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Palmira Silva

31 de Julho, 2006 Palmira Silva

A Bíblia do Dr. Seuss

Um momento clássico do humor canadiano pelos Kids in the Hall. As sátiras religiosas e ao «american way» são os meus sketches favoritos daqueles que são frequentemente comparados aos Monty Python. Como nota especialmente irónica, nestas sátiras o mítico Cristo é interpretado por Scott Thompson, o Kid abertamente homossexual.

Para os que não sabem, Dr. Seuss, o nome de «guerra» do cartoonista e escritor Theodor Seuss Geisel, é o autor infantil mais famoso dos Estados Unidos, especialmente pela criação do Grinch.

30 de Julho, 2006 Palmira Silva

Apocalipse Now

A crença num apocalipse seguido de um julgamento final é uma característica comum a várias mitologias, dos Maias aos Hindus, que surge normalmente em tempos de horror e opressão da respectiva cultura. Como já referi, em todas as mitologias há um messias («ungido») ou salvador, que resgata os eleitos de Deus. Esse salvador pode ser um ancestral do povo ou o mítico fundador da religião, que empreenderá uma batalha final contra as forças do mal e, após a vitória, inaugurará um novo estágio da criação, um novo céu e uma nova terra.

Os mitos da destruição escatológica, abundantes e associados normalmente a ciclos de destruição-criação em outras religiões, manifestaram-se tardiamente na literatura apocalíptica judaico-cristã, que floresceu entre os séculos II a.C. e II d.C., com zénite nos delírios do livro do Apocalipse. Como confirmação da natureza bem humana, determinada pela conjuntura da época, dos textos que alguns acreditam serem «revelações», recordo que o livro de Daniel, que descreve as primeiras visões apocalípticas na Bíblia, foi escrito durante a revolta contra o domínio grego.

O próprio cristianismo foi inventado durante a ocupação romana da Judeia. A ideia de que uma força maior efectivará a vingança das provações dos «justos», que aqueles que vemos como os nossos opressores sofrerão horrores inimagináveis, nem que seja no fim dos tempos, tem um apelo evidente para muitos e explica em parte o sucesso das religiões.

Considerando os tempos conturbados em que vivemos não é assim de espantar que alguns cristãos mais alienados considerem próximo o fim do mundo, e, consequentemente, a volta do Messias que julgará os vivos e os mortos. Na realidade, este alguns são muitos milhões apenas nos Estados Unidos e, segundo uma reportagem de 2002 da revista Época, cifrava-se à data num milhão o número de cristãos brasileiros seguidores de seitas cuja mensagem principal é a iminência do Juízo Final. Mesmo em Portugal, há pelo menos um católico, o autor do livro «Os 3 segredos de Fátima», que se entretem a transcrever para uma página na internet os seus delírios apocalíptícos.

tinha mencionado há uns meses o sucesso da série «Left Behind» assim como o sucesso anunciado do novo jogo cristão «Left Behind: Eternal Forces» baseado na dita série. O jogo é simultaneamente uma missão religiosa e uma missão militar que consiste em converter ou matar católicos, judeus, muçulmanos, budistas, homossexuais, todos os que advoguem a separação do estado e da Igreja, especialmente cristãos moderados «de café».

O jogo já dera uma indicação da estrutura mental dos dominionistas cristãos mas hoje, ao ler a página da Harper, deparei com uma notícia que espelha bem a completa insensibilidade, falta de qualquer sentimento de compaixão e virtude moral destes fanáticos cristãos, que rejubilam com o sofrimento alheio.

De facto, o presente conflito entre Israel e o Hezbollah deixou completamente frenéticos os desvairados cristãos que frequentam os fora do Rapture Ready (Prontos para o Arrebatamento). Estes fundamentalistas cristãos, a base de apoio do cristão renascido com uma missão «divina», G. W. Bush, dão mostras efusivas da sua alegria pela morte de milhares de inocentes, especialmente vítimas do recente conflito no Líbano e em Israel mas também em todo o Médio Oriente, que consideram um sinal inequívoco da 2ª vinda do seu mito.

Transcrevo apenas uma mensagem elucidativa, entre muitas, deixada por um devoto e eufórico cristão no forum «Fim dos tempos» em relação à tragédia que se desenrola no Médio Oriente:

«Louvado seja Deus! Nós fomos escolhidos para viver nestes tempos e também observar e espalhar a palavra. Algo dentro de mim está prestes a explodir e não sei o que é. É no género de querer fazer pinos rodados pela vizinhança».

Noutra linha, os piedosos cristãos discutem a necessidade de Damasco ser destruída antes da vinda do «Messias», de acordo com Isaías 17.

Como seria de esperar, a demência fanática, a total insensibilidade dos posts foi divulgada pela blogosfera americana e assim, hoje, os administradores do site pediram um pouco de contenção aos seus participantes e apagaram pelo menos uma das linhas. Mas podemos apreciar o que só posso considerar demência induzida pela religião nesta caricatura de um devoto cristão dominionista.

30 de Julho, 2006 Palmira Silva

Execução de uma adolescente: a barbárie islâmica


No passado dia 27 a BBC2 passou um documentário chocante que relatava os detalhes de uma execução especialmente bárbara já que a vítima tinha apenas 16 anos!

Em 15 de Agosto de 2004, a jovem Atefah Sahaaleh, de apenas 16 anos, foi enforcada na praça pública de Neka, uma pequena cidade iraniana no Mar Cáspio, pelo mullah Haji Reza’i. A sentença de morte da adolescente indicava que esta foi executada por «crimes contra a castidade». Na realidade, o «crime» de Atefah foi ter sido violada repetidamente por membros da «polícia moral» e um ex-guarda revolucionário de 51 anos, Ali Daroubi! Os mesmos «polícias morais» que assinaram a petição na base da sua detenção em que a descreviam como «fonte de imoralidade» e «uma influência terrível nas raparigas locais».

O Irão assinou um tratado internacional que o obriga a não sentenciar à morte ou executar menores de 18 anos. Mas os tratados internacionais assim como os direitos humanos não têm qualquer valor quando quem governa os destinos de uma nação são dementes por uma mitologia, seja ela Deus, Allah ou outro figmento da imaginação humana. E a mentira em nome dessa mitologia sempre foi o recurso predilecto dos fanáticos de qualquer religião. Assim, o jornal estatal que noticiou o caso acusava a adolescente de adultério e afirmava que ela tinha 22 anos. De facto, Atefah tinha apenas 16 anos e não era casada.

De qualquer forma, de acordo com a Constituição do Irão, que coloca a Sharia acima de qualquer lei «humana», um juiz dos tribunais da Sharia tem rédea livre. E sob a lei da Sharia a idade de responsabilidade criminal é de 9 (nove!) anos pra as raparigas e 15 para os rapazes. Ou seja, no Irão e nos tribunais da Sharia uma criança do sexo feminino de 9 anos pode ser julgada e condenada à morte por «ofensas» aos decretos «divinos»!

A mentira sobre a idade da vítima veiculada pelos orgãos oficiais iranianos, destinada a não chocar a opinião pública iraniana, e a ameaça dos mullhahs locais a todos os familiares e conhecidos da jovem para não falarem à imprensa não foi suficiente para travar a disseminação da verdade dos factos. Aquando do caso, a jornalista Aiseh Amini ouviu rumores de que Atefah era apenas uma adolescente e resolveu investigar o caso.

«Quando encontrei a família, eles mostraram-me a certidão de nascimento e de óbito. Ambos diziam que ela havia nascido em 1988. Isso legitimou-me para investigar o caso», disse Amini.

Neste excelente artigo no Guardian, a produtora do documentário, Monica Garnsey, relata passo a passo a sua odisseia no Irão para esclarecer o que de facto se passou. E os detalhes que descobriu são um retrato muito fiel da impunidade conferida pela religião aos prevaricadores em nome de Deus às próprias leis que impõem aos restantes!

Atefah teve uma infância conturbada que a transformou numa adolescente rebelde e depressiva. A sua mãe morreu quando ela tinha quatro anos, o irmão morreu afogado pouco depois e o pai rapidamente se tornou viciado em heroína. Numa cidade como Neka, sob controle das autoridades religiosas, Atefah -que sempre andava sózinha e era chamada a «cigana de Neka» – desde muito cedo chamou a atenção da «polícia moral», um braço da Guarda Revolucionária Islâmica, cujo trabalho é reforçar os «valores» do código islâmico nas ruas do Irão. A sua primeira detenção por «crimes contra a castidade» aconteceu quando tinha 13 anos, tendo sido na altura condenada a 100 chicotadas – e ao abuso sexual por parte dos defensores da «moral e bons costumes» enquanto na prisão.

A investigação conduzida por Monica Garnsey na cidade de Neka permitiu-lhe concluir que a opinião geral da população local é que Atefah foi assassinada para encobrir os repetidos abusos sexuais que sofreu às mãos dos «polícias morais». A sua violação brutal por Ali Daroubi foi a desculpa encontrada pelos perpetradores dos abusos para se verem livres de uma testemunha incómoda, que podia a qualquer momento revelar o lado menos «moral» dos fanáticos em nome de Allah.

Dois meses depois da execução de Atefah a situação tornou-se incomportável e impossível de esconder: foram presos os organizadores de uma rede de pedofilia nos quais se incluiam dois dos polícias «morais» que assinaram a petição que a condenou.

29 de Julho, 2006 Palmira Silva

Botox e o Islão

Mecanismo de acção da toxina do botulismo, BoNT. Clique na imagem para aumentar. Vídeos sobre o referido mecanismo podem ser encontrados aqui.

por várias vezes referi a crescente islamização da Malásia, apontada por muitos como um exemplo de um país islâmico com uma relação de sucesso com o mundo moderno e em que os 40% da população não islâmica são supostos coexistir pacificamente e em liberdade religiosa. Na realidade, os últimos tempos têm sido palco de um crescente poder dos clérigos islâmicos que ameaça uma talibanização deste país.

As lucubrações expressas na letra da lei do conselho islâmico sobre os mais diversos assuntos não se restringem aos seguidores do Corão, as aberrações islâmicas em matéria de direitos humanos são impostas a todos os malaios, muçulmanos ou não muçulmanos. Por exemplo, foi proibida a música «Black Metal» sob a acusação de que os seus seguidores se desviam dos princípios islâmicos. Um porta-voz do Conselho islâmico nacional justificou o seu édito afirmando que a cultura «Black Metal» pode levar quem a ouve a rituais religiosos satânicos que incluem beber o próprio sangue misturado com sangue de cabra e queimar o Corão.

De igual forma, as «leis da decência», isto é o código de conduta islâmico, foi imposto a toda a população, arriscando-se a penas de prisão, punições físicas ou pesadas multas os que não o sigam. Como uma cantora que foi acusada de «insultos ao Islão» por cantar num bar que serve bebidas alcoólicas, dois colegas de escola, um rapaz e uma rapariga, que foram condenados a 25 vergastadas cada pelo crime de falarem um com o outro em público ou um casal de chineses que foi processado, e pode ser preso, por se ter abraçado e beijado em público…

Agora os clérigos malaios decidiram ser anti-islâmico o Botox, substância que para além de ser usada em tratamentos de beleza, é muito utilizada no tratamento de uma série de condições médicas, desde o estrabismo a dores agudas de costas, passando por transpiração excessiva.

Por uma razão qualquer obscura, talvez porque o Botox foi testado em ratos e porcos, os clérigos decidiram que o Botox pode conter derivados de porco (?!), uma abominação mais execrada que o adultério ou a bebida. Assim, é expectável que esta deliberação do conselho islâmico seja transcrita em breve numa nova lei da Malásia que proibe o uso desta substância. Suponho que a ideia de consultar a comunidade científica local nem sequer tenha passado pela cabeça dos iluminados clérigos.

De facto, o Botox, o nome comercial da toxina do botulismo tipo A, uma neuro toxina produzida pelo grupo de bactérias anaeróbicas Clostridium botulinum, não tem nada a ver com os tão anatemizados suínos. A proteína é expressada pela bactéria apropriada e depois purificada sem ver porcos pelo caminho.

Existem 7 tipos da toxina, de A a G, sendo apenas utilizados como terapêutica os tipos A e B. A BoNT é o patogéneo mais tóxico que se conhece, sendo a dose fatal entre 200-300 pg/kg – um picograma, pg, são 10-12 grama, ou seja cerca de 100 g da toxina seriam suficientes para matar todos os seres humanos à face do planeta.

As amostras terapêuticas comercializadas contêm cerca de 0.005% da dose letal, pelo que a sua utilização como arma biológica é impraticável. Por outro lado, a sua produção «caseira» é extremamente difícil, por se tratar de uma bactéria anaeróbica, isto é, que cresce na ausência de oxigénio, é expressada (produzida) em quantidades muito reduzidas, o processo de purificação da proteína «wild type» é um pesadelo, o que torna a sua produção e purificação virtualmente impossível fora de um laboratório especializado.

26 de Julho, 2006 Palmira Silva

Investigação em células estaminais na Europa

No passado dia 15 de Junho os deputados do Parlamento Europeu votaram o aumento do orçamento comunitário para a investigação científica e resistiram aos esforços envidados pelos países mais católico-dependentes para que fosse proibido o financiamento de investigação em células estaminais embrionárias. A decisão teria de ser ratificada pelos ministros da Ciência para depois voltar ao Parlamento para uma segunda leitura.

No início do mês, numa manobra explícita de pressão política para boicotar essa decisão, o expoente da tolerância, honestidade intelectual e demais «virtudes» católicas que dá pelo nome de Alfonso Lopez Trujillo, o cardeal responsável pelo Conselho Pontifical da Família, fez saber que pretende que a excomunhão latae senentiae, isto é automática, seja aplicada aos cientistas que trabalham com células estaminais assim como aos políticos que aprovem leis permitindo a investigação em células estaminais.

As ameaças do Vaticano não surtiram efeito e hoje soubemos que os ministros da Ciência da União Europeia concordaram com a decisão e assim parte do orçamento europeu para ciência será devotado a investigação nesta área. No entanto, a decisão tomada é um compromisso na medida em que os ministros concordaram em não financiar actividades que destruissem embriões excedentários da fertilização in vitro (que terão de ser destruídos com outro financiamento) apenas investigação nas células embrionárias resultantes.

Apenas 5 países votaram contra a decisão – Áustria, Lituânia, Malta, Polónia e Eslováquia.

Há exactamente uma semana o defensor «intransigente» do direito à vida de células indiferenciadas (e doentes terminais sem actividade cerebral) G. W. Bush utilizou o seu veto presidencial para impedir que uma resolução análoga do Congresso americano fosse aplicada.

O ministro português, José Mariano Gago, que já anteriormentes se tinha declarado em favor da investigação em células estaminais embrionárias, foi um dos ministros que votou favoravelmente a proposta.

Esperemos que em breve seja alterada a posição oficial do país, expressa em 2004 por Sebastião Póvoas, membro da Missão Permanente de Portugal junto da ONU e representante da posição nacional perante a instituição, que apoiou a proposta (que não foi para a frente) apresentada às Nações Unidas pela Costa Rica – onde se defendia a proibição da clonagem reprodutiva e da investigação e terapêutica com células estaminais.

Já na altura a comunidade científica nacional expressou a sua indignação por não ter sido consultada. Ou seja, por o governo de então, ter tomada decisão baseada em «uma posição política sobre o tema, que é o despacho político elaborado pelo anterior ministro, Martins da Cruz» que o MNE reconheceu ser «uma posição ultrapassada» em vez de consultar quem de direito.

Recentemente, o Presidente da Sociedade Portuguesa de Células Estaminais e Terapias Celulares (SPCE-TC) urgiu o ministro Mariano Gago para que Portugal finalmente produza legislação sobre o assunto, de preferência «algo tipo modelo inglês ou até espanhol seria o ideal. Este último contraria a célebre discussão sobre a dificuldade de fazer certas coisas nos ‘países católicos’»

A decisão hoje tomada é mais um indicativo que de facto a Europa está no bom caminho, o caminho da laicidade, sacudindo nesse percurso as teias de aranha obscurantistas impostas pela Igreja de Roma.

25 de Julho, 2006 Palmira Silva

Liberdade religiosa

Acho a analogia da religião com um partido político deliciosa! Especialmente porque considero que a religião, tal como a política, é um jogo de poder. Liberdade religiosa significa que cada um é livre de escolher a respectiva religião. Ninguém pode ser de facto livre se as escolhas dos pais lhe são impostas desde o berço.

24 de Julho, 2006 Palmira Silva

Música sacra?

Sandro Botticelli «O nascimento de Vénus» (1485) Galleria degli Uffizi, Florença

Vecellio Tiziano «Adoração de Vénus» (1519), Museo del Prado, Madrid

Sempre achei curioso que muita da música reputadamente «sacra» tenha sido escrita por ateus, agnósticos ou panteístas. E mais curioso ainda que se assuma como dado adquirido que os artistas que a compuseram seriam necessariamente cristãos que expressavam em música a sua devoção fervorosa. No entanto, ninguém pensaria que, por exemplo, Botticelli ou Tiziano, o maior pintor da escola de Veneza, que pintaram profusamente cenas da mitologia greco-romana, eram pagãos adoradores de Baco, Vénus, Júpiter e restantes deuses.

De facto seria espantosa a quantidade de Te Deum, Requiem, Missa Solemnis, Stabat Mater e demais música sacra sortida, escrita por não teístas, obviamente sem alguma inspiração «divina», não fora o facto de nesse tempo para um artista sobreviver precisar ou de um patrono rico ou de escrever música por encomenda. Os únicos com dinheiro para tal faziam parte do clero ou da nobreza, a quem convinha estas cultas demonstrações de devoção.

Alguns exemplos de grandes compositores de música sacra não teístas são Ludwig van Beethoven, Berlioz – que a Enciclopédia Católica reclama como «seu» mas na realidade Berlioz era ateísta, como comprovado pelas palavras do próprio na sua correspondência publicada por G. K. Boult (Life of Berlioz, 1903, p. 298) – Johannes Brahms, o compositor do Ein deutsches Requiem, Mozart, Franz Peter Schubert ou Robert Schumann.



24 de Julho, 2006 Palmira Silva

Rock blasfemo

Sob a alegação de que as bandas participantes cantam músicas com líricas blasfemas que influenciam negativamente a juventude, uma igreja holandesa está a tentar impedir a realização do Festival Els Rock Open Air, programado para o próximo dia 26 de Agosto, na cidade de Rijssen. Entre as bandas esperadas encontram-se os Suffocation, Holy Moses, Sun Caged e Perzonal War.

Autoridades da Igreja holandesa solicitaram oficialmente a proibição do evento, mas a câmara local negou o pedido, uma vez que este foi autorizado há um ano e, como tal, já não é possível impedir a sua realização.

O vice-presidente da Câmara de Rijssen, Wim Stegeman, afirmou que não há bases legais para proibir o festival mas tentou apaziguar os dignitários cristãos afirmando que os organizadores do festival não convidaram bandas consideradas «demasiado extremistas» na sua abordagem lírica.

Acho pouco provável que Stegeman tenha convencido os dignitários de uma religião baseada na proibição de tudo e mais umas botas – e na carpição de perseguição pelos malvados anti-cristãos se não forem autorizados a impor a proibição do «pecado» ou da blasfémia a todos – sobre a ortodoxia das líricas a entoar no palco de Rijssen.

Especialmente se considerarmos que o «Imagine» de John Lennon foi considerado «abordagem lírica extremista», isto é, música «anti-religiosa», pelo director de uma escola primária católica que proibiu os pequenos alunos de cantarem o hino à paz internacional num evento dedicado ao tema «Músicas para um Planeta Verde».

Aliás, desde o «Ain’t Necessarily So», de George e Ira Gershwin, banido de todas as estações de rádio nos Estados Unidos e Inglaterra pouco depois do seu lançamento, já que, não questionando directamente a existência de Deus, desafiava a interpretação literal da Bíblia, a música tem estado sob a mira dos zelotas cristãos. Especialmente a música rock que para os fundamentalistas, como Ratzinger, é considerada um «contra-culto que se opõe ao culto cristão».

E especialmente «blasfemos» encontramos os músicos que não têm quaisquer problemas em assumir o seu ateísmo nas respectivas líricas, de Gary Numan a Marilyn Manson, passando por Bad Religion, Depeche Mode, Sex Pistols, Crash Test Dummies, Enigma, Trent Reznor, Bauhaus, REM, XTC, The The, Nine Inch Nails, John Lennon, Brian Eno (Roxy Music), Frank Zappa, David Byrne, Ani DiFranco, Tom Waits, etc..

Um excerto de uma lírica «blasfema» de Numan, um músico de culto que se revelou nos finais dos anos 70, abertamente anti-religião, do seu álbum de 1994 «Sacrifice», mais concretamente da faixa «A Question of Faith», especialmente certeira nestes tempos de violência em nome de Deus:

«When children kill children
Don’t it make them wonder?
Don’t it make them question their faith?»

23 de Julho, 2006 Palmira Silva

Atentado de Bombaim: primeiras detenções

A polícia indiana efectuou as primeiras detenções relacionadas com o atentado terrorista que matou mais de 180 pessoas em Bombaim na semana passada. Os primeiros detidos são activistas do Students Islamic Movement of India (SIMI), os quatro mais recentes são alegadamente membros do Lashkar-e-Tayyaba, o Exército dos «Puros»..

As suspeitas de que pelo menos os explosivos e o planeamento do atentado fosse da responsabilidade do Lashkar-e-Tayyaba, o grupo islâmico baseado no Paquistão que há muito luta pela soberania do Paquistão sobre Caxemira, foram imediatas e os últimos desenvolvimentos confirmam essas suspeitas.

Mais indicações do envolvimento do Lashkar-e-Tayyabano atentado residem no facto de que foi utilizado o explosivo militar RDX na manufactura das bombas utilizadas em Bombaim. Este explosivo é muito utilizado pelos militantes islâmicos em Caxemira, especialmente pelo referido movimento terrorista.

Entretanto na Caxemira sob administração indiana foi preso Mohammad Rafiq Sheikh, ou Mudassar, um dos líderes do movimento, procurado por mais de 20 atentados, incluindo um ataque com granadas em Sranigar no mesmo dia do atentado de Bombaim.

Um e-mail enviado a uma estação local de televisão, a Aaj Tak, que reinvidicou a autoria do atentado de Bombaim para uma organização denominada Lashkar-e-Qahhar, ou Exército do Terror, foi descartado pela polícia. De facto, há indicações da polícia indiana de que o e-mail é uma brincadeira (de mau gosto) de um jovem indiano. Quiçá como protesto em relação à medida adoptada pelo governo, na tentativa de evitar uma escalada da violência entre hindus e muçulmanos, de bloquear, como medida de segurança, o domínio blogspot.

As iniciativas de paz entre a Índia e o Paquistão foram seriamente abaladas pelos acontecimentos de 11 de Julho.