10 de Julho, 2006 Palmira Silva
Mais leituras de Verão
The Popes Against the Jews: The Vatican’s Role in the Rise of Modern Anti-Semitism , do historiador David I. Kertzer, duas vezes galardoado com o Prémio Marraro da Sociedade para Estudos Históricos Italianos.
Depois do The Catholic Church and the Holocaust, 1930-1965, de Michael Phayer, um livro de outro historiador mundialmente reconhecido que analisa a acção da Igreja durante e após o Holocausto, este livro é essencial para se perceber como ele foi possível. Ambos especialmente recomendados como antídoto para os revisionismos históricos da ICAR. Uma análise isenta dos acontecimentos por um dos poucos historiadores não ligados à Igreja Católica a quem foi concedida autorização para consultar os arquivos da Inquisição.
«Este argumento [referindo-se às mentiras descaradas constantes no «Nós lembramos – uma reflexão sobre o Shoah»] , infelizmente, não é o produto de uma Igreja que quer confrontar a sua história. Se os judeus adquiriram direitos iguais na Europa dos séculos XVIII e XIX tal foi conseguido contra os furiosos, estridentes e de facto indignados protestos da Igreja e do Vaticano. (…)
O Padre De Rosa nota com pena a campanha de um século contra os judeus do jornal Civilta cattolica observando que o jornal só alterou o rumo em 1965, na sequência do Concílio Vaticano II. (…) Ele então lista algumas das acusações feitas regularmente nas páginas do jornal: «que os judeus combatiam a Igreja, que praticavam o assassínio ritual de crianças cristãs, que tinham um poder político enorme nas mãos ao ponto de controlarem governos e, acima de tudo, que possuíam uma enorme riqueza, obtido por usura, e tinham assim uma inacreditavelmente forte influência económica, que usavam em detrimento do cristianismo e dos cristãos». O padre De Rosa acrescenta, com muita correcção, que o jornal jesuíta não estava sózinho na produção destas acusações porque elas enchiam as páginas de muitas das principais publicações católicas.
De forma a ilustrar o anti-judaísmo do Civilta cattolica (por oposição ao anti-semitismo [um sofisma da Igreja Católica, que pretende nunca ter sido anti-semita, apenas anti-judaica]) ele mostra algumas passagens de artigos do jornal da autoria dos padres Rondina e Ballerini nos anos 1890. Estes contam histórias da apetência dos judeus pelo domínio do mundo, a sua fome de ouro, e a sua crença de que os cristãos não eram melhores que animais. Onde quer que os judeus vivessem, nas palavras destes autores, elas ‘formam uma nação estrangeira e juram inimizade ao bem estar das pessoas’. O que deviam os bons católicos fazer a esta terrível ameaça à sua vida e felicidade? A resposta oferecida nas páginas do Civilta cattolica era clara: A igualdade civil dos judeus devia ser imediatamente revogada, porque ‘eles não tinham algum direito a ela’ permanecendo para sempre ‘estrangeiros em todos os países, inimigos do povo de qualquer país que condescenda em os albergar’».
Aliás, como nota o autor nesta introdução, forçar os judeus a usar tarjetas de identificação amarelas e mantê-los fechados em ghettos não é uma invenção dos nazis no século XX mas uma política advogada pelos Papas – e seguida religiosamente nos estados papais e em alguns países mais obedientes ao Papa – durante centenas de anos.