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Palmira Silva

7 de Maio, 2006 Palmira Silva

Opus Dei: Estratégia de poder

«Obedecer… – Caminho seguro. Obedecer cegamente ao superior » (Caminho, 914)

«Não desaproveites a ocasião de abater o teu próprio juízo: – Custa…, mas que agradável é aos olhos de Deus» (Caminho, 177)

Como bem escreve Alberto Dines, eleito como «A Personalidade da Comunicação» no Brasil em 2002, «A Opus Dei não é uma ordem, devoção ou confissão religiosa, é um projecto de poder político-financeiro-mediático que se desenvolveu na Espanha no período final do franquismo (quando chegou a ter 11 ministros e posteriormente 18) e, em seguida, espraiou-se pela América Latina».

No Brasil (e em toda a América Latina) os tentáculos da Opus Dei invadem os pontos fulcrais da sociedade. Infiltram o meio financeiro e infiltram especialmente os media. Na política, Geraldo Alkcmin, pré-candidato à presidência do país, é um dos políticos brasileiros que melhor ilustra não só as manobras políticas como também a estratégia de poder desenvolvida por esta sinistra organização.

O seu secretário da educação Gabriel Chalita, o tal que é uma das figuras centrais da programação da rede Canção Nova, uma sucursal da Fundação João Paulo II, conseguiu destruir o sistema público de ensino básico e secundário de São Paulo em tempo recorde. Destruição porque Chalita embora clamando uma diminuição do número de abandonos escolares e de reprovações, implementou reformas que conduziram à formação de «ovelhas» que ruminam sem digerir matéria mastigada por outrem e são incapazes de um pensamento ou análise crítica. Futuros cidadãos, completamente desprovidos de sentido crítico e com a capacidade de raciocínio ideal para serem alvos de proselitismo e lavagem cerebral, que engolirão sem pestanejar toda a «pia» matéria debitada pelos media controlados por esta organização!

Estratégia repetida nos países em que a Obra está instalada. Como o próprio Escrivá revelou «O fim específico [da Opus Dei] é trabalhar com todas as forças para que as classes dirigentes, principalmente os intelectuais, adiram aos preceitos [da Obra]» e passa por formar fanáticos, «Oxalá que o teu ‘fanatismo’ se torne cada dia mais forte pela Fé, única defesa da única Verdade» (Sulco, 933), que «libertem» a sociedade das ateias e blasfemas ameaças para a dita fé: «’liberdade’ que aprisiona; ‘progresso’ que faz regressar à selva; ‘ciência’ que esconde ignorância» (Sulco, 933).

Para este retorno aos gloriosos tempos da Idade Média e esplendor da Cristandade, sem qualquer contaminação da famigerada liberdade, progresso ou ciência, em primeiro lugar e principalmente, a Obra investe fortemente no recrutamento de intelectuais e dirigentes, aqueles que governam de facto o destino dos povos e, sobretudo, lhes ministram educação e cultura. Depois de terem operacionais em lugares chave, especialmente na educação, esses operacionais procedem a «reformas» que produzem massas amorfas incapazes de pensamento independente. O espírito crítico, extremamente nocivo à fé, deve ser combatido sem tréguas «É má disposição ouvir as palavras de Deus com espírito crítico» (Caminho, 945).

Assim, não é de estranhar que tantos ministros da Educação nos países em que a Opus Dei estendeu a sua teia de poder estejam ligados à Obra. Para além do exemplo já referido no estado de São Paulo ou de Ruth Kelly, a ministra da Educação Opus Dei de Tony Blair que se devota em destruir o sistema público de ensino britânico, não esqueçamos que foi Roberto Carneiro, mais a sua aberrante teoria que a Educação nacional deveria ser dirigida não para o desenvolvimento individual mas sim dirigida para formar «carneiros», mais concretamente deveria «Fomentar a integração da criança em grupos sociais diversos»*, quem despoletou o processo que conduziu o ensino nacional ao estado actual.

* é criada, para todos os alunos do ensino básico e secundário, a disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Social …” (Dec.-Lei 286/89, artº 7 ponto 2.)

Estabelece o ponto 5 do artº 7º que é obrigatória esta formação «social» seja ela garantida pela disciplina de DPS – Desenvolvimento Pessoal e Social – ou pela disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica ou de outras confissões pois que, obrigatoriamente, os alunos terão de optar por uma delas (ponto 4 do mesmo artigo 7º).

7 de Maio, 2006 Palmira Silva

Se o rídiculo matasse…

Um grupo cristão americano reuniu-se no passado dia 27 de Abril em Washington, D.C., em frente a uma estação de gasolina para rezar pela diminuição dos preços da gasolina. Os interessados que não se puderam deslocar a Washington para tão importante (e consequente) iniciativa fizeram-no via fibra óptica num site ao vivo e em real time ou usando uma linha telefónica grátis.

Num comunicado de imprensa o grupo Pray Live afirmou que muitas pessoas «se esquecem do poder da oração para resolver a crise energética». E que para além de a iniciativa ser uma mensagem para Deus (que devia ter colocado todo o petróleo do mundo em terras norte-americanas e não em terras de infiéis) é igualmente uma mensagem para a humanidade:

«É nossa esperança que ver e ouvir alguns dos mais poderosos pregadores reunidos em torno de uma estação de combustível e a capital dos Estados Unidos como cenário recorde a todos quem está de facto à frente do nosso Mundo – Deus».

Não se percebe muito bem se a solução pretendida pelos devotos cristãos para baixar o preço dos combustíveis é um milagre tipo transmutação de água em gasolina mas, não obstante todos os esforços envidados pelos cristãos de todos os «flavours» em descredibilizar a ciência, todo o mui cristão «relativismo nihilista» em relação à ciência, a única saída para a crise energética sairá da odiada e «ateia» comunidade científica.

Cientistas que há décadas vêm alertando o mundo e os políticos para a necessidade de se investir em soluções alternativas ao petróleo. O Deus, suposto omnisciente, a que rezam agora os «mais poderosos» pregadores americanos, os mesmos que passam a mensagem de que só a religião cristã é verdadeira e que a ciência é apenas um conjunto de «teorias» ateístas, não é solução para nada … a não ser para encher os bolsos dos seus «delegados» e a satisfazer a sua sede de poder!

6 de Maio, 2006 Palmira Silva

Cristocracia no Ohio

«Um governo arbitrário é aquele em que as pessoas têm homens que os governam … Só Deus tem essa prerrogativa … por isso homens usurparem essa autoridade é tirania e heresia» John Winthrop (1588 – 1649)

Na passada quarta-feira, sem grandes fanfarras na imprensa, o secretáro de Estado J. Kenneth Blackwell ganhou as primárias do GOP (o partido republicano) para a governação no Ohio. Se Blackwell, conhecido por levar uma Bíblia para todos os eventos a que se desloca, ganhar as eleições para governador do Estado Novembro próximo, como tudo indica, será o primeiro governador negro do Ohio. Será também o governador mais abertamente teocrata nos Estados Unidos desde que John Winthrop governou a colónia de Massachusetts Bay assumindo-se como a mão direita de Deus. Blackwell, a quem se deve a vitória de Bush neste estado em 2004, é igualmente considerado para vice-presidente republicano nas próximas eleições presidenciais.

A relação demasiado íntima (e possivelmente ilegal) de Blackwell com dois megamercados da fé cristã do Ohio já mereceu a atenção do programa Now da PBS. E constitui material que merece uma atenção redobrada.

De facto, duas mega-igrejas do Ohio, a World Harvest Church e a Fairfield Christian Church, esta última dirigida pelo pastor Russell Johnson que está igualmente à frente da Ohio Restoration Project, uma organização cristã cujo objectivo é eleger candidatos que transcrevam nas leis do Estado as aberrações cristãs em matéria de direitos individuais, fizeram campanha activa por Blackwell.

O secretário de estado do Ohio, membro do painel nacional da Juventude por Cristo (Youth for Christ), analista político da Heritage Foundation em Washington, D.C e um comentador muito activo da Salem Communications, participando em programas nas mais de 90 estações desta emissora cristã, pretende, no caso de ser eleito, proceder à «Renovação cívica» deste Estado, isto é, pretende impôr um regime dominionista puro e duro! O que o torna extremamente atraente aos teocratas americanos que, como declarou Rod Parsley, co-fundador com Johnson da Ohio Reformation Movement, pretendem transformar o Ohio em «um campo de treino que lançará uma reforma nacional». Reforma nacional que consiste na abolição da «ateia» democracia uma vez que «Os americanos devem ser cristocratas – cidadãos em simultâneo do seu país e do reino de Deus. E isso não é uma democracia, é uma teocracia».

Os detalhes de como Blackwell usou e usa politicamente (algo que é proíbido nos Estados Unidos em que para beneficiarem de isenção de impostos as igrejas não podem intervir directamente em política) as mega-igrejas e os chamados «pastores patrióticos», nomeadamente Johnson que afirmou serem as próximas eleições de Novembro «um choque apocalíptico entre a cristandade virtuosa [Blackwell] e os fazedores do mal que se opõem aos valores da cristandade [e querem «impôr» a ímpia democracia]», podem ser apreciados num programa recente da PBS, reproduzido aqui.

4 de Maio, 2006 Palmira Silva

O pior presidente da História


«A concepção de Bush de uma missão baseada na fé, que está acima de qualquer questionamento racional, condiz com os dogmas pró empresariais da sua administração em relação ao aquecimento global e outros assuntos ambientais urgentes». A não perder esta análise dos mandatos de Bush pelo historiador Sean Wilentz, que faz a capa «The Worst President in History» (ou quase, é a opinião da maioria dos historiadores que estudam o tema) da Rolling Stone, a publicação que recuperou o seu estatuto de revista de culto nos últimos tempos. Em que o tema religião é um dos pratos fortes, já que a base de apoio de Bush está neste momento quasi restrita aos que o consideram «um cristão que de facto age de acordo com a sua crença»…

2 de Maio, 2006 Palmira Silva

Espírito Opus Dei em São Paulo

Geraldo Alckmin, governador de São Paulo e pré-candidato tucano à presidência, cedeu uma fazenda de 87 hectares, 54 vezes maior que o parque Ibirabuera, para uma fundação católica que mantém a rede de comunicação Canção Nova, com assumidos fins de evangelização. Gabriel Chalita, secretário de educação de SP, é o menino de ouro dos projectos da rede Canção Nova e quer ser o próximo governador de SP.

O jornal Folha de Sao Paulo noticiou em 21 de Janeiro último a cedência generosa de Geraldo Alckmin, filho do primeiro supranumerário do Brasil e ele próprio pelo menos com fortes ligações à Opus Dei, informando ainda que a referida fazenda tinha sido solicitada para projectos de inquestionavel interesse público ligados a instituições públicas. O Instituto de Terras do Estado de SP avaliou a área e solicitou-a para reforma agrária e a Faculdade de Engenharia Quimica de Lorena pedia a área para expansão do seu campus. De igual forma a Faenquil, ligada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Económico e Turismo do Estado, requereu em 2004 o terreno da fazenda para a ampliação de um dos seus campi, vizinho à propriedade do Estado.

No entanto o governador ignorou tais pedidos e arbitrariamente cedeu a fazenda Centri, localizada em Lorena, para a Fundação João Paulo II, responsável pela rede de evangelização Canção Nova, «uma comunidade católica que tem como objectivo principal ‘a evangelização através dos meios de comunicação’».

Alckmin, em campanha activa para a presidência, é conhecido pela sua visão católica da política, que inclui o esperado mui católico «apreço pelos Direitos Humanos» assim como subscreve de cruz o que diz Ratzinger na sua primeira encíclica, isto é, os governos não devem combater a desigualdade e exclusão sociais com medidas políticas que não sejam a educação, católica claro, como é evidenciado na resposta a um cidadão que procurou a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, para resolver um problema relacionado com uma bolsa de estudo, e recebeu a seguinte «oração» da Central de Atendimento (que não resolveu o problema em questão):

«No caminho de todos nós existem desafios e obstáculos que exigem empenho, dedicação, garra e perseverança. Por outro lado, esta mesma trajectória abre-nos a possibilidade de aprender, evoluir, enfrentar, ir além. Nessa jornada, tão importante quanto a chegada, é a beleza do caminho. Pois, é no transcorrer do caminho que nossa fé vai se fortalecendo, nossa esperança é renovada, nossos sonhos são embalados e as promessas positivas, mensageiras de novos amanhãs, se descortinam à nossa frente.

O Senhor caminha nessa direção, com esse olhar diferenciado. (…)

Que Deus a proteja e continue iluminando seu coração.»

O secretário da educação de SP, o encarregue da iluminação dos corações paulistas (e da manutenção das desigualdades sociais, necessárias ao fortalecimento da fé), Gabriel Chalita, é uma das figuras centrais da programação da rede Canção Nova, com destaque em todos os meios, inclusive na página de abertura do site, apresentando um programa diário de rádio e outro, semanal, na televisão, além de ter um livro publicado pela editora Canção Nova, ou seja, uma fazenda pública de 84 hectares foi doada para proselitismo católico ao grupo religioso do qual faz parte o piedoso autodenominado filósofo e escritor que integra o executivo que fez a (auto)doação.

O pseudo-filósofo Chalita é um prolixo (ou melhor pró-lixo) autor, cuja extensa (e mui publicitada) bibliografia inclui o livro «Seis lições de solidariedade com Lu Alckmin», uma elegia biografia da primeira-dama paulista, cujo primeiro casamento foi providencialmente anulado pelo Vaticano, com uma ajudinha da Opus Dei, depois de a dita dama ter começado a namorar o devoto candidato à presidência do Brasil.

Mário Sérgio Conti, um dos mais conceituados jornalistas brasileiros, que foi editor da «Veja» e do «Jornal do Brasil» entre outros, é o autor da melhor análise da dita prosa que encontrei. Isto é, Conti não conseguiu encontrar algo digno de análise nos ditos livros. Apenas selecionou trechos da vacuidade católica de Chalita para os leitores do seu blog No Mínimo. Na realidade não há muito para comentar. Talvez apenas uma única palavra: pavor! Ou nojo!

2 de Maio, 2006 Palmira Silva

O sucesso económico da Igreja de Inglaterra

O relatório financeiro anual da Igreja de Inglaterra indica-nos que de facto a religião é um dos ( se não o mais) negócios mais lucrativos existentes. Assim, o «valor» da Igreja, em propriedades e acções, saltou de 800 milhões de libras (aproximadamente 1 200 milhões de euros) no ano passado para cerca de 5 biliões este ano.

Os lucros da Igreja, que como as suas congéneres em todo o mundo não paga um cêntimo de impostos, servem essencialmente para manter o clero anglicano, isto é, é gasto quasi na totalidade em pensões e salários. Claro que a manutenção de um estilo de vida condigno com a condição eclesiástica, especialmente das cúpulas, não sai barato e são necessárias outras fontes de financiamento. Assim, não é de estranhar que embora a Igreja esteja mais «rica» o dinheiro disponível para «caridade» seja cada vez menos …

E que cada vez mais a Igreja venda a investidores sem… os escrúpulos «éticos» característicos das religiões, complexos de habitação social, muitos deles em localizações privilegiadas, anteriormente na sua posse. Que como consequência os inquilinos sejam praticamente expulsos das suas casas pelos novos donos é algo que certamente a Igreja nunca previu… e afinal é preciso dinheiro para manter o papel vital na vida britânica que a Igreja se autoproclama deter! Proclamação com que poucas pessoas concordam…

Enfim, pelo menos a Igreja de Inglaterra torna público o seu relatório financeiro. Nunca de tal ouvi falar em relação à Igreja Católica…

1 de Maio, 2006 Palmira Silva

Morreu John Kenneth Galbraith

I have managed most of my life to exclude religious speculation from my mode of thought.
John Kenneth Galbraith (1908-2006), «What I’ve Learned,» Esquire, Janeiro de 2002.

Humanista do ano em 1985, o seu primeiro bestseller foi «The Affluent Society», 1958, um aviso às (falta de) políticas sociais nos Estados Unidos, seguido de uma extensa lista em que se incluem títulos como «The New Industrial State», 1967, e «Economics and the Public Purpose» (1973).

A extensa bibliografia de Galbraith revela a sua preocupação com a exclusão social e com o papel que considera o Estado poder desempenhar no seu combate, problema que tentou debelar ao longo da sua carreira política.

Durante a II Guerra Galbraith foi responsável pelo controle dos preços nos Estados Unidos, tarefa pela qual foi galardoado com a Medalha da Liberdade em 1946. Uma figura importante no Partido Democrata colaborou na reconstrução da Alemanha e do Japão no pós-guerra, foi embaixador na Índia sob John F. Kennedy, de quem foi conselheiro e para quem escreveu discursos. Na Índia desempenhou um papel fulcral no desenvolvimento do país, nomeadamente ajudando a estabelecer uma das primeiras faculdades de ciências da computação no Instituto Indiano de Tecnologia em Kanpur, Uttar Pradesh.

Um dos fundadores da associação Americans for Democratic Action, uma associação fundada por aqueles que foram chamados «os ateístas de Niebuhr», foi um dos ideólogos da «Guerra à pobreza» de Lyndon Johnson, de quem se afastou devido à guerra do Vietname, da qual Galbraith foi um dos primeiros críticos. Foi recuperado para a vida política por Bill Clinton, de quem foi conselheiro. Recebeu a sua segunda Medalha da Liberdade em 2000.

Galbraith morreu sábado com 97 anos.

1 de Maio, 2006 Palmira Silva

Sex, Priests, and Secret Codes

Enquanto por todo o mundo se espera a estreia do filme inspirado no livro «O código de da Vinci», ficção que mereceu os mais inusitados protestos da hierarquia católica, é lançado um livro, «Sex, Priests, and Secret Codes: The Catholic Church’s 2,000-Year Paper Trail of Sexual Abuse», que expõe a realidade de um segredo até há poucos anos ciosamente guardado pela mesma hierarquia, que não se poupou a esforços para o esconder e, agora que é impossível o secretismo, se desdobra em manobras para o desvalorizar.

O segredo tão ciosamente guardado é a pedofilia em particular e o abuso sexual em geral, exposto pelo padre dominicano Thomas P. Doyle, despedido em 2004 pelo arcebispo Edwin F. O’Brien, um dos mais conhecidos críticos da actuação da Igreja Católica no encobrimento de casos de pedofilia no seu seio.

Doyle, que foi o representante do Vaticano nos Estados Unidos no ínicio dos anos oitenta, foi um dos autores de um relatório entregue aos bispos norte-americanos em Junho de 1985, que os advertia das dimensões do abuso sexual perpetrado por padres.

Muitos católicos ficaram escandalizados não apenas com as dimensões mas especialmente com a reacção da hierarquia católica. Não só com o facto de que a Igreja justifica as manobras de vale tudo dos advogados que contrata afirmando que tem obrigação de proteger o património da Igreja, isto é, mostrando-se mais preocupada com o dinheiro que sairá dos seus cofres em indemnizações do que com as barbaridades cometidas às vítimas, como com a recusa da hierarquia católica em admitir o problema real da pedofilia.

Usando as manobras de vitimização já conhecidas, as cúpulas católicas tentam fazer passar a mensagem que tudo não passa de manobras de anti-católicos que querem «prejudicar» a ICAR. Apenas como exemplos dessa reacção recordamos que o actual Papa afirmou «Estou convencido que as notícias frequentes sobre padres católicos pecadores [pedófilos] fazem parte de uma campanha planeada para prejudicar a Igreja Católica», o cardeal Justin Rigali, de Filadélfia, considera que o extenso relatório dos abusos sexuais compilado pelo Ministério Público local foi obra de anti-católicos e que o periódico jesuíta La Civiltà Cattolica resumiu a mensagem das cúpulas católicas escrevendo que o tratamento do escândalo da pedofilia pela imprensa norte-americana reflecte um crescente sentimento anti-católico nos Estados Unidos.

O livro, escrito em conjunto com dois ex-monges dominicanos, A.W.R. Sipe e Patrick J. Wall, desmente categoricamente todas as afirmações da Igreja e fornece documentação extensa -muita da qual nunca antes publicada – que mostra que o abuso sexual de menores e adultos vulneráveis não só abrange toda a história da Igreja católica como tem sido do conhecimento da hierarquia ao longo dos séculos.

O livro, e a documentação em que assenta, ilustra quão bem a Igreja conhece este problema e as suas tácticas, que resultaram durante séculos, para o manter em segredo.

Contrariamente ao que muitos dignitários pretendem, quando as manobras de desvalorização do problema não funcionam, o abuso sexual não tem rigorosamente nada a ver com pretensas consequências da secularização do século XX ou de quaisquer «revoluções» culturais/sexuais dos anos sessenta ou setenta. É um problema intrínseco e indissociável da Igreja católica desde a sua criação por Constantino.

Os autores começam a pesquisa no ano 60 e terminam com o escândalo contemporâneo. Os dignitários da Igreja clamaram então o seu desconhecimento desta conduta mas o livro agora publicado indica claramente que mesmo uma análise superficial dos documentos da Igreja prova que não só tinham conhecimento total do que se passava como recorreram a todas as tácticas disponíveis para proteger a imagem (e o bolso) da Igreja.

25 de Abril, 2006 Palmira Silva

Teologia em tempo de SIDA

A condenação católica do uso de preservativos, «tanto como medida de planeamento familiar, como em programas de prevenção da SIDA», associada a campanhas de mentira deliberada sobre o seu uso, nomeadamente em África em que responsáveis locais, para além de organizarem orgias de fé em que tentam agradar ao Senhor queimando preservativos, asseveram que é o preservativo o culpado pela disseminação da SIDA, tem sido desde sempre alvo de críticas, inclusive da Organização Mundial de Saúde.

Agora chegam-nos notícias de que Ratzinger pediu a um grupo de teólogos e cientistas (espero que o Opus Dei Alfonso López Trujillo, o tal que diz que o vírus é suficientemente pequeno para passar pelos poros (?) dos preservativos, não esteja incluído no grupo) para prepararem um documento que analise e discuta o uso de preservativos como forma de prevenir a transmissão do HIV.

O pedido foi divulgado escassos dias depois de o cardeal Carlo Maria Martini, um candidato «liberal» – logo sem hipóteses – ao trono papal em Abril do ano passado, ter desafiado a posição oficial da ICAR sugerindo que o preservativo era um «mal menor» no combate à SIDA.

Considerando não só a posição de Ratzinger sobre o tema como também o peso que a Opus Dei , de que o actual Papa é um grande fã, tem actualmente no Vaticano e sabendo ainda que o objectivo desta sinistra seita é a imposição a todos, via a sua influência política, dos ditames mais retrógrados e inflexíveis do Vaticano no que respeita às mulheres, sexualidade e saúde reprodutiva, acho que não devemos esperar alterações radicais na posição católica em relação ao uso do preservativo na profilaxia da SIDA.

Não esquecendo ainda que na sua alocução em Junho último aos bispos católicos de África Bento XVI reiterou a posição do Vaticano (e a sua enquanto Ratzinger) quando afirmou que a abstinência era a única forma de combate à SIDA e que o Vaticano cancelou a participação da cantora Daniela Mercury no concerto de Natal, porque a cantora, embaixadora da Unicef e da UNAIDS (programa da ONU para o HIV/SIDA), participou em campanhas de combate à SIDA, em que defendeu o uso de preservativos como medida profiláctica deste flagelo.

De qualquer forma já seria uma grande vitória para a humanidade se os representantes do Vaticano no Terceiro Mundo pelo menos não disseminassem mentiras sobre os preservativos mas especialmente se permitissem não só a sua distribuição como uma educação correcta sobre o seu uso nos 100 000 hospitais e 200 000 serviços de saúde que controlam!

E pode ser que os teólogos agora convocados consigam produzir um qualquer sofisma, talvez análogo ao debitado em relação à moralidade da inoculação de crianças católicas com vacinas preparadas a partir de fetos abortados, sofisma que permita práticas «imorais», neste caso o uso do preservativo.

O que é certo é que mesmo que um «milagre» ocorra e o Vaticano adopte uma posição menos criminosa em relação ao uso do preservativo teremos de esperar uns séculos para ouvir um me(i)a culpa da ICAR em relação à sua contribuição para a disseminação do flagelo da SIDA.

25 de Abril, 2006 Palmira Silva

No simpathy for the devil

You call yourself a Christian
I think that you’re a hypocrite
You say you are a patriot
I think that you’re a crock of shit

Sweet Neo-con Escute Windows Media, M. Jagger/K. Richards

O hotel Imperial em Viena, Áustria, que em tempos hospedou Wagner, é considerado um dos melhores e mais luxuosos hoteis do mundo. Construído em 1863 para ser a residência na capital austríaca do príncipe de Württemberg, situa-se no Ring Boulevard, uma artéria imponente que circunda todo o centro histórico de Viena e onde se situam a Opera e boa parte dos museus nesta cidade.

Não é assim de estranhar que G. W. Bush tenha escolhido este hotel para a sua estadia em Viena em finais de Junho onde decorrerá o encontro anual da União Europeia-Estados Unidos.

O presidente dos Estados Unidos foi obrigado a mudar a escolha de alojamento porque Mick Jagger se antecipou e reservou os quartos pretendidos por Bush, todo o primeiro andar, incluindo a Royal Suite. De acordo com uma fonte próxima de Jagger «O pessoal de Bush parecia convencido que eles [Jagger e a comitiva] lhes dariam as suites mas de forma alguma Mick faria isso».

Os Roling Stones estarão em Viena para um concerto que se realiza na véspera do encontro. Concerto em que é apresentado o último álbum dos Stones, «A Bigger Bang», em que Jagger critica… Bush e a guerra do Iraque! Nomeadamente na faixa Sweet Neo-Con, que a Virgin Records afirma conter «uma mensagem política acerca do moralismo na Casa Branca».