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Palmira Silva

8 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Sex, drugs, Ted Haggard and Election Day

Ainda é cedo para saber os resultados definitivos das eleições de ontem nos Estados Unidos mas aparentemente muitos evangélicos ficaram em casa ou não votaram nos candidatos republicanos. De facto, os resultados intermédios são claramente a favor dos democratas e, pelo menos na Câmara de Representantes, os republicanos perderam a maioria que detinham há 12 anos.

Em relação às eleições para o Senado o ultra conservador teocrata Rick Santorum, o grande defensor da IDiotia e o católico fundamentalista que afirmou não terem os adultos direito à privacidade da sua vida sexual- e como tal deveriam ser criminalizados a homossexualidade, o adultério e a «fornicação» em geral – não foi reeleito, perdendo o lugar da Pensilvânia para Bob Casey.

Perderam ainda a re-eleição os senadores republicanos do Ohio e Rhode Island. Os republicanos perderam para já os governadores de Ohio, New York e Arkansas.

As notícias menos animadoras dizem respeito à emenda que pretende banir o casamento homossexual que passou na South Dakota, South Carolina, Colorado, Idaho, Tennessee, Wisconsin e Virginia. Apenas no Arizona os resultados preliminares indicam que não vai passar. Parece que os últimos escândalos não demoveram os fundamentalistas cristãos nos outros estados de impor aos restantes a sua pseudo moral bafienta e hipócrita!

Os eleitores do South Dakota rejeitaram aquela que seria a lei mais estrita do aborto em todos os Estados Unidos, quasi tão estrita como a da Nicarágua, que o permitia apenas para salvar a vida da mãe … com a Sodomized Religious Virgin Exception, claro!

7 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Unidos pelo ódio

A Parada Internacional do Orgulho Gay, programada inicialmente para 10 de Agosto, em Jerusalém, que mereceu a união em uníssono das vozes mais ululantes dos fundamentalistas islâmicos, judeus ortodoxos e católicos na condenação do evento e foi adiada por razões de segurança vai realizar-se na próxima sexta-feira, dia 10 de Novembro.

De facto, não obstante os protestos e pedidos de proibição de todos os fanáticos em nome de um mito, o procurador geral de Israel afirmou não existirem razões para proibir o evento, apesar de a polícia considerar que o evento se pode tornar muito violento: «Nós achamos que o perigo potencial à vida e o derramento de sangue é mais importante que a liberdade de expressão» declarou o porta voz da polícia, Micky Rosenfeld.

De facto, milhares de judeus ortodoxos protestaram sábado passado a realização do evento, que culpam pela guerra do Líbano e pela derrota sofrida na mesma. Os devotos judeus promoveram distúrbios durante três dias em protesto pela parada, queimando lixo, fazendo barricadas e apedrejando a polícia. As habituais ameaças de morte a todos os que nela participam foram mais uma vez ouvidas.

Como ululou o rabi Moshe Sternbuch, que preside ao tribunal Eda Haredit, durante a manifestação, «Nós não tivemos sucesso no Líbano devido à obscenidade e promiscuidade existente na Terra Santa. Não há pior distúrbio que esta parada vergonhosa».

Parece que para os devotos seguidores das religiões do livro – cujos crentes protestam serem religiões de paz e amor – sem se perceber bem porquê, aparentemente por «castigo» de um mito que apenas se manifesta para punir «sodomitas», os odiados homossexuais são os culpados por todos os atentados terroristas e insucessos bélicos no globo, do Médio Oriente, como uiva o fanático pastor da Igreja Baptista de Westboro, à Europa!

5 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Ted Haggard: sou um embusteiro e um mentiroso

As provas de Mike Jones em relação aos contactos homossexuais que manteve durante três anos com Ted Haggard, um dos mais veementes ululadores contra a «sodomia» e um grande impulsionador da emenda que vai a votos terça-feira banindo o casamento homossexual, devem ser completamente irrefutáveis.

De facto, depois de negar ter mantido relações homossexuais com Mike Jones, o teocrata Ted Haggard, indicado pela Time como um dos 25 evangélicos mais influentes dos Estados Unidos, confessou:

«O facto é que eu sou culpado de imoralidade sexual, e assumo responsabilidade por todo o problema. Sou um embusteiro e um mentiroso».

Nada que nos surpreenda esta admissão da verdade. Resta apenas ver se há repercussões de mais esta evidência clara da hipocrisia dos embusteiros e mentirosos em nome de um mito nas eleições da próxima terça-feira não só nos 8 estados em que vai ser referendada a proibição do casamento homossexual como nas eleições para o Congresso e governador!

Alguns analistaspreveêm uma abstenção elevada nas hostes evangélicas devido a mais este escândalo. Recordando que não só o ódio a homossexuais se restringe aos cristãos como o facto de serem os fundamentalistas cristãos o baluarte indefectível de apoio a Bush e republicanos, podemos apenas esperar que finalmente os ventos da mudança nos Estados Unidos varram a quasi teocracia actual para uma página negra da história desta nação!

5 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Como se atrevem?

Como uma leitura do nosso espaço de comentários confirma, o que mais irrita os dementes em nome de um mito é o facto de ateus e agnósticos se atreverem a expor em público as suas opiniões. Ingratos arrogantes que deviam agradecer o facto de que já há uns anos os «tolerantes» cristãos deixaram de os incinerar e perseguir activamente, uma demonstração suprema do seu «amor» pelo próximo – agora limitam-se a acirrar os ódios da população contra aqueles a que, segundo eles, se devem todos os males do mundo, pessoas desprezíveis e sem «valores» e restantes epítetos difamatórios sortidos a que todos estamos habituados.

Pior ainda, como carpia o devoto pastor Ray Mummert a propósito da objecção da comunidade científica em relação à pretensão cristã de que o monte de lixo que dá pelo nome de Desenho Inteligente ou IDiotia fosse ensinado nas escolas de Dover em vez do evolucionismo:

«Nós [os cristãos] estamos sob ataque do segmento inteligente e instruído da sociedade»!

De facto, como se atrevem estes ateus inteligentes e instruídos, que a tolerância e amor ao próximo cristãos permitem (há uns tempitos já) continuarem a viver, a pretender ensinar ciência e demais ateias matérias aos jovens e insurgirem-se contra a instrução no único conhecimento que os cristãos reputam necessário: a inenarrante Bíblia?

Continuando com as palavras de Ray Mummert, estas pretensões ateias de «doutrinar» os jovens em ciência conduzirão «à destruição da nossa sociedade»! De facto, devem ser os burros e ignorantes a determinar o que deve ser ensinado às crianças!

Porque como todos sabem, e foi afirmado nas páginas da Nature num artigo sobre IDiotia por um dos «notáveis» do neocriacionismo bíblico, Salvador Cordova, um devoto cristão desde a infância que, como muitos outros, viu a sua fé vacilar na Universidade, a ciência é muito perigosa (para a religião):

«O pensamento crítico e a precisão da ciência começaram de facto a afectar a minha capacidade de acreditar apenas em algo, sem evidências tangíveis».

Aliás, também o representante-mor do Vaticano cá do burgo advertiu os católicos portugueses para os perigos da ciência e da análise racional, destacando que «os discípulos de Cristo não podem cair nesta tentação [usar a razão]».

Assim, os fanáticos cristãos de todas as cores urgem a todos os «bons» crentes resistirem tenazmente a pensar racional e criticamente e incitam à união no combate aos ateus que, determinados em «destruir» a sociedade, contaminam a fé cristã e respectivas «verdades absolutas» disseminando pensamento científico, racional e crítico e se insurgem contra a crescente influência da religião no espaço público dos respectivos países, supostamente laicos!

Como afirma, escandalizado com a ousadia dos ateus, o teólogo Os Guinness, nos Estados Unidos assiste-se a uma rebelião crescente dos ateus ao poder político dos cristãos!

De facto, embora afirme não terem crescido em número, o devoto cristão insurge-se contra os atrevidos ateus que, imagine-se, estão mais organizados e determinados em «minar» a influência da religião na sociedade norte-americana. Influência extremamente benéfica que apenas os ateus, cegos pela sua falta de fé, não veêm e se estende além fronteiras como puderam confirmar em primeira mão os iraquianos!

Ou todos aqueles que beneficiam e beneficiaram da mui cristã tortura para os auxiliar na confissão da «verdade», tornada uma «arma vital» contra o terrorismo recentemente!

Esta insurreição ateia contra a talibanização das respectivas sociedades é descrita como um ataque contra a fé cristã – porque será que todos os fanáticos em nome de um mito consideram um ataque ao cristianismo não os deixarem impor a todos os dislates em que acreditam e os castigos biblícos preconizados aos que não obedecem a esses dislates?

Ataque que o teólogo descreve estar a tornar-se «vicioso e veemente em certos círculos» – o tal segmento mais instruído e inteligente da sociedade – usando como exemplo os recentes livros de Richard Dawkins e Sam Harris, que rapidamente se tornaram best sellers nos Estados Unidos!

Isto é, escrever um livro – ou um blog – expondo uma opinião pessoal sobre religião é um ataque vicioso contra a fé! Claro que os incontáveis livros escritos, encíclicas e demais prosas institucionais descrevendo os ateístas como seres abjectos não são sequer considerados ataques ao ateísmo, são constatações da «verdade absoluta»! Já enjoa mesmo esta pecha para a carpidura e vitimização dos intolerantes cristãos quando coarctados nas suas aspirações totalitárias e integristas!

E, parafraseando Einstein, de facto a estupidez não tem limites!

4 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Sexo só depois dos trinta

Evolução do orçamento federal americano em programas de abstinência até ao casamento. Clique para aumentar

A recomendação do governo americano aos cidadãos e cidadãs solteiros pode reduzir-se a uma linha ou casam ou então sexo só depois dos trinta anos!

A mui cristã (e completamente inútil) directiva do governo Bush pretende gastar 207 milhões de dólares dos contribuintes a ensinar aos americanos que:

  • um bom cidadão deve abster-se de actividade sexual fora do casamento
  • uma relação (heterossexual) monogâmica no âmbito do casamento é o padrão desejável da actividade sexual humana
  • actividade sexual fora do casamento tem grande probabilidade de causar danos físicos e psicológicos
  • filhos fora do casamento – mesmo numa relação estável mas não abençoada por um mito – tem muito provavelmente consequências danosas para a criança, para os pais e para a sociedade!

Assim as directivas permitem a quem quiser gastar dinheiro federal – e apostaria que muitos grupos cristãos vão agarrar o financiamento – identificar «as pessoas entre as idades 12 e 29 anos» que «tenham mais probabilidade de ter filhos fora do casamento» e usar de todos os métodos para os convencer a «adiar a actividade sexual até ao casamento».

Porque será que todos os teocratas cristãos advogam menos estado quando se trata de actividade económica e muito estado a controlar e refrear as liberdades individuais?

Seria interessante ainda saber quantos dos «iluminados» cristãos que tanto se preocupam com a vida sexual alheia apresentam em privado comportamentos como os de Ted Haggard, Jim West ou Mark Foley

4 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Tony Blair defende ensino do criacionismo

O devoto Tony Blair, que já confessou serem de inspiração cristã a maioria das suas decisões políticas, tal como a invasão do Iraque, defendeu numa entrevista à New Scientist o ensino do criacionismo em escolas públicas.

Tony Blair afirmou que as preocupações dos que questionam o ensino do criacionismo em algumas escolas inglesas (e o ensino em todas do criacionismo e da IDiotia a par do evolucionismo é encorajado no curriculum de biologia introduzido pela Opus Dei Ruth Kelly) são grandemente exageradas!

Numa entrevista em que Blair se declara um adepto da ciência evangélico e renascido (born again em inglês, um termo utilizado para descrever os mais alucinados cristãos fundamentalistas) – uma mui bizarra escolha de palavras para descrever a posição de alguém em relação à ciência – este afirma que os cientistas deviam preocupar-se com temas mais importantes, como sejam o aquecimento global ou organismos geneticamente modificados, OGMs, em vez de com o «inocente» criacionismo!

Aliás, afirmou que uma visita a uma escola em que o criacionismo é ensinado aos pobres alunos, lhe permitiu a opinião:

«Na realidade o que eles asseguram, o que é muito mais importante, é o primeiro ensino disciplinado e de elevada qualidade que a maioria destes alunos alguma vez tiveram».

Ou seja, não interessa que estas crianças sejam ensinadas patetadas como ter a Terra 6 000 anos, sejam instruídas sobre a inenarrância da Bíblia, mais concretamente do Genesis, e mimoseadas com dissertações surreais sobre supostas provas «científicas» que suportam o criacionismo, acreditem piamente no grande dilúvio e na arca de Noé ou que a evolução seja descrita como uma «invenção» de inspiração demoníaca!

O importante é que aprendam a ser bons carneirinhos disciplinados que engolem sem pestanejar todas as palermices que os «mestres» lhes ministrem!

Num completo contrasenso, Blair, que reconhece ser a ciência o motor do desenvolvimento de qualquer país, afirma ainda que:

«Se eu reparar que o criacionismo começa a ser ensinado maioritariamente no sistema educacional deste país, aí sim, penso que é altura de nos começarmos a preocupar».

Ou seja, a estratégia daqueles que regem pela religião as suas decisões políticas é sempre a mesma: primeiro afirmar em relação a algo religioso que é contestado, seja o ensino do criacionismo seja a existência de crucifixos nas salas de aulas, que há problemas mais importantes com que as pessoas que os contestam se deviam preocupar. Depois, menorizar o problema dizendo que a sua dimensão é reduzida: há poucas escolas que ensinam criacionismo – ou exibem cruzetas – é fanatismo laico/ateu preocupar-se com o assunto quando há tantos problemas relamente importantes para resolver. Embora reconheçam que no dia em que for generalizado aí sem é um problema mas enquanto estiver circunscrito só mesmo os fanáticos laicos o invocam! Isto é, devagarinho, ponto por ponto, protestando a «inocência» e a «bondade» das alterações aumentar o poder da religião no quotidiano!

Claro que as desculpas dos fundamentalistas religiosos só enganam os crentes e ignoram as lições da História: quando se reconhece que algo pode vir a ser um problema deve-se envidar todos os esforços para o solucionar antes que esse algo assuma dimensões catastróficas. Especialmente quando esse algo tem a ver com religião.

Por outro lado, como espera Blair – que indica as alterações climáticas despoletadas pela acção humana, a investigação em células estaminais e os OGMs como os problemas em que a comunidade científica devia centrar esforços de explicação para o público – que alguém que foi condicionado na escola a desconfiar dos ateus e demoníacos cientistas acredite nestes quando eles falam sobre outros assuntos?

Ou como explicar que é necessário alterar comportamentos para evitar catástrofes ambientais a crentes que acham que Deus «providenciará»? Ou a crentes que consideram serem estas e outras catástrofes bem-vindas já que prenunciam a volta do «salvador»?

Recentemente a propósito de mais um aviso da comunidade científica de que a vida marinha desaparecerá em meados do século se algo não for feito , no forum sobre o tema da BBC um devoto muçulmano afirmava que Allah fez o Mundo e como tal é apenas falta de fé dos cientistas a razão do aviso: Allah protegerá os mares da poluição e da pesca excessiva! Estou certa que este tipo de pensamento irresponsável não se restringe aos muçulmanos!

3 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Richard Dawkins com Ted Haggard


Já aqui mencionámos o programa Root of all Evil de Richard Dawkins mas, dado o escândalo do momento nos Estados Unidos, em que, mais uma vez, a hipocrisia dos teocratas americanos foi exposta, este excerto, em que Dawkins entrevista Ted Haggard merece destaque.

De facto, Ted Haggard, há dois dias presidente da Associação Nacional Evangélica dos EUA e activista contra os casamentos homossexuais, renunciou ao cargo após um «escort», Mike Jones, ter dito ao vivo e a cores numa televisão local que Haggard utilizava regularmente os seus serviços. Haggard admitiu algumas das acusações, nomeadamente admitiu ter comprado anfetaminas ao referido Mike Jones – que assevera nunca ter usado – e ter recorrido apenas aos seus serviços de … massagista!

Aparentemente Mike Jones tem provas da relaçãoprofissional … com Haggard. Jones já respondeu às acusações de motivações políticas para a denúncia, explicando que depois de se ter apercebido que o seu cliente de 3 anos era o mesmo que tanto trabalhara para que fosse a votos na próxima terça-feira uma emenda proibindo o casamento homossexual no Colorado resolveu apenas denunciar a hipocrisia!

3 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Defesa incondicional da vida


Concordo em absoluto com o Boss: dever-se-ia chamar aos que defendem a criminalização da IVG pró-prisão já que pró-vida não são certamente!

De notar a referência nesta notícia do Destak à indicação da Unicef de que se realizam anualmente cerca de 16 000 abortos de vão de escada em Portugal, com graves riscos para a saúde das mulheres que não têm condições para se deslocarem à vizinha Espanha ou a outro país europeu em que a Igreja Católica não tenha tanto peso político. De acordo com a directora da clínica dos Arcos, Yolanda Hernandez, no ano transacto deslocaram-se a esta clínica (uma entre cerca de 120 análogas apenas em Espanha) para interromper a gravidez cerca de 4 000 portuguesas.

Estes dados deixam-me uma interrogação: sendo o aborto o único pecado imperdoável e merecedor de excomunhão automática, qualquer que tenha sido o motivo, mesmo risco de vida para a mulher, quantas mulheres que se reinvidicam católicas cá no burgo o são de facto?

Saberão muitas daquelas que são as responsáveis por não se encontrarem às moscas as igrejas nacionais que foram automaticamente excomungadas pela sua decisão? Não me lembro de algum dos dignitários da delegação portuguesa da multinacional de Roma o ter mencionado nas muitas alocuções sobre o tema com que nos mimosearam nos últimos tempos. Será por temerem perder a maioria dos clientes se o fizessem?

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3 de Novembro, 2006 Palmira Silva

Más notícias para os teocratas americanos

A semana que antecede as eleições para o Congresso norte-americano e para o lugar de Governador em muitos estados, tem sido fértil em más notícias para os teocratas ( ou religious right).

Assim, Ted Haggard, demitiu-se da sua posição de presidente da National Association of Evangelicals (NAE), o lobby teocrata mais forte nos Estados Unidos já que integra 45 000 igrejas e representa um rebanho de 30 milhões de seguidores. Ted Haggard, um apoiante convicto de G. W. Bush que se reúne com o presidente ou seus conselheiros todas as segundas-feiras, é considerado o responsável pelo apoio incondicional dos evangélicos a Bush na reeleição de 2004.

Ted Haggard, um mui vocal opositor do casamento entre imorais homossexuais, que se juntou a outros influentes teocratas, James Dobson, da Focus on the Family, e Tony Perkins, do Family Resarch Council, num programa transmitido em todos os Estados Unidos para denunciar a abominação inaceitável por um bom cristão, demitiu-se por… ser acusado de ter sexo com um homem, a cujos serviços recorre mensalmente nos últimos três anos!

Mike Jones, o homem em questão, declarou a uma jornalista ter denunciado Haggard, que ulula aos microgones da sua mega igreja ser a homossexualidade um pecado abominável, porque «pensei ter de fazer o que para mim é moral e expor uma pessoa que prega uma coisa e faz o oposto às escondidas». Aparentemente Mike Jones não sabe ser essa a imagem de marca do cristianismo, em todas as suas versões

Esta semana foi igualmente má para o presidente do oxímero Evangelismo da Ciência da Criação, Ken Hovind, o fundamentalista cristão dono do Dinosaur Adventure Land – um parque biblíco perto de Pensacola, Flórida, em que são apresentadas como verdades absolutas fantasias de que a Terra tem apenas seis mil anos, que o Grand Canyon foi formado num dia como consequência do grande dilúvio biblíco ou que os homens coexistiram com os dinossauros.

Mike Hovind, não obstante os seus protestos de que tudo o que possui não é dele mas sim de Deus e como tal não tem de pagar impostos sobre algo – para além de os seus trabalhadores serem de facto trabalhadores de Deus, logo não precisarem de mesquinhices mundanas como segurança social e afins – foi considerado culpado de fraude fiscal e arrisca-se a uma pena que pode ir até 288 anos de prisão!

Para coroar a semana, foi divulgado um inquérito que revela que afinal os americanos não são tão religiosos como os teocratas tentam vender. Na realidade, 42% dos americanos (adultos) tem dúvidas em relação à existência de Deus, uma percentagem de agnósticos ou ateístas não assumidos que subiu 8% em apenas 3 anos.

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2 de Novembro, 2006 Palmira Silva

O referendo ao aborto: dignidade ontológica da Mulher

«Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana» Constituição da República Portuguesa, Artigo 1°.

Com variantes de forma, o reconhecimento da dignidade como valor central dos direitos fundamentais individuais está presente em conteúdo nas Constituições de todos os estados democráticos. De facto, o ordenamento jurídico dos estados modernos – onde não se incluem teocracias, assumidas ou não – erege-se com base na dignidade do Homem, indelevelmente associada aos ideais de liberdade e igualdade em que assenta a nossa sociedade.

O próprio termo «pessoa» é empregue para designar os seres que possuem uma dignidade intrínseca: ser pessoa é ser digno, sendo esta dignidade uma dignidade ontológica, não uma dignidade ética ou moral, isto é, todas as pessoas são igualmente dignas independentemente do seu comportamento ou da sua valoração social, materializando-se essa dignidade no exercício dos direitos invioláveis que lhe são inerentes.

O reconhecimento da dignidade intrínseca do Homem – e «Todos os Homens são iguais … mesmo as Mulheres» (recomendo vivamente este livro de Isabelle Alonso) – como valor fundamental pressupõe assim um sociedade plural, necessariamente laica em que as convicções religiosas/morais individuais, mesmo se maioritárias, devem permanecer no domínio privado já que se transpostas na praxis da polis se traduzem em preconceitos discriminatórios, condicionamentos ou restrições dos direitos fundamentais das minorias intoleráveis num estado moderno e de Direito!

A legislação sobre o aborto actual, um instrumento de punição de «pecados» ou de imoralidades, viola claramente a dignidade intrínseca da Mulher, subordinando-a a uma dignidade moral arbitrária da própria mulher – que passa a ser humilhada em julgamentos de valor – e à dignidade moral que a lei, arbitrariamente também, concede ao embrião.

De facto, ao «proteger» explicitamente o que denomina vida intra-uterina – distinguindo-a da vida extra-uterina, embriões produzidos in vitro – a nossa legislação reconhece que um embrião não tem dignidade intrínseca, não é uma pessoa e não tem direitos! Assim, não é respeitada a dignidade da Mulher, como consta na Constituição, e esta está actualmente sujeita à arbitrariedade do Estado! Estado que supostamente se baseia no respeito dessa dignidade e na defesa do indivíduo e dos seus direitos inalienáveis, que incluem o direito à saúde e à autodeterminação!

Os posts anteriores sobre ética e direito mostram claramente que a questão da despenalização do aborto não é uma questão moral, mas sim legal. A penalização do aborto, tal como está enquadrada, é completamente incompatível com os axiomas que se defendem actualmente na comunidade do Direito para além de ser, em minha opinião, inconstitucional!

Para além dos fundamentalistas católicos – que não reconhecem direitos, a que chamam «exigências ‘para ela mesma’», à mulher e reclamam para o genoma humano, em todas as formas, células estaminais, pré-embrião e embrião, o estatuto de pessoa, embora não assumam publicamente que querem tratar as mulheres que abortam como assassinas- os (muito poucos) restantes opositores à despenalização do aborto recorrem a argumentos morais que implicitamente não reconhecem dignidade intrínseca à Mulher.

De facto, embora reconhecendo que o embrião não é uma pessoa e que extra uterinamente não tem qualquer valor ou direito, se implantado num útero – uma versão nova da máxima escolástica tota mulier in utero (a mulher resume-se ao seu útero) – os seus direitos morais sobrepõem-se aos direitos intrínsecos da mulher mercê um raciocínio logicamente inválido, um apelo falacioso à potencialidade do embrião que, estranhamente, só se aplica in utero.

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(continua)