Loading

Mariana de Oliveira

21 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

Propaganda Copista

Amanhã, segunda-feira, começará o projecto Bíblia Manuscrita Jovem, que porá 50 000 jovens estudantes, professores e funcionários de 233 escolas de todo o país a copiar a bíblia. Ao lado de tal actividade lúdica e deveras educativa, estão previstas exposições sobre monges copistas, edições de bíblias em diversas línguas, viagens gastronómicas pelos doces conventuais e um scriptorium contemporâneo, que permite a pesquisa interactiva da Bíblia em CR-Rom.

Esta iniciativa é organizada com parcerias católicas e protestantes e com o alto patrocínio da Secretaria de Estado da Educação. Sim, porque a senhora dona Mariana Cascais, esse poço de virtudes, inaugurará simbolicamente o inicio desta actividade.

Há que recordar ao Ministério da Educação e às organizações religiosas, uma vez mais, que a escola pública não deve ser palco de campanhas publicitárias a determinada religião. A nossa Constituição consagra expressamente o princípio da neutralidade do Estado face a qualquer confissão religiosa e, portanto, os estabelecimentos educativos não serão usados para tentativas de conversão. Muitas vezes interrogamos acerca do destino dos nossos impostos… Bem, este é um deles. O comunicado de imprensa da Associação República e Laicidade, Não ao proselitismo na escola pública, sim à escola laica, reflecte eloquentemente o que está em causa com este projecto proselitista.

Em nome da pluralidade democrática, do respeito pelos ideais do próximo não podemos tolerar tal intromissão do religioso no domínio público.

20 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

O que há na rede

O e-mail como novo veículo de evangelização.

15 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

Curiosidade

As coisas interessantes que se encontram pela imprensa.

Incrivelmente, estes fenómenos de conservação natural dos tecidos mortos não são tão invulgares como isso.

Mais espantoso é que, se tal situação se tivesse verificado hoje, as manifestações populares não teriam sido muito diferentes. Num país que venera santas lacrimejantes já pouco espanta.

JN há 75 anos: Corpo incorrupto “santifica” um bispo

15/3/1929

A notícia que teve grande impacto lá pela estranja também se repercutiu em Portugal. Jornais espanhóis e franceses assinalavam, com grande destaque, que no cemitério de Tolosa (Espanha) havia sido encontrado, incorrupto, o corpo de um bispo, num ataúde depositado no jazigo há muitos anos. O acontecimento, rotulado como “verdadeiramente extraordinário”, deixara com os cabelos em pé os coveiros que faziam a remoção para um novo cemitério dos restos dos mortos não reclamados pelas respectivas famílias. Espalhada a notícia, acorreu ao cemitério “enorme multidão, que desfilou silenciosa e reverente ante o corpo frio e brando do sacerdote”, com “o povo clama que se trata de um milagre”.

14 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

Inovação

Quando o padre apoia uma inovação, ela é má; quando se lhe opõe, ela é boa.

Denis Diderot

13 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

O desaparecimento de Mariana Cascais

A senhora dona Mariana teve, há uns tempos, uma brilhante intervenção na Assembleia da República onde afirmou que a religião católica era a religião oficial da República. Não sei se terá sido uma inocente gaffe freudiana, manifestando os mais íntimos desejos de tão devota militante do CDS-PP, ou instruções dos seu directores espirituais (padres e Portas) ou, ainda, desconhecimento completo da Constituição.

Como se isto não bastasse, numa entrevista ao Diário de Notícias, disse Se eu quisesse não havia educação sexual.

Estas posições são, de resto, pouco surpreendentes. É perfeitamente natural que alguém tão temente a deus não queira que as crianças caiam nas garras do demo através do conhecimento de onde vêm os bébés.

Mariana Cascais é secretária de Estado da Educação e, a partir de ontem, já não está à frente da tutela da educação sexual, passando o próprio ministro da Educação a coordenar esse mesmo dossier. Finalmente, fez-se luz no Governo!

13 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

Pecado

Santa mãe de Deus, vós, que haveis concebido sem pecado, concedei-me a graça de pecar sem conceber.

Anatole France

11 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

Sangrento Dia

Hoje é dia de luto. Duas centenas de pessoas morreram e muitas mais ficaram feridas. Hoje é um dia sangrento.

Independentemente da validade das ideologias que defende a ETA ou qualquer outro grupo, morte é sempre morte. Não há desculpa, não há perdão possível para os responsáveis.



Este atentado põe em causa a Democracia e a Liberdade e os culpados devem ser trazidos perante a Justiça. Mas, em nome dos mesmos valores que hoje foram barbaramente atacados, não nos podemos esquecer, não nos devemos esquecer que há direitos a respeitar e que não podemos, a todo o custo, os autores de tais explosões. Os fins não justificam os meios, não nos tornemos no próprio monstro que pretendemos combater.

9 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

Pensamento do dia

Tenho de proclamar a minha incredulidade. Para mim não há nada de mais elevado que a ideia da inexistência de Deus. O Homem inventou Deus para poder viver sem se matar.

Fiodor Dostoievsky, in “O Idiota”

9 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

Se Deus existe, tudo é permitido

Aqui está um texto cuja autoria é de Ricardo Alves.

——

O que mais me impressionou no recente incidente com os folhetos distribuídos nas escolas pela associação católica “SOS Vida” foi o desprezo pelos sentimentos das crianças e pela própria verdade factual, e penso que devemos reflectir sobre como é possível defender, como o faz o padre Jerónimo Gomes, que “(…) estas imagens não são chocantes. Tudo se pode dizer às crianças desde que seja científico e de maneira simples” (Público, 6/3/2004).

Qualquer pessoa minimamente sensata considera o panfleto primário, terrorista e objectivamente nocivo para a tranquilidade de qualquer criança, católica ou não. Isto será felizmente consensual na nossa sociedade, mas existe uma associação formada com o apoio do bispo do Algarve que distribui o folheto considerando-o normal. Como é possível existir uma contradição tão grande entre as referências éticas destes católicos e a da maioria da sociedade?

O padre Jerónimo Gomes ajudou-nos a compreender quando declarou, perante as câmaras de televisão, que “não precisa de ver para acreditar”. Referia-se à imagem (comprovadamente falsa) do “taiuanês comendo um feto comprado a 50 euros no hospital local”. Mas a sua frase ecoa o mito do Tomé cristão, o tal a quem o JC da mitologia cristã teria dito que não se deveriam exigir provas tangíveis para crer. Jerónimo Gomes situa-se portanto num sistema de análise da realidade em que a verdade factual é relativizável pela fé, e que permite toda e qualquer operação de redefinição da realidade de acordo com a fé, os dogmas da hierarquia, ou as necessidades evangélico-políticas do dia-a-dia. Este princípio aplica-se igualmente a todas as noções éticas habitualmente aceites. Mentir ou aterrorizar crianças é normalmente considerado errado, mas não o é necessariamente para quem acredita ter “Deus” e os seus representantes terrenos do seu lado. Para os católicos fanáticos (o que felizmente não inclui, longe disso, todos os católicos portugueses nossos contemporâneos) mentir ou causar pesadelos a crianças é éticamente aceitável, desde que feito em nome de “Deus” e com a bênção da sua hierarquia terrena.

Na mente dos fanáticos, se “Deus” existe tudo (lhes) é permitido.

Ricardo Alves, 9/3/2004

8 de Março, 2004 Mariana de Oliveira

Dia Internacional da Mulher

Hoje comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Podem surgir dúvidas acerca da razão de ser deste dia: pretende-se que as mulheres atinjam a dignidade inerente à condição de ser humano, mas não será que as estaremos a discriminar atribuindo-lhes um dia especial? Não me parece. Apesar da evolução, a condição feminina continua longe de ser igual à dos homens. É conhecida a situação a que as mulheres estão sujeitas nalgumas partes do mundo árabe: submetidas à vontade dos maridos, pais e irmãos, são obrigadas a seguir um código de vestuário rígido; não têm acesso à educação ou ao emprego; e a Justiça considera-as como partes inferiores, com menos direitos do que a parte masculina.

Na Índia, crianças de tenra idade sujeitam-se a casamentos arranjados pelos pais. Na China, raparigas são vendidas porque são consideradas inferiores.

Em África, grande parte da população feminina encontra-se infectada pelo vírus da SIDA e muitas mulheres são vendidas como escravas.



Mas o problema não se resume a países em vias de desenvolvimento. No nosso mundo ocidental, na nossa civilização de que nos orgulhamos, as mulheres ainda se deparam com a discriminação. No acesso ao emprego, muitas empresas preferem contratar homens uma vez que, naturalmente, uma mulher corre o risco de engravidar. No seio da família, a violência conjugal faz as suas vítimas silenciosas e não são tão poucas como isso. Na rua, está-se sujeita a ouvir impropérios. Na religião, a mulher ainda é vista como a causa do pecado original, um ser vil, traidor, extremamente sugestionável. A nível legislativo continuamos com uma protecção à maternidade insuficiente e com o problema do aborto. Na educação, não há suficiente informação sobre doenças sexualmente transmissíveis e, muitas vezes, as mulheres aceitam a transmissão pelo marido com a maior das naturalidades. O divórcio ainda é visto por muita gente com maus olhos. O adultério feminino é considerado um pecado superior ao masculino (sim, porque é natural que um homem tenha o seu harém).

É por ainda não sermos vistas como iguais aos homens que hoje se comemora o Dia Internacional da Mulher. É para lhes lembrar e para nos lembrarmos de que temos direitos e dignidade que este dia existe.