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Mariana de Oliveira

18 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

17 de Abril. Foi há trinta anos.

Ano lectivo 1968/69. Portugal estava subjugado a um governo fascista que controlava o país através do terror de uma polícia política que perseguia opositores ao regime, da censura à imprensa e aos meios culturais, e do medo da guerra colonial.

A repressão manifesta-se nos órgãos associativos estudantis: a Associação Académica de Coimbra tinha à frente dos seus destinos uma Comissão Administrativa nomeada pelo Estado. Entre 1965 e 1968 não foi permitido aos estudantes a escolha dos seus corpos gerentes. É nesta conjuntura que os estudantes do ensino universitário de Coimbra se rebelam e defendem a liberdade, a autonomia e a democratização do Ensino Superior.

Em 1968, por iniciativa do Conselho de Republicas (CR) e de vários Dirigentes de Organismos Autónomos, foi criada uma Comissão de Pró-Eleições cujo objectivo era a promoção do o Acto Eleitoral, que só foi possível graças à realização de um abaixo assinado, entregue ao Reitor da Universidade de Coimbra, Andrade Gouveia.

Após vários contratempos, as eleições realizam-se no final do mês de Fevereiro. Compareceram a este acto eleitoral duas listas: a do Conselho de Rep?blicas (CR) e a do Movimento de Renovação e Reforma (MRR). O Conselho de Repúblicas ganha as eleições com cerca de 75% dos votos, avançando com uma linha crítica de contestação à Universidade e a todo o Regime em geral.

Um mês mais tarde a Direcção Geral da Associaçãoo Académica de Coimbra eleita é convidada para a cerimónia de inauguração do edifício das Matemáticas da Faculdade de Ciências. A Direcção Geral aceita o convite e afirma publicamente o propósito de interceder na cerimónia proferindo algumas palavras de descontentamento sobre a situação do ensino da Universidade de Coimbra e no resto do país.

Em conversa tida com o Magnifico Reitor expusemos conjuntamente (Associação Académica de Coimbra e a Junta de Delegados das Ciências), a nossa pretensão em nos fazermos ouvir. Foi-nos alegado:

1. O Magnífico Reitor ao discursar, representava a Universidade;

2. A possibilidade de um estudante falar vinha prejudicar as prescrições protocolares;

3. O senhor Presidente da República tinha de visitar o edifício, o que não lhe permitia um alargar da secção;

É verdadeiramente conscientes, dum dever irmos esgotar todas as vias para que os estudantes, estando presentes, possam participar na sessão inaugurativa
.

Na manhã do dia 17 de Abril de 1969, em frente ao Departamento de Matemática, podiam ler-se várias palavras de ordem: Impõe-nos o diálogo de silêncio, Intervenção das AEs na vida e reforma da Universidade, Ensino para todos, Estudantes no Governo da Universidade, Exigimos Diálogo, Democratização do Ensino.

No interior do edifício, na actual Sala 17 de Abril, o presidente da DG/AAC, Alberto Martins, acompanhado por Luís Lopes, presidente do TEUC, e Luciano Vilhena Pereira, presidente do CITAC, pede a palavra a Américo Tomás, Presidente da República, que lhe responde de forma inconclusiva.

A cerimónia termina abruptamente e toda a comitiva se retira protegida pelos agentes da Pide/DGS.

Nessa noite Alberto Martins é preso à porta da Associação Académica de Coimbra.

A notícia da prisão de Alberto Martins espalha-se rapidamente e os estudantes mobilizam-se em frente à esquadra onde se verificam alguns confrontos. Na manhã seguinte Alberto Martins é libertado. Durante a tarde do dia 18 há Assembleia Magna, resultando na conclusão da necessidade do aumento da participação activa dos estudantes na vida universitária. O Luto Académico é decretado a 22 de Abril.

O período do Luto Académico e da Greve às Aulas caracterizou-se pelo debate em torno dos problemas das faculdades, da Universidade e do país.

Posteriormente, após a Assembleia Magna do dia 28 Maio, nos jardins da AAC, com a participação de cerca de 6000 estudantes, começam novas formas de luta, como a Greve aos Exames (com uma adesão de 85%).

O 17 de Abril marcou o início da contestação estudantil e mais um passo que conduziu o país à Revolução de 25 de Abril.

Já agora, caro leitor, se quiser ler algo de superior qualidade e de alguém que viveu os acontecimentos da Crise Adémica, vá ao blogue Causa Nossa e procure os textos de Vital Moreira.

16 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Citação do Dia

A religião nasce das concepções restritas do homem.

Friedrich Engels

15 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Citação do dia

Tantos males a religião pôde aconselhar!

Lucrécio, in “Da Natureza”

14 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Novo destino: Balazar

Na última edição do semanário Expresso, foi publicada, na Única, uma reportagem sobre a mundialmente famosa VIP de Balazar: Alexandrina.

A pequena freguesia poveira, aos fins-de-semana, cresce uns 200% e as filas (ou bichas, se quiserem ser mais tradicionalistas) de trânsito começam a mais de três quilómetros da vila. Os carros, como diz o jornal, têm um típico terço pendurado no retrovisor. Não são fornecidos dados acerca da panóplia de outros objectos comuns nas viaturas devotas: uma placa gravada com o nome e morada do proprietário adornada por uma santinha, uma Sua Senhora de Fátima fluorescente/que muda de cor de acordo com as condições atmosféricas (depois de se verificarem, claro), um CD – para evitar radares da polícia – e uma fita vermelha – para afastar o mau olhado – concorrendo com o terço no retrovisor, capas de assentos com bolinhas de madeira massajantes e duas almofadas de renda/clube de futebol e a colecção de K7’s dos maiores êxitos do Roberto Leal.

O sucesso deste novo destino religioso, ao que parece, faz sonhar a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim e a Junta de Freguesia de Balazar com um santuário e novas acessibilidades. Mais uma vez, Igreja e Estado numa relação de promiscuidade.

Quem já beneficiou com este corrupio de fiéis são os donos dos cafés e a igreja onde está sepultada a venerável Alexandrina – as caixas registadoras… e as de esmolas não param de trabalhar.

Na recepção do templo, vende-se um pouco de tudo: pés, mãos, braços, fígados, pulmões, rins, ovelhas, vacas e cabritos, mas tudo feito de cera. Parece que é uma forma paga (duvido que com a aplicação da respectiva taxa de IVA) de agradecer à Santa. Para além disso, há também um serviço de aluguer de terços a que se pode recorrer no caso de esquecimento do dito no retrovisor do carro.

A casa de Alexandrina também faz parte do itinerário. O seu quarto, intacto desde a sua morte, com excepção para uma capa de plástico por cima da colcha da cama (que as pessoas beijam com esperança de serem abençoadas, apesar de não saberem se foi comunicada à cobertura alguma santidade) e uma fotografia em vez da santa, é palco para as mais variadas manifestações de devoção sendo a mais comum a saída com lágrimas nos olhos.

No fim da visita, à porta, está uma caixa de esmolas. Os santos não se auto-sustentam.

14 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Citação do Dia

Não acredito ter qualquer imortalidade. O maior mal no mundo, hoje, é a religião cristã.

Henry Wells

13 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

O que vem à rede

Recebi este e-mail de uma mailing list que dá pelo nome de Pão Quente.

A Misericórdia e o Perdão de Deus na Paixão

Lucas 22, 14-23-56

Lucas, como é sabido, é considerado o evangelista da misericórdia, ou como o evangelista que marcou toda a tradição que nos entrega o pensamento do amor infinito de Deus que se manifestou em Jesus Cristo. Nenhum dos evangelistas percebeu como ele a sensibilidade do amor do Pai, que se deixa sentir de maneira especial entre os pobres, entre os que sofrem, entre os marginalizados. Não é difícil constatar nesse evangelho a preocupação de Jesus pelos fracos, pelos débeis, pelas viúvas, pelos órfãos, pelos pecadores, e pelas mulheres. Não é acidental neste Evangelho o fato de que apareçam nele textos que não encontramos nos outros Evangelhos. O da “parábola do pai misericordioso”, (que geralmente designamos, com menos propriedade, como a parábola do filho pródigo), ou a do “bom samaritano”.

A Paixão e a morte de Jesus são uma verdadeira revelação: manifestação da misericórdia do Pai. Só quem compreendeu uma atitude tão comovedora, como a que nos traz este Evangelho na parábola do pai misericordioso, poderá entender por que o evangelista olhou assim o mistério do sofrimento e da morte de Jesus. Lucas concebeu o relato da Paixão como uma contemplação de Jesus. Não faz sentido, por isso, a insistência na doutrina medieval sobre a “satisfação”. É incompatível com a fé a idéia de um Deus insensível que sacrifica Seu Filho como um cordeiro ofertado para aplacar Sua divindade ferida e irada. Como admitir Deus como uma fera acuada pelo pecado da humanidade? Por isso este relato é um convite ao leito a aproximar-se do Senhor, a seguí-Lo, a levar com Ele a “cruz” de cada dia (9,23). Também nos convida a prestar atenção no sangue dos mártires que acompanharam o exemplo de Jesus na história humana. O esvaziamento (kenosis) até a humanidade total, o sofrimento com causa, em solidariedade extrema, nos fazem reconhecer um Jesus que não foge à Sua condição humana.

Na palavra que dirige na cruz ao malfeitor arrependido: “hoje mesmo estarás Comigo no paraíso”, lembramos esse ‘hoje’ que nos transporta a Lucas 4,21, quando na sinagoga de Nazaré, Jesus declara que “hoje se cumpriu” a passagem de Isaías 61,1-2, que acabava de ler. O tempo se cumpriu e Ele, que veio para anunciar a liberdade aos cativos e a vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e para proclamar o ano da Graça do Senhor, aí está. Cumpriu Sua missão, porque morreu pendurado da cruz, como Mártir do Reino de Deus, mas seguirá vivendo entre nós, ressurreto, e nós o reconheceremos. O testemunho (martyria) mais chocante da causa do Reino de Deus, na missão de Deus cumprida sem o uso dos atributos divinos, é encontrado em Jesus. O mesmo que foi chamado pelos pais da Igreja Antiga (primeiros líderes), de “verdadeiro homem e verdadeiro Deus” (Credos e Confissões da Igreja Antiga).

O Reino não se conquista sem a cruz, é o que nos diz a Páscoa, ou o que deveria dizer! A páscoa dos cristãos é a Páscoa da Ressurreição. A morte, assim, é a Ressurreição conquistada, a Vida brota das sepulturas. “Eu sou a ressurreição e a vida…”. A Paixão, finalmente, nos convida a refletir sobre a causa do Homem de Nazaré, Mártir dor Reino, morto, ressuscitado e glorificado pelo Pai.

Tomé duvidou da ressurreição, (João 20,24), Jesus lhe disse, quando o mesmo conferiu Suas feridas: “Porque viste, creste, felizes os que não viram e creram!”.

Que isso nos faça Felizes!

Em Seu santo nome,

Rev. Derval Dasílio

Igreja Presbiteriana Unida do Brasil – IPU

12 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Citação do Dia

O papa é um ídolo a quem se atam as mãos e se beijam os pés.

Voltaire

12 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

A Páscoa de Barnabé

O Barnabé, este Domingo, colocou esta imagem, inserida na rúbrica Em Abril, todos os dias uma nova imagem da revolução.

Em 1976, a ideia que o jornal católico Libertar defendia era boa: uma ICAR virada para o Povo, que, sem manipulações, defendesse os interesses desse mesmo Povo numa nova Democracia nascida dois anos antes.

De facto, só com educação e trabalho é que se pode alcançar uma sociedade parecida com a que Jesus da Nazaré desejara dois mil anos antes: uma sociedade igualitária, justa, fraterna, sem pobreza onde todos respeitassem as diferenças uns dos outros. Como sucedera então, esses ideais ficaram apenas por esse plano: a Igreja continua a trair os valores que originariamente deviam guiar o seu caminho. A ICAR é um poço de contradições, de interesses obscuros e de manipulação da sociedade. A ICAR continua a não utilizar todo o seu poder económico para acabar com a pobreza, continua a negar o esclarecimento da sexualidade, continua a ignorar os direitos dos homossexuais e continua a querer ser a concubina dos Estados. Jesus Cristo não foi traído pelos judeus, pelos idólatras ou pelos descrentes; Jesus foi traído por aqueles que se dizem seus servidores.

12 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Petição contra o artigo I-51 da Constituição Europeia

APELO PELA ELIMINAÇÃO DO ARTIGO I-51 DO PROJECTO DE CONSTITUIÇÃO PARA A EUROPA

Os abaixo assinados,

Tendo em consideração a proposta de resolução para uma Constituição Europeia Laica apresentada por Maurizio Turco e 256 deputados europeus e apoiada por 320 deputados dos 15 Estados Membros da União Europeia.

Considerando que o artigo I-51 do projecto de Tratado estabelecendo uma Constituição para a Europa:

a) Contradiz o princípio de separação entre instituições públicas e instituições religiosas;

b) Obriga a UE a um diálogo regular com as igrejas e comunidades religiosas reconhecendo assim um direito de ingerência das instituições religiosas no exercício dos poderes públicos europeus;

c) Garante a perpetuação dos privilégios adquiridos ao nível nacional pelas instuições religiosas, impedindo que seja verificada a sua compatibilidade com os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos europeus assim como com as políticas e o direito da UE;

d) Está redigido com uma terminologia desapropriada para um texto constitucional e susceptível de originar

numerosas controvérsias jurídicas;

Considerando que a liberdade de organização e acção das organizações confessionais já é garantida pelo artigo 10 da Carta dos Direitos Fundamentais assim como pelo artigo I-46 do projecto de tratado

constitucional relativo às associações representativas da sociedade civil;

Apoiamos a proposta de resolução, promovida por Maurizio Turco e assinada até agora por 136 membros do

Parlamento Europeu, pedindo ao Conselho, à Comissão e aos Estados Membros a eliminação do artigo I-51 do

projecto de tratado estabelecendo uma Constituição para a Europa e, em particular, aos representantes da Bélgica, da França, do Luxemburgo e da Suécia que utilizem o seu direito de veto, no âmbito dos trabalhos da CIG, dando assim continuidade às emendas no sentido de eliminar o artigo I-51 que apresentaram durante a Convenção.”

11 de Abril, 2004 Mariana de Oliveira

Há 30 anos em Moçambique

Há 30 anos, nos últimos dias da ditadura, o Jornal de Notícias relatou:

Questão colonial agita relações Igreja-Estado

11/4/1974

Em consequência da política ultramarina, da guerra colonial e dos seus reflexos nas relações Igreja-Estado, registava-se grande agitação na Diocese de Nampula, Moçambique.

Segundo as notícias divulgadas pela ANI, cinco padres combonianos e um padre secular expulsos daquele território deixaram a referida cidade, com destino desconhecido, o mesmo acontecendo com o respectivo bispo, D. Manuel Vieira Pinto.

Na véspera registou-se um apedrejamento da missão de S. Pedro, para onde tinham sido conduzidos, há três semanas, os padres, escoltados pela Polícia para os isolar dos manifestantes que os ameaçavam. Grupos de indivíduos também se tinham colocado frente ao Paço Episcopal, motivo por que foi montado um dispositivo policial e militar para proteger o prelado de qualquer desacato.

De acordo com a ANI, a vaga de protestos contra os missionários combonianos fora desencadeada em Fevereiro ao ser conhecido um documento, por eles assinado, bem como pelo próprio bispo, no qual se formulavam várias acusações ao comportamento da Igreja em Moçambique – nomeadamente a de estar enfeudada ao poder civil e de não cumprir a sua missão profética. Alegava-se, do mesmo modo, que a mesma exposição era uma tomada de posição nitidamente hostil à soberania de Portugal em Moçambique.