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Mariana de Oliveira

10 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

A oeste algo de novo

Lê-se no Oeste Bravio a respeito da Sexta-feira dita santa:

Como disse o meu guru Bill Hicks: “tal como os outros Cristãos, nós comemoramos a morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo contando às criancinhas que um cloelhinho gigante pôs ovos de chocolate nas traseiras do nosso jardim.”

A religião é uma coisa do espírito!

10 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Citação do Dia

As religiões são todas iguais – fundadas sobre fábulas e mitologias.

Thomas Jefferson

10 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Inquisição e Processo Penal

Historicamente, o processo penal de estrutura inquisitória encontra as suas bases nas disposições de Inocêncio III relativas aos crimes de heresia, blasfémia ou adultério e termina, nesta primeira fase, na regulamentação do processo e dos tribunais do Santo Ofício e da Inquisição (1229), editado após o Concílio de Latrão. Devido à influência do direito da Igreja em Itália, generalizou-se aí esta concepção a partir do séc. XV, sendo por isso conhecida igualmente pelo nome de processo canónico-italiano.

Esta concepção só se consolidou no direito dos Estados durante os sécs. XVII e XVIII, quando se ligou aos Estados Absolutistas e aos Estados-de-polícia totalitários.

Em Portugal, o direito canónico começou, desde cedo, a influenciar o processo penal no sentido de lhe conferir uma estrutura inquisitória, pelo menos no que toca aos crimes mais graves (Afonso IV). Esta evolução culmina, por influência do estabelecimento da Inquisição no nosso país (1536) e da sua forma própria de processo, nas Ordenações Filipinas.

O processo penal de estrutura inquisitória persegue unicamente os interesses do Estado, não tendo, assim, o interesse das pessoas qualquer consideração autónoma ficando sujeito à livre discricionariedade do julgador (exercida sempre em favor do poder oficial). Por sua vez, o arguido é visto como um simples objecto de inquisição e não como sujeito co-actuante no processo. Em nome da soberania estadual, os mais elementares direitos do suspeito à sua protecção perante abusos e parcialidade dos órgãos do Estado são minimizados ou inexistentes.

Nesta estrutura processual o juiz, simultaneamente, inquire, acusa e julga de acordo com a sua discricionariedade, procurando descobrir a verdade material. Mas em vão porque só é alcançada a formal: a que resulta do carácter meramente inquisitório, escrito e secreto de todo o processo que dá origem à perda de um direito real de defesa do arguido e que abre alas a todas as formas de extorquir ao arguido a confissão, tida como a prova das provas.

Esta concepção encontrou o seu fim com o advento do Estado Liberal e com a defesa das liberdades e direitos individuais inerentes a toda a pessoa humana, mas ressurgiu numa veste mitigada ou moderna nos Estados autoritários e, actualmente, desponta nas reformas legislativas que pretendem fazer face a actos de terrorismo e de criminalidade altamente organizada.

8 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Citação do Dia

I wasn’t raised Catholic, but I used to go to Mass with my friends, and I viewed the whole business as a lot of very enthralling hocus-pocus. There’s a guy hanging upon the wall in the church, nailed to a cross and dripping blood, and everybody’s blaming themselves for that man’s torment, but I said to myself, ‘Forget it. I had no hand in that evil. I have no original sin. There’s no blood of any sacred martyr on my hands. I pass on all of this.

Billy Joel

7 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Citação do Dia

I have found Christian dogma unintelligible. Early in life, I absenteed myself from Christian assemblies.

Benjamin Franklin

6 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Alexandrina roubada

Continuando nas fontes frugais, lê-se no Correio da Manhã de hoje:

ROUBARAM O ROSÁRIO DA BEATA ALEXANDRINA

O rosário com que a Venerável Alexandrina rezou à Virgem Maria ao longo de mais de 30 anos, enquanto esteve acamada, desapareceu recentemente da velha vitrina em que se encontrava exposto na sala da casa de Balasar, Póvoa de Varzim.

A estranha ocorrência foi contada ao Correio da Manhã pela zeladora da casa, Maria Alice Faria, que se manifestou “muito desgostosa com este acto de maldade”, mas esperançada de que, mais dia menos dia, o rosário volte a aparecer.

“Eu tenho fé que a pessoa que o levou vai reconhecer que fez mal e, numa atitude de arrependimento, voltará a colocá-lo no seu lugar. Santa Alexandrina vai certamente fazer com que isso aconteça”, disse ao CM Alice Faria.

Segundo a zeladora, o furto terá tido lugar “num destes domingos, em que, no meio da confusão e sem dar pela conta, alguém abriu a vitrina e tirou o rosário”.

Tratava-se, segundo nos referiu, de um rosário “bastante puído, de contas miúdas e com uma medalhinha de Nossa Senhora em cada uma das quinze glórias”.

Este facto, que não foi comunicado às autoridades policiais, acabou por chamar a atenção para as deficientes condições de segurança em que se encontra a casa onde nasceu, viveu e morreu a ‘Santinha de Balasar’ que, no próximo dia 25, vai ser beatificada pelo Papa João Paulo II.

O que prova que Deus não cuida de furtos de objectos pertencentes aos seus fiéis servidores.

É que há cada vez mais gente a visitar a secular moradia e a vigilância é feita apenas pela zeladora. O arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, disse ao CM que “a questão está, desde há um ano, a ser estudada, em conjunto com a autarquia local, mas obriga à realização de obras demoradas”.

Entretanto, fonte da Junta de Freguesia assegurou ao CM que, nos dias de maior movimento, nomeadamente aos domingos, vai requisitar reforço policial.

E é assim que, mais uma vez, vemos o dinheiro dos nossos impostos a ser utilizado em questões que dizem respeito à Igreja. Porque é que a paróquia ou o próprio Vaticano não financia este investimento na protecção de um espólio que lhe deve ser tão caro? De certeza que não será por falta de verbas.

OUTROS DADOS

ESPÓLIO

Na casa da Alexandrina estão peças únicas que merecem melhor protecção. É o caso dos livros originais do primeiro processo de beatificação e de alguns manuscritos.

ALARME

Apesar de o rosário ter desaparecido durante o dia, o isolamento da casa aconselha mais vigilância à noite. A paróquia sugere a instalação de um alarme.

MULTIDÃO

A casa não é muito pequena, mas é antiga e não está preparada para a presença, como tem acontecido, de grandes multidões. A zeladora defende o controlo das entradas.

BEATIFICAÇÃO NO 25 DE ABRIL

No dia em que Portugal assinala os 30 anos do 25 de Abril, com as cerimónias oficiais descentralizadas para Bragança, em Roma, o Papa João Paulo II presidirá à cerimónia de beatificação da Venerável Alexandrina de Balasar.

Não sei porquê – provavelmente é apenas impressão minha -, parece-me que a escolha desta data é uma provocação. No dia em que se comemoram 30 anos sobre o fim do obscurantismo e de uma promiscuidade entre a Igreja e o Estado, vem novamente aquela organização acenar a sua doutrina e os seus santos e beatos à população numa tentativa de concorrência com as festividades de Abril. Não há pachorra!

Nascida a 30 de Março de 1904, Alexandrina Maria da Costa iniciou o seu ‘caminho de santidade’ aos 14 anos, quando se atirou de uma janela para fugir a um homem que a tentava violar. A mielite de que ficou enferma devido à queda de quatro metros agravou-se de tal forma, que acabou por ficar completamente paralisada e acamada aos 20 anos de idade.

Até à sua morte, em 13 de Outubro de 1955, viveu uma vida de oração e martírio, tendo, em 182 sextas-feiras seguidas, de 3 de Outubro de 1938 a 27 de Março de 1942, vivido as dores da Paixão de Cristo. A partir daqui e ao longo dos últimos 13 anos de vida, Alexandrina viveu em jejum total de alimentos e bebida, alimentada apelas pela Sagrada Comunhão.

Os milagres que lhe são atribuídos são incontáveis, mas só o de Madalena Fonseca, que em 1996 foi curada da doença de Parkinson, foi dado como provado, por ter sido considerado “cientificamente inexplicável”. E foi precisamente este milagre que abriu caminho à beatificação de Alexandrina, cujo centenário do seu nascimento se celebrou no passado dia 30 de Março. À beatificação vão assistir mais de 150 portugueses.

6 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

O rei do Lidl

Nessa grande publicação semanal, Dica da Semana, editada pela cadeia de supermercados Lidl, entre muitos faît-divers e promoções, conta-se uma entrevista com determinada personalidade da sociedade portuguesa. Esta semana o convidado é o senhor Duarte Pio que nos fala do seu dia-a-dia e da Páscoa.

Para esta personalidade (e acentuo bem o itálico), a Semana Santa e a Páscoa são os momentos mais importantes da vida de um cristão – numa religião que exalta o sofrimento como caminho para a salvação é natural que a morte violenta de uma das suas figuras centrais seja altamente celebrada – e prefere passá-los no campo – comportamento bastante aristocrático, esse de conviver com as massas plebeias.

A Dica da Semana coloca uma questão pertinente: Sendo que existe uma ligação profunda da família real à religião (de per si, uma excelente razão para se ser republicano), como é que têm transmitido essa mensagem as príncipes, tendo em conta que vivemos numa sociedade que se afasta cada vez mais dos valores religiosos?. O senhor Duarte Pio responde: há que dar o exemplo, mas é também preciso ensinar bases doutrinais teóricas para compreenderem a razão de ser e as verdades da religião. Claro que, para se ser um bom cristão, nem tudo pode ser lido sob pena de se cair nos fogos do Inferno ou, pior, se tornar agnóstico ou ateu, nem se devem questionar os ensinamentos dos mestres! É também indispensável, afirma, mostrar o que é o bem e o mal uma vez que é esta confusão que dá origem a grande parte das desgraças que atingem as famílias. Incrivelmente, esquece-se que tal distinção não tem de estar necessariamente ligada a uma qualquer moral religiosa podendo perfeitamente ser ensinada de acordo com valores laicos e republicanos.

Relativamente ao papel social da Casa Real na sociedade portuguesa, o senhor Duarte crê que as suas intervenções e as da amantíssima esposa podem ser úteis no campo social e caritativo e também sob o ponto de vista cultural. Pois sim, dão uma esmolinha a esta ou aquela instituição ligada à Igreja, aparecem nas revistas cor-de-rosa e nos programas televisivos quejandos. Grande contributo!

O mais interessante nesta entrevista não é tanto o seu conteúdo – que não é muito -, mas o local onde é publicada: num catálogo de promoções de uma cadeia de supermercados alemães normalmente instalados nos subúrbios e cuja distribuição abrange uma grande área residencial. Este folheto coaduna-se com o estilo do senhor Duarte, que fica no seu meio, entre hortaliças e conjuntos de limpeza profissional, mas o mais preocupante é a atenção dada a tal pessoa e a tudo o que representa: um regime nada democrático, nada laico e classista que não se coaduna com os valores que, no séc. XXI, devem ser defendidos.

5 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Momento Poético

A VINHA DO SENHOR

de Guerra Junqueiro

I

Existiu noutro tempo uma vinha piedosa

Doirada pelo Sol da alma de Jesus,

Uma vinha que dava uns frutos cor-de-rosa,

Vermelhos como o sangue e puros como a luz.

Inundavam-na d’água os olhos de Maria,

E os virgens corações dos mártires, dos crentes,

Eram a terra funda aonde se embebia

A mística raiz dos pâmpanos virentes.

Produzia um licor balsâmico, divino,

Que aos cegos dava luz, aos tristes dava esp’rança,

E que fazia ver, na areia do destino,

A miragem feliz da bem-aventurança.

Aos mortos restituía o movimento e a fala,

Escravizava a carne, as tentações, a dor,

E transformou em santa a impura de Magdala,

Como transformou Abril um verme numa flor.

Bebê-lo era beber uma virtuosa essência

Que ungia o coração de perfumes ideais,

Pondo no lábio um riso ingénuo de inocência,

Como o d’água a correr, virgem, dos mananciais.

Dava um tal esplendor às almas, tal pureza,

Que nos circos de Roma até se viu baixar,

Diante da nudez das virgens sem defesa,

Ao magro leão da Núbia o coruscante olhar.

II

Mas passado algum tempo a humanidade inteira

De tal modo gostou desse licor sublime,

Que o êxtase cristão tornou-se em bebedeira,

E o sonho em pesadelo, e o pesadelo em crime.

Nas solidões do claustro as virgens inflamadas

Co’as fortes atracções da mística ambrosia

Torciam-se, febris, convulsas, desvairadas,

Meretrizes de Deus numa piedosa orgia.

É, que no vinho antigo ia à noite o demónio

Lançar co’a garra adunca uma infernal mistura

De mandrágora e ópio e heléboro e estramónio

Verde-negro e viscoso estrato de loucura.

Quando uivava de noite o vento nas campinas,

Via-se pela sombra, oblíquo, Satanás,

Colhendo aos pés da forca ou buscando entre as ruínas

Ervas, vegetações, prenhes de essências más.

Era o filtro subtil dessas plantas de morte

Que fazia da alma um dervixe incoerente,

Uma bússola doida à procura do norte,

Uma cega a tactear no vácuo, ansiosamente!…

E a taça do veneno estonteador e amargo

No fúnebre banquete ia de mão em mão,

Produzindo o delírio, a síncope, o letargo,

E em cada olhar sinistro uma cruel visão.

Uns viam a espectral sarabanda frenética

De esqueletos a rir e a dançar com furor

Em torno à Morte podre, impudente, epiléptica,

Com dois ossos em cruz rufando num tambor.

Outros viam chegado o pavoroso instante

Em que um monstro de fogo, um dragão aerolito,

Dava na terra um nó co’a cauda flamejante,

Arrebatando-a, a arder, através do infinito.

E então para fugir ao desespero e ao pânico

Bebiam com mais ânsia o filtro singular,

Até à epilepsia, ao turbilhão tetânico

Do Sabá desgrenhado e erótico, a espumar!

E à força de beber o trágico veneno

Tombou por terra exausta a humanidade enfim,

Como em Londres, de noite, ao pé dum antro obsceno

Cai sobre a lama inerte um bêbado de gim.

III

Mas nisto despontou a esplêndida manhã

Dum mundo juvenil, robusto, afrodisíaco:

A Renascença foi para a embriaguez cristã

A excitação vital dum frasco de amoníaco.

E na vinha de Deus ainda florescente

Começou a nascer por essa ocasião

Um bicho que enterrava escandalosamente

Nos pâmpanos da crença as unhas da razão.

Propagou-se o flagelo; o mal recrudesceu;

A colheita ficou em duas terças partes:

Chega o oídio Lutero, o verme Galileu,

E cai-lhe o temporal de Newton e Descartes.

Embalde Carlos nove, Inácio e Torquemada,

Catando esses pulgões das bíblicas videiras,

Os entregam à roda, ao cadafalso, à espada,

Ou os queimam por junto aos centos nas fogueiras.

O estrago cada vez era maior, mais forte;

Apesar da realeza, o trono e a sacristia

Andarem sacudindo o enxofrador da morte

No formigueiro vil das pragas da heresia.

Por último, Voltaire-filoxera invade

Essa encosta plantada outrora por Jesus,

E das cepas ideais da escura meia-idade

Ficaram simplesmente uns velhos troncos nus.

IV

Mas como havia ainda alguns consumidores

Desse vinho que o Sol deixou de fecundar,

Uns velhos cardeais, hábeis exploradores,

Reuniram-se em concílio a fim de o imitar.

E é assim que Antonelli, o verdadeiro papa,

O químico da fé, um grande industrial,

Fabrica para o mundo ingénuo uma zurrapa

Que ele assevera que é o antigo vinho ideal.

Para isso combina os vários elementos

Que compõem esta droga: o nome de Maria,

Anjos e querubins, infernos e tormentos,

Bastante estupidez e imensa hipocrisia.

Põe tudo isto a ferver, liga, combina, mexe,

E, filtrando através duns textos de latim,

Eis preparado o vinho, ou antes o campeche,

Que a saúde da alma há-de arruinar por fim.

Mas como o paladar de muitos europeus

Quase prefere já (horrível impiedade!)

A falsificação do vinho do bom Deus,

O vinho genuíno e puro da verdade;

E como já por isso, (assim como era dantes)

A Igreja nos não queime e o rei nos não enforque,

A cúria procurou mercados mais distantes,

O Japão, o Peru, a Austrália e Nova Iorque.

Os comis-voyageurs de Roma – os Lazaristas

Com as carregações vão através do oceano,

Por toda a parte abrindo os armazéns papistas,

A fim de dar consumo ao vinho ultramontano.

Em cada igreja existe uma taberna franca

Para impingir a tal mixórdia, o tal horror,

Ou seca ou doce, ou velha ou nova, ou tinta ou branca,

Segundo as condições e a fé do bebedor.

Para Espanha vão muito uns vinhos infernais,

Um veneno explosivo e forte que produz

Um delírio tremente – o General Narvais,

E um vómito de sangue – o Cura Santa Cruz.

Portugal quer vinagre. A Itália quer falerno.

Veuillot quer aguarrás que ponha a língua em brasa.

E John Bull, por exemplo, um pouco mais moderno,

Manda ao diabo a botica, e faz a droga em casa.

Ao povo, esse animal que o Padre Eterno monta,

Como é pobre, coitado, então a Santa Sé

Fabrica-lhe uma borra incrível, muito em conta,

Um pouco de melaço e um pouco d’aguapé.

A fina flor cristã, a flor altiva e nobre,

O rico sangue azul do bairro S. Germano,

Para quem o bom Deus é um gentil-homem pobre

A quem se dá de esmola alguns milhões por ano,

Essa, como detesta os vinhos maus, baratos,

Como é de raça ilustre e débil compleição,

Mandam-lhe um elixir que serve para os flatos,

Ou para pôr no lenço ou ir à comunhão.

De resto há quem, bebendo essa tisana impura,

Sinta a impressão que outrora o néctar produzia.

São milagres da fé. Ditosa a criatura

Que no ruibarbo encontra o sabor da ambrosia.

E eu não vos vou magoar, ó almas cor-de-rosa

Que inda achais neste vinho o esquecimento e a paz!

Não insulto quem bebe a droga venenosa;

Acuso simplesmente o charlatão que a faz.

4 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Citação do Dia

Todas as religiões foram criadas pelo homem.

Napoleão Bonaparte

4 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Fanatismos e Religião

Etimologicamente, fanatismo vem do latim fanaticus, quer dizer o que pertence a um templo, fanum.O fanático é um servo perante o seu soberano, que pode ser um deus, um líder religioso, uma crença ou uma fé cega. O fanatismo tem na sua base um intrincado sistema de crenças absolutas e irracionais cujo objectivo é servir uma luta contra o Mal. Para o fanático religioso, não basta adorar um Deus: é necessário ser soldado dele na terra, lutar pela causa superior, pregar, exorcizar, forçar os infiéis ou divergentes à conversão absoluta. O fanático está sempre disposto a dar provas do quanto a sua causa suprema vale mais do que a vida. Ele mata por uma ideia e está disposto a morrer por ela.

Todas as religiões têm a sua quota de fanáticos. As Cruzadas e a Inquisição foram manifestações deste pensamento irracional e persecutório. Actualmente, a sociedade depara-se com o aparecimento de um sem número de seitas – Jin Jones (Templo do Povo), Asahara (Verdade suprema), David Koresh (Ramo davidiano), Jo Dimambro (Templo Solar) -, que, às vezes, fazem notícia com uma qualquer tragédia colectiva, e com o problema do radicalismo islâmico.

O problema daquela religião não está no crente minimamente educado e tolerante que relativiza os ensinamentos do seu livro sagrado ou orientador espiritual. O problema está, isso sim, no conjunto relativamente grande de indivíduos ignorantes, não necessariamente incultos, que pretendem impor os seus valores a toda a humanidade recorrendo, sem qualquer tipo de ética, a expedientes bélicos. Estes sujeitos matam-se e matam em nome da sua interpretação daquelas crenças, que pode ser ou não a geralmente aceite, mas isso torna a carnificina menos ligada à religião.

É por potenciar estes comportamentos que a religião deve ser sempre encarada de forma crítica por todos.