hoje em dia a maioria dos cientistas acredita que alguns dinossauros são os antepassados das aves. Aliás embora reconhecidas muito mais tarde, as semelhanças entre aves e répteis tradicionais foram notadas por anatomistas desde muito cedo (século XVI) e entendidas à luz da evolução quando em 1860, pouco depois da publicação da «Origem das Espécies» de Darwin, foi encontrado por um trabalhador de uma pedreira alemã um fóssil de Archaeopteryx lithographica no calcário da formação Solnhofen (fim do Jurássico). Este fóssil, um exemplo de uma «forma transicional» entre dois grupos, répteis e pássaros, foi aceite durante muito tempo como o pássaro conhecido mais antigo, e é um elo importante entre pássaros e coelurosaurs (membros dos terópodes, um grupo que inclui o Tyrannosaurus Rex) e ajudou a construir a árvore da evolução ou filogenética do grupo.
Como nota de curiosidade o cientista Thomas Henry Huxley (um adepto tão militante da teoria da evolução que era conhecido como o Bulldog de Darwin), um dos que apontou as semelhanças entre as aves e os terópodes no século XIX, é o «pai» do termo agnóstico (para além de avô de Aldous Huxley, o autor do conhecido «Admirável Mundo Novo»).
O problema dos criacionistas puros e duros em relação aos dinossauros tem a ver com a linha de tempo que os fósseis destes estabelecem. Assim acredita-se que os dinossauros surgiram em meados do Triássico (cerca de 240 milhões de anos atrás) após uma extinção em massa, atravessaram o Jurássico e extinguiram-se (isto é, desapareceram os gigantes que popularizaram os dinossauros no léxico do nosso imaginário) no final do Cretáceo (há cerca de 65,5 milhões de anos). Para quem acredita que a Terra tem uns escassos 6 000 anos, os dinossauros são um osso demasiado grande para roer e as afirmações mais mirabolantes e cretinas são fabricadas por estes criacionistas para justificar a coexistência temporal do Homem e dos dinossauros e negar o suporte que os dinossauros e a sua história fóssil dão à teoria da evolução.
Os IDiotas, que admitem a microevolução ou evolução dentro de uma espécie, mas negam a macroevolução e que tentam, por todos os meios inclusive completamente desonestos, descartar todas as evidências científicas de macro-evolução, inclusive os fósseis transicionais entre espécies, especialmente os de dinossauros dado o fascínio que estes exercem na maioria de nós, têm agora mais um obstáculo na sua já impossível missão de venda do neo-criacionismo. De facto, há menos de um mês foram reportados os mais pequenos ovos de dinossauros encontrados que apresentam claramente uma mistura de características entre dinossauros e aves e que parecem provir de mais uma espécie transicional, uma espécie de pássaro-dinossauro minúsculo que viveu no ínicio do Cretáceo, há cerca de 100-145 milhões de anos, muito antes da já referida extinção dos dinossauros não alados no final do Cretáceo.