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Palmira Silva

15 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

Bachelet presidente do Chile

Os primeiros resultados da segunda volta das eleições chilenas dão a vitória certa a Michelle Bachelet: com 67,3% dos votos apurados Bachelet vai à frente de Sebastián Piñera por quase sete pontos percentuais!

A cruzada anti-Bachelet e a campanha de Piñera e seu teólogo centrada no ataque ao ateísmo de Bachelet não tiveram sucesso! O povo chileno escolheu Bachelet!

15 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

Cruzada STOPP


A STOPP é um projecto da associação fundamentalista católica «American Life League», cujo único objectivo é eliminar a Planned Parenthood, a abominável organização que, para além de tudo o mais, é acusada de difundir «valores humanistas», nomeadamente os do Manifesto Humanista II.

Para os devotos católicos envolvidos o humanismo é uma filosofia execrável, que deve ser combatida por todos os «bons» cristãos, especialmente quando ligado a abominações como o aborto, que a organização pretende seja criminalizado sem excepções, sejam violação, perigo de vida para a mãe, etc.. Ou seja, um organização que segue à letra as emanações do Vaticano, não só em relação ao aborto, proibido em todas as circunstâncias, mas também em relação à contracepção, no que se inclui os famigerados contraceptivos.

Assim, a última guerra dos fanáticos cristãos em relação à Planned Parenthood, PP, tem a ver com uns porta-chaves à venda na organização, considerados blasfemos e ofensivos pelos cristãos. Cada porta-chaves contém um preservativo na sua base plástica, já de si uma blasfémia, mas de acordo com os fanáticos pró-vida ofendem as «pessoas religiosas», como o porta-chaves retratado, que mostra a mais reproduzida parte do tecto da Capela Sistina, mas em que Deus dá um preservativo a Adão.

Continua mistificante para mim a prepotência dos fanáticos cristãos que bramem acusações de ofensas inadmissíveis a propósito dos mais banais não factos e por outro lado se acham no direito (divino) de impôr a todos, de qualquer forma, as suas anacrónicas «verdades absolutas». E não se apercebem que a sua recusa em admitir que alguém não pense (ou aja) como eles, para além de intolerante, ultrapassa todas as fronteiras do ofensivo.

12 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

Tiro no pé do Senhor dos dislates

O governo de Israel fez saber que não assinará o contrato que permitiria a construção do Galilee World Heritage Park, um parque temático cristão que os teocratas evangélicos americanos liderados por Pat Robertson pretendiam construir nas margens do mar da Galileia (na realidade um lago), em terrenos oferecidos pelo governo de Israel.

Tradicionalmente os teocratas evangélicos norte-americanos são os maiores apoiantes e defensores de Israel nos Estados Unidos. A razão para tal, como não poderia deixar de ser, encontra-se na Bíblia, mais concretamente no Antigo Testamento, que indica que Israel foi dado aos judeus por Deus e, segundo estes fundamentalistas cristãos, para se efectivar o regresso de Jesus é necessário que os judeus controlem Israel e que estes se convertam ao cristianismo.

O projecto deste parque temático tinha merecido algumas críticas exactamente pela segunda condição que os fanáticos cristãos consideram necessária para o regresso do mito, nomeadamente Yossi Sarid, um antigo ministro e membro do Knesset (o Parlamento israelita), afirmou ter algumas reservas em relação aos «religious right» americanos e em relação a este projecto já que «Não estou entusiasmado com esta colaboração porque não tenho desejo de ser carne para canhão para os evangelistas. Como judeu, eles acreditam que eu tenho de desaparecer antes de Jesus fazer a sua segunda aparição. Como não tenho planos de me converter, como um israelita e um judeu, considero que isto é uma provocação».

O ministro do Turismo israelita, que afirmou anteriormente não ser um teólogo e como tal não estar interessado na agenda dos turistas mas sim na sua presença (e nos dólares que certamente deixariam no país), declarou através do seu porta voz, Ido Hartuv, que o governo de Israel considera inaceitáveis as declarações recentes de Pat Robertson sobre o castigo divino de Ariel Sharon por este ter devolvido territórios aos palestinos e como tal não assinaria o contrato, prestes a ser fechado, com Pat Robertson.

10 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

Tudo bons rapazes

Jack Abramoff e os seus comparsas teocratas expressam a sua «perspectiva bíblica» ludibriando tribos índias e subornando legisladores. De facto, os caminhos do «Senhor» são misteriosos.

Os teocratas que fomentam (ou inventam) as «guerras culturais» nos Estados Unidos tinham em devotos republicanos como Tom DeLay os seus grandes aliados. A insistência do antigo líder republicano no Congresso numa «perspectiva bíblica» da política já que «Apenas o cristianismo permite uma forma de perceber as fronteiras morais e físicas» do «sentido da vida» e «apenas o cristianismo fornece uma forma de viver em resposta às realidades que vivemos neste mundo» tinha perdido um pouco de credibilidade com o caso envolvendo financiamento ilegal da campanha republicana de 2002.

Como o perdão pelos «pecados» de pobres humanos (se crentes, claro) e a notória tendência para minimizar o que de mal fazem outros membros do «rebanho» é uma característica indissociável dos cristãos, DeLay tencionava retomar o seu anterior lugar de «chefe» das hostes teocratas republicanas no Senado.

Mas o grande defensor de óvulos e espermatozóides, conhecido por «O Martelo» entre os autodenominados pró-vida, foi obrigado a desistir da sua intenção devido ao escândalo que abala os Estados Unidos neste momento, uma teia de corrupção e extorsão conhecida como o caso Jack Abramoff e que envolve para além de DeLay (e família) uma série de devotos republicanos e destacados membros da Coligação Cristã, especialmente o seu primeiro director-executivo, Ralph Reed. As dimensões do caso são tais que até a Casa Branca se prepara para possíveis repercussões deste…

Especialmente chocantes são uma série de mensagens electrónicas trocadas entre estes bons rapazes, de cariz marcadamente racista, em que estes se referiam aos nativos americanos que ludibriavam em milhões de dólares como «macacos», «trogloditas» e «idiotas».

Acho igualmente signiticativas as notícias vindas recentemente a lume que mostram como o estridente defensor de óvulos e espermatozóides parou o processo legislativo a correr no Congresso que visava pôr cobro aos abusos aos direitos humanos verificados em Saipan, um território americano no Pacífico, onde vigora legislação laboral desumana e medieval e onde as operárias das sweatshops das grandes marcas americanas são obrigadas a abortar se engravidarem. O caso foi revelado em 1988, e Jack Abramoff era o homem de mão de Saipan, encarregue de garantir que tudo ficava na mesma, e Tom DeLay era o grande «defensor» da ilha em Capitol Hill. A legislação que pretendia introduzir o código laboral americano na ilha não passou devido aos bons esforços de ambos…

No passado dia 4 Abramoff declarou-se culpado de fraude, evasão fiscal e conspiração para subornar funcionários públicos, num acordo com o ministério público americano que implica que este testemunhe contra os membros do Congresso que subornou. Vamos ver se os desenvolvimentos do caso travam a pretendida transformação dos Estados Unidos numa teocracia. O primeiro sinal será ver se Alito passa

9 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

Consagração clandestina

Na edição de quinta feira do periódico The Wall Street Journal podemos apreciar uma notícia algo insólita: uma consagração clandestina da sala de audiências onde começou hoje a ser ouvido Samuel Alito, o Opus Dei nomeado por Bush para o Supremo Tribunal.

Insistindo que Deus «necessita ser envolvido», certamente para diminuir as hipóteses de Alito ser «chumbado» pelos democratas, não obstante toda a pressão exercida pelos teocratas republicanos, que veêm na ascensão de Alito ao Supremo a crónica da morte anunciada da laicidade consagrada pelos Pais Fundadores e do «pecaminoso» aborto legal, três cristãos fundamentalistas abençoaram quinta-feira as portas da sala onde decorrem as audiências.

Quando os guardas os impediram de entrar na sala os devotos católicos informaram-nos que já tinham «consagrado» (clandestinamente, claro) a sala na véspera, num ritual completo com todos os hocus-pocus considerados necessários. Que incluiram rezas por todos os membros da comissão que vai ouvir Alito e a unção de cada um dos lugares da sala com óleo «sagrado».

A operação foi levada a cabo por três dos mais destacados fundamentalistas das chamadas guerras culturais (na realidade guerras religiosas) que assolam os Estados Unidos: Rob Schenck, presidente do National Clergy Council, Patrick Mahoney, director da Christian Defense Coalition e Grace Nwachukwuand, secretária-geral da Faith and Action . Os três devotos foram identificados como pertencendo a organizações diferentes mas na realidade são apenas três frentes (para parecerem muitos e angariarem mais dinheiro) do mesmo exército, que operaram conjuntamente em várias operações de guerrilha como sejam a «Operação Natividade», um ponto alto da inventada «Guerra ao Natal», passando pelos psicodramas montados em torno de Terri Schiavo, ou das várias contestações à presença dos Dez Mandamentos em salas de tribunais americanos, para além de, claro, terem sido igualmente vocais na defesa de Roberts, a mais recente adição ao Supremo.

8 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

Pseudofilosofia

A minha opinião pessoal é que a filosofia é o conjunto de considerações de índole especulativa que se fazem acerca de assuntos sobre os quais ainda não é possível ter um conhecimento exacto Bertrand Russel, A Minha Concepção do Mundo

Uma filosofia definitiva, feita e assente uma vez para todo o sempre, implicaria a imobilidade do pensamento humano: o absoluto anestesiá-lo-ia. Essa tal verdade, aspiração ingénua de espíritos incultos, pode animar os crentes e exaltar os entusiastas: no domínio do puro pensamento nunca produzirá senão ilusão e vertigem Antero de Quental, Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX.

Diz a tradição que foi Pitágoras quem usou pela primeira vez o termo filosofia, por volta do século V aC, ao responder a um dos seus discípulos que não era um «sábio», mas apenas alguém que amava a Sabedoria (philia, que significa amizade, amor e sophia, que significa sabedoria, conhecimento).

Mais de 2500 anos depois, este conceito, aparentemente tão simples de entender, não penetrou alguns dos crentes que comentam no Diário Ateísta que, à falta de argumentação, afirmam que a nossa ignorância de filosofia (?) e a falta de argumentário «filosófico» para justificar o nosso ateísmo implica que somos «dogmaticamente» ateus.

Historicamente é fácil de entender porque alguém em Portugal, um país que não é exactamente conhecido pelos seus filósofos, pode demonstrar este total desconhecimento do que é de facto a filosofia. Não só em Portugal durante muitos anos filosofia foi confundida com teologia (que exige por definição uma atitude anti-filosófica) como nas nossas Universidades predominam, para além de teólogos, historiadores da filosofia.

Assim, é perfeitamente possível ter conhecimentos de História da Filosofia, do pensamento dos filósofos, saber os eventos que marcaram a produção do pensamento humano, etc., sem nunca desenvolver uma postura de questionamento próprio sobre a realidade. Ou seja, há uma diferença abissal entre ter uma postura filosófica e deter conhecimentos de Filosofia. Por outro lado, todos os que, como Sócrates em Atenas, começam a fazer perguntas, a indagar sobre factos e pessoas, coisas e situações, a exigir explicações, a exigir liberdade de pensamento e de conhecimento, enfim que não aceitam as certezas e crenças estabelecidas e tentam interpretar ab initio a realidade que nos rodeia, são filósofos em potencial, ainda que não possuam instrução formal na área.

Uma educação formal em Filosofia é útil para evitar cair nos erros do passado ou tentar «reinventar» a roda mas não é necessária para uma atitude filosófica. Para tal é necessário desconfiar, como todos os filósofos de facto, de qualquer dogmatismo ou seja, não aceitar verdades dogmáticas. A atitude dogmática é assim não só a antítese da atitude filosófica, e daí a minha classificação como tal da teologia, mas é também conservadora e obscurantista. Conservadora porque precisa da segurança de «verdades absolutas» e teme as novidades, o inesperado, o desconhecido e tudo o que possa abalar essas «verdades absolutas». Conservadorismo que se transforma em preconceito e em obscurantismo quando se tenta impedir o contacto e a discussão de ideias que refutem essas «verdades absolutas».

E dogmatismo especialmente nefasto quando professado pelos que estão convictos que essas «verdades absolutas» emanam de uma fonte sagrada, de uma revelação divina incontestável e incontestada, de tal modo que situações que contestem tais crenças são afastadas como inaceitáveis e perigosas. Ao longo da História aqueles que ousaram enfrentar essas crenças e opiniões foram perseguidos como criminosos, blasfemos e heréticos. Hoje em dia, como ilustram as nossas caixas de comentários, a persistência na postura filosófica a que se chamou ateísmo é refutada pomposamente com recurso à pseudofilosofia por aqueles para quem uma verdade revelada por Deus é a única verdade e tudo quanto pensam os humanos, se for contrário à «verdade divina», é loucura, erro e falsidade!

Pseudofilosofia que consiste «em elucubrações que se apresentam como filosóficas mas que são ineptas, incompetentes, que carecem de seriedade intelectual e que reflectem um compromisso insuficiente com a procura da verdade».

Porque essencialmente a filosofia é a procura da verdade, tema a que dedicarei outro post, quem se considera detentor de «verdades absolutas» reveladas não pode, por conseguinte, ter uma atitude filosófica!

8 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

Crise religiosa na Nigéria

Em Outubro de 2001, o estado de Kano no norte da Nigéria foi palco de violentas confrontações entre muçulmanos e católicos que causaram muitas dezenas de mortes e milhares de refugiados.

Kano é um dos estados da Nigéria que adoptou a Sharia em 2000 e onde se verifica um programa agressivo para forçar a lei islâmica em todos os habitantes. O problema é que neste estado onde domina o islamismo a maioria da população é Sufi Qadiriyyai mas os wahhabitas financiados pela Arábia Saudita detêm uma influência considerável (e desproporcional) no governo. Muitos membros da comunidade Qadiriyya opõem-se à interpretação estrita da lei islâmica do conselho da sharia (wahhabita) de Kano e à sua interferência na nomeação de imams, acusando ainda as supostas «caridades» wahhabitas de fomentarem a violência.

Aparentemente até vigorar a sharia a esmagadora maioria dos devotos muçulmanos de Kano, sufis e shiitas, não se tinham apercebido que a teocracia é uma arma de dois gumes, ou seja, pode ser inestimável aos fanáticos religiosos para impor as suas aberrantes «verdades absolutas» mas também torna a religião (e os seus lideres) subordinados ao estado.

Assim, em Março de 2004, milhares de fiéis Qadiriyya demonstraram-se na capital do estado exigindo, entre outras pontos, o encerramento das caridades wahhabitas e o fim do controle governamental sobre as suas mesquitas. As exigências dos manifestantes não foram atendidas e os sufis «declararam guerra» ao governo estadual e prometeram continuar os protestos.

A resposta do governo foi recrutar 9 000 muçulmanos wahhabitas, conhecidos como Hisba, pagos com dinheiros públicos, que zelam pela escrupulosa aplicação da sharia (wahhabita). Estes militantes fundamentalistas (na real acepção do termo) têm aterrorizado (relatório disponível em pdf) toda a população nos últimos anos, especialmente, para além das vítimas do costume, as mulheres, as minorias católica e shiita.

Este cenário de violência e perseguição dos que não seguem a «verdadeira fé» e de imposição das «verdades absolutas» reveladas dessa «verdadeira fé» repete-se nos 12 estados do Norte da Nigéria que adoptaram a sharia que, de acordo com a Constituição da Nigéria, deveria ser apenas aplicada na resolução de disputas familiares.

Várias organizações, católicas inclusive, pediram ao presidente Olusegun Obasanjo para por termo a esta aplicação abusiva da sharia. Recordando a resposta de Obasanjo em 2002 em relação ao caso que chocou o mundo inteiro, a sentença de morte por apedrejamento de Amina Lawal, diria que é pouco provável que tal aconteça. E que é mais provável que continuemos a ver uma escalada de violência neste país flagelado há décadas por sangrentas disputas políticas e religiosas e a instalação progressiva pela minoria wahhabita (mas politicamente influente e suportada pelos petrodolares sauditas) de regimes em tudo similares ao dos talibans no Afeganistão!

Enfim, há sempre esperança de que a única saída pacífica para esta situação (excepto para fundamentalistas de todas as confissões, claro, que a consideram o grande inimigo da liberdade), a laicidade preconizada por humanistas como Enyeribe Onuoha consiga prevalecer e evitar a guerra civil que se desenha na Nigéria…

7 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

Cruzada anti-Bachelet no Chile

No próximo dia 15 os chilenos vão a votos para escolher quem querem na presidência do seu país, a ateísta Michelle Bachelet, ou o mui católico Sebastian Pinera Echenique, que elegeu a religião, ou antes o ataque ao ateísmo de Bachelet, como tema de campanha.

Numa tentativa de ganhar votos neste país em que a Igreja Católica tem um poder não despiciendo, Pinera, um dos mais abastados homens de negócios do país, escolheu como principal assessor um teólogo católico, Fernando Moreno Valencia.

De facto entre os partidos que integram a coligação que apoia a socialista Bachelet encontra-se o Partido Democrata Cristão mas Pinera tem o apoio de muitos políticos deste partido porque, como afirma Pinera, «Apoiantes e simpatizantes da democracia cristã estão crescentemente a apoiar-me por uma razão muito simples: eles sentem que nós interpretamos muito melhor os seus valores humanistas cristãos» que uma médica divorciada e ateísta, vítima de tortura, tal como os pais, sob o regime do católico exemplar Augusto Pinochet.

Moreno, que se auto define como um filósofo do humanismo cristão, questiona a moralidade do voto numa «candidata ateísta», comparando o cenário actual de apoio popular a Bachelet ao que se passou na Alemanha de Hitler, afirmando que este ganhou as eleições legislativas de 1933 (faltou dizer com o apoio da Igreja Católica alemã) devido a um «acto de estupidez suprema» que pode ser emulado no Chile, nas palavras do douto e piedoso teólogo, se Bachelet for eleita.

Moreno, como seria expectável, é também um ardoroso defensor de Pinochet que afirma ser uma vítima da vingança da esquerda. Assim sendo, e como todos os bons católicos muito preocupado com os rituais da morte, deve achar inadmíssiveis as declarações de Bachelet em relação à possível morte de Pinochet durante o seu mandato, no caso de ser eleita, uma vez que este, ao abrigo do protocolo chileno, tem direito a um funeral de estado:

«Diria que como Presidente, claro, respeitarei todas as leis e decretos, mas francamente diria que seria muito violento para a consciência chilena realizar um funeral de estado a alguém que está envolvido não só em processos de violação dos direitos humanos mas também num escândalo como o Riggs Bank.»

Outros ataques religiosos a Bachelet foram feitos pelo igualmente mui cristão presidente da câmara de um subúrbio de Santiago, Antonio Garrido Mardones, que chamou a Bachelet (e ao actual presidente Lagos) «filhos do Diabo» e afirmou publicamente «Temos de apelar a todos os cristãos e a todos os que acreditam em Deus para não votarem em Bachelet porque Bachelet está do lado do Diabo e não de Deus».

Também a Acção Família, uma organização católica, que antes da primeira volta das eleições tinha denunciado a afinidade de Bachelet com o infame, anti-católico e ditatorial(!?) Zapatero, pediu aos bispos chilenos que se pronunciem e orientem o voto católico, porque consideram que a ateia candidata Bachelet incluiu no seu programa «pontos totalmente inaceitáveis para a consciência cristã» de acordo com «os reiterados ensinamentos dos Papas».

Nomeadamente, blasfémia das blasfémias, pretende assinar um protocolo de 1979 da ONU que defende os (anti-católicos) direitos das mulheres e visa lutar contra a discriminação da mulher, quiçá abrindo portas para que o abominado e também anti-católico aborto terapêutico volte a ser legalizado e salve algumas mulheres (e crianças) de uma morte divinamente predestinada. Para além disso Bachelet pretende oferecer «estabilidade legal» às uniões de facto «independentemente da sua composição», um duplo pecado mortal já que implicitamente admite vir a reconhecer uniões homossexuais.

Nas eleições de 11 de Dezembro Bachelet teve 46% dos votos e Pinera 25.4%. Joaquin Lavin Infante, um membro da Opus Dei que obteve 23.2% dos votos, já declarou o seu apoio a Pinera. Vamos esperar mais uma semana para confirmar se a mui cristã cruzada contra Bachelet surtiu efeito.

7 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

O Senhor dos dislates


Pat Robertson, o mais famoso teocrata norte-americano, conhecido devido à sua fervorosa fé cristã e às pérolas redondas de raciocínio que debita profusamente, continua a não deixar os seus créditos por mãos alheias.

Desta vez o alvo dos raciocínios que ilustram perfeitamente a mais pura lógica da batata teologia cristã foi Ariel Sharon, com quem o tele-evangelista rezou há cerca de um ano e que descreve como «um homem de muito bom coração e um bom amigo» mas que incorreu nas más-graças divinas, por «ter dividido a terra do Senhor». E o «Altissimo» vingou-se da desobediência às «claras instruções» encontradas no almanaque da «verdade absoluta» na forma de um AVC gravissimo…

Assim, no seu programa «The 700 Club» da CBN (Christian Broadcast Network), Robertson cita o profeta Joel que segundo ele «deixa muito claro que Deus toma como inimigos aqueles que ‘dividem a minha Terra’». Discutindo o que considera ser a insistência divina num Israel uno, Robertson referiu ainda o assassinato em 1995 de Yitzhak Rabin que pretendia igualmente devolver territórios palestinos ocupados.

Como já é normal, as críticas às barbaridades debitadas por Robertson foram imediatas. Críticas, também como é habitual, não aceites pelo piedoso cristão e a que o seu porta-voz, Angell Watts, respondeu afirmando «Basicamente o que eles dizem é ‘Como é que Robertson se atreve a citar a Bíblia?’. Isto é o que a palavra do Senhor diz. Não é nada de novo para a comunidade cristã».

E de facto, Watts tem razão! Desde a sua invenção que a «palavra do Senhor» tem sido usada para justificar as maiores atrocidades de que a Humanidade foi testemunha!

6 de Janeiro, 2006 Palmira Silva

A melhor comédia de sempre

E esta não é apenas a minha opinião: A vida de Brian dos Monty Python foi nomeada a melhor comédia de todos os tempos numa sondagem conduzida pelo Channel4 da BBC. Outra sátira do magistral grupo britânico, Monty Python e o Santo Graal, ficou em sexto lugar no voto popular.

Quase 27 anos após o lançamento da mais conseguida sátira religiosa que já assisti, uma crítica certeira à superficialidade do fanatismo cego e acéfalo, podemos ver que as religiões organizadas, o alvo da sátira, continuam a não digerir o sucesso por esta alcançado. Após muitas acusações de blasfémia por parte das Igrejas cristãs, a exibição pública do filme foi proibida em muitos países, aliás esteve proibida até há pouco tempo em algumas zonas de Inglaterra, o que contribuiu para a sua entronização como filme de culto.