Loading

Palmira Silva

5 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Ratzinger e a negação do evolucionismo II

Para os crentes mais esclarecidos, a linguagem escolhida para negar o evolucionismo é outra, lembra a de Philip E. Jonhson, um dos pais da IDiotia, que afirmou ««Ser um cientista não é necessariamente uma vantagem, quando lidamos com um tópico tão abrangente como a evolução, que se entrelaça com muitas disciplinas científicas e também envolve os toques da filosofia»

Também o Vaticano recorre à «filosofia», isto é, à pseudo-filosofia que dá pelo nome de teologia, para tentar reconciliar esses crentes. Ou seja, como filosofia normalmente não é tema em que sejam fluentes aqueles que têm uma educação mais científica, aquilo que vemos delineado na imprensa é uma apresentação da IDiotia como filosofia da natureza, philosophia naturalis (um termo que designa o estudo objectivo da natureza e do mundo físico, isto é, outro nome para ciência) pelo que, sem se perceber bem como, «os cientistas estão a ultrapassar os limites da ciência» explicando a origem das espécies a partir de um ancestral comum com o ateu evolucionismo, como afirma o padre jesuíta Joseph Fessio, que participou do encontro.

Assim, Fessio afirma que «os neodarwinistas [aka evolucionistas] que negam Deus tiram uma conclusão ideológica que não é comprovada pela teoria». O que é igualmente absolutamente falso, a ciência não nega Deus, apenas conclui que este é uma hipótese desnecessária na explicação do mundo e tal é comprovado não apenas nas ciências da vida mas em todas as áreas da ciência!

Noutras palavras, manipulando sofismatica e habilmente a linguagem, enganando os mais incautos com a pretensão de que filosofia da natureza é algo diverso de ciência, o Vaticano vai atacar directamente a ciência, tentando impor limites, pelo menos na opinião pública, ao que a ciência pode ou não abordar, e indirectamente assestando as baterias nos ateus cientistas.

Pretendendo que, devido ao seu desconhecimento de «filosofia», os cientistas são totalmente incompetentes para explicar os mecanismos da evolução, já que causas sobrenaturais não são contempladas pela ciência – aliás, são negadas pela ciência – e estes deveriam esperar por autorização «superior» das instâncias religiosas, as senhoras absolutas da «filosofia», antes de ousarem explicar algo que só pode ser alvo de uma explicação religiosa (que sofismaticamente tentam igualar a filosófica, quando na realidade religião está nos antípodas de filosofia).

Assim, não é complicado prever que as actas do dito seminário vão estar recheadas de argumentos IDiotas que negam o evolucionismo, que o papa vê como «uma filosofia fundamental … que pretende explicar a realidade como um todo» sem Deus, mas que aceitem a evolução, que é impossível de negar.

Diria ainda que esta aceitação da evolução será fraseada de forma que, embora evidenciando que o Vaticano «aceita» a micro evolução, deixe espaço de manobra para a negação da macro evolução, isto é, a evolução de uma espécie para outra. Macro evolucão que Ratzinger questiona e que é impossível de aceitar já que refuta «a base imutável de toda a antropologia cristã», que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, e torna muito complicado justificar o pecado original…

Pecado original de que Ratzinger usa e abusa, nomeadamente para explicar porque as mulheres se devem submeter cristamente aos seus melhores, os homens! E remissão do dito cujo na qual assenta o cristianismo.

Isto é, se não houve pecado original, se o homem evoluiu muito lenta e progressivamente de um organismo unicelular primevo, como justificar a necessidade de um mítico salvador de «almas» incarnado e crucificado – a tal complicação com duas essências que faz parte de uma entidade com três pessoas e uma essência – mesmo com macro evolução «desenhada»? Se, como pretendem alguns teólogos, o pecado original é uma alegoria do pecado indissociável do ser humano, será o designer assim tão incompetente que não conseguiu eliminar essa pecha para o «pecado» do seu desenho – assim como, sei lá, cancro, HIV, etc., para além de inúmeros outros exemplos do «mal»? Ou será necessário recorrer à teoria dos anjos para explicar «desenho malevolente»?

Para além, disso, se houve macroevolução, mesmo «desenhada», em que ponto da evolução fomos mimoseados com almas que necessitam ser «salvas»? Mesmo admitindo apenas microevolução, teria o Neanderthal alma? Se sim, que «pecado» cometeu para «merecer» a extinção? Ou apenas o Homo sapiens sapiens foi agraciado com a dita? Mas então, como se justificam os indícios de comportamento «anímico» que as últimas descobertas arqueológicas indicam para o Neanderthal? E porquê alma no Sapiens e não no seu ancestral Homo erectus? Ou no ancestral mais remoto, o Australopithecus afarensis? E já agora porque não nos outros ramos da mesma árvore evolutiva, por exemplo os restantes primatas?

5 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Ratzinger e a negação do evolucionismo

As actas do seminário em que Ratzinger pomposamente «examinou» a evolução vão ser publicadas ainda este ano, de acordo com a agência Reuters, para o ano segundo um teólogo português que participou no encontro.

Enquanto as actas não são disponibilizadas, pela primeira vez em toda a história destes debates anuais de Ratzinger, o que demonstra a importância do tema para a ICAR, podemos olhar para a imprensa católica para apreciar o que foi de facto discutido no dito seminário.

A evolução é um tema recorrente na prosa do corrente Papa, abordado por Ratzinger logo no seu discurso de tomada de posse, em que afirmou «nós não somos o produto casual e sem sentido da evolução». O evolucionismo é assim um perigo que urge eliminar, porque, como confirma Rafael Pascual, decano de Filosofia e director do Mestrado sobre Ciência e Fé no Ateneu Pontifício Regina Apostolorum – o tal que oferece mui científicos cursos de exorcismo:

«criacionismo e evolucionismo são em si incompatíveis» embora o não sejam «criação e evolução, que, pelo contrário, se encontram em dois níveis diferentes».

Isto é, a ICAR pretende falaciosamente que a criação, ou seja, a origem das espécies, só pode ser abordada «na perspectiva filosófica e teológica» e não faz parte das competências da ciência explicar como surgiram e evoluiram as espécies que povoam o nosso planeta.

De facto, a Igreja precisa arranjar uma história que contemple a evolução, completamente impossível de negar – mesmo o mais ignorante dos créus sabe que o vírus da gripe evoluiu, especialmente agora em que todos esperam o que os acasos da evolução fazem ao vírus da gripe das aves – e negue o evolucionismo. A penas de ir perdendo clientes já que, à luz do conhecimento científico actual, os mitos cristãos são cada vez mais implausíveis e é necessário um grande esforço de dissociação para conseguir ser-se cristão e simultaneamente minimamente esclarecido cientificamente. E a Igreja sabe que acima de tudo precisa de arranjar uma forma «airosa» de alimentar os mitos sem alienar os seus clientes cientificamente mais cultos.

Em primeiro lugar, já conseguiram o primeiro objectivo, instilar dúvidas nos crentes analfabetos cientificamente sobre a aceitação do evolucionismo na comunidade científica, argumentando que a teoria da evolução deve ser vista como uma «teoria científica, com os argumentos a favor, mas também reconhecendo os limites e os problemas ainda por resolver», e como tal não deve ser apresentada «como uma espécie de dogma absoluto, definitivo e indiscutível».

Escolha de linguagem judiciosa que é um acumular de contradictio in terminus científicos, mas que joga com o desconhecimento do público em geral do método científico e joga com o léxico do quotidiano em que «teoria», entendida como palpite, tem um significado completamente distinto daquele que tem em ciência.

Ou seja, este tipo de linguagem faz crer aos clientes mais distantes da realidade científica que há dúvidas na comunidade científica sobre o evolucionismo, que não passa ainda por cima de um palpite «ateu», o que é completamente falso!

(continua)
4 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Ali al-Sistani impotente para travar guerra civil no Iraque

Enquanto a violência continua a assolar o Iraque e Bush afirma que não há perigo de uma guerra civil, o ayatollah Ali al-Sistani, o clérigo shiita mais influente no Iraque, avisou que deixará de tentar conter os seus seguidores, admitindo que é impotente para travar a guerra civil que há muito se desenha neste país. Não obstante as notícias da prisão do nº2 da al Qaeda no Iraque, Hamed Jumaa Farid el-Saeedi .

O seu porta-voz, Ali Al-Jaberi, quando interrogado sobre se al-Sistani seria capaz de prevenir a guerra civil respondeu: «Honestamente, penso que não. Ele está muito zangado, muito desapontado». As razões do desapontamento do clérigo, que declarou não mais intervir politicamente, apenas religiosamente, residem no facto de os shiitas ignorarem os seus apelos à moderação e cada vez mais aderirem a grupos militantes e esquadrões de morte.

Numa reunião com o primeiro-ministro iraquiano Nuri Al-Maliki no domingo, o clérigo shiita afirmou que a guerra civil é inevitável se o governo não a conseguir de alguma forma impedir.

O Departamento da Defesa dos Estados Unidos admitiu no seu relatório trimestral ao Congresso (documento pdf) que a violência no Iraque aumentou, atingindo os valores máximos alguma vez registados, com cerca de 792 atentados semanais e 120 mortes diárias.

4 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Ratzinger acaba com concerto de Natal

O conhecido e afirmado desprezo de Ratzinger pela música moderna foi a razão invocada para a abolição do concerto de Natal do Vaticano. O concerto, introduzido por João Paulo II, cujo objectivo é a angariação de fundos para a construção de igrejas em Roma, viu assim a sua última edição no ano passado. Edição que envolveu a polémica com a brasileira Daniela Mercury, cuja participação foi cancelada devido à sua posição pública de apoio ao uso de preservativo como medida profiláctica da SIDA.

Ratzinger já tinha expresso a sua opinião de que a música pop é um «culto da banalidade» que «já não é mais apoiada pelo povo» e o rock uma «expressão de paixões elementares» um «contra-culto que se opõe ao culto cristão» pelo que a decisão não surpreende ninguém. Como se pode ler no La Stampa, o actual Papa «prefere Mozart e Bach a música pop e assim a tradição foi cancelada. Outro exemplo do legado moderno e colorido de João Paulo II desapareceu».

Aliás mais «concessões» à modernidade estão prestes a desaparecer. As mais importantes as «concessões» à execrada e ateia ciência, área onde a ICAR já demonstrou querer impor os seus anacrónicos e imbecis ditames. Para além da determinação em boicotar e exercer pressão política para impedir a investigação em células estaminais, qualquer que seja a sua origem, muco do nariz – rico nas ditas – ou embriões, temos ainda as anunciadas conclusões do seminário sobre evolução, que diria irem ser debitadas numa linguagem dúbia – que «sossegará» os cristãos mais esclarecidos, que lerão, erradamente, nas entrelinhas que afinal o Vaticano não regrediu para a Idade Média, mas simultaneamente darão alento aos fundamentalistas.

E, como já há muito prevíamos, o marketing subliminar que tenta apontar como culpado dos males da Igreja, nomeadamente a pedofilia no seu seio, o Concílio Vaticano II e os brandos costumes que permitiram, por exemplo, o abandonar das tradições centenárias de celebração da missa, está a dar os seus frutos. Nomeadamente no que respeita às alterações na liturgia introduzidas pela Novus Ordo Missae de Paulo VI que estão a ser revogadas sem grande alarido.

Ratzinger já tinha pedido condenado os excessos litúrgicos, condenação que clarificou nalguns pontos pedindo aos padres que não se utilizassem guitarras durante a missa e no último dia de Agosto admoestou os padres por «encenarem» as liturgias:

«A liturgia não é um texto teatral e o altar não é um palco. Há muitas maneiras de se celebrar Deus e de se adornar o altar mas é importante que um padre não se esqueça o que a liturgia é e se torne meramente um actor num espectáculo».

3 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Teste de fé


Segundo testemunhas oculares o pastor evangélico Franck Kabele afirmou aos seus fiéis ter tido uma «revelação» divina: se a sua fé fosse suficientemente forte poderia emular o mítico criador da seita e caminhar em cima da água.

Assim, o pastor levou a sua congregação para a uma praia no estuário de Komo, em Libreville, Gabão. Local onde os fiéis puderam assistir ao vivo ao afogamento do clérigo que acreditava ser um mito capaz de vencer as leis da física.

Este é mais um sério candidato ad majoram Dei gloriam ao prémio Darwin de 2006.

3 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Ensino da religião obrigatório na Rússia

O ensino da religião ortodoxa, disfarçado com o nome de cultura ortodoxa, foi tornado obrigatório em 4 regiões das 86 regiões e repúblicas que constituem a Rússia, nomeadamente Belgorod, Bryansk, Kaluga e Smolensk, onde todos os alunos, independentemente das suas opções religiosas, serão obrigados a frequentar as aulas de religião.

Assim, para além da imposiçao abusiva em locais públicos dos símbolos religiosos ortodoxos, que já despoletou uma guerra das cruzetas com os muçulmanos, da parcialidade do governo russo, supostamente laico, em relação à religião cristã e da antagonização dos hindus, esta clara violação da separação Estado-Igreja já foi alvo de protestos pela Inspecção Federal de Educação e Ciência.

Igor Kowaleski, secretário geral da Conferência Episcopal Russa, sublinhou a inportância do ensino da «cultura» ortodoxa cristã nas escolas, que considerou não fazer mal a alguém. O Conselho dos Mufti pediu a extensão do ensino à cultura islâmica.

Como afirma o presidente do conselho islâmico, Marat Murtazin, «A cultura ortodoxa é ensinada em 75 regiões. A posição da Igreja Ortodoxa está segura, e nada nos resta senão oferecer às nossas crianças a possibilidade de estudar a cultura da nossa fé. Esta é uma medida forçada, uma resposta e não uma iniciativa nossa».

O ensino da cultura islâmica é uma disciplina facultativa nas regiões de maioria muçulmana, concretamente na Tchetchénia, Ingushetia, Dagestão e Tatarstão.

2 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Fotos papais à venda

O Vaticano decidiu colocar à venda na internet cerca de 50 mil fotos, para já, dos arquivos do jornal oficial da cidade-Estado, o Osservatore Romano, fundado em 1861, poucos meses depois da proclamação do Reino da Itália (17 de Março de 1861). As funções do jornal eram, para além de apologéticas, claramente políticas, característica que se mantém até hoje. Outra característica que se mantém no jornal é o anti-semitismo, aberto até 1939, em plena II Guerra Mundial, mais disfarçado a partir de então.

A maioria das fotografias retrata Bento XVI em actividades públicas sortidas mas também é possível comprar outras fotos, já que o arquivo compreende, para além de imagens de outros pontífices, especialmente João Paulo II, João Paulo I e Paulo VI, cerca de 1200 fotos do período entre 1933 a 1975. Este acervo, para além dos pios Pios, Bento XV e João XXIII, disponibliza fotografias de Benito Mussolini*.

O preço de cada foto – estritamente para uso pessoal- em suporte papel, varia entre 2 e 64 euros mais portes de correio. Os que desejarem suporte digital pagam 8 euros por foto mais 1 euro para gravação em CD. Quem quiser publicar alguma das fotos paga, por cada vez que a publica, uma tarifa que depende do tipo de publicação, ou seja, não compra a foto apenas o direito à publicação.

*Nesta página de pesquisa escrever Mussolini.

2 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Erradicar a pobreza: uma agenda ateia

A presidente do Beverly LaHaye Institute (instituição com o nome da esposa do devoto Tim Lahaye, autor da série Left Behind), integrante da organização de extrema-direita teocrata «Concerned Women for America» (CWFA)- por sua vez intimamente ligada à Focus on the Family – atacou recentemente o National Council of Churches por, imagine-se, esta organização de esquerda, com ligações perigosas a Cuba, pretender a ignomínia de alimentar pessoas com fome em vez de lhes pregar os Evangelhos!

Janice Shaw Crouse, nomeada por Bush para as Nações Unidas, acusa a NCC de tentar erradicar a pobreza no mundo aderindo aos Millennium Development Goals das Nações Unidas, implicando que a salvação do Mundo será conseguida via ONU e não através de Cristo!

«A NCC submete-se à liderança de uma entidade secular que oferece soluções utópicas, em vez de soluções bíblicas, aos problemas do mundo. Adicionando insulto à injúria a NCC usa os seus membros como soldados que cumprem a agenda da ONU [erradicar a pobreza] pelo Mundo». Uma agenda de esquerda que pretende substituir a Bíblia!

Completamente inadmissível e anti-cristão! Um cristão quando alimenta alguém com fome tem não só que evangelizar devidamente esse alguém como frisar que o faz em nome de Deus! Esta ideia peregrina da NCC de colaborar com a ONU é uma ofensa a Deus! Para além de constituir uma ameaça aos interesses norte-americanos, como se viu na história inadmíssivel da NCC em Cuba!

Alimentar os pobres e combater a pobreza é, na opinião da fundamentalista cristã, uma experiência devotada ao insucesso e na qual não se deve investir nem mais um cêntimo! A única solução admissível é

«trabalho missionário, em que se envia pessoas para países que nunca ouviram falar do Evangelho e quebra-se o círculo da pobreza oferecendo às pessoas a esperança de Jesus Cristo»!

Ou seja, combater a pobreza é mau – perde-se clientela – especialmente mau se for via as ateias solidariedade e filantropia e não caridade cristã. O que é preciso em vez de pão é alimentar os desgraçados com fábulas e mitos e promessas ocas de uma vida melhor no «Álem»!

1 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Quem sofre de confusão moral e intelectual?

Esta imperdível peça de Keith Olbermann foi a merecida reacção do conhecido comentador ao discurso de dia 29 de Agosto à convenção nacional da Legião Americana em Salt Lake City do secretário de estado da Defesa dos Estados Unidos, Donald H. Rumsfeld. Rumsfeld acusou todos os que questionam as políticas da administração Bush em relação à guerra do Iraque em particular e ao combate «ao eixo do mal» em geral de enfermarem de «confusão moral e intelectual».

Queixando-se dos baralhados «morais» nos media americanos, que, imagine-se, deram mais importância aos abusos verificados em Abu Ghraib que ao facto de o sargento Paul Ray Smith ter ganho a medalha de honra (sic), Rumsfeld verberou que esta confusão intelectual lhes impede a apreensão das lições da História, nomeadamente no que respeita à ascensão ao poder de Hitler.

Absolutamente imperdível a crítica de Olbermann! Não há mais nada a acrescentar! Para não perderem pitada, podem ver a transcrição aqui!

1 de Setembro, 2006 Palmira Silva

Darwin e os esqueletos do catolicismo


Em Novembro último escrevi, a propósito das afirmações de então de Bento XVI, que prenunciavam a sua cruzada contra a «ateísta» evolução, que estas afirmações:

«Indicam que, na conjuntura actual, o Vaticano se sente com força política para iniciar uma guerra contra a ciência e os ateus cientistas que, se não for travada imediatamente, terá como desfecho um retrocesso civilizacional que nos fará regredir ao obscurantismo medieval tão aclamado pela Igreja. Ou seja, a ciência, completamente incompatível com quaisquer revelações divinas, é extremamente perigosa para a fé já que pode dar respostas ‘materialistas’ sobre os ‘mistérios» da vida’. A ciência, os ‘ateus’ cientistas e os seus produtos como sejam o execrado ‘humanismo ateu’, são, como há vários meses previ, o inimigo em que assestam as baterias do Vaticano, já que ameaçam a sua hegemonia integrista.»

A guerra do Vaticano contra a ciência inicia-se oficialmente hoje com o seminário em que Ratzinger e os seus teólogos de estimação – os seus ex-alunos – vão pomposamente examinar a evolução, como se tivessem alguma autoridade ou competência para isso, seminário cuja conclusão anunciada pode ser encontrada nas páginas virtuais da Agência Ecclesia.

Tirando a pontuação, a prosa escolhida para dar título à notícia é de facto um retrato fiel da realidade «Darwin e o Génesis: regresso ao passado».

Com a longa prática da ICAR em distorcer a ciência quando tal lhe convém, o artigo da Agência Ecclesia prepara o caminho para a conclusão das lucubrações obscurantistas do dito seminário com barbaridades acéfalas tais como:

«O desenho inteligente, por outro lado, é uma teoria científica que não se opõe à ideia de evolução, mas ao mecanicismo neodarwinista (nem é a única alternativa ao neodarwinismo)».

Em primeiro lugar, e como há uns anos o Diário Ateísta vem explicando, a IDiotia NÃO é uma teoria científica, aliás é completamente anti-científico, não se vislumbrando na IDiotia qualquer resquício científico que contamine a pureza obscurantista do pensamento cristão dos seus proponentes; sequer qualquer resquício da honestidade intelectual indispensável ao pensamento científico. A IDiotia, como os seus proponentes admitem, é uma forma disfarçada de criacionismo, mais concretamente «Nós acreditamos que o [Desenho Inteligente] movimento ajuda o movimento do criacionismo bíblico porque faz com que as pessoas se apercebam da parvoíce da teoria da Evolução».

Tudo o que os IDiotas se limitam a debitar são protestos de que o mundo biológico é demasiado complexo para ter evoluído e como tal é necessário postular um criador. E, claro, debitam estridentemente lamúrias de cristianovitimização em que carpem supostas teorias da conspiração urdidas pelos «satânicos» darwinistas para impedir o progresso teológico científico da «teoria». E debitam contestações assaz imbecis das evidências experimentais que comprovam a macroevolução (evolução de uma espécie para outra que os IDiotas negam), como por exemplo em relação ao Tikataalik rosae.

Ou seja, os IDiotas não produziram um único modelo, uma única hipótese para a sua suposta teoria «científica», que reclamam nada ter a ver com religião e que afirmam rebater completamente o «ateísta» (e para alguns satânico) evolucionismo. Com excepção, claro, do hilariante e completamente cretino modelo de origem e evolução das espécies com base em anjos, demónios e demais mitologias.

Em segundo lugar, e comprovando a total incompetência e ignorância científica dos IDiotas da ICAR, que em matéria de ciência estão século e meio atrasados, confundem evolucionismo com darwinismo quando na realidade hoje é aceite que há mais mecanismos operantes na evolução que não apenas a selecção natural.

A preparação do ataque cerrado à ciência por parte dos IDiotas católicos iniciou-se o mês passado na revista Atlântico, um reduto dos democratas cristãos da nossa praça, que mimosearam os seus devotos leitores com um dos mais imbecis artigos de opinião defendendo o criacionismo que tive oportunidade de ler, da autoria de Tiago Cavaco e que dá pelo título«Darwin e os esqueletos da humanidade».

Uma vez que a referida revista não é aquisição que eu recomende, podem apreciar a vacuidade profundidade intelectual do artigo (e do seu autor) no post «O sexo dos anjos» que transcreve excertos do referido artigo em defesa da IDiotia.

O iluminado autor, que parou igualmente em termos de ciência na «Origem das espécies», isto é, no século XIX, já que confunde darwinismo com evolucionismo, afirma pomposamente que «O darwinismo começa a soçobrar» supostamente devido ao «vigor académico do Design Inteligente». O que é uma mentira descarada. Na realidade, a academia em peso rejeita a IDiotia como inanidades delirantes debitadas pelo templo dos neo-criacionistas disfarçados de IDiotas, o Discovery Institute, que conta nas suas hostes a totalidade do «vigor académico» da IDiotia: 400 pseudo-cientistas, na sua esmagadora maioria sustentados pelo Instituto!