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Onofre Varela

6 de Setembro, 2023 Onofre Varela

A coragem do Papa Francisco

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Para um ateu o Papa não faz falta. Na lista das importâncias sociais, o Papa merece-me a designação de chefe de Estado, que é o que ele realmente é: chefe do Estado do Vaticano.

Porém… o mundo não sou eu… somos todos nós!… A religião existe e o chefe da Igreja Católica, maioritária entre nós, é o argentino Mário Bergóglio que adoptou o cognome de Francisco I para o desempenho do papel de Papa no Teatro do Vaticano (riquíssimo em cenários, adereços, guarda-roupa e com boa receita de bilheteira). A importância dos chefes das Igrejas tem peso no mundo, porque socialmente o construímos assim… e tempos houve em que os chefes políticos das nações eram também os chefes religiosos (na Inglaterra ainda é).

Os homens fazem a História… e a História modela os homens. Se habitualmente os papas não passam de beatos autoritários, não merecendo qualquer respeito especial por parte de quem não é católico, com a escolha de Bergóglio para a cadeira de S. Pedro as coisas mudaram. Francisco I está no “top” porque teve a coragem de trocar a tradicional beatice papal pela Humanidade de cariz laico.

Um dos assuntos quentes da Igreja, de muito difícil tratamento, é a praga da pedofilia no seu seio, que inundou páginas de jornais e noticiários de rádios e televisões. Velha como o tempo, a pedofilia praticada por sacerdotes sempre foi escamoteada. Os papas sabiam dela, mas encolhiam os ombros. Com Francisco I mudou o paradigma.

Em Dezembro de 2019 Francisco I aboliu o segredo pontifício para os casos de abuso sexual por membros da Igreja. A nova lei, que entrou em vigor imediatamente, levantou o silêncio em relação às queixas, processos e decisões referentes a estes casos e promoveu o dever de a Igreja colaborar com a Justiça, fornecendo toda a documentação sobre processos e denúncias em curso, às autoridades judiciais. Em Portugal a Igreja começou por ignorar a lei de Francisco I… mas acabou por cumprir, e a comissão constituída para o efeito fez bem o seu trabalho.

Especialistas nas coisas que ao Vaticano dizem respeito, afirmam haver um “lobby gay” dentro da Igreja Católica que não gosta deste Papa por contrariar os seus prazeres. Junta-se a este grupo uma outra facção que faz a extrema-Direita política do Vaticano e que rotula o Papa Francisco I de “comunista”. Se estes pudessem, destituíam-no já (ou matavam-no como – há quem o afirme – fizeram a João Paulo I em 1978), para acabarem com tal personagem desarranjadora de arranjinhos!

A política de Direita Capitalista internacional também está aliada ao movimento clerical clandestino contra Francisco I, e querem ver no Vaticano uma personalidade mais de acordo com as políticas de Direita desrespeitadoras dos pobres e dos oprimidos que Mário Bergóglio pretende ver dignificados. Não vos parece que se Deus existisse realmente… já tinha desintegrado esta Igreja?!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

OV

4 de Setembro, 2023 Onofre Varela

A mulher mártir

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Nawal el-Saadawi nascida em 1931 e falecida em 2021, foi médica e escritora egípcia, e liderou a luta pelos direitos da mulher no mundo árabe. Foi perseguida e detida várias vezes por pensar de modo diverso do estabelecido numa sociedade machista e por divulgar o seu pensamento. Teve os seus livros confiscados e proibidos, tal como em tempo de ditadura Salazarista por cá se fazia.

Cresceu numa cultura patriarcal onde as raparigas estavam sujeitas a vários abusos desrespeitadores da mulher, como o casamento infantil e a mutilação genital. Sofreu tal mutilação por imposição familiar e tornou-se numa activista contra tão aberrante procedimento em nome de uma tradição referida como sendo cultural, mas que é, também, criminosa. Na verdade a mutilação genital é uma condenação ao sofrimento da mulher por toda a sua vida, impedindo-a de ter prazer sexual, o qual é substituído por dores sempre que tem relações. 

Escreveu dezenas de livros abordando temas tabu, como sexualidade e prostituição. Observando o mundo pleno de sociedades patriarcais e homófobas, escreveu: “Depois de viajar por todo o mundo, descobri que as raparigas são educadas de uma maneira muito parecida; estamos todas no mesmo barco. O sistema patriarcal, capitalista e religioso é universal”.

Desta universalidade nasce o desrespeito pela mulher. Na nossa sociedade ainda se discute o óbvio: se a mulher que executa o mesmo trabalho de um homem, deve receber um ordenado do mesmo valor. As tabelas salariais são sempre mais baixas para a mulher!… Esta discriminação não significa nada mais que não seja atribuir o estatuto de menor importância à mulher, e tem origem em milenares conceitos religiosos. Se no mundo ocidental (onde tanto se fala no sentido de humanidade pregado por Jesus Cristo) esta verdade existe, em países muçulmanos o drama é substancialmente ampliado.

Lembro um caso acontecido na Turquia, onde os chamados “crimes de honra” ainda são entendidos como o eram na medievalidade. No ano 2000 os jornais deram conta do caso de uma rapariga turca, de 14 anos, ter cometido a imprudência de ir ao cinema com umas amigas sem a autorização prévia da família… o que era uma vergonha. Em reunião caseira de machos, foi sentenciada a pena capital para a “portadora da vergonha familiar”, e um sobrinho da jovem, também menor, foi encarregado de executar a “justiça”. Sem pestanejar nem se interrogar por que haveria de fazê-lo, o moço aceitou naturalmente a incumbência como um ritual a ser cumprido sem questionamento. Provavelmente até se sentiu honrado por ter sido escolhido para aquela tarefa que lhe daria mais valia curricular de macho. Saiu da sala, passou pela cozinha onde pegou uma faca, foi-se à tia… e degolou-a!… E a Justiça turca nada pôde fazer, por aceitar a figura do “lavar da honra com sangue”!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

Imagem de Nino Carè por Pixabay
31 de Agosto, 2023 Onofre Varela

Todas as religiões são uma só

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Enquanto filosofia, a Religião é um espaço aberto a toda a gente onde se deve entrar sem ser convidado, tal como se nasce sem, para isso, termos dado permissão. Daí me sentir à vontade discorrendo sobre Religião sem necessidade de frequentar o seminário nem igrejas, onde o pensamento é unilateral. Basta-me viver com olhos e ouvidos abertos, pronto a receber a abundante informação que o meu raciocínio processa de acordo com o indivíduo que sou, o que me permitiu experimentar rebeliões e emancipações no decorrer das etapas que fizeram a minha vida, em obediência a uma ética comportamental laica. 

A ética religiosa apregoada em todos os púlpitos, tem duas vertentes: a ética universalista, puramente laica (e ateia), que induz uma boa conduta nas relações humanas; e a ética (que em alguns casos é a falta dela enquanto universalista) de conduta interna do credo que manda cumprir conforme o que está registado no livro sagrado pelo qual se rege… e que no Alcorão (III, 157) manda tirar a vida aos descrentes (segundo alguma interpretação da Jihad). 

Sendo a fé religiosa fruto de um pensamento colectivo, ela é, também, uma opção pessoal, pois cada qual terá a sua, escolhida em consciência esclarecida, ou induzida; e a fé de um, que considera ter muitíssima importância, na verdade é tão estapafúrdia como a de outro, que para um não tem valor, mas que para outro é a razão do seu viver. 

No fundo, as religiões regem-se por uma única matriz: todas elas são uma só (no sentido do sentimento da sua necessidade, que não nas práticas rituais que as diferenciam. O núcleo da fé no conceito deífico é o mesmo na construção de todas elas), como muito bem afirmou o tipógrafo, poeta, gravador e artista plástico inglês, William Blake (1757-1827). 

Um dos males que me parece consumir a Humanidade, poderá ser este de – ainda hoje, neste século XXI que sempre sonhamos ser um tempo de perfeição – se dar demasiada importância à crença num deus por nós criado, permitindo a exploração de mentes através dele, e se desrespeitar tanto o semelhante. 

Desrespeito, vaidade e interesses pessoais, que nos levam a guerras destruidoras de tanta gente e de tanto património, só porque um líder vaidoso e malvado o quer, e tem armamento que o leva a sentir-se seguro da “vitória”, por muito injusta que ela venha a ser reconhecida pela História. 

Um filósofo contemporâneo cujo pensamento admiro, é o espanhol Fernando Savater. Num dos seus textos publicados no jornal El País, lembra Immanuel Kant para dizer que o mestre “nunca explicou, nas suas aulas, nada que pudesse alterar a ordem, ainda que sempre defendesse a liberdade de expressão […] o lema da Ilustração é “sapere audi”. Atreve-te a pensar por ti mesmo. Acreditava ser já chegada a hora de a Humanidade abandonar a sua menoridade intelectual”. 

É esta menoridade intelectual que ainda hoje vejo existir na sociedade em que me insiro (e que me escandaliza), mais de 200 anos depois de Kant!… 

Somos mesmo muito lentos, porra… não aprendemos nada?!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

Imagem de Наталия por Pixabay
29 de Agosto, 2023 Onofre Varela

FÁTIMA (5 e Fim)

Texto de Onofre Varela previamente publicado na imprensa escrita.

Cumprindo o prometido guardei para último artigo desta série de textos sobre Fátima a abordagem ao pensamento do Republicano e defensor acérrimo da Lei da Separação do Estado da Igreja, perseguido por dois sistemas governamentais, ex- seminarista, pensador e escritor beirão, Tomás da Fonseca (1877-1968). Escreveu o livro Na Cova dos Leões (editado no Brasil em 1958 e em Lisboa em 2009 pela Antígona. Tomás da Fonseca foi o último autor Português a escrever em defesa do Ateísmo, antes do meu livro “O Peter Pan Não Existe” [Caminho, 2007] 49 anos depois).

Quando li o seu livro fiquei convicto de que o autor é honesto no modo como aborda e narra os acontecimentos de 1917 na Cova da Iria. Teve o cuidado de entrevistar personalidades próximas das pessoas envolvidas neles. Em conversa com o Dr. Luís Cebola, especializado em doenças mentais e director da Casa de Saúde do Telhal, sabendo este que Tomás da Fonseca “andava coligindo elementos para a história do embuste de Fátima” lhe garantiu o seguinte (transcrevo na íntegra as palavras do autor): “O seu amigo, padre Fernando Eduardo da Silva, capelão militar já falecido, procurara-o, um dia, para dizer-lhe que não desejava ir desta vida sem lhe confidenciar um facto que supunha da maior gravidade para a Igreja Católica, de que era ministro. E narrou o diálogo havido em Torres Novas, entre três sacerdotes: o pároco de Fátima [Manuel Marques Ferreira], o fanático Benevenuto de Sousa e outro cujo nome lhe esquecera [mas que o autor identifica em nota de rodapé como tendo sido o padre Abel Ventura do Céu Faria, prior de Seiça]. Perguntado o primeiro sobre como lhe corria a vida na paróquia, respondera: «Aquilo não dá nada. Região pouco produtiva, gente miserável, sem iniciativa…». Então, o que perguntara lembrou-lhe: «Tens uma maneira de enriquecer depressa: provoca uma aparição como a de La Salette ou a de Lourdes e cai-te lá o poder do mundo»! O de Fátima ouviu, pensou um bocado e replicou: «Pensas bem. E o meio presta-se para coisas dessas!». E logo ali combinaram promover, sem perda de tempo, a aparição, entrando os três no negócio. Como, porém, rebentou a Grande Guerra em 1914, os trabalhos da empresa foram suspensos até 1917. Redigida esta nota, mostrei-a ao ilustre psiquiatra que a considerou exacta”. Algumas linhas depois, o autor diz mais isto: “Continuando na pesquisa de elementos, tempo depois encontrei-me com o velho democrata Manuel Duarte, que me informou de outro caso não menos valioso: a conversa que o bispo de Leiria mantivera com o Dr. Egas Moniz, meses após a farsa das aparições de Fátima”. Tomás da Fonseca fora colega do cientista (que, em 1949, recebeu o primeiro prémio Nobel concedido a um Português), e convivera com ele nas Constituintes da República em 1911. Procurou-o no seu escritório, ouviu o seu relato e escreveu-o no livro que cito. O Dr. Egas Moniz, certo dia, encontra casualmente o bispo de Leiria D. José Alves Correia da Silva, numa viagem de comboio. Tinham sido condiscípulos e eram amigos desde há muitos anos. Esta aproximação levou o bispo a confessar ao cientista que “uma coisa o andava confrangendo: era o caso de Fátima, em que estavam envolvidos alguns párocos, um dos quais excessivamente falador.” E continuou o bispo: “compreendes a minha preocupação e receio de que tudo redunde num fracasso, ou, melhor, num desaire para a Igreja de que sou representante […]. O professor procurou sossegar o espírito inquieto do bispo. «Diz-me: isso está limitado à acção do clero local? O povo não colabora?». O bispo esclareceu que a acorrência ao santuário era já muito grande e que aumentava dia a dia. E o cientista, que é também hábil psicólogo: «Uma vez que o povo já tomou conta do caso, sossega, porque só ele poderá desfazer o que está feito. E sabes bem que o não fará na tua diocese, uma das mais devotas da nação. Pelo que me dizes o povo já proclamou a aparição, já lhe ergueu santuário e corre em chusma para ele” […]. A seguir, Egas Moniz sossegou ainda mais o espírito amedrontado do bispo, dizendo quase que uma profecia: “Dentro de pouco tempo terás de sancionar a voz do povo, e tu próprio acabarás por presidir e orientar os negócios de Fátima”.

Estes testemunhos levam-me a aceitar a razão das críticas de Tomás da Fonseca aos acontecimentos de Fátima em 1917 que sublinham a invenção das “aparições”. São depoimentos com valor jornalístico e escrevem História. Por isso terão de, forçosamente, ser considerados num estudo que se pretenda honesto, sobre as “visões dos pastorinhos” ou “embuste de Fátima”.

(Fim)

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

24 de Agosto, 2023 Onofre Varela

FÁTIMA (4) 

Texto de Onofre Varela previamente publicado na imprensa escrita.

A ideia de, em 1917, ter ocorrido em Fátima um fenómeno OVNI, alimento-a há imenso tempo, e está escrita num projecto de livro (que o será logo que encontre editor interessado). É uma ideia que pode provocar riso. Riam à vontade. Rir é sinónimo de saúde quando a sua motivação não é o escárnio nem a ignorância. Eu não rio da crença. Respeito-a pela consideração que me merece a religiosidade dos meus semelhantes, mas procuro saber sobre ela lendo textos de Religião, Psicologia e Filosofia. E interrogo-me. Tenho opinião própria e procuro saber mais do que aquilo que é aparente e que a Religião apregoa como verdade. As pretensas “explicações” quando têm o duvidoso rótulo de “oficiais”, não me servem. 

A possível “explicação” do OVNI para os efeitos feéricos que deslumbraram todos quantos a ele assistiram na Cova de Iria em 1917, não só não explica tudo… como, na verdade, não explica nada!… O fenómeno de Fátima teve mais do que a observação do OVNI e da imagem luminosa de uma senhora ou menina. Também teve anúncio de jornal, no “Diário de Notícias” a 10 de Março de 1917, com o enigmático título “135917” (onde é possível ler-se a data 13 de Maio de 1917) com um pequeno texto que anunciava “o fim do nosso martírio”. Ao mesmo tempo, no Porto, grupos espíritas anunciavam, com publicação nos jornais “O Primeiro de Janeiro” e “Jornal de Notícias”, no dia 11 de Maio de 1917, que algo iria ocorrer a 13 de Maio!… Para estes anúncios eu não tenho explicação… e estragam a minha hipótese extraterrestre… pois não estou a ver os visitantes galácticos a passarem pelas redacções dos jornais nas vésperas do evento, encomendando anúncios!… Mas também não entendo o porquê de os “inventores da aparição” anunciarem que tal iria ocorrer!… É um enigma que não decifro. (Há por aí alguém que o saiba explicar?).

O que se sabe é que Fátima seguiu o modelo de Lourdes, com várias “aparições” periódicas, desde 11 de Fevereiro de 1858, à pequena pastora Bernadette, de 14 anos. Anteriormente, em 1846, duas crianças, também pastoras (Mélanie e Maximin), contactaram com uma bela senhora no cume do monte de La Salette, também em França. Em 1876 e 1877, três jovens alemães viram “a Virgem” em Marpingen, no Sarre, levando o Catolicismo a uma vitória sobre o Protestantismo maioritário na região. 

Os acontecimentos de Fátima também foram o lançar da semente que fez nascer a imagem do “Sagrado Coração de Maria”, consolidada com a beata Alexandrina, em Vila do Conde, 40 anos depois (1957). E foi o renascer de uma indústria de santinhas de cartilha, vendidas na Cova da Iria no próprio dia 13 de Outubro de 1917, representando a imagem de Maria, no céu, rodeada por um halo de nuvens. As memórias de Lúcia, escritas entre 1935 e 1941, foram direccionadas pelo culto no asilo de Vilar, no Porto, (mais tarde seminário) orientado pelas irmãs Doroteias, e depois em Pontevedra e Tuy (Galiza), onde Lúcia se tornou freira. 

Contradições e distorções são os principais elementos da história oficial católica das aparições de Fátima, o que é de excelente utilidade para o culto… mas não serve a mais ninguém! Por outro lado, entre os milhares de testemunhos do “bailado do Sol”, há registos contraditórios de quem esteve a olhar para o mesmo “Sol” e não tenha observado nada de estranho ou anormal: nem cores faíscantes, nem movimentos rodopiantes ou zigue-zagueantes!

Resta perguntar: a Igreja Católica apropriou-se de um fenómeno ocorrido em Fátima, ou criou-o?!… 

Entre 1917 e 1919, o vigário de Ourém, Faustino José Jacinto Ferreira, tornou-se conselheiro e confessor das crianças pastoras-videntes, e o bispo de Leiria José Alves Correia da Silva, em 1921, afastou totalmente Lúcia da família e da aldeia, administrou o espaço da Cova da Iria comprado sigilosamente pela Igreja, e lançou o jornal “A Voz da Fátima”, principal órgão difusor dos interesses da Igreja naquele acontecimento. Na verdade, o Sol não se move, a personagem neotestamentária Maria não pode ter aparecido, e a intervenção extra-terrestre é uma hipótese fantástica impossível de ser provada. 

Continuo ignorante como era no início das minhas buscas… mas os crentes são mais ignorantes do que eu, porque não se interrogam nem buscam! 

Tomás da Fonseca, que se formou num seminário e foi ateu (sendo o primeiro ateu português a escrever um livro sobre o assunto) tinha outra visão do caso, a qual comentarei no próximo artigo, para finalizar esta “Novela Fatimida”… mas a questão não fica encerrada.

(Continua)

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

22 de Agosto, 2023 Onofre Varela

FÁTIMA (3)

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Tal como disse no último texto, a hipótese de explicação que tenho para as aparições de Fátima é tão fantástica quanto a hipótese religiosa, porém mais credível por haver nela o uso de técnicas que, mercê dos nossos avanços tecnológicos e científicos, hoje podemos imaginá-las (o que não acontecia em 1917), embora não possamos concretizá-las. 

Para a minha proposta temos de encarar a existência de seres extraterrestres. O que não é difícil de imaginar… difícil será afirmar que num universo composto por milhares de galáxias – por sua vez compostas por milhões de planetas – seja o planeta Terra (um minúsculo grão de poeira no Universo) o único ponto do Cosmos a albergar vida inteligente (a possibilidade de vencer tão longas distâncias… já é um outro problema). 

Há uma corrente de pensamento que diz ter sido a Terra visitada por alienígenas em tempos imemoriais, e os OVNI (que através dos séculos já foram observados em todas as partes do mundo, desde a Suméria de há 5000 anos, passando pelo Médio Oriente no tempo de Moisés [designadas por “sarças ardentes”], e depois com Paulo de Tarso, até aos nossos dias) seriam prova disso. 

O leitor pode considerar ser uma hipótese demasiado fantástica e hilariante… mas a aparição de Maria sobre o cocuruto de uma azinheira, 1900 anos depois de ter morrido, debitando discurso em português para três crianças analfabetas que não souberam dizer o que viram, resulta igualmente fantástica (se não hilariante) por não ter um suporte técnico que a sustente, para além da crença que nada explica. 

Para a minha hipótese é de primordial importância a hora das aparições: o meio-dia. 

Ao meio-dia o Sol está no zénite. Isto é: está no topo de uma linha vertical traçada a partir da cabeça do observador. Só nesta hora solar poderia ocorrer o chamado “fenómeno do Sol”. 

Imagine o leitor (imaginação com suporte na ficção científica) que por sobre a Cova da Iria e das nuvens espessas que cobriam o céu naquele dia chuvoso, se posiciona uma nave tripulada por quem domina uma técnica que desconhecemos. Com recurso a essa prodigiosa técnica, é lançado algo a que chamarei “tela”, de cor azul-céu, entre a posição do Sol do meio-dia e a gente aglomerada na Cova da Iria. Depois, esse “alguém” dissipou as nuvens, criando uma espécie de túnel, deixando-nos ver a tela azul que foi tomada pelo céu. Sob ela colocaram um globo luminoso que foi identificado como sendo o Sol. Lúcia afirmou que o Sol do milagre era mais fosco do que o Sol de todos os dias, porque podia ser olhado sem protecção ocular. Logo, não era o Sol! 

A seguir, esse globo movimentou-se no espaço, rodopiando, zigue-zagueando e chispando cores verde, amarelo e vermelho (coisas que o Sol não faz). Desse globo é projectada uma imagem holográfica sobre uma azinheira, representando uma forma humana muito luminosa. Nas primeiras interrogações do cónego Ferrão às três crianças pastoras, nunca elas disseram ter visto Maria, mãe de Jesus. Esse reconhecimento foi construído pouco a pouco pelo interrogador que incutiu tal ideia nas crianças. 

A imagem que agora é passeada em andor no recinto de Fátima, é uma construção de acordo com o culto, mas não com a realidade das aparições. As roupas daquela figura seriam justas ao corpo e com aspecto de serem acolchoadas. Não tapavam os pés, ficando pelo meio da perna, e a capa, que não cobria a cabeça, não ultrapassava os joelhos. A figura era estática, com um rosto de beleza ímpar, mas sem expressão. Não movimentava os olhos nem os lábios, e aquilo que poderia ser a sua voz aparentava-se a um “zumbido de abelha” (palavras de Lúcia, nos primeiros interrogatórios). 

Esta figura feminina não foi vista por mais ninguém, mas o OVNI de luz faiscante, movimentando-se em zigue-zague, foi visto por cerca de 50 mil pessoas, não só na Cova da Iria, mas por quem estava a 40 quilómetros de distância. Aquela encenação durou dez minutos. Depois a figura da senhora subiu e desapareceu no espaço, o Sol tomou o seu lugar e as nuvens tornaram a cobrir o céu. 

As pessoas ali reunidas disseram sentir um calor intenso durante aqueles 10 minutos, de tal modo que as roupas encharcadas pela chuva, secaram. Do céu caiu algo que foi tomado por pétalas de rosa, mas que se desfaziam ao tocar no solo, e a atmosfera tinha um odor estranho mas agradável (resíduos do “combustível/energia” usado pelo OVNI?). 

É claro que esta hipótese não explica nada! Se podemos aceitar a possibilidade técnica da concretização do fenómeno, fica uma série de perguntas à espera de respostas: Quem o produziu? Com que intenção? Alienígenas que estudavam (estudam) a nossa reacção, para aquilatar o nosso desenvolvimento racional?!… Não sei. 

Mas sei que a explicação religiosa foi construída, e sei que os religiosos que defendem a aparição de Maria, também não sabem. Só crêem!… E crer não é saber. 

Porém, há algo que destrói esta minha hipótese extraterrestre… como veremos na próxima semana.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

OV

Imagem de Bernardo Ferreria por Pixabay
17 de Agosto, 2023 Onofre Varela

FÁTIMA (2)

Texto de Onofre Varela previamente publicado na imprensa escrita.

As tentativas de explicação para a “visão” dos pastorinhos em Fátima no ano de 1917, são várias. Desde as puramente religiosas, alicerçadas na fé pura, sem qualquer tentativa de explicação que ultrapasse a fé, até às mais rebuscadas e espantosas, passando pela realidade do momento histórico que então se vivia em Portugal. 

A República recém instalada (1910) destronou uma monarquia decrépita, e o poder que a Igreja mantinha até aí, ruiu por força das leis republicanas que separaram a Igreja do Estado. O sentimento anti-clerical da época compreende-se pelo facto de haver um clericalismo feroz a pedir o seu contrário. 

O povo, extremamente religioso, provavelmente sentia-se perdido entre a sua fé enraizada no mais profundo dos seus pensamentos, e a lei da República que lhe dizia, ao estilo de Camões, “Cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta”!… 

A par disso havia o espectro da guerra. A Primeira Guerra Mundial iniciou-se em 1914 e o Exército Português participava nela. As famílias portuguesas perdiam os seus jovens nas trincheiras da Flandres, onde os soldados alemães causaram (um ano depois, a 9 de Abril de 1918) a maior derrota que os portugueses tiveram em confrontos bélicos, desde Alcácer-Quibir em 1578 (onde perdemos o rei D. Sebastião e, por arrasto, também perdemos a independência, passando Portugal a ser governado pela coroa espanhola durante 60 anos). 

Era provável que, em 1917, os portugueses se sentissem mal. E a Igreja, em particular, que era perseguida pela nova política, precisava de “um milagre” que recuperasse o seu crédito… e inventou-o, criando as “aparições marianas” já experimentadas em Lourdes (França) com êxito! 

Estas considerações históricas poderão conter alguma explicação para a origem do que aconteceu em Fátima em 1917… mas não explicam tudo. Para mim há algo que não pode ter ocorrido: a aparição da mãe de Jesus. Por várias razões. A primeira razão pertence à História Natural. Quem morre não “aparece” vivo. O meu gato jamais experimentará a “visão” do seu avô persa falecido, porque não tem imaginação para isso. A inteligência do Ser Humano dá-lhe essa imaginação, e a partir daí tudo é possível ao nosso poder criativo. 

Poderá haver alguém que diga ter visto um ente querido depois de este ter morrido, mas na realidade não viu! Foi o seu cérebro que construiu essa visão. Porém, no caso de Fátima há uma particularidade intrigante: aquilo que foi tomado pelo Sol a mover-se, crendo no que foi escrito na época, foi testemunhado não só pelo povo crente aglomerado no local da “aparição”, que poderia constituir um fenómeno de alucinação colectiva, mas também por quem se encontrava a 40 quilómetros de distância, sem o ambiente propício a tal alucinação! 

O que foi que aconteceu, então?!… 

Na verdade, não sei… e este meu desconhecimento não me permite aceitar “as aparições de fé” do modo como a Igreja as quer fazer passar. 

Mas sei que há uma tentativa de explicação que, sendo tão fantástica quanto a aparição de Maria… me parece muito mais coerente.

(Continua)

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico) 

Imagem de CrisG por Pixabay
15 de Agosto, 2023 Onofre Varela

FÁTIMA (1)

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Em Maio de 1917, no lugar da Cova de Iria (Ourém), três crianças que apascentavam gado teriam observado algo que identificaram com a imagem de uma mulher luminosa sobre uma azinheira. 

Até Outubro (no espaço de seis meses), a observação repetiu-se mensalmente nos dias 13, fazendo crescer o interesse pelo fenómeno, mês após mês, levando ao lugar centenas de pessoas animadas pelo fervor religioso daquelas “aparições” testemunhadas pelos três pequenos pastores. 

Inicialmente a Igreja manteve-se afastada da crendice popular, negando as crianças. Mas os acontecimentos operados no lugar da azinheira, palco das aparições, foram de tal monta, que levaram os crentes a construírem toscos altares em forma de monumento. A deslocação de milhares de crentes e de curiosos, àquele lugar todos os dias 13, tomou conta da opinião pública e a Igreja não teve outro remédio se não aceitar as versões dos pequenos pastores (explicação na sua “versão oficial”)… porém… com retoques. 

As três crianças garantiam que aquela senhora falante do cimo da azinheira, estava envolvida em luz, tinha cabelo curto e saia por baixo do joelho. A Igreja construiu outra imagem mais coerente com a tradicional ocultação de simbologia sexual. Os cabelos e as pernas, por serem “elementos de pecado”, foram tapados com um manto ao estilo das burcas islâmicas, e a imagem passou a ser adorada como sendo Maria, a mãe de Jesus Cristo. 

Na última aparição, a 13 de Outubro, o lugar da Cova de Iria estava apinhado de gente vinda de todo o país. Foram ali com o propósito de assistirem ao fenómeno que os pequenos pastores garantiam acontecer mensalmente. Se, até aí, as visões eram testemunhadas, apenas, pelas crianças, não tendo ninguém mais visto a tal senhora sobre a árvore, nem ouvido coisa alguma, naquele derradeiro dia aconteceu aquilo que, religiosamente, se acredita ter sido “o bailado do Sol”. O astro-rei moveu-se, zigue-zagueante!… Desceu, subiu e chispou luzes feéricas em todas as direcções. 

Os jornais dos dias seguintes noticiaram que aquele bailado solar também foi testemunhado por quem se encontrava a cerca de 40 quilómetros do lugar onde a gente se apinhava para assistir à aparição da senhora. Naquele dia, chovia. Ao meio-dia, a chuva parou. As nuvens dissiparam-se mostrando o Sol a mover-se. O calor era tanto que as roupas dos assistentes, ensopadas pela chuva ininterrupta, secaram. 

Este fenómeno movente do Sol causa sérias interrogações. Como se sabe, o Sol é o astro central do sistema planetário a que pertencemos, e não se move do seu lugar. As distâncias dos planetas ao astro que nos dá luz, calor e vida, são sempre as mesmas, ditadas pela movimentação elíptica de cada um deles nas suas órbitas, o que, no caso da Terra, nos permite termos Primavera, Verão, Outono, Inverno… e Vida! 

Se aquele globo faiscante não era o Sol (era impossível sê-lo)… então o que seria?… o que foi que viram as testemunhas do fenómeno? 

(Continua)

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV

Imagem de CrisG por Pixabay
4 de Agosto, 2023 Onofre Varela

Crer e Saber

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

O Homem é um animal dotado de inteligência, o que o torna superior aos restantes animais seus companheiros da vida na Terra. Por isso mesmo é, também, um ser religioso por natureza e excelência, cuja característica de animal inteligente o levou à criação dos conceitos do belo, da Arte, do sagrado e dos deuses, e à consequente prática de cultos religiosos. 

As instituições dedicadas à exploração da fé religiosa (vulgo, Igrejas [*]) pretendem ser proprietárias do conceito de Deus – sobre o qual se erigiram civilizações – mas, na verdade, do mesmo modo como a Língua que falamos é propriedade nossa, também o conceito de Deus a todos pertence, independentemente de seguirmos, ou não, uma fé religiosa, porque o conceito dos deuses é uma invenção da espécie Homo sapiens sapiens

Nessa pretensão de posse, a Igreja Católica já perseguiu e puniu com tortura e morte quem se atreveu a abordar a divindade fora do âmbito da sua fé. E o Islamismo extremista ainda hoje mata em atentados terroristas praticados em nome de Deus, com os assassinos a gritarem “Allahu akbar” (Alá é grande). No século XXI voltamos à barbárie, desta vez refinada, que os mais bem intencionados de nós já tinham arrumado nas prateleiras da História mais macabra e longínqua, e que tanto desilustra a Humanidade. 

Por isso devemos considerar, e sublinhar, que crer em Deus não é o mesmo que saber sobre Deus. O saber precisa de conhecimento, obrigando à constante renovação das ideias, sem o que, o verdadeiro saber não existe. 

A par disto há a considerar que o saber é lento, frio e racional. A crença, não! A crença é emotiva, ferve em pouca água e, por vezes, provoca danos irreversíveis. Na crença afirma-se sem se saber, com a mente aquecida pela emoção cega. O crente não sabe, de saber certo, aquilo que afirma saber, porque crer não é saber. Por muito que eu creia que o comboio parte ao meio-dia, eu vou perdê-lo se não souber que ele parte às dez horas da manhã (se não houver greve!…).

A crença rejeita a dúvida e afirma a certeza na fé. O saber obriga à constante investigação e abertura ao que é duvidoso, novo e contraditório. Sem esta atitude de curiosidade e humildade, podemos ser crentes… mas nunca seremos sabedores. 

Em tudo, na vida, por uma questão de honestidade para connosco e com os outros, e até para que cada um sinta segurança no seu próprio raciocínio, é indubitavelmente preferível que se saiba, do que se creia. 

Há que dizer que as religiões também são “modos de saber”, no sentido emocional da crença. Isto é: quando eu “sei” que Deus existe “porque o sinto”, adquiro um “saber” que ninguém destruirá, pois o meu sentimento mais profundo me diz estar a verdade do meu lado. É este “saber” que faz a “razão” dos crentes… embora não seja saber, nem razão, na verdadeira acepção dos termos, porque não pode ser aferido pelo saber das ciências, nem pela razão filosófica enquanto forma de chegar a conclusões reais, porque estas são contrárias àqueles “saberes” que não passam da imaginação que a fé alimenta. 

É este “saber religioso” que constrói os fundamentalistas… e alguns até são criminosos.

[*] – Igreja: do grego “Ekklésia”, significa “assembleia”, no sentido de reunião de crentes numa fé religiosa.

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

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3 de Agosto, 2023 Onofre Varela

«El Derecho a Cagar-se em Dios»

Texto de Onofre Varela, previamente publicado na imprensa escrita.

Escolhi para encabeçar esta crónica o título de um livro de Richard Malka, na sua versão espanhola (libros del Zorzal, 2022), com o título original em francês: «Le droit d’emmerder Dieu», publicado em 2021.

O seu autor é o advogado que defendeu o jornal satírico francês Charlie Hebdo no julgamento dos terroristas que invadiram a redacção do jornal no dia 7 de Janeiro de 2015 e mataram 12 jornalistas-cartunistas. Richard Malka lembra que o julgamento dos terroristas islâmicos também serviu para demonstrar que o Direito se sobrepõe à força, e recordar o “alcance político, filosófico e metafísico” dos atentados cometidos pelos fanáticos do Islão que matam e destroem tomados pela convicção de que “Deus assim quer”.

As vítimas do Charlie eram pessoas que riam e desenhavam, no desfrute das mais básicas liberdades, as quais os fanáticos assassinos não têm. Nas suas mentes só podem ser encontradas neuroses e frustrações alimentadas por uma crença primitiva destruidora da razão, da inteligência e do bom senso. Para estes agentes religiosos extremistas, apenas contam as inexistentes “leis do céu” e não têm medo de morrer. Preferem a morte à vida.

A seguir aos atentados houve gente socialmente bem colocada, como filósofos, sociólogos e até “uma antiga candidata às eleições presidenciais”, que defenderam o abandono do “direito a caricaturar e a criticar livremente as religiões”!… Richard Malka pergunta: “Como pretender tal coisa com um mínimo de honestidade intelectual?”.

Os terroristas detestam as nossas liberdades e não se detêm no ataque ao modelo de sociedade democrática ocidental, que escolhemos na defesa da liberdade no sentido universalista, baseado na Razão e na liberdade de expressão, contrariando a sociedade dos fanáticos que é constituída pelo dogma e pela submissão. Os terroristas ameaçam as suas vítimas com a promessa de “estripá-las, queimá-las vivas, violá-las, degolá-las, e enviam-lhes fotos de cabeças decapitadas. Vocês não podem imaginar a violência das mensagens” que estes destinatários, escolhidos pelos fundamentalistas, recebem.

Perguntando “Como chegamos a esta situação?” o autor responde: Uma organização chamada Sociedade Islâmica da Dinamarca, instruiu o Iman Ahmad Abu Laban para construir um dossiê com as doze caricaturas de Maomé publicadas no jornal Jyllands-Posten em Setembro de 2005, juntando-lhes outras três, de desenho primitivo e sem nome do autor (essas, sim, bastante ofensivas do profeta Maomé!…). Era uma estratégia para inflamar o sentimento religioso muçulmano… o que foi conseguido.

Ahmad Abu viajou pelo mundo árabe publicitando aquele dossiê como isco a ser mordido pelos religiosos mais fundamentalistas… e assim se deu início ao incendiar de paixões religiosas extremistas, organizaram-se acções de rua com queima de bandeiras, embaixadas atacadas, atentados e assassinatos, tudo à conta de um embuste criado pelos ímanes da Dinamarca. 

Richard Malka interroga: “quem deita gasolina no fogo? Quem caricatura o Irão? Nós, ou os ímanes dinamarqueses? Acaso os blasfemadores não foram os ímanes que inventaram as caricaturas ofensivas? Quem conhece esta história? Conhece-a o príncipe Al Thani do Qatar, que nos quer dar lições de anti-racismo e mantém trabalhadores estrangeiros sem passaporte e os trata como escravos? Conhece-a o presidente Erdogan que nos quer dar lições de tolerância e massacra muçulmanos kurdos numa autêntica limpeza étnica?

Massacrar milhares de muçulmanos não é islamofobia… mas publicar desenhos, sim?!…

(O autor não obedece ao último Acordo Ortográfico)

OV