19 de Junho, 2006 pfontela
Declaração de Guerra
Há quem se ofenda com a forma como muitos autores deste espaço tratam a religião organizada, considerando que estamos aqui a destilar veneno por puro prazer. A realidade da situação é bastante mais complicada que isso. Posso estar à vontade para dizer que o meu ateísmo nada tem de emocional, não me tornei ateu porque senti uma grande injustiça no mundo ou porque tive uma vida difícil e ninguém atendeu as minhas orações; Tornei-me ateu pelo empirismo, pela impossibilidade de aceitar dogmas, sejam eles de que natureza forem. Só os factos e indícios importam.
Mas isso por si só não chega para entender a minha participação neste espaço, muitos dos meus posts têm um teor que mais que ateu é 100% anti-clerical. E isso justifica-se com poucos argumentos: se o empirismo é a base do meu ateísmo o conservadorismo, obscurantismo e, acima de tudo, o ódio negro que vejo a grandes religiões organizadas debitar sem qualquer pudor ou bom senso tornaram-me ferozmente anti-clerical, e como cresci em Portugal sou principalmente anti-católico. Não tenho que me envergonhar das posições que tomo! Como cidadão da República estou a cumprir o meu dever cívico ao lutar para que o ódio religioso se extinga e que a manipulação política do estado por parte de organizações religiosas chegue ao seu fim.
Reconheço a boa vontade daqueles que tentam chegar a uma posição intermédia e que pensam ainda ser possível chegar a um acordo com as formas mais violentas de crença e clericalismo, mas também sei ver a sua ingenuidade. Há príncipos que não se podem negociar já que ao fazê-lo estamos a comprometer tudo o que somos (ex: não podemos ceder a pressões religiosas para suprimir vozes críticas ou regressaremos ao jogo do gato e do rato com uma censura religiosa imposta por meia dúzia de fanáticos que gostam de brincar aos inquisidores).
Não negociarei a liberdade (minha ou dos outros). Não negociarei a genuína dignidade humana (aquela que deriva do uso da razão – e não a falsificação que Roma nos quer impingir). Não renegarei o meu legado iluminista! Nao haverá “paz” entre os dois lados enquanto:
– Organizações religiosas abusarem do seu estatuto legal e da sua plataforma pública para lançar a ataques à razão e atiçar ódios ancestrais.
– Os abusos religiosos (camuflados enquanto liberdades religiosas) continuarem impunes.
– Todos os campos da ciência e da técnica não forem completamente liberados de amarras religiosas.
– Todas fés não renunciarem a todos os projectos de natureza política.
– As religiões tentarem mascarar os seus ódios e vicios com falsas virtudes.
– A religião não for totalmente confinada à esfera pessoal, que é a sua única posição possível numa sociedade livre.
Isto é um conflicto entre duas formas de ver o mundo, em que a negociação está fora de questão. Para o indivíduo, enquanto ser livre, poder prosperar e atingir os seus objectivos é necessário que a divisão que separa a política, a ciência e a lei da religião seja a mais forte possível. Sobre este ponto todos os defensores da laicidade têm a obrigação de travar o seu último combate – se tal for necessário.