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Palmira Silva

9 de Abril, 2006 Palmira Silva

Justiça islâmica no Irão

A polícia iraniana deteve uma menina de 10 (dez!) anos no aeroporto de Teerão por estar incorrectamente vestida, mais concretamente por o manto que, conjuntamente com o lenço islâmico, todas as mulheres são obrigadas a usar, ser demasiado curto. A pena por tal crime é normalmente 100 chicotadas mas as ímpias que a tal se atrevam podem ainda ser condenadas até 10 meses de prisão.

Mais sorte teve um mullah que assassinou a sangue-frio e pelas costas um jovem no metro de Karadj (um subúrbio de Teerão ) e que foi condenado a … 3 anos de prisão por comportamento irresponsável!

Para a justiça islâmica que condenou um jornalista, Akbar Ganji, a seis anos de prisão (já terminados mas Ganji continua incarcerado) por «insultar éditos e figuras religiosas, ameaçar a segurança nacional e disseminar propaganda contra o regime islâmico», ou seja, escrever um livro, e condena as mulheres adúlteras a morte por apedrejamento (os homens recebem 100 chicotadas), as ofensas aos ditames do seu «profeta» são certamente mais gravosas que o assassínio de um mero humano, especialmente quando perpetrado por um mullah!

8 de Abril, 2006 Palmira Silva

Islamização crescente da Indonésia


Em breve as paradisíacas águas de Bali poderão refrescar apenas veraneantes modestamente vestidos como exemplificado por este modelo.

De facto, as autoridades indonésias preparam uma lei, a ser aprovada em Junho, que prevê pena de prisão de 10 anos e multa de 45 000 euros para quem exiba «indecentemente» em público umbigos, coxas ou ancas – alguns fundamentalistas querem incluir ainda os ombros nas partes anatómicas indecentes.

O projecto de lei, que se aplica igualmente a qualquer exibição da tentadora carne em papel ou em filme, pretende criminalizar qualquer comportamento considerado lascivo pelos piedosos fundamentalistas. Assim tudo o que possa ser considerado como ofensa à «decência» ou incitador de «luxúria», como um simples beijo em público, a popular dança erótica balinesa, o dingdut, ou mesmo roupa justa ou sugestiva será proibido. Casais não casados vivendo juntos ou a homossexualidade serão igualmente anátemas.

O projecto de lei, mais um na senda da islamização crescente do país, na prática servirá para impôr o código de conduta e vestuário islâmicos em todo o território da Indonésia incluindo locais como a Papua, onde é normal as mulheres exibirem os seios e os homens usarem apenas uma tanga ou o Bali, em que a maioria da população é hindu, e em que o estilo de vida tradicional está nos antípodas do que desejam os virtuosos religiosos.

Vários grupos religiosos e culturais por toda a Indonésia têm protestado veementemente esta proposta de lei que na prática tornará violações da lei, puníveis com pena de prisão e multas pesadas, numerosas tradições culturais.

No Bali os protestos foram especialmente audíveis especialmente por parte da comunidade artística porque, como afirmou um dos promotores de uma das manifestações, «As artes e crenças religiosas balinesas nunca consideraram a sensualidade e a sexualidade como uma coisa impura, moralmente repreensível. Pelo contrário, a sensualidade e a sexualidade são tratadas como componentes naturais, integrantes das nossas vidas como seres humanos».

O desrespeito pelas tradições locais e a imposição a todos da lei islâmica é ainda manifestado em muitos outros acontecimentos, como por exemplo o que aconteceu na bienal internacional de Jacarta ou na prisão em Java de Yusman Roy. O crime deste último, considerado «espalhar o ódio», foi a blasfema leitura de orações na língua local, Bahasa, em vez de árabe…

8 de Abril, 2006 Palmira Silva

Fundamentalismo em alta no sistema educativo britânico

O sindicato que representa o maior número de professores na Grã-Bretanha, o National Union of Teachers, avisou na quinta-feira que os fundamentalistas religiosos estão a ganhar controle das escolas nomeadamente através dos curricula aprovados pelo governo.

Uma moção a ser debatida na conferência anual do National Union of Teachers pede o fim do financiamento público de escolas confessionais e pede legislação «para prevenir a influência crescente das organizações religiosas na educação e ensino e o ensino de criacionismo ou desenho inteligente como uma alternativa válida à evolução».

De facto, como já tinha referido, a introdução, a verificar-se no próximo ano lectivo, do criacionismo nos curricula de ciências britânicos é extremamante preocupante.

Igualmente preocupante, especialmente quando consideramos que o Reino Unido, a par dos Estados Unidos, é um dos dois países ocidentais líderes no desastroso campeonato da gravidez adolescente e doenças sexualmente transmissíveis nesta faixa etária, são as notícias que as escolas católicas vão substituir os programas de educação sexual por programas de abstinência.

O programa, igualmente a ser introduzido no próximo ano lectivo, pretende seguir à letra as posições dos celibatários do Vaticano em matéria de sexo e relações pessoais. Embora sejam omissos em relação às recomendações de Ratzinger de que «é um dever cortar qualquer comunicação com pessoas que tenham se afastado da doutrina católica», o que certamente contribuirá para uma integração social muito católica dos jovens, os dignitários católicos informaram que se restringirão estritamente aos ditames do Vaticano no restante. Para isso, estão a preparar a formação dos professores encarregues de tal aberração, uma suposta educação sexual nas escolas católicas que consistirá em lavagens cerebrais destinadas a incutir nos jovens a sacralidade de óvulos e espermatozóides e que sexo só no casamento.

Como diz Michael McGrath, director do Scottish Catholic Education Service, «Nós daremos informação sobre o que é a contracepção … mas não iremos promover qualquer forma de contracepção artificial. O aborto não faz parte da educação sexual, mas claramente todas as escolas católicas irão promover a santidade da vida humana e não irão promover o aborto».

Como indica um artigo publicado no British Medical Journal os programas de abstinência «associam-se a um aumento do número de gravidez entre os casais dos jovens que os seguiram». De igual forma, a UNICEF é bastante inequívoca nas suas recomendações. Usando como exemplo a Suécia, que mudou a sua política de educação sexual de forma radical em 1975, explica a diminuição drástica de doenças sexualmente transmitidas e gravidez na adolescência neste país: «Abandonaram-se as recomendações de abstinência e de praticar o sexo exclusivamente no casamento, a educação contraceptiva tornou-se explícita e criou-se uma rede nacional de clínicas para jovens, concretamente para fornecer de forma confidencial orientação aos jovens sobre métodos e tratamentos contraceptivos… Durante as duas décadas seguintes, o índice de nascimentos em adolescentes baixou em 80%». As doenças sexualmente transmitidas, em contraste com os crescentes índices do RU e EU, baixaram neste país cerca de 40% nos anos 90.

Esperemos, a bem dos jovens que tenham a infelicidade de frequentarem estas escolas e da paz e integração sociais, que a moção do National Union of Teachers seja aprovada e seguida pelo governo britânico, ou seja, que tenha finalmente fim o financiamento público de escolas confessionais.

7 de Abril, 2006 Palmira Silva

Evolucionismo: mais um elo encontrado

A revista Nature desta semana dá mais uma machadada nas pretensões neo-criacionistas ou IDiotas dos fundamentalistas cristãos que pretendem que um misterioso «designer», isto é Deus, criou a vida na Terra não exactamente como a conhecemos mas com uma reduzida margem de manobra que contempla apenas a micro-evolução ou evolução dentro de uma espécie.

Os grupos de investigação de Edward Daeschler da Academy of Natural Sciences em Filadélfia, Farish Jenkins da Harvard University e Neil H. Shubin da Universidade de Chicago descrevem em dois artigos a sua descoberta de um fóssil de uma espécie (quasi) tetrápode, a que chamaram Tiktaalik roseae do nome Inuit para um peixe de águas pouco profundas. Este fóssil com 375 milhões de anos foi encontrado nos sedimentos de um antigo leito de um rio, no Ártico canadiano, a cerca de 1000 km do Pólo Norte.

Os cientistas afirmam que esta espécie é um elo na evolução de alguns peixes para animais terrestres. O Tiktaalik apresenta escamas ósseas e barbatanas mas as barbatanas dianteiras estão no processo de transformação em membros; o seu esqueleto interno apresenta a estrutura de um braço, incluindo ombro, cotovelo e pulso com barbatanas em vez de dedos. A equipa procura ainda no local um exemplar mais completo que permita avaliar o parte posterior do esqueleto da espécie.

Esta descoberta está a provocar alguma agitação nas hostes criacionistas americanas, que pretendem falsamente não existirem espécies transicionais. Nomeadamente multiplicam-se em acusações de «cientifismo», disparates sortidos e citações biblícas no post sobre o tema do blog da Nature.

6 de Abril, 2006 Palmira Silva

Curas «milagrosas» mais fáceis

Face aos avanços da ciência que desviaram a fé em curas milagrosas da intervenção divina para a intervenção médica e à pressão crescente da concorrência, nomeadamente das Igrejas evangélicas, Monsenhor Jacques Perrier, bispo de Tarbes e Lourdes e o dignitário mais sénior do santuário de Lourdes, anunciou a semana passada uma reforma no reconhecimento das «curas milagrosas» que o referido local é suposto operar, criando novas categorias de «milagres».

De facto, não obstante os milhões de peregrinos que visitam o local anualmente e os muitos litros de água «milagrosa» vendidos àqueles que não podem usufruir dos seus «benefícios» in situ, apenas 67 curas «milagrosas» foram reconhecidas desde 1858, data em que uma pastorinha de 14 anos, de seu nome Bernadette (não Lúcia) afirmou ter visto a Virgem numa gruta. Destas apenas 4 supostamente ocorreram desde 1978, a mais recente o ano passado, uma mera cura de … reumatismo!

Esta escassez de «milages» e a pouca espectacularidade dos mesmos motivou o preocupado bispo a propôr ao Vaticano novas categorias de milagres, que não necessitam obedecer às regras estabelecidas há quase 300 anos pelo Cardeal Prospero Lambertini, os milagres «lite», que incluem «curas inesperadas», «curas confirmadas» e «curas excepcionais». Nesta versão lite, qualquer devoto frequentador de Lourdes e consumidor da sua água milagrosa que seja operado a um cancro, faça quimio ou radioterapia e se cure, pode anunciar ao mundo que foi curado por «milagre».

Numa manobra de marketing magistral Perrier propõe ainda que estes «milagres lite», indispensáveis para fazer face às ofertas da concorrência nos chamados «hipermercados de milagres», como sejam a IURD, Igreja Maná e afins, sejam imediatamente publicitados mal ocorram.

4 de Abril, 2006 Palmira Silva

Sweet Home Alabama

Os defensores intransigentes do direito à vida de óvulos e espermatozóides americanos, pelas razões esperadas, são especialmente activos nos Estados do cinturão bíblico. Certamente por inspiração divina, estes cruzados contra o aborto, que incluem devotos cristãos como Eric Robert Rudolph, condenado em Abril de 2005 a prisão perpétua pelos ataques bombistas a clínicas de IVG, clubes homossexuais e outros perfeitamente legítimos alvos (da sua perspectiva cristã, claro), consideram como este último, que «O aborto é assassínio» e que «a força mortífera é necessária para o parar».

No Mississipi, Joseph Booker, o último ginecologista pró-escolha que sobrevive neste estado, está há 18 meses sob protecção federal. Booker é forçado a dirigir-se ao seu local de trabalho, a única clínica do estado que realiza interrupções voluntárias da gravidez e que está constantemente cercada por devotos cristãos, usando colete à prova de bala e um capacete militar.

A perseverança de Booker em ajudar especialmente as mulheres de menos recursos deste estado (as outras vão para fora, onde não são conhecidas) pode ser desnecessária em breve já que o Mississipi se prepara para seguir as pisadas do South Dakota que proibiu o aborto em todas as circunstâncias, mesmo em caso de violação (com a Sodomized Religious Virgin Exception, claro).

No Alabama é apenas uma questão de tempo para que apenas os abortos para salvar in extremis a vida da gestante sejam permitidos.

Dentro em breve será prevísivel que mais estados declarem, como o Missouri, ser a religião oficial do estado o cristianismo, a única «verdadeira».

Se os crentes se limitassem a acreditar nas suas mitologias sortidas sem exigir a subordinação da res pública às suas idiotias anacrónicas, nomeadamente usando-as para discriminar e negar direitos a mulheres e homossexuais, interferir no sistema educacional e na ciência, enfim tentar impôr a todos a sua visão irracional e obscurantista do mundo, suponho que nenhum ateísta, eu inclusive, devotaria um segundo do seu tempo a este tema. Infelizmente a conjuntura internacional propicia o florescer da intolerância e totalitarismo religioso e para que o fim desta história não seja o retorno da história, isto é, da militância religiosa das guerras «santas» e da Inquisição, recordemos de novo o paradoxo da tolerância de Karl Popper: «Se formos de uma tolerância absoluta, mesmo com os intolerantes, e não defendermos a sociedade tolerante contra os seus assaltos, os tolerantes serão aniquilados e com eles a tolerância».

Quem estiver interessado pode ouvir aqui a faixa (1974) de Lynyrd Skynyrd que dá título ao post.

2 de Abril, 2006 Palmira Silva

Saúde pública ou moral mortal?

Um dos casos relatados por Michael Specter no já referido artigo na New Yorker tem a ver com a guerra dos teocratas contra algumas vacinas críticas, especificamente em relação à vacina contra o Human papillomavirus ou HPV. A vacina, recentemente desenvolvida nos laboratórios Merck e GlaxoSmithKline, permite reduzir drasticamente os casos de cancro cervical, uma consequência desta doença sexualmente transmitida.

Os teocratas opõem-se a que esta vacina seja incluída no esquema de vacinações americano porque seria um incentivo para os jovens terem sexo.

«Os conservadores religiosos acreditam que o uso massivo da vacina HPV ou a existência de contracepção de emergência encoraja os adolescentes a desenvolverem um comportamento sexual inaceitável; alguns afirmaram que teriam a mesma oposição em relação a uma vacina contra a SIDA, se uma for descoberta. ‘Temos de olhar atentamento para isso, afirmou Reginald Finger, um cristão evangélico que foi conselheiro médico da organização política conservadora Focus on the Family, ‘Com qualquer vacina a desinibição [o termo médico para a ausência de medo] do HIV seria certamente um factor e é algo a que teremos de prestar atenção com uma dose muito grande de cuidado’. Fingers faz parte do Centers for Disease Control’s Immunization Committee, que recomenda que vacinas devem ser disponibilizadas».

Ou seja, os teocratas preferem que as pessoas morram de cancro ou SIDA a disponibilizarem medicação que «encoraje» a sexualidade! E assim parece certo que a FDA, controlada por teocratas, não vai aprovar esta nova vacina porque, como o senador do Oklahoma Tom Coburn, um médico, indica «O sexo pré-marital é perigoso, mesmo mortal. Não o vamos encorajar vacinando miúdos de 10 anos para que eles pensem que estão seguros». Ou seja ainda, a saúde pública americana tornou-se estritamente um assunto de moral «cristã». Em que decisões de vida ou de morte são tomadas por piedosos fundamentalistas cristãos e não pelos odiados cientistas!

2 de Abril, 2006 Palmira Silva

Ciência sob ataque dos teocratas

Na próxima semana um dos artigos que poderá ser apreciado na revista científica American Heart Journal apresenta o trabalho de uma equipa que estudou durante dez anos os efeitos da oração em cerca de 1800 pacientes sujeitos a bypass cardíaco.

Este estudo, com um financiamento de 2.4 milhões de dólares, foi financiado pela Fundação John Templeton, uma instituição que pretende de facto destruir a «fronteira entre teologia e ciência» não esclarecer qualquer ponto sobre esta fronteira. De facto, os teocratas americanos trabalham arduamente para não só desacreditar quer a ciência quer o direito, produtos meramente humanos, como para substituí-los pela «ciência» e justiça «divinas».

Os esforços dos teocratas americanos em introduzir idiotias religiosas sortidas nos debates científicos e legais, de que o neo-criacionismo, o aborto ou a homossexualidade são apenas exemplos, deve ser encarado e combatido pelo que de facto é: uma campanha para destruir a honestidade intelectual e os progressos civilizacionais permitidos à Humanidade pela exclusão de Deus da res pública.

Com esta campanha os teocratas transformam factos científicos em opiniões, passam a mensagem de que só a ideologia religiosa é verdadeira e tentam alterar factos que negam esta ideologia. Hannah Arendt chamou a este esforço «relativismo nihilista» embora a melhor frase que o descreve seja insanidade colectiva.

De qualquer forma, o esforço (e dinheiro, muito dinheiro) investidos no descrédito da ciência foram completamente contraproducentes neste caso: o estudo indica que aparentemente os crentes não têm muita confiança na mitologia que fabricaram. Os investigadores dividiram os pacientes em três grupos, um em que os seus membros sabiam que ninguém rezava por eles; um grupo de controle que tinha os membros das 3 congregações de rezadores a pedir «o sucesso da cirurgia e uma recuperação rápida e saudável, sem qualquer complicação» mas não sabiam das rezas e um terceiro grupo em que os pacientes sabiam que estavam a rezar por eles.

O estudo não encontrou diferenças estatísticas entre os dois primeiros grupos, 52% deles tiveram complicações pós-cirúrgicas. Menos 7%, uma diferença significativa, dos que sabiam estar alguém a rezar por eles e dos quais 59% tiveram problemas após a cirurgia.

Numa altura em que a América actual emula o período em que Galileu foi perseguido pela Igreja Católica por manter que a Terra não era o centro do Universo, este estudo assim como a divulgação da fraude que foi o análogo que pretendia demonstrar os benefícios da oração em tratamentos de fertilidade, pode ajudar a acabar com a promiscuidade entre ciência e religião.

De facto, o cristão renascido G. W. Bush desbarata milhões de dólares em investigação pseudo-cientifica e compromete a ciência americana enchendo os organismos públicos de fanáticos religiosos, o caso mais notório sendo a Food and Drug Administration.

Sobre o tema recomendo um artigo imprescíndivel de Michael Specter na New Yorker de 13 de Março que denuncia o clima quasi inquisitorial contra a ciência instalado pela administração Bush.

E relembrando um tema recorrente nas homilias do nosso cavaleiro da pérola redonda, que elaborou ainda mais a sua cruzada anti-ciência, num circunlóquio de êxtase místico, livre de qualquer contaminação de racionalidade no último momento zen de segunda, não pensemos que estes ataques se restringem aos Estados Unidos. Os fundamentalistas cristãos de qualquer nacionalidade veêm na ciência o pior inimigo da fé já que as religiões surgem e desenvolvem-se para preencher o papel hoje ocupado pela ciência: as cruzadas anti-ciência são indissociáveis do fundamentalismo…

31 de Março, 2006 Palmira Silva

Cartoons dinamarqueses: difamação de uma religião de paz?

Vinte e sete organizações muculmanas dinamarquesas interpuseram um processo de difamação contra o Jyllands-Posten na quarta-feira, duas semanas depois de o procurador-geral dinamarquês ter afirmado que os cartoons da discórdia não violavam a as leis dinamarquesas da blasfémia ou contra o racismo.

Michael Christiani Havemann, o advogado que representa os grupos muçulmanos, informou que a acção pretende uma indemnização de cerca de 15 000 euros em danos por parte do editor chefe do jornal dinamarquês, Carsten Juste, e do seu editor de cultura Flemming Rose, que supervisionou o projecto dos cartoons. O advogado explicou ainda que:

«Nós pretendemos um julgamento do texto e dos cartoons que foram gratuitamente difamatórios e injuriosos»

Não percebo muito bem como os cartoons podem ser considerados difamatórios. Por alguns associarem o islamismo a violência? Pensaria que a associação foi e é feita não pelos cartoons mas pelas acções (e falta de reacção em alguns casos, como o do julgamento por apostasia de Rahman) dos muçulmanos um pouco por todo o mundo. E injuriosos apenas indirectamente na medida em que a campanha de intimidação e o assalto à liberdade de expressão ocidental orquestrados como manifestação «espontânea» de indignação aos cartoons de facto contribuiram para que muitos se apercebessem de que o Islão é uma religião de violência. Uma religião em que o teste de lealdade não é a fé mas o martírio na luta contra os incréus (47:4) – a única forma de salvação garantida (4:74; 9:111), já que apenas os «mártires» que morrem quando assassinam não crentes têm automaticamente todos os seus pecados perdoados (4:96).

28 de Março, 2006 Palmira Silva

B&B cristãs protestam lei anti-discriminação

A lei britânica anti-discriminação com base na religião ou nas escolhas sexuais recebeu, como seria de esperar, violenta oposição por parte dos cristãos neste país.

Mas ninguém podia prever que centenas de devotos cristãos que dirigem pensões protestem este «abuso» e violação do seu direito de mui cristãmente banirem dos seus tectos homossexuais, casais que não sejam casados ou membros de outras religiões. De facto, centenas de cartas têm sido escritas sobre as novas regras que forçam estes devotos a «trair Deus» e as suas consciências obrigando-os a permitir que «indesejáveis» apreciem a sua hospitabilidade.

Don Horrocks da Aliança Evangélica resume os sentimentos da «hospitaleira» comunidade cristã: «Os homossexuais têm direitos humanos, mas as pessoas religiosas também os têm e potencialmente são incompatíveis». Ou seja, impedir o direito cristão de discriminação com base na religião e na escolha sexual é em si uma discriminação com base na religião já que aparentemente o cristianismo para ser vivido em pleno implica que se possa discriminar pessoas de outras religiões, os abominados homossexuais e pessoas que têm sexo sem serem casadas.

Na mesma linha do pensamento do nosso cavaleiro da pérola redonda que num dos momentos zen de segunda se lamuriou em relação à «Resolução sobre a Homofobia na Europa», que considera uma violação da liberdade (?) esta resolução «abstrusa», já que uma «pessoa, em liberdade, tem o direito de pensar que a homossexualidade é uma depravação». Ecoando a reacção do Vaticano sobre o assunto, que considera esta lei como uma afronta à liberdade, isto é intolerância, religiosa.