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Palmira Silva

24 de Abril, 2006 Palmira Silva

Talibanização da Malásia

Num país que é suposto ser um exemplo de um país islâmico com uma relação de sucesso com o mundo moderno e em que os 40% da população não islâmica são supostos coexistir pacificamente e em liberdade religiosa, a realidade actual nega completamente estas pretensões. A islamização da Malásia continua em marcha acelerada com a destruição de um templo centenário de outra religião.

Um templo hindu com 100 anos foi arrasado na passada sexta-feira pelas autoridades municipais de Kuala Lumpur. Mais um templo da religião mais antiga do mundo destruído pela fúria intolerante de religiões muito mais recentes e cujas mitologias foram largamente inspiradas nas mitologias védicas.

Outro exemplo de como as acções do governo estão de facto a caminhar para a islamização do país tem a ver com as «leis da decência», analisadas num artigo de Zainah Anwar, «Matéria de consciência, não de polícia».

Em que este relata como todos os malaios, independentemente da religião, são obrigados a seguir um código de conduta islâmico, arriscando-se a penas de prisão, punições físicas ou pesadas multas caso não o façam. Como uma cantora que foi acusada de «insultos ao Islão» por cantar num bar que serve bebidas alcoólicas ou dois colegas de escola, um rapaz e uma rapariga, que foram condenados a 25 vergastadas cada pelo crime de falarem um com o outro em público…

Mais preocupante ainda é tendência crescente de subalternização dos tribunais federais aos tribunais da Sharia, supostamente apenas aplicáveis à população muçulmana. O que na prática impede alguém de deixar o Islão uma vez que são estes tribunais que deliberam sobre casos de apostasia. Um caso que faz manchetes na Malásia é o de Lina Joy, que se converteu ao cristianismo em 1988 e continua a ser portadora de um bilhete de identidade que a identifica como muçulmana. Que se arrisca a ser presa se entrar numa igreja ou se não observar o jejum obrigatório no Ramadão. Para além de estar impossibilitada de se casar, com um não islâmico, uma vez que o registo civil apenas casa não islâmicos e oficialmente Lina Joy é muçulmana.

24 de Abril, 2006 Palmira Silva

Salman Rushdie em boa forma

Salman Rushdie esteve em Minneapolis na semana passada e pelo relato parece estar em excelente forma:

À pergunta «Quem tem o direito de contar as nossas histórias e quem decide quem as conta» respondeu «Bem, está a falar de religião, não está? Religião consiste em algumas pessoas contarem histórias para o resto das pessoas, para nós».

Quando interrogado sobre que prática espiritual utilizava para escrever respondeu «Eu não tenho alguma prática espiritual. A palavra espiritualidade devia ser banida da língua inglesa pelo menos durante 50 anos… Uma palavra que perdeu o seu significado. Já não se pode passear o cão sem o fazer de uma forma ‘espiritual’, não se pode cozinhar sem falar em espiritualidade!»

Mas a melhor da noite aconteceu quando Rushdie afirmou «Todos os mitos da criação são disparates. O Universo não foi criado em seis dias mais um para descanso… O Cosmos não foi criado pelas faúlhas causadas pela fricção de dois úberes de vacas cósmicas…»

23 de Abril, 2006 Palmira Silva

Uma serpente com pernas


Os últimos tempos têm sido fertéis na descoberta de fósseis de transição entre espécies, evidências indiscutíveis da evolução que os fundamentalistas cristãos negam acefalamente em favor da sua absurda mitologia.

Na última Nature (link para o resumo do artigo, o acesso à versão completa é reservado a assinantes) foi apresentado um trabalho de uma equipa sul-americana que pode pôr fim a uma acesa controvérsia sobre a evolução das serpentes, de animais marinhos ou terrestres. O zoólogo Hussam Zaher, cientista do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, em colaboração com o palentólogo Sebastián Apesteguía, do Museu Argentino de Ciências Naturais Bernardino Rivadavia, apresentam os detalhes anatómicos dos fósseis da mais antiga espécie de cobra já encontrada, a Najash rionegrina, uma serpente que viveu no Cretáceo Superior (há 90 milhões de anos) e que apresenta patas traseiras funcionais, completas com femora, fibulae, e tibiae, e pélvis.

«A gente espera que esse trabalho provoque uma certa revoluçãozinha, trazendo uma baforada de ar fresco sobre o debate da origem das serpentes e rejeitando a hipótese da origem marinha» afirmou Zaher.

Os criacionistas do site humorístico «Respostas no Genésis», AiG, que ainda têm atravessada uma espinha do Tikataalik rosae, continuam a debitar prosas hilariantes no seu afã de refutarem as evidências experimentais da evolução. Em relação à Najash rionegrina acho especialmente divertido o parágrafo que reza:

«A AiG é cautelosa acerca da comparação desta serpente fóssil com a serpente de Génesis 3:14 [a tal que provocou a dentadinha no proíbido fruto do conhecimento]. Em primeiro lugar, não sabemos muito acerca da anatomia dessa serpente. Mas podemos oferecer uma sugestão razoável de que seria capaz de andar ou rastejar; depois da serpente ser amaldiçoada foi pronunciado que «no teu ventre rastejarás» sugerindo que antes da queda se movia usando apêndices. De igual forma este fóssil resulta provavelmente do Dilúvio de Noé, um acontecimento que teve lugar 1500 anos depois de a serpente ser amaldicoada a rastejar sobre o ventre».

Ou seja, os criacionistas cristãos advertem os crentes para não confundirem esta serpente que tem «só» 4500 anos com a serpente andante do pecado original porque esta última viveu… há 6000 anos! Santa ignorância! Em relação aos argumentos imbecis, incoerentes e mutuamente contraditórios que usam para afirmarem que a Najash não é uma evidência para a evolução, parecem os argumentos invocados para chamar à banana «o pesadelo dos ateístas» (vale a pena seguir o link e ver em vídeo, ao vivo e a cores, os delírios criacionistas cristãos no seu esplendor, especialmente do tempo 3:30 ao 4:36. Quem tiver paciência pode assistir a 28 minutos de puro disparate, ou antes, pura «lógica» cristã, tipo provar que não existe urânio em Portugal porque por (re)definição o urânio é um metal que não existe em Portugal).

Tanto quanto eu saiba o Discovery Institute, que recentemente se insurgiu por ser correctamente descrito como um «think tank conservador cristão» num artigo de um jornal de estudantes na Universidade de Baylor, ainda não produziu nenhuma falácia IDiota sobre a serpente com pernas.

23 de Abril, 2006 Palmira Silva

A teoria da evolução é uma invenção demoníaca

Para a semana John Mackay, um criacionista australiano, inicia uma tournée de dois meses pelos redutos fundamentalistas cristãos britânicos, sossegando crentes da inenarrância da Bíblia, mais concretamente do Genesis, com prelecções imbecis sobre a real idade da Terra (alguns milhares de anos e não milhões) e dissertações surreais sobre supostas provas «científicas» que suportam o criacionismo, o grande dilúvio e a arca de Noé e refutam a evolução.

Mackay é um firme crente e fervoroso disseminador da teoria que a «crença» na evolução foi introduzida por Satanás, uma perversão que infiltrou as sociedades ocidentais e que os missionários cristãos têm como obrigação impedir de se espalhar pelo Terceiro Mundo:

«Satanás só recentemente iniciou a introdução da evolução no Terceiro Mundo com o objectivo de destruir o esforço missionário. Armemo-nos primeiro com a nossa armadura espiritual e providenciemos aos missionários do Terceiro Mundo e a outros as armas para levar a guerra contra as subtilezas de Satanás que procura minar a confiança na palavra de Deus e no trabalho missionário»

A tournée (humorística, não fora ser tão preocupante) inclui um retiro de uma semana com 40 famílias, a Family Creation Conference, em que são abordadas questões tão importantes como: antes do pecado original as abelhas davam ferroadas? Ou havia migrações dos pássaros? E que comiam os grandes tubarões brancos?

O problema com o criacionismo em Inglaterra reside no facto de ser ensinado em muitas escolas evangélicas e na sua versão mais soft, o neo-criacionismo ou IDiotia, sob os auspícios da ministra da Educação Opus Dei, Ruth Kelly, do governo de Tony Blair, ir ser apresentado a todos os estudantes britânicos. Como afirma Steve Jones, um especialista em genética, sugerir que o criacionismo em qualquer forma seja ensinado lado a lado com a evolução é equivalente a «iniciar uma aula de genética discutindo a teoria de que os bébés são trazidos por cegonhas». A Royal Society aliás expressou recentemente a sua preocupação com os ataques cerrados à ciência e à evolução por parte dos fundamentalistas cristãos e as suas manobras para introduzir nos currricula de ciências a teoria cientificamente absurda de que Deus criou mundo.

Steve Jones citou Darwin «a ignorância gera confiança mais frequentemente que o conhecimento; são aqueles que sabem pouco e não aqueles que sabem muito que asseguram que este ou aquele problema nunca serão resolvidos pela ciência» para concluir «A ciência tem provas sem pretender certezas, os criacionistas – têm certezas sem provas».

De facto, o problema das religiões é em minha opinião exactamente esse: todas as religiões são detentoras da verdade absoluta «revelada» que pela sua própria natureza não pode ser alvo de dúvidas, discussão ou refutação. Se um dos aspectos desta fé, que se traduz numa segurança confortável e confortante, é posto em causa ou dá origem a dúvidas então todo o sistema pode colapsar. Por isso o pior inimigo das religiões é o conhecimento, nomeadamente o científico.

Por outro lado este fundamentalismo, esta fé no absolutismo das verdades reveladas, é um catalizador para violência. Se a segurança de alguém está ligada a um sistema de crenças, a uma religião que se afirma a detentora da verdade absoluta revelada por Deus, que recompensará no «Além» os seus seguidores e que afirma que quem refuta essas verdades são aliados do demo, então é perfeitamente legítimo destruir os demoníacos não crentes na defesa e propagação dessas verdades absolutas!

22 de Abril, 2006 Palmira Silva

Fundamentalismo islâmico no Irão

Durante a presidência de Mohammed Khatami os símbolos mais evidentes da recuperação de liberdades individuais, cruelmente suprimidas durante as décadas de governo dos ayatollahs, expressava-se na forma como as mulheres, o alvo favorito de repressão por parte de qualquer fundamentalismo religioso, torneavam os estritos ditames de vestuário.

Durante a campanha eleitoral que culminou com a sua controversa eleição, Ahmadinejad assegurou que o Irão tinha problemas mais urgentes que suprimir estas liberdades individuais.

No entanto, quiçá como retaliação às recentes manifestações populares de repúdio ao regime teocrático e porque, como denunciou Nader Shariatmaderi, um aliado político de Ahmadinejad, estas modas são «prejudiciais aos princípios revolucionários e islâmicos» e porque «Na situação internacional presente nos temos de unir em torno de princípios conhecidos» uma série de medidas de repressão social e política de linha dura foram anunciadas há uns dias.

Assim , a polícia de Teerão tem ordens para prender as mulheres que se vistam de forma não conforme aos ditames do governo teocrático. As «transgressoras» das normas «morais» islâmicas seram punidas com multas e penas de prisão até dois meses. A polícia deterá igualmente homens com cortes de cabelo ocidentais e pessoas que passeiem cães, uma actividade há muito merecedora de ululações de blasfémia anti-islâmica pelos piedosos mullahs.

De igual forma os milhões de pessoas que dispõem de antenas satélite, uma abominação que lhes permite terem fontes isentas de informação (e informação factual não digerida pelos dignitários religiosos é algo que todas as religiões execram, não apenas a islâmica) verão as multas por tal posse ilegal subirem de cerca de 90 para cerca de 4500 euros.

Face à crescente revolta popular contra a anacrónica imposição das barbaridades islâmicas, expressas recentemente na adesão massiva a rituais persas tradicionais, banidos como pagãos pelos fundamentalistas islâmicos, como o Tchahr Shanbe Souri (festa do fogo) e o Sizdeh-Bedar, o fim de ano persa, diria que as últimas medidas repressivas servirão apenas para alienar ainda mais os iranianos contra o regime teocrata.

18 de Abril, 2006 Palmira Silva

Revista ligada à Opus Dei publica caricatura de Maomé

Dante Alighieri para Virgílio (apontando para o profeta cortado ao meio): «Aquele ali não é o Maomé?”
Virgílio. «Sim, e ele está dividido em dois porque causou a divisão da sociedade». «Aquele ali com as calças em baixo é a política italiana em relação ao Islão».

O periódico italiano «Studi Cattolici», muito próximo da Opus Dei, publicou no sábado esta caricatura de Maomé no Inferno. A publicação gerou ondas de protesto nos meios islâmicos.

Cesare Cavalleri, director da revista e membro da Opus Dei, afirmou «ter ficado surpreso» pela repercussão do desenho. «Se, ao contrário das minhas intenções e as do autor, alguém se sentiu ofendido nas suas crenças religiosas, peço perdão do coração».

Considerando que este cartoon era francamente mais… er… directo que aqueloutros na origem da recente guerra dos cartoons fico um pouco surpresa com a ingenuidade do piedoso Opus Dei.

Aguardo com um frémito de impaciência para ver se o nosso cavaleiro da pérola redonda se pronuncia sobre o ocorrido e se considera que foi igualmente obra de «fanáticos» laicos. Ou se mais algum escriba católico, daqueles que exigem «respeito» às crenças religiosas (católicas, claro), consegue com um qualquer golpe de rins assacar este cartoon a «provocações dos fundamentalistas laicos do Oeste» aqueles que cometem a heresia de defender «o humanismo laico, a democracia participativa, a cidadania vigilante, os direitos do homem»…

18 de Abril, 2006 Palmira Silva

Imagine

Imagine there’s no heaven,
It’s easy if you try,
No hell below us,
Above us only sky,
Imagine all the people
living for today…

Imagine there’s no countries,
It isnt hard to do,
Nothing to kill or die for,
No religion too,
Imagine all the people

living life in peace…

As maravilhas da tecnologia digital: G. W. Bush canta o «Imagine» de John Lennon.

18 de Abril, 2006 Palmira Silva

Os IDiotas e o Tiktaalik roseae

Os criacionistas americanos estão com alguns problemas em digerir o Tikataalik rosae, o fóssil descoberto recentemente que constitui mais um elo ilustrativo da evolução de alguns peixes para animais terrestres.

Achei deveras divertida a resposta do templo da IDiotia, o Discovery Institute, que clama que o fóssil não constitui uma ameaça para as suas pretensões neocriacionistas uma vez que não é de facto uma espécie de transição:

«Estes peixes não são espécies intermédias, explicaram os cientistas do Discovery Institute que questionei sobre a descoberta. Não são intermédios no sentido que são meio peixe/meio tetrápode. Pelo contrário, eles têm algumas características de tetrápodes».

Os IDiotas tentam assim «sossegar» os devotos americanos com mais um disparate, nomeadamente que uma espécie intermédia teria necessariamente de apresentar 50% de características de peixe e 50% de tetrápode (não sei muito bem quem avaliaria se faltavam umas décimas …)

Esta explicação é de facto a IDiotia no seu esplendor muito bem desmontada numa série de posts em diversos blogs de ciência americanos.

Mas o disparate total pode ser encontrado no Respostas no Genesis, um site criacionista puro e duro, que discute apenas a notícia desta descoberta no New York Time e não os artigos originais.

Aparentemente o que preocupa os devotos criacionistas, que carpem não terem sido oferecidos o direito ao contraditório, é o facto do público em geral ter sido informado de mais esta confirmação da evolução que negam. E apenas para o público em geral debitam uma série de enormidades sem pés nem cabeça, brilhantemente analisadas por quem de direito, um cientista que trabalha exactamente nestes peixes, os ancestrais de todos os vertebrados terrestres.

Tal como explica este vídeo «educacional», «Teoria [científica], facto ou ficção?», em que um jovem trata do dilema que «aflige» muitos outros jovens americanos: a escolha entre a fé e a ciência, são necessários os conselhos dos «bons pastores» para os manter no «bom caminho» e longe da tentação da racionalidade…

Conselhos que por cá são dados pelo representante-mor do Vaticano local que adverte os católicos portugueses para os perigos da ciência e da análise racional, destacando que «os discípulos de Cristo não podem cair nesta tentação [usar a razão]».

17 de Abril, 2006 Palmira Silva

Agência de auxílio de emergência baseada na fé

Casas de New Orleans afectadas pelo furacão Katrina como esta foram consideradas em condições para serem ocupadas.

A Federal Emergency Management Agency (FEMA) notificou cerca de 8900 chefes de famílias de New Orleans, refugiados em Houston, que representam mais de 20 000 evacuados, que não serão elegíveis para assistência financeira.

A Hurricane Housing Task Force de Houston examinou algumas das casas declaradas habitáveis pela FEMA e declarou 70% destas impróprias para habitação.

A decisão da FEMA de recusa de auxílio financeiro a quem de facto necessita é ainda mais incompreensível e reprovável quando se sabe que esta agência estatal utilizou milhões de dólares dos contribuintes em subsíduos (supostamente reembolsos) a igrejas e organizações baseadas na fé envolvidas na operação Katrina.

Considerando que os americanos são extremamente generosos nos seus donativos, especialmente em casos de calamidades, que a Cruz Vermelha declarou ter recebido mais de 2 biliões (americanos) de dólares de donativos para auxílio às vítimas dos furacões Katrina, Rita e Wilma e que a lista que a FEMA divulgou para os americanos dirigirem donativos era praticamente constituida por organizações religiosas (e que incluía em lugar proeminente a organização dirigida por Pat Robertson), é caso para perguntar se de facto as organizações religiosas precisavam de dinheiro federal para atender às vítimas do Katrina. E se não seria melhor esse dinheiro federal ser directamente canalizado para as vítimas?

Parece que a administração Bush, que recentemente estabeleceu um Centro para Iniciativas Baseadas na Fé no Departamento de Segurança Nacional, está decididamente apostada na instalação de uma teocracia nos Estados Unidos!

16 de Abril, 2006 Palmira Silva

A paranóia dos teocratas


Concordo completamente com Bill Mahler: os fundamentalistas que ululam em prime time acusações de perseguição aos cristãos são demagogos, farsantes sequiosos de poder que seguem a receita que ao longo da História mostrou ser mais eficiente na angariação de clientes e na justificação de poder absoluto para os que clamam falarem em nome de deus. A vitimização e concomitante encenação de perseguições inexistentes é ainda indispensável para manter um fluxo confortável de doações monetárias.

Os crentes são muito fáceis de manipular com estas perseguições inventadas e com a perversão ideológica da religião tirada do seu horizonte místico e pessoal (onde não tenho qualquer objecção que se coloque) e transformada de maneira funcional num horizonte político. Manipulações feitas por teocratas absolutistas e fanáticos, obsecados em reger os comportamentos dos indivíduos afim de promoverem uma ordem cristã reduzida a um código penal que penalize como crime os «pecados» cristãos.

A «causa» cristã mais glorificada nos Estados Unidos (e não só, J.C. das Neves carpe reiteradamente nos momentos zen de segunda o seu martírio por esta causa) é o direito à intolerância. Uma estudante do Georgia Institute of Technology em Atlanta, Ruth Malhotra, pôs em tribunal uma acção contra a universidade que a impede de ser intolerante, isto é, de seguir fielmente os preceitos da sua fé cristã que segundo a devota estudante a compele a falar contra a homossexualidade.

Malhotra pretende com a sua acção judicial que a Universidade revogue a sua política de tolerância e junta-se a uma campanha crescente que pretende forçar as escolas públicas e locais de trabalho privados a eliminarem políticas que protegem os homossexuais de perseguição e discriminação.

O reverendo. Rick Scarborough afirma o movimento em que a acção de Malhotra se insere como a luta cívica do século XXI: «Os cristãos têm de tomar uma posição forte pelo direito de serem cristãos [isto é, intolerantes]».

Assim, a Christian Legal Society, uma associação de juizes e advogados, formou um grupo nacional para revogar nos tribunais federais as políticas de tolerância actuais.

Lá como cá a tolerância e o respeito pelos outros (que não envolve, como é óbvio para todos menos os fanáticos religiosos, o respeito pelas ideias dos outros) estão cada vez mais sob ataque cerrado dos fundamentalistas de todas as cores.