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5 de Fevereiro, 2007 pfontela

Despedida

Caros co-autores e leitores de blog,

Neste momento venho anunciar o meu desejo de sair da equipa da Diário Ateísta. Não porque não me reveja na linha editorial ou por estar em desacordo com outros membros em algum ponto concreto. Longe disso, penso que sempre existiu (e existe) um amplo espaço para que todos os pontos de vistas ateus fossem expressados. O que está em causa aqui é o meu grau de compromisso intelectual para com o conceito de ateísmo. Neste momento, por razões extremamente pessoais (nas quais prefiro não entrar…), abandonei esse compromisso e não posso honestamente pertencer a este muito bom, excelente, grupo.

As minhas posições fora do ateísmo continuam iguais e não será pela minha saída que não darei todo o apoio que puder a todas as iniciativas que visem a liberdade e dignidade humana. Espero continuar a ser um comentador do DA por muitos anos apesar de por razões de coerência interna e honestidade para com o resto da equipa e os leitores não poder continuar a escrever. Obrigado a todo(a)s pelo muito que aprendi ao longo deste período.

Saio pela mesma razão que entrei, vontade de ser coerente, e não por pressão de seja quem for.

Um abraço a todo(a)s,
Pedro Fontela

28 de Janeiro, 2007 pfontela

A Indignação

Uma das coisas mais bizarras que se passam nos dias de hoje é sem dúvida nenhuma a indignação religiosa face à modernidade. Os crentes ficam indignados com a emancipação da mulher, com a liberdade de escolha individual, com os sistemas de valores não autoritários, enfim ficam irritados com tudo o que não seja um claro sim às suas posições sociais e políticas (convém lembrar aos mais esquecidos que essas posições não são actualizadas há séculos e que se baseiam em conceitos que já eram antiquados na renascença). No meio de tanta raiva e indignação nunca lhes ocorre ver ou pensar sequer nos outros.

Como será que os ateus se sentem no meio disto tudo? Como é que os defensores da igualdade dos sexos se sentem ao terem que lutar todos os dias por algo que devia ser um direito adquirido? Como é que as minorias sexuais que foram perseguidas, humilhadas e chacinadas se sentem ao ver os mais básicos direitos negados pelas mesmas pessoas que acenderam os fogos dos autos de fé? Todas estas coisas não parecem sequer ocorrer ao crente médio. Em parte é cegueira derivada de viver numa sociedade que recompensa a afirmação de todas estas alarvidades e em parte é apenas egoísmo. Não querem saber porque não estão para ser incomodados, eles estão certos porque sim. Porque o livro diz que sim. Porque uns homenzinhos de fatiota não resolveram os complexos de juventude dizem que sim.

Cada vez que um crente atirar à cara que se sente ofendido com A ou B eu faço questão de lhe dar uma lista detalhada de tudo o que nele e na sua religião me é pessoalmente ofensivo, tudo o que é politicamente opressivo e simplesmente injusto. O resultado normalmente é o amuo. Sentimento digno de uma criança que ficou chateada ao lhe dizerem que o mundo não existe para a satisfação dos seus caprichos pessoais.

Publicado também no InBetween
14 de Outubro, 2006 pfontela

O iluminismo, uma visão não linear

Ao processo que começa com Descartes e que prossegue ao longo do século XVII e XVIII, que deu origem a uma revolução no esquema mental até do habitante europeu mais desligado da vida intelectual e política, dá-se o nome de iluminismo mas o fenómeno não possui uma lógica de evolução linear ou sequer dualista. De facto o iluminismo foi construído através de um esquema triangular, da interacção de 3 movimentos e conceitos diferentes, representados grupos muito distintos.

Os radicais, que queriam aplicar a razão de forma sistemática e universal a toda a realidade, formavam uma minoria em termos de números e poder social (muitas das suas publicações eram feitas ilegalmente à revelia das autoridades reais e eclesiásticas e estavam quase universalmente excluídos do sistema de ensino) mas tiveram um poder formativo na sociedade desproporcional ao que seria de esperar – em parte devido às inconsistências dos que defendiam as posições intermédias e às insuficiências gritantes dos que se lhes opunham frontalmente. As ideias cruciais sobre igualdade, secularização do estado e naturalismo que partilhamos hoje no mundo ocidental foram essencialmente propostas por este grupo que teve por principais vozes e influências: Epicuro, os estóicos clássicos, Maquiavel, Espinoza, Bayle, Fontenelle, Diderot, D’Alembert, Helvétius, D’Holbach entre outros.

Os moderados, ou o grupo que procurava reconciliar a razão e um deus mais ou menos tradicional e com as normas sociais vigentes. Este grupo representaria a maioria dos intelectuais que já não podiam aceitar a arbitrariedade de uma visão do Homem que era completamente teológica mas que não estavam dispostos a abraçar completamente os novos conceitos. Esta corrente de iluminismo “moderado”, que saiu profundamente derrotada já que foram os ideias dos radicais que prevaleceram (a coexistência da fé e da razão a um mesmo nível provou ser um projecto inundado de contradições e compartimentalizações que desafiavam os mais coerentes), era essencialmente caracterizada por uma anglofilia sendo que o seu esquema seguia a corrente dos seguintes pensadores: Bacon, Boyle, Locke, Newton, Montesquieu, Voltaire e Hume. Para suprema ironia muitas das propostas e métodos de alguns dos pensadores do iluminismo moderados foram absorvidas pela corrente radical – por exemplo: o empirismo de Hume foi absorvido pela corrente radical mas não as opiniões do autor sobre a sociedade, desigualdade racial e tradição.

O último grupo é o que os historiadores chamaram “contra-iluminismo”. Um conjunto de ideias que essencialmente limitava-se à reacção face às novas propostas radicais e á reafirmação da tradição, obediência à autoridade (monárquica e religiosa) e à prevalência da fé face a qualquer método de investigação sobre a realidade. Apesar de este grupo deter praticamente o monopólio do poder durante a maior parte dos séculos XVII e XVIII foi perfeitamente incapaz de responder ás questões levantadas pelo esprit philosophique. Muito depois de os seus edifícios ideológicos terem sido derrubados e do pensamento de Descartes e principalmente de Espinoza terem sido levados às suas consequências lógicas ainda tinham medo de falar abertamente do Espinosismo – Durante décadas todos os defensores da cristandade tiveram de tal modo pavor a Espinoza e ás suas ideias que não se atreviam a escrever o seu nome, fazendo sempre alusão às suas ideias gerais (com o propósito de as rebater) sem o mencionar directamente.

Através deste conflito entre três sectores, ou mais correctamente, da interacção entre radicais e moderados e com a oposição dos conservadores, nascia um conjunto de filosofias e ideias que seriam a base do que hoje se chama a sociedade ocidental moderna.

Dado o ambiente gerado pelas monarquias absolutas que reinavam na maior parte da Europa ser um radical (e em países oficialmente católicos até ser um moderado) era oferecer-se a represálias brutais por parte das autoridades e por isso durante mais de um século todos as publicações de cariz naturalista, materialista ou republicano eram feitas ilegalmente com grande risco por parte dos autores e dos editores. Ao longo deste tempo, e apesar das perseguições, estabelece-se uma comunidade intelectual marginal que viria a ser a pedra central de todo o edifício da modernidade. Inicialmente centrada nas recém liberadas (do domínio espanhol) Províncias Unidas Holandesas e em menor escala na Inglaterra estas ideias seriam disseminadas por toda a Europa começando pela França que viria a tornar-se o centro intelectual das luzes durante o século XVIII e mesmo XIX.

[artigo publicado também no InBetween]
26 de Setembro, 2006 pfontela

A verdade pode ser ofensiva

Foi o que aconteceu neste caso no Reino Unido em que a associação “Gay Police Association” que teve a “temeridade” de publicar estatísticas que demonstravam um aumento de 74% na violência Homofóbica cujo principal factor era a religião (o comunidado fazia referência ao cristianismo em particular). Por esta vil “manipulação” e ofensa os cristãos evangélicos resolveram mover um processo contra a dita associação.

Obviamente que a queixa foi recusada, a Coroa recusou-se a processar seja quem for – por motivos por demais óbvios: Ninguém pode ser processado por dizer algo que as estatísticas demonstram!

Os cristãos ficam muito ofendidos quando as suas crenças que estão permeadas de ódio ao “outro” saem à luz do dia como causa de violência – é péssimo para as relações públicas. Não deveria ser de estranhar que esta relação existisse já que os movimentos extremistas homofóbicos na Rússia e na Polónia são alimentados precisamente pelas Igrejas cristãs. Só quem se econtra num profundo estado de negação poderia negar a relação entre os dois factores.

24 de Julho, 2006 pfontela

Tinham dúvidas?

Para quem ainda pudesse ter dúvidas sobre as verdadeiras intenções da hierarquia católica fica aqui parte de uma entrevista dada pelo cardeal Trujillo:

«Sobre o argumento “Não impor a moral católica aos não católicas”

“Conheço essa argumentação… Pensar assim significa não aceitar o desígnio de Deus…”.»
Ou seja vão todos ser católicos nem que tenham que ir presos! (quem diz ir preso diz arder na fogueira…)

Para mais pérolas na mesma entrevista ver aqui.

21 de Julho, 2006 pfontela

Mais amor cristão

Como já venho a afimar há bastante tempo a expressão “politicamente correcto” é um perfeito disparate. É uma expressão que não tem qualquer significado no mundo real já que serve apenas para demonizar um conjunto de ideias ao mesmo tempo que se quer aparecer como grande rebelde que não tem medo do papão. É essencialmente uma forma intelectualmente cobarde de interpretar a realidade já que recusa a análise, a classificação correcta dos temas e o debate construtivo.

Sendo uma expressão que se baseia num conceito de medo e em parte na teoria da conspiração – sim porque ser politicamente incorrecto significa irritar os maus da fita, que são tão maus e tão poderosos que nunca os conseguem calar… – é perfeitamente natural que esta tenha sido a linguagem adoptada pelos partidos conservadores europeus que desde 1789 nao fazem outra coisa que apelar ao medo e à reacção (à falta de valores próprios que sejam tolerantes). Não é pois de estranhar que seja pela boca de Maria José Nogueira Pinto (porta voz em part time para o PP) que se oiçam coisas deste género.

Como sempre os conservadores têm como objectivo político obscuro: o legitimar de todas as formas possíveis os seus ódios ancestrais de estimação e é neste enquadramento que Nogueira Pinto se queixa amargamente que o cidadão comum (da sua ala política suponho) nao se sente confortável em dizer as “verdades”, que o politicamente correcto os impede serem perfeitamente honestos. Suponho que lhe deve incomodar que já não se considere aceitável numa sociedade civilizada uma discriminacao racista ou por orientação sexual (veja-se nestes exemplos a completa perversidade do politicamente correcto! Qualquer dia vão dizer que todos os cidadãos têm direito iguais perante a lei!). Aliás quero aqui dizer que acho de uma grande coragem que Nogueira Pinto (e a Igreja que representa) ataque grupos pouco ou nada representados politcamente e que sofrem na pele todos os dias a discriminação gerada pelo seu “amor” cristão.

Depois movemo-nos para o tema central do ataque de Nogueira Pinto: a defesa do catolicismo como grande moralidade. Essencialmente o que incomoda todos os conservadores é que se reconheçam outros tipos de famílias, em especial as monoparentais e as homossexuais. Ainda se fala em perversão das instituições básicas e mais uma mão cheia de trivialidades debitadas nas últimas intervenções de Ratzinger.

O que esta senhora quer fazer é o que a hierarquia católica deseja mas já não pode fazer directamente: acabar com a diversidade! Que nao hajam confusões, ela não está a defender o seu modelo de família, está sim a atacar todos os outros. A ICAR ambiciona um monopólio das definicões, da definicão de fé, da definicão de amor, da definicão de afectos, etc, porque percebe que nas definicões está a chave para o controlo da legislacão (é uma questão de lógica bastante simples, se eu controlo as premissas praticamente estou a ditar a conclusão).

A demagogia deste tipo de discurso é tão óbvia que chega a ofender os olhos daqueles que a contemplam. Fala-se primeiro de uma espécie de ditadura social que “oprime” as suas opiniões e depois passa-se a defender um modelo social como hegemónico senão mesmo único. A realidade é que os diferentes tipos de família não precisam nem de protecção nem de censura social, a família tradicional continuará a exisitir se continuar a preencher uma necessidade humana (mas pelo facto de sastisfazer as necessidades de alguns não quer dizer que satisfaça as de todos, daí a necessidade de diversidade).

Gostava de concluir reformulando uma das frases de Nogueira Pinto; ela afirma que a Europa atravessa uma profunda crise de valores e cultura mas eu digo-lhe a ela que o que está em profunda crise é o catolicismo ultramontano.

20 de Julho, 2006 pfontela

A farsa cristã

O tema central do cristianismo é a culpa, é intrínseco à sua natureza enquanto religião de salvação – sem falta ou pecado não é necessária uma salvação. Mas é no mínimo curioso que quando se trata de assumir as suas culpas em tempos recentes os cristãos parecem estranhamente ausentes e lacónicos nos seus comentários.

Em vez de falarem do que fizeram nos últimos cento e poucos anos (já nem vou mais longe) preferem presentear o mundo com conversa de café, normalmente centrada sobre uma palavra que não compreendem: amor. E não o conhecem porque ja diluíram tanto essa emoção no seu discurso que ela foi reduzida a um nada filosófico e prático. Uma espécie aura difusa com que rodeia sua face pública no mundo moderno.

Esta emoção por natureza nobre foi reduzida a uma patética sombra, um simulacro e resultou em dois conceitos confusos que são a bandeira do cristianismo. O primeiro é a caridade, que em vez de ser encarada como último recurso passa a ter uma conotação de respeito e de valor que deve ser promovido – a piedade e medo que movem tais acções destroem todos os laços que a caridade pudesse ter com a ideia de solidariedade. O segundo conceito é a confusão que os cristãos tentam estabelecer entre amor e ódio. Apesar de impregnarem a sua linguagem com a palavra amor as suas acções revelam apenas um ódio cego a tudo o que é diferente da sua vivência.

É neste ponto do ódio que volta a entrar a culpa. A culpa que os cristãos até hoje não assumem porque preferem estar embrulhados num falso conceito de amor, como podem admitir erros se ainda se escondem por detrás de uma máscara? (que acima de tudo serve para ocultar a sua deformidade moral de si próprios)

Como adoradores da dor e do martírio que são não duvido que, se o movimento iniciado no século das luzes chegar a bom termo, virão a pedir desculpas e proclamar a sua bondade ao admitir erros do passado. Não sei se será no meu tempo mas se for adianto já o seguinte: não perdoo! Não desculpo as atrocidades morais que a hierarquia comete todos os dias! Não perdoo os crentes que sao cúmplices de tal situação e que com a sua presença e apoio ajudam à perpetuação do passado! Se não for no meu tempo fica de qualquer forma o meu testemunho e a minha opinião sobre as atitudes cristãs, que os Homens de amanhã nao se deixem levar por mentiras auto-condescendentes.

4 de Julho, 2006 pfontela

Transhumanismo

Uma das ideias que surgiu das correntes de pensamento de inspiração materialista nas últimas décadas foi o transhumanismo. Este movimento define-se pelo apoio ao uso das novas ciências e tecnologias para o melhoramento físico e intelectual da humanidade além de suavizar os alguns dos efeitos negativos inerentes à condição humana actual, tal como o envelhecimento ou própria morte. O objectivo seria atingir um estado pós-humano. Aqui devemos definir esse estado como a situação em que a evolução ja não está nas mãos de mutações lentas e fora do nosso controlo e passa a existir uma evolução dirigida – sendo que por evolução dirigida é necessário entender que a livre vontade é um valor absoluto, só o indivíduo pode dispor sobre o seu material genético e sobre a sua existência em geral.

A história do movimento é bastante interessante mas não será esse o aspecto fundamental da minha abordagem. O movimento cultural e social do transhumanismo parece ter essencialmente duas bases: o individualismo e o materialismo. O individualismo porque o principal objectivo é melhorar o indivíduo, de acordo com a sua vontade pessoal (chegando ao extremo de se poderem redesenhar completamente a si mesmos, o que inclui em extremos teóricos, e puramente especulativos, o abandono de uma forma biológica) e o materialismo porque nada é tomado como um acto de fé, as suas aspirações não são depositadas numa promessa de uma vida posterior ou em conceitos intangíveis mas sim no presente e nas técnicas que sabemos serem eficientes.

Este conjunto de ideias parece ser simples em si mesmo mas a quantidade de críticas que recebe é algo absolutamente extraordinário. Regra geral os comentários mais negativos dividem-se em três sectores: os neo-luditas, os “realistas” e os distópicos.
Os neo-luditas partilham essencialmente de uma visão anti-ciência e anti-mudança, que visa impor o status quo como algo permanente – dentro deste grupo existem dois subgrupos importantes, os religiosos que consideram a elevação do homem através da técnica como blasfémia e os ecologistas que gostam de uma ideia a que chamam “natural” (que é um conceito extremamente discutível).
Os realistas são essencialmente pessoas que duvidam das capacidades técnicas da humanidade para poder alguma vez cumprir com as promessas do transhumanismo. Dados os saltos técnicos do último século e a natureza exponencial do progresso técnico (indicado no conceito de singularidade) as suas dúvidas parecem ser infundadas.
Por fim chegamos ao grupo com mais hipóteses de realmente ser um obstáculo para o transhumanismo: os distópicos (dos quais o conservador Fukuyama é o mais destacado representante). Um ciência avançada pode levar a dois tipo de cenários, um de utopia individualista de uma liberdade inimaginável pelo nosso standard actual ou a uma distopia que no pior dos casos leva à aniquilação da própria espécie.

Para atingir o seu notável conjunto de objectivos gerais os transhumanistas (entre os quais me incluo a mim) aceitam recorrer a várias tecnologias recentes. A que mais potencial apresenta a curto e médio prazo é sem dúvida a genética. A nanotecnologia também apresenta potencial mas num futuro talvez mais distante (e a carga de controvérsia que apresenta é significativamente menor que a da genética). Um bom primeiro passo para implementar um estado de espírito transhumanista entre mais pessoas seria combater a percepção generalizada que as técnicas médicas o científicas (algo tão complexo como terapia de genes ou tão simples como tomar medicação por via oral) são para ser utilizadas exclusivamente para corrigir deficiências – quando numa perspectiva muito mais interessante podem ser usados para aumentar o que é normal para um ser humano. Isto hoje em dia é complicado porque grande parte dos laboratórios não desenvolve testes da sua medicação em pessoas saudáveis e não o fazem porque o potencial uso para incremento de habilidades é muito pequeno já que em muitos países é ilegal publicitar efeitos que não sejam puramente terapêuticos – se não podem publicitar quer dizer que se investe dinheiro e tempo em testes sem ter um retorno significativo.

Outro ponto importante é o medo irracional à tecnologia que certos sectores (especialmente religiosos e ecologistas) querem incutir às pessoas, os neo-luditas que referi acima. O progresso tecnológico vai continuar com o sem a proibição de certas técnicas experimentais, mas no caso de haver uma proibição generalizada no Ocidente os resultados serão muito piores para os cidadãos comuns. Em primeiro lugar fora da Europa e da América do Norte as atitudes face às novas tecnologias são muito diferentes, enquanto que nos EUA cerca de 40%/50% das pessoas são contra o uso da ciência para melhorar humanos normais em certos países asiáticos (por exemplo a Tailândia) cerca 90% da populacao é a favor. O que isto nos diz é que se não aproveitarmos as oportunidades tecnológicas alguém o fará. A segunda consequência da proibição seria a criação de um mercado negro. Quem pode pagar terá acesso as tais técnicas (por meios ilegais ou indo a países onde se podem aceder legalmente) enquanto o cidadão comum não o poderá fazer.

Em abono da verdade, e para terminar esta introdução, convém dizer que o movimento transhumanista é extremamente diverso, incluindo até crentes – que obviamente encaram a sua transformação em pós-humanos de forma bastante diferente – mas estes são uma minoria quando comparados com o número de ateus e agnósticos.

27 de Junho, 2006 pfontela

Desmistificações políticas e sexuais

Ao ler este pequeno texto podemos dar com alguns problemas de interpretação em relação ao que é dito e aos papeis dos participantes. Vamos comparar o que é dito com a realidade:

Mito: a Igreja Católica tem voto na matéria, ou seja, que possui a autoridade de definir o que é uma familia ou que é desejável para qualquer ser humano na sua esfera pessoal e sexual.
Realidade: a moral sexual da Igreja é uma das mais obscuras criações da espécie humana e não passa de uma das muitas construções puramente culturais (bastante inferior a outras) que foram impostas pela brutalidade até se implantarem como psicoses quase permanentes. Para o cidadão moderno informado não tem (nem deve ter) qualquer poder vinculativo.

Mito: o catolicismo é (ou deve ser) guia do que é aprovado pela legislação.
Realidade: o catolicismo tem a liberdade de reprimir aqueles que a ele pertencem de livre vontade (o que nao inclui os alunos nas suas escolas – ou seja, não têm carta branca para fazerem o que lhes apetecer no sistema de educação privado) e mais ninguém. A lei, em questoes de direitos civis, existe apenas para mediar conflictos entre as várias esferas pessoais, especialmente para as proteger.

Mito: toda a posição religiosa (por muito odiosa e preconceituosa que possa ser) pode ser sustentada em nome de uma liberdade religiosa.
Realidade: a religião dobra os joelhos às liberdades individuais de cada cidadão, em especial aos direitos humanos e jamais poderá ser colocada acima destes (ex: uma religião que defenda posições racistas não deve ter a liberdade de as pregar e fazer lobby politicamente!! Os intolerantes perdem o direito à tolerância).

Mito: Na política existe um espaço para elemento religiosos.
Realidade: Quem admite esse tal espaço religioso fica na iminência de mais tarde ou mais cedo estar dependente de teocratas e de ter que subtituir a política pela teologia, o estado pela Igreja, a liberdade pela ortodoxia e o individuo pela congregação (basta olhar para os países em que mais espaço se dá à religião nos fóruns políticos para tirar estas conclusões).